sábado, 21 de novembro de 2009

DAVI ENFRENTA REBELIÕES CONTRA SEU GOVERNO


Davi, apesar de ser rei escolhido por Deus, enfrentou rebeliões ao longo de seu governo.

“Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; que, se achar graça nos olhos do Senhor, Ele me tornará a trazer para lá, e me deixará ver a ela e a sua habitação” (II Sm.15:25)


INTRODUÇÃO

- Em continuação aos complementos ao estudo deste trimestre, analisaremos, neste apêndice, as duas rebeliões sofridas por Davi enquanto no trono de Israel, a saber: as revoltas de Absalão e de Seba.

- A existência de rebeliões durante o governo de Davi mostram-nos, com clareza, que não há qualquer homem que sirva a Deus que não venha a ser hostilizado no exercício do ministério dado pelo Senhor.

I – OS ANTECEDENTES DA REBELIÃO DE ABSALÃO

- Neste segundo apêndice às lições bíblicas deste trimestre, estudaremos as duas rebeliões enfrentadas por Davi durante seu reinado, assunto importante do reinado de Davi e que, por falta de tempo e espaço, não foi objeto de análise pelo ilustre comentarista.

- A existência de rebeliões durante o governo de Davi, um rei escolhido por Deus, mostra, claramente, que, no exercício do ministério que Deus concede a cada servo Seu, haverá hostilidades, traições e dificuldades, mas que temos de saber como lidar com estas intempéries da vida, pois a única certeza que temos da parte do Senhor é a de que, neste mundo, teremos aflições (Jo.16:33).

- A primeira revolta contra Davi foi efetuada por seu próprio filho, Absalão, revolta esta que teve grandes proporções, visto que Davi chegou, inclusive, a perder o trono, tendo ficado algum tempo fora do governo. Esta rebelião apresenta-se como uma figura das dificuldades que surgem em nossas vidas por causa de nossos próprios erros, como consequência de nossos próprios pecados. A luta entre Davi e Absalão está incluída na sentença divina proferida por ocasião do “caso de Urias, o heteu”, em que o Senhor disse que “a espada jamais se apartará da tua casa(…) suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol” (II Sm.12:10,11).

- Absalão foi o terceiro filho de Davi, nascido de Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur (II Sm.3:3). Seu nome significa “pai da paz”, o que indica que Davi, ao tê-lo como filho, quis enaltecer o “casamento político” que havia feito, como a dizer que, mediante esta política de aliança com Gesur, angariaria a paz com os povos em redor.

- Já a partir do nome dado a este seu filho, vemos que Davi se enganava com relação ao papel que ele desempenharia em Israel. Logo vemos que Absalão era um filho diferenciado com relação aos seus dois irmãos mais velhos. Tanto Amnom quanto Quileabe (ou Daniel) eram filhos de mulheres que Davi havia obtido no período da sua perseguição, mulheres que o haviam acompanhado na sua fuga constante de Saul, mulheres acostumadas com o campo de batalha, com o deserto, com as privações. Absalão, porém, tinha como mãe uma princesa. Ainda que Gesur fosse um reino pequeno e sem muita expressão ou esplendor, a formação de Maaca era completamente diferente das outras duas mulheres de Davi.

- Absalão, desta maneira, teve uma formação diferente da de seus dois outros irmãos, até porque, como já temos visto ao longo do trimestre, Davi era completamente ausente da formação de seus filhos. Não bastasse isso, Absalão ainda era o único príncipe cuja mãe não era israelita, o que, também, significou uma educação diferenciada, visto que, certamente, sua mãe lhe ensinou costumes e condutas que eram estranhos ao povo de Israel.

- Não é de se admirar que, ao contrário dos seus dois irmãos, que o texto sagrado não registra o que faziam, dando a entender, pelo menos no caso de Amnom, que eram “bon vivants”, Absalão fosse um empreendedor, que tivesse se especializado no comércio de lã, tanto que tinha tosquiadores em Baal-Hazor (II Sm.13:23), muito provavelmente uma atividade que fosse bem desenvolvida entre os gesuritas. Absalão, ainda, apresentava-se como sendo mais próximo do povo, como era o seu pai, ao contrário de Amnom, que tinha um perfil mais elitista, mais palaciano.

- Seria, precisamente, nas omissões de Davi como pai que se iniciaria o distanciamento entre pai e filho que acabariam por fazer com que Absalão fosse o “próximo” da profecia de Natã. Quando Amnom abusou de Tamar, irmã germana de Absalão, Davi nada fez para reparar a honra da filha nem para punir o infrator.

- Esta falta de atitude por parte de Davi deixou Absalão decepcionado, a ponto de ter levado Tamar para a sua própria casa, onde ali habitou solitária, ante a desonra sofrida. Absalão tomou esta iniciativa a fim de retirar o escândalo ocorrido, e que Tamar estava a dar publicidade, tendo, por certo, esperado alguma providência da parte de seu pai, providência, porém, que não veio.

- Absalão, então, passou a aborrecer Amnom, diante do que este fizera com Tamar. Nada disse a respeito e mandou que Tamar se calasse, mas deixou que a amargura nascesse em seu coração e daí para o ódio foi um pequeno passo. É muito ruim quando deixamos nascer raízes de amargura em nossos corações. Estas raízes trazem-nos perturbação e, como se não bastasse isso, levam-nos a contaminar os outros (Hb.12:15). A amargura é uma erva daninha que pode nos levar a perder a graça de Deus. É característica daqueles que não foram alcançados pela salvação, dos pecadores (Rm.3:14). O “pai da paz” tornava-se o “pai da vingança”, o “pai do revide”.

- Absalão, então, sabedor de que o rei não participava de festas familiares, arquitetou um plano para matar Amnom. Convidou o rei e seus irmãos para uma festa em Baal-Hazor e, como já sabia que o rei não iria, fez questão de pedir ao rei que mandasse Amnom, o primogênito, para a festa. Na festa, regada a vinho, quando Amnom se embebedou, mandou que os seus moços o matassem, o que foi feito, tendo os demais filhos do rei fugido em direção a Jerusalém (II Sm.13:23-36).

- Vemos como é triste a negligência paterna em relação à família. Davi foi negligente, não quis participar da festa com seus filhos e, como se isto fosse pouco, criou as condições para que Absalão pudesse matar Amnom. Achava que, assim como havia “deixado para lá” a desonra de Tamar, Absalão também não se importava com o caso, numa comprovação de que não conhecia a índole de Absalão, que era completamente ausente do que se passava na sua casa, de como eram seus filhos. Até mesmo Jonadabe, o amigo de Amnom, sobrinho de Davi, tinha conhecimento de que Absalão, desde o dia da notícia do abuso de Tamar, tinha decidido matar Amnom. Só quem sabia era Davi, o pai de ambos.

- Em nossos dias, não tem sido diferente. Os pais, na sua esmagadora maioria, não acompanham a vida de seus filhos, mesmo os de tenra idade, que são deixados para ser criados em creches, escolas ou nas casas de parentes e amigos (normalmente os avós). Se há uma necessidade de que ambos os cônjuges trabalhem para que se possa ter o mínimo para a sobrevivência (embora não possamos desprezar que este “mínimo para a sobrevivência” cada vez mais significa a satisfação de necessidades que não são essenciais, mas decorrem única e exclusivamente da mentalidade consumista de nosso tempo), também não podemos descurar de nosso papel como pais, que é indelegável, insubstituível. É mister que sacrifiquemos parte de nossas vidas pessoais na criação dos filhos, nem que seja horas de sono e momentos de lazer.

- A falta de acompanhamento do crescimento e da vida dos filhos faz-nos ficar na mesma situação em que ficou Davi, uma pessoa completamente alheia à realidade de seu lar e que, sem querer, colaborou decisivamente para que a desgraça chegasse à sua casa. Dirá alguém que Davi não tinha escape, diante da sentença divina. No entanto, quando a sentença divina veio, Davi já tinha sido um mau pai e um mau marido. Poderia ter evitado esta sentença divina se, em sendo uma pessoa dedicada à sua família, não tivesse um comportamento que, no limite, o levou a praticar tudo o que fez no “caso de Urias, o heteu”.

- Davi não participava do dia-a-dia familiar e esta sua ausência, muito bem notada por Absalão, foi a oportunidade que se teve para a vingança, que somente teve ocasião por causa, mais uma vez, da negligência de Davi em castigar Amnom pelo mal cometido contra Tamar. A falta de acompanhamento, a ausência traz a falta de autoridade e esta resulta em falta de disciplina. Um abismo chama outro e a família é completamente prejudicada, quando não, destruída.

- Absalão fez uma “festinha” que nada tinha a perder para as “festinhas” que ocorrem todos os dias entre jovens e adolescentes, não apenas os que têm seus pais no mundo, mas, mesmo, entre os que cristãos se dizem ser. A falta de acompanhamento, a ausência dos pais serve como estímulo para estas reuniões sem freios morais, para estes encontros onde impera a carnalidade. A festa de Absalão foi regada a vinho e tinha como objetivo a morte de Amnom. As festas de hoje em dia têm o mesmo roteiro: são regadas a álcool e outras drogas e têm como finalidade a morte, tanto física quanto espiritual. Vale a pena ter mais dinheiro e posição social e perder a família? Davi, se pudesse ser indagado hoje sobre isto, certamente diria que não.

- Após o crime cometido, Absalão fugiu para Gesur, onde buscou asilo junto a seu avô Talmai (II Sm.13:37). A política de alianças estabelecida no casamento de Davi com Maaca mostrava aí o seu lado deletério. Davi, nem se quisesse, poderia pedir o retorno de Absalão para justiçá-lo, pois isto representaria uma guerra entre os dois países. Sempre que nos aliamos indevidamente com o mundo, perdemos autoridade espiritual. Comprometendo-nos com coisas do mundo, haverá instantes em que não poderemos fazer o que Deus nos manda, por falta de condições. Por isso, não podemos jamais nos aliar, nos vincular com o mundo e com o pecado.

- Davi, porém, jamais iria tomar uma atitude drástica contra Absalão. Apesar do espírito prevenido do filho, o rei não tinha condição alguma de tomar qualquer iniciativa de justiçamento de Absalão, pois sabia que Absalão agira por causa da sua inércia. Além do mais, com a morte de Amnom, Absalão passara a ser o herdeiro presuntivo da coroa, já que muito provavelmente Quileabe (ou Daniel) não mais vivesse a este tempo, visto que as Escrituras nada falam a seu respeito.

- A morte de Amnom causou consternação em toda a família real. Todos choraram por ela e, certamente, houve um abalo no governo com tamanho escândalo entre os filhos de Davi. Davi, mesmo, chorou por seu filho muitos dias (II Sm.13:37), mas, pouco a pouco, consolou-se com a perda de Amnom (II Sm.13:39).

- Com a consolação vinda pela perda de Amnom, Davi começou a sentir saudades de Absalão, com quem certamente se identificava pelo seu modo de ser (II Sm.13:39). Apesar de Davi ter sido negligente e se comportado mal neste episódio como pai, vemos aqui, mais uma vez, um traço da personalidade de Davi que o faz ser, realmente, um homem segundo o coração de Deus. Davi, ao contrário de Absalão, não guardava rancor, mas era benigno e perdoador. Este aspecto do caráter de Davi aponta-nos para Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que não veio para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo.3:17; 12:47).

- Davi sabia que Absalão havia cometido um crime, mas não tinha o intento de se vingar de seu filho. Davi tinha por Absalão amor genuíno, autêntico, proveniente do Espírito Santo que nele habitava e que, por isso, era um amor benigno, que não se irrita, não suspeita mal e que tudo suporta (I Co.13:4-7).

- No entanto, apesar de ter sentido saudades de Absalão, de lhe querer bem, Davi não externou esta circunstância, o que foi desastroso, pois, como o homem não conhece o coração do outro, Absalão nunca pôde perceber isto e, como, ao contrário do pai, era rancoroso, acabou por alimentar um ódio que lhe seria fatal, não só no que respeita à sua vida, como também ao seu relacionamento com Davi.

- Joabe percebeu que Davi era benigno para com Absalão e, por isso, conseguiu, por intermédio de um estratagema, que Absalão fosse autorizado a retornar a Israel. Davi permitiu seu retorno, mas se recusou a vê-lo, tendo ficado mais dois anos sem ver o rosto de Absalão (II Sm.14:21-24,28). Este gesto foi outro desastre: Absalão, retornando do exílio, não sentiu o perdão do pai. Embora tivesse sido autorizado a voltar para Israel, não lhe foi concedido sequer que visse o rosto do rei. Absalão não sentiu o perdão paterno e isto fez com que passasse a odiar o seu pai

- Foram dois anos em que Absalão também arquitetou todo o seu plano para se vingar de seu pai. Absalão, em vez de “pai da paz”, era o “pai dos intentos malignos”. Quantos não são como Absalão, que não dormem porque, em suas camas, estão sempre a maquinar o mal, mesmo se dizendo “crentes” (cf. Mq.2:1). A estes, o proverbista diz que são pessoas enganadas (Pv.12:20), pessoas que se iludem e pensam que o mal que fazem ficará impune diante do Senhor. O próprio Davi mostra que tais pessoas são ímpias (Sl.36:4). Não sejamos dos tais!
OBS: Segundo Reese, o Salmo 36 foi elaborado já nos últimos tempos do reinado de Davi, de forma que o salmo não se refere especificamente a Absalão, o que, aliás, está bem de acordo com o sentimento nutrido por Davi em relação a seu filho, como estamos a verificar.

- Foram dois anos planejando como matar Amnom e mais dois anos planejando como se vingar do rei. Absalão era formoso, agradável como nenhum outro homem em Israel. Reunia, assim, em sua pessoa, todos os aparatos necessários para ter uma liderança carismática: a boa aparência e a agradabilidade, a simpatia, a popularidade. Tomemos cuidado, porque, assim como naqueles dias em Israel, o inimigo de nossas almas levanta, no meio do povo de Deus, “Absalões”, que, tendo o nome de “pais da paz”, são formosos e agradáveis, mas que trazem consigo o “vírus da rebelião”, que têm como objetivo contaminar o povo do Senhor com a amargura e o rancor, levando-os a se insurgir contra aqueles que foram constituídos por Deus.

- Passados dois anos, Absalão chamou Joabe, pois queria ver a face do rei. Era necessário que tivesse ele uma aparência favorável diante do povo, que não mais se considerasse como um proscrito do reino. Joabe, sabedor das intenções de Absalão, não quis atender aos chamados de Absalão, até que, por ter havido o incêndio da cultura de cevada de Joabe, conseguiu que Joabe lhe falasse e que ele intermediasse seu encontro com Davi (II Sm.14:28-32).

- Naquele encontro, Davi poderia ter se redimido de tudo quanto havia feito de errado neste caso. Tivesse demonstrado a sua benignidade com relação a Absalão, externado as suas saudades, certamente seu amor teria coberto uma multidão de pecados (Tg.5:20; I Pe.4:8) e o intento rebelde de Absalão se aplacaria. No entanto, foi um encontro meramente protocolar. Absalão prostrou-se diante do rei e Davi o beijou. Não há registro de qualquer atitude sentimental por parte de ambos. Foi uma mera formalidade que somente serviu para consolidar, no coração de Absalão, as suas más intenções (II Sm.14:33).

- O formalismo, nos dias hodiernos, tem contribuído também para que o amor sucumba, para que não haja a lídima manifestação do amor de Deus na vida de muitas pessoas. Davi não quis se mostrar benigno, temendo que, com isso, sua autoridade fosse diminuída. Absalão, com seu ressentimento, não tinha condição alguma de demonstrar amor por seu pai. O resultado foi que o encontro não aproximou pai e filho, mas, antes, os afastou de vez, pois, a partir daí, Absalão iniciou a execução de seu plano. Será que não temos deixado o amor de Deus ser sufocado em nossas vidas por causa do formalismo, das convenções sociais? Ainda há tempo de fazermos o amor brotar!

II – A REBELIÃO DE ABSALÃO

- O encontro gélido entre Davi e Absalão consolidou o intento de rebelião. Por primeiro, Absalão aparelhou carros e cavalos, bem como cinquenta homens que corressem adiante dele. Formou, assim, uma guarda particular e se muniu do necessário para se locomover rapidamente pelo país. Zelava, assim, pela sua imagem, mostrando ter poderio e “classe”, com uma aparência real que impressionasse o povo.

- Devemos ter muito cuidado com a aparência. Ela é enganosa e não serve de critério para o julgamento (Jo.7:24). Absalão tinha de aparecer para o povo como um verdadeiro rei, como “o cara”, aquele que daria orgulho a toda a nação pelo seu porte e sua condição. Já era o homem mais belo de seu tempo, ostentava uma grande cabeleira, que era tosquiada uma vez ao ano (II Sm.14:26), de modo que, aliado a esta circunstância que a própria natureza lhe dera, acresceu estes carros, cavalos e homens.

- Muitos, hoje em dia, têm sido guiados pela aparência. Existem, mesmo, profissionais que cuidam precisamente da imagem das chamadas “celebridades”, visando sempre angariar popularidade, simpatia e influência sobre as demais pessoas. Vivemos na era do audiovisual, onde a aparência tem dominado a tudo e a todos. Já soubemos de verdadeiros cursos para pregadores e cantores, a fim de que, pela aparência, consigam levar os crentes ao delírio e, assim, possam bem arrecadar de igreja em igreja. Tomemos cuidado e sigamos o conselho de Jesus sobre não julgarmos segundo a aparência.

- Mas Absalão não impressionava apenas pela aparência. Também, ante a facilidade de locomoção, fazia questão de se levantar pela manhã e ficar a uma banda do caminho da porta do palácio do rei em Jerusalém. Ali, fazia questão de falar com cada um que vinha para tentar uma audiência com o rei e, ao conversar com a pessoa, dizia que ele era bom e reto, mas que ninguém, no palácio, poderia tratar do caso. Então, suspirava, dizendo que bom seria se ele mesmo se tornasse juiz em Israel e, como se isto não bastasse, quando alguém chegava para se inclinar diante dele (pois ele era príncipe), ele não o permitia, estendia a sua mão, pegava-o e o beijava. Assim, dizem-nos as Escrituras, Absalão furtou o coração dos homens de Israel (II Sm.15:2-6).

- Absalão, como já dissemos, era popular e agradável. Assim como Davi, era alguém que gostava de viver no meio do povo, de se relacionar com as pessoas. Extremamente sociável, Absalão soube se aproveitar deste seu traço de personalidade para se aproximar da população e começar a lhe fazer promessas e a instigá-los contra o governo constituído.

- Absalão mostra-nos outro traço característico do rebelde, do que está em busca de seguidores: o egocentrismo. Por detrás de todo seu suposto interesse pelo povo, havia um autoelogio, uma autoexaltação: “Ah, quem me dera ser juiz na terra! Para que viesse a mim todo o homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça” (II Sm.15:4). O grande líder rebelde que está para surgir no mundo, o Anticristo, também agirá desta maneira, a ponto de Jesus ter dito que “virá em seu próprio nome” e será aceito (Jo.5:43). Os verdadeiros líderes na Igreja nunca vêm em seu próprio nome, mas em nome do Senhor.

- Absalão postava-se a uma banda do caminho da porta, ou seja, não podia interromper o acesso do povo ao rei, mas ficava à margem do caminho, chamando a atenção do povo. Quem passasse por ele e não parasse, certamente chegaria até o palácio real e seria recebido por Davi, pois não havia qualquer notícia de que Davi não atendesse o povo. No entanto, quem parasse e fosse persuadido por Absalão, sairia dali revoltado e indignado, sem ter resolvido seu problema e passando a servir tão somente aos interesses de Absalão.

- É assim que ocorre atualmente em muitas igrejas locais. Muitos, em vez de irem ao encontro do rei, que é o Senhor Jesus, prestam mais atenção naquele que está a uma banda do caminho, que já não tem comunhão com o Senhor e, por isso, se põe do lado de fora do palácio real. Ainda que cercado de carros, cavalos e de um séqüito impressionante, não têm acesso à casa do rei.

- Não podemos deixar de olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:1,2), nem muito menos deixar de seguir o caminho que nos conduz à vida eterna (Jo.14:6). Se pararmos à margem do caminho, encontraremos “Absalões”, que são pessoas rebeldes, que querem simplesmente se exaltar e nos desviar da comunhão com o Senhor. Com Absalão, o povo não tinha solução para os seus problemas, não via a face do rei e saía para as suas cidades indignado, revoltado e com o seu coração disposto a tão somente beneficiar Absalão. Precisamente o que ocorre hoje: estes falsos líderes, falsos apóstolos, falsos profetas, falsos cristos desviam o povo da comunhão com Deus, tornam-nos revoltados com tudo e com todos e dispostos tão somente a providenciar o bem destes mesmos líderes rebeldes. Não percamos nossa salvação permitindo que nossos corações sejam furtados por este tipo de gente!

- Davi, também, teve sua parcela de culpa. Como era um pai ausente e totalmente descuidado, não se importou em saber o que fazia Absalão a uma banda do caminho da porta de seu palácio. Obcecado pela sua vida “profissional”, nem ao menos se interessou em saber se Absalão não estava ali precisamente para prejudicar o exercício do governo. É incrível, mas, em sua negligência, não percebeu que diminuíam aqueles que vinham procurá-lo para resolver questões e demandas, também não se importou com os comentários desairosos que começaram a surgir no reino a respeito de sua suposta negligência no tratamento das questões do povo.

- Talvez, podemos até imaginar, Absalão tinha uma parcela de razão. Se Davi não se negava a atender o povo, o fato de não ter esboçado qualquer reação com esta diminuição de causas talvez fosse a demonstração de uma certa “burocratização” que este serviço havia assumido durante anos de reinado. É um grande perigo no exercício de qualquer tarefa a sua automatização, a sua transformação em mera rotina, sem qualquer dedicação ou vontade.

- Na obra do Senhor, então, isto não pode ocorrer. Quando alguém passa a fazer a obra de Deus por mera rotina, sem qualquer envolvimento de coração, corre o risco de vir a sofrer muitas agruras ao longo da jornada. Quem trata as coisas como rotina, como algo automático, facilmente se cansa do que está a fazer, pois o cansaço nada mais é que a ruptura temporária do equilíbrio interno, que a falta de capacidade para realizar um esforço e a ausência de motivação, de energia produz o cansaço. A obra de Deus realizada desta maneira desagrada ao Senhor, como vemos, claramente, em Ml.1:13, pois o sentimento de cansaço revela desprezo para com as coisas de Deus.

- Davi parece que estava neste estado, quem sabe até festejando a diminuição de causas que se lhe apresentavam, pois, assim, o serviço terminaria mais cedo e ele poderia descansar… Mal sabia ele que, pelo seu desinteresse em o que estava acontecendo do lado de fora do palácio, haveria de pagar um alto preço…

- Quantos, na atualidade, não estão a sofrer do mesmo mal. Vivemos dias em que não faltam aventureiros a se apresentar, diante do povo de Deus, como falsos profetas, falsos cristos, falsos apóstolos, falsos mestres. É mister que isto aconteça, para que se cumpram as profecias. Mas não é por causa disto, ou até é em virtude disto, que cada um deve ser vigilante o bastante para não dar lugar a este tipo de gente. Muitos são os obreiros que estão como Davi: encastelam-se em seus gabinetes palacianos e pouco se importam se o povo vem, ou não, ao seu encontro. Nem indagam porque diminui o povo que está à sua procura, nem buscam saber se não há “Absalões” à beira do caminho. O resultado é que, mais cedo, mais tarde, serão todos surpreendidos pela rebelião e pela perda da posição, pois os ladrões terão furtado o coração do povo que estava sob sua responsabilidade e, o que é pior, não há qualquer garantia de que, como Davi, conseguirão retornar ao convívio palaciano. A estes, cabe-nos tão somente reproduzir as palavras de Jesus: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai” (Mc.13:37) ou, ainda, “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap.3:11). O que tem de gente por aí já descoroado por aí…

- Quando Absalão fez quarenta anos de idade (ou segundo a tradução da Septuaginta, quando se completaram quatro anos da volta de Absalão a Israel), pediu ao rei que lhe permitisse ir a Hebrom a fim de que pagasse um voto que fizera em Gesur de que serviria ao Senhor se tornasse a Jerusalém (II Sm.15:7). Vemos aqui que Absalão apresenta outra característica do rebelde: a mentira. A mentira já estava presente em todas as dissimulações que Absalão fazia com o povo, com muitas promessas mas nenhuma solução. No entanto, a mentira passou a ser explícita no instante em que pediu a Davi ordem para ir a Hebrom, o que obteve facilmente, já que Davi estava totalmente alheio à realidade que o cercava (II Sm.15:9).

- Em Hebrom, Absalão fez aquilo que tanto planejara. Mandou aviso às tribos de Israel, por meio de espias, dizendo que quando tocassem as trombetas em Hebrom, Absalão fosse declarado rei de Israel(II Sm.15:10). Notamos neste gesto de Absalão outras características do rebelde, a saber:
a) o rebelde sempre trabalha na “surdina”, ou seja, a dissimulação é sua técnica, não há transparência em suas atitudes. Por isso, o homem de Deus deve sempre buscar ser transparente, a fim de não ser confundido com o dissimulador, com o ímpio (algo que não tem sido observado em nossas igrejas locais, para tristeza e lamento de nossa parte). Tanto é assim que, no instante de sua “aclamação”, Absalão conseguiu a companhia de duzentos convidados que de nada sabiam e que haviam sido enganados na sua simplicidade (II Sm.15:11).
b) o rebelde tem a seu favor um “serviço de inteligência” – a dissimulação funciona sempre que se possuem espiões, informantes. O maior “serviço de inteligência” eu existe, como nos ensina o pastor Ailton Muniz de Carvalho, é o do diabo, que tem a seu serviço milhões de demônios, razão pela qual sempre está muito bem informado, tão bem informado que muitos chegam até a achar que ele é onisciente, o que, evidentemente, não é a verdade.
c) o rebelde sempre trabalha eficazmente a comunicação – o bom rebelde precisa ter um bom serviço de comunicação para poder aparecer e se apresentar melhor que a autoridade constituída. Absalão mandou “tocar trombetas” e, ante estas trombetas, fazer que se anunciasse que já reinava em Hebrom. Nos dias hodiernos, muitos rebeldes têm se valido da mídia para se fazer ouvir e aparentar o que não são.

- A estratégia de Absalão deu grande resultado. Aitofel, o principal conselheiro de Davi, homem tão sábio que suas palavras eram tidas como a própria palavra de Deus naqueles dias (II Sm.16:23), impressionado com o movimento, traiu Davi e se aliou a Absalão, o que teve grande repercussão no meio do povo, a ponto de, a cada instante, a conspiração se fortificar de tal maneira (II Sm.15:12) que, quando Davi percebeu, notou que não tinha condição alguma de enfrentar a revolta, resolvendo abandonar Jerusalém, deixando-a à mercê de Absalão (II Sm.15:13,14).

- A traição de Aitofel leva-nos a uma reflexão. Apesar de ser um homem extremamente sábio, praticamente um profeta, visto que seu conselho era como se fosse a palavra de Deus naqueles dias, ele se deixou persuadir por Absalão, vindo a se rebelar contra o ungido do Senhor. Entendem alguns rabinos que Aitofel era avô de Bate-Seba, pois Eliã, que é apontado como pai de Bate-Seba (II Sm.11:3), é identificado como filho de Aitofel na relação dos valentes de Davi (II Sm.23:34). Assim sendo, Aitofel teria traído Davi como resultado do ressentimento gerado quando do “caso de Urias, o heteu”, o que, inclusive, explicaria esta traição precisamente no momento em que “a espada voltaria a se manifestar na casa de Davi”, bem como haveria “o mal sobre as mulheres de Davi”.

- Este pensamento é corroborado, ainda, pelo fato de que foi Aitofel quem sugeriu a Absalão que entrasse às dez concubinas que haviam sido deixadas pelo rei no palácio, a fim de que o povo de Israel dúvida alguma tivesse da inimizade entre Davi e Absalão, do caráter irreversível da rebelião (II Sm.16:21,22).

- Entretanto, Aitofel, cujo nome significa “irmão de loucura”, “irmão da insensatez” ou “tolo”, apesar de toda a sua sabedoria e do alto conceito adquirido na sociedade israelita, deixou-se enganar por Absalão, não resistiu às aparências apresentadas pelo príncipe nem pelas estratégias de comunicação e persuasão do rebelde.

- Aitofel era um nome proeminente da corte de Davi, um respeitado conselheiro real, o mais importante de todos eles, tão considerado pelo rei que, quando este soube que havia sido traído, fez uma oração especial ao Senhor para que o conselho de Aitofel fosse transtornado, porquanto sabia que, se isto não ocorresse, não teria praticamente chance de alterar o quadro adverso pelo qual estava passando (II Sm.15:31), tendo, inclusive, pedido que Husai voltasse para ficar ao lado de Absalão com o único objetivo de transtornar o conselho de Aitofel (II Sm.15:32-37).

- Todavia, Aitofel era dotado de uma sabedoria que é como se fosse da parte de Deus, mas não o era. Diz a Bíblia que seus conselhos eram “como se fosse a palavra de Deus”, mas não era a Palavra de Deus. Isto nos mostra que Aitofel não era um profeta, apenas um sábio, um sábio segundo o mundo, um sábio carnal e, como tal, o portador de uma sabedoria que não vem do alto, que é terrena, animal e diabólica, porque consistente em amarga inveja e sentimento faccioso no coração (Tg.3:14-16).

- Tanto assim é que Aitofel logo criou uma situação para tornar impossível qualquer reconciliação entre Davi e Absalão, através do abuso das concubinas de Davi pelo príncipe. Aitofel, também, quis ter doze mil soldados que, sob seu comando, fossem ao encalço de Davi a fim de que fosse logo ele destruído, diante da situação precária em que o rei destronado se encontrava, conselho que foi transtornado por Husai. Ao ver que Absalão não seguira seu conselho e, com isso, Davi teria condições amplas de retornar ao trono, Aitofel foi até sua casa, deixou tudo em ordem e se suicidou (II Sm.17:1-23).

- Aitofel figura aqueles que, embora tenham servido a Jesus Cristo, fizeram-no ou desde o início única e exclusivamente por meio da carne, visto que não nasceram de novo, não alcançaram a salvação, mas tão somente se tornam prosélitos do cristianismo, religiosos e nada mais do que isto, ou, então, a partir de um determinado período da caminhada da fé, desviaram-se do caminho, embora se tenham mantido nominalmente cristãos, passando a negar o Senhor, que os resgatou, com seu “modus vivendi” (cf. II Pe.2:1-3).

- Aitofel tipifica aqueles que, nestes nossos dias, deixar-se-ão seduzir pelos falsos discursos, pelos falsos mestres e apostatarão da fé, desviando-se da verdade e dano ouvidos a espíritos enganadores, a doutrinas de demônios e que amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências (I Tm.4:1; II Tm.4:3,4). Aqueles “quase todos” que, diante da multiplicação da iniquidade, esfriarão seu amor a Deus (Mt.24:12).

- Se não tivermos comunhão com o Senhor Jesus, se não buscarmos a verdadeira sabedoria, seremos, sim, enganados pelo inimigo, por mais sábios que sejamos segundo a carne. Vigiemos para que não sejamos enganados como foi Aitofel que, ao perceber que havia escolhido “o lado errado”, estava num estado espiritual tão lastimável, sem qualquer esperança de perdão, que, em vez de buscar a reconciliação com Davi, cuja benignidade bem poderia livrá-lo da morte, preferiu seguir o destino da perdição, suicidando-se. Neste passo, aliás, Aitofel também prefigura a Judas Iscariotes que, tendo servido a Cristo, também assumiu o papel de traidor e acabou por se suicidar, tornando-se o “filho da perdição”. Por isso mesmo, alguns estudiosos das Escrituras procuram ver no Sl.55:12-14 uma referência histórica a Aitofel e profética a Judas. Reese, mesmo, entende que este salmo foi composto durante a revolta de Absalão.
- Davi, ao saber da proclamação de Absalão em Hebrom e que todo o povo o seguia, decidiu sair de Jerusalém, apressando-se em fazê-lo. Se havia sido negligente no acompanhamento dos fatos até a rebelião, ao verificar que não tinha popularidade e que a revolta tinha o agrado do povo, comportou-se como um verdadeiro estadista. Apressou-se em sair da capital, deixando-a livre para o usurpador, não só para escapar com vida, mas, também, para evitar que Jerusalém fosse atacada e sua população morta ao fio da espada (II Sm.15:14).

- Vemos aqui o desprendimento que Davi tinha para com a sua posição real, um comportamento bem diferente daquele que tinha Saul. Embora tivesse inclusive sacrificado sua vida familiar em virtude do exercício do reino, Davi não punha a sua confiança na posição ou no cargo, mas, sim, em Deus. Ao perceber que sua permanência no trono traria transtornos ao seu povo, preferiu sair de Jerusalém. Como seria bom que os líderes da atualidade tivessem esta mesma conduta, não se apegando aos cargos e funções, mas sempre tendo em vista o bem-estar do povo que, afinal de contas, é o rebanho de Deus…

- Este desprendimento de Davi também é evidenciado pelo fato de não ter obrigado pessoa alguma a segui-lo. Quando saiu, deixou dez concubinas no palácio real, para guardá-lo. Não quis levar todo o “harém” consigo, pois sabia que isto, além de atrapalhar a jornada, poria em risco a vida das próprias pessoas. Tanto é verdade que, embora as concubinas tenham sofrido abuso por parte de Absalão, o gesto de Davi poupou-lhes a vida, já que, quando o rei retornou, estavam todas vivas, o que não ocorreria caso tivessem ido com o rei na fuga (II Sm.20:3).

- Davi não forçou pessoa alguma a segui-lo. Seus servos o acompanharam e o rei não objetou tal companhia, pois sabia que, pela função que exerciam, corriam risco de morte caso ficassem em Jerusalém. Já com relação a Itai, giteu, fez-lhe a proposta de que ficasse em Jerusalém pois, por ser estrangeiro, poderia ser aproveitado por Absalão, com isto como que “dispensando” os seus valentes estrangeiros, mas todos, de livre e espontânea vontade, resolveram seguir a Davi, mesmo sabendo que o momento era adverso (II Sm.15:19-22).

- O mesmo Davi fez com os sacerdotes que, inclusive, trouxeram a arca para acompanhar Davi. O rei disse para que eles ficassem em Jerusalém, pois ali era o seu lugar, apenas tendo pedido que mandassem informações a respeito de Absalão e seus homens. Neste instante, vemos como Davi era desprendido do poder e do cargo, das coisas desta vida, pois afirmou aos sacerdotes que, se Deus quisesse e ele retornasse em paz, veria outra vez a arca do Senhor na capital (II Sm.15:24-29).

- Segundo Reese, neste momento, quando Davi manda que a arca voltasse a Jerusalém, compôs o Salmo 61, uma oração em que o abatido clama a Deus, pedindo para que o Senhor o leve até “a rocha que é mais alta do que eu” (Sl.61:1,2). Nos momentos de dificuldade e de adversidade, nada como lembrarmos que aqui não é o nosso descanso e que nosso objetivo é morarmos para sempre com o Senhor, “a rocha mais alta do que eu”. Temos esta confiança? É esta a nossa esperança (I Jo.3:1-3)?

- Davi estava destronado e não tinha ainda a revelação divina do que lhe sobreviria. Não sabia se permaneceria, ou não, no governo de Israel. Mas isto não abalou a sua esperança de vida eterna, nem tampouco de que não faltaria descendência sua para reinar sobre Israel. Sabia que habitaria no tabernáculo de Deus para sempre (Sl.61:4), que os anos do rei seriam como muitas gerações (Sl.61:6). Saindo de Jerusalém, Davi renova o seu voto de servir ao Senhor eternamente, de cantar-lhe salmos perpetuamente (Sl.61:6,8).

- Como Davi era diferente de muitos crentes e de muitos pregadores de prosperidade nestes dias. Para estes, se a adversidade chegou, se perderam tudo quanto haviam recebido, é sinal de que estão em pecado, de que não podem mais usufruir da salvação em Cristo Jesus. Para estes, até, é momento de “cobrar Deus”. Davi, no entanto, depois de tantos anos, voltando a perder posição, casa, amigos, continuava fiel a Deus e crendo em Suas promessas, pois sua confiança não estava nas bênçãos recebidas da parte de Deus, mas, sim, no Deus da bênção. Será que podemos repetir as palavras do rei destronado no Salmo 61? Que Deus nos dê esta graça!

- Neste seu gesto, Davi tipifica, uma vez, o Senhor Jesus. Jesus não obriga que pessoa alguma o siga. Quem resolver segui-lo, deve saber que irá tomar um caminho de sofrimento, de renúncia, de incompreensão do mundo. Todos seguiam a Absalão, os servos de Davi estavam que na “contramão da história”. É precisamente este o caminho que o Senhor nos propõe. Ninguém pode reclamar as agruras e as lágrimas do caminho, mas deve ter a confiança suficiente de que nosso comandante trar-nos-á a vitória e entraremos em Jerusalém no momento oportuno, apesar de todo o sofrimento, de toda a oposição. Jesus não lança pessoa alguma fora (Jo.6:37), mas não prende ninguém para segui-lO (Jo.6:67). Temos seguido a Jesus, ou temos retrocedido neste caminho? Estamos dispostos a seguir a Jesus ou estamos esperando que Ele nos venha prender para depois nós O seguirmos?

- Enquanto Absalão mandava chamar Aitofel de Gilo, onde estava o sábio a fazer seus sacrifícios (II Sm.15:12), Davi subiu o monte das Oliveiras e foi pedir direção a Deus (II Sm.15:30-32). O líder escolhido de Deus busca a direção do Senhor, adora-O e nada faz que não seja segundo o parecer do Espírito Santo (At.15:28), enquanto que o líder construído pela habilidade humana, o líder carnal, o líder midiático sempre busca sua direção e estratégia junto aos sábios segundo o mundo. Que tipo de líderes têm sobressaído em nosso meio? Que tipo de líderes temos seguido? Tomemos cuidado!

- Neste ponto, devemos nos lembrar da magistral obra de John Bunyan, O Peregrino, quando o autor nos mostra que, logo no início de sua jornada, Cristão se encontra com Sábio-Segundo-o-Mundo, morador da cidade da Prudência Carnal, que não fica longe da cidade da Destruição. Esta personagem quase fez Cristão desviar de seu caminho, oferecendo-lhe uma vida “mais fácil” que a da jornada ao céu, onde a moralidade, legalidade e a urbanidade lhes dariam uma existência digna e honrada. Não podemos buscar nestas coisas a nossa salvação, mas, sim, única e exclusivamente na direção do Espírito Santo. Somos guiados pelo Espírito ou temos nos prendido a mandamentos de homens e de demônios? Tomemos cuidado!
OBS: “…Cristão – Quanto a mim, sei perfeitamente o que quero: ver-me livre deste pesado fardo.
Sábio – Compreendo isto. Mas para que hás de ir por um caminho tão perigoso, se eu posso indicar-te outro em que não há nenhuma dessas dificuldades? Tem um pouco de paciência, e ouve-me: o meu remédio está à mão, e em vez de perigos, acharás segurança, amigos, e satisfação.
Cristão – Então fala; peço-te com muita insistência; descobre-me esse segredo.
Sábio – Olha: nessa aldeia próxima, que se chama Moralidade, vive um homem de muito juízo e grande reputação, cujo nome é Legalidade, o qual é muito hábil em tratar pessoas como tu, o que tem sido provado com numerosos exemplos; além disso, também sabe curar os indivíduos que padecem do cérebro. A casa dele fica daqui a um quarto de légua, quando muito, e, se ele não estiver em casa, seu filho, Urbanidade, que é um mancebo de grande talento, poderá servir-te tão bem como seu pai. Não deixes de lá ir. E se não estás disposto, como não deves estar, a voltar à tua cidade, manda buscar tua mulher e teus filhos, porque na aldeia de que te falo há muitas casas devolutas, e podes arranjar uma por preço muito módico. Outra coisa boa aí encontrarás: vizinhos honrados, de fino trato e bons costumes. A vida ali é muito barata e cômoda.
Ao ouvir estas palavras, Cristão ficou indeciso durante alguns momentos, mas logo lhe acudiu este pensamento: - Se é verdade o que ele diz, a prudência manda-me seguir as suas palavras.
Cristão – Por onde é que se vai à casa desse honrado homem?(…)
Algum tanto mais animado, Cristão levantou-se, mas sempre envergonhado e trêmulo.
Evangelista prosseguiu: Presta atenção ao que vou dizer-te: vais saber quem foi que te enganou, e para quem te ias dirigindo. O primeiro era Sábio-Segundo-o-Mundo, nome que muito apropriadamente usa: antes de tudo, porque só gosta das doutrinas deste mundo (I João 4:5), pelo que vai sempre à igreja da cidade da Moralidade, e gosta dessa doutrina, porque ela o livra da cruz (Gálatas 6:2); em segundo lugar, porque sendo carnal o seu temperamento, procura perverter os meus retos desígnios. Por isso há três coisas nos conselhos que esse homem te deu, as quais devem ser execrandas para ti:
1.ª – Haver-te desviado do caminho;
2.ª – Haver-te tentado fazer com que aborreças a cruz;
3.ª – Haver-te encaminhado por essa vereda que conduz à morte.
Deves, portanto:
1.º – Repudiar a quem te desviou do caminho, erro em que caíste, e que equivale a desprezar o conselho de Deus para seguir o do homem. O Senhor disse: “Porfiai em entrar pela porta estreita.” (Lucas 13:24). Para essa porta é que te dirigias. “Porque estreita é porta que conduz à vida, e poucos são os que acertam com ela.” (Mateus 7:13-14). Esse malvado desviou-te daquela porta, e do caminho que a ela vai ter, para lançar-te na perdição. Odeia, pois, o seu procedimento, odianto-te também a ti mesmo por lhe haveres prestado ouvidos.
2.º – Detestar aquele que diligenciou que a Cruz te repugnasse, porque deves preferi-la a todos os tesouros do Egito (Hebreus 11:25-26). Além do que, o Rei da Glória disse-te que “aquele que salvar a sua vida perdê-la-á” e “se alguém vem após mim e não aborrece seu pai e sua mãe, filhos, irmãos e mulher e irmãs, e a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Marcos 8:35; Lucas 14:26-27; João 12:25; Mateus 10:37-39). Por isso te digo que uma doutrina que busca persuadir-te de que é morte aquilo que a Verdade disse que é indispensável para se obter a vida eterna, é uma doutrina abominável e que deves detestar.
3.º – Aborrecer aquele que te encaminhou para a senda que conduz ao mistério da morte.
Agora podes calcular se a pessoa a quem te dirigias, seria capaz de te livrar do teu fardo. Essa pessoa chama-se Legalidade, e é um dos filhos da escrava, que ainda está na escravidão, assim como seus filhos (Gálatas 4:21-27), misteriosamente representada pelo monte Sinai, que tu receaste iria cair sobre ti. Ora, se ele e seus filhos estão na escravidão, como poderias tu esperar que te dessem a liberdade? Oh! Nunca! Não seria capaz Legalidade de te libertar, de livrar-te do fardo. Nunca livrou pessoa alguma, nem poderá jamais fazê-lo. Não podes ser justificado pelas obras da lei, porque por elas nenhum vivente pode ser aliviado da sua carga. Fica, pois, sabendo que Sábio-Segundo-o-Mundo é um embusteiro e Legalidade, apesar do seu sorriso afetado, não passa de um hipócrita, sem préstimo para coisa alguma. Crê que tudo quanto ouviste a esses insensatos não foi mais do que uma tentativa para te afastar da salvação, desviando-te do caminho que te havia indicado.…” (BUNYAN, John. O Peregrino. Digitalização de Carlos Boas., pp.10,13).

- Ao adorar a Deus, no monte das Oliveiras, Davi compôs o Salmo 3. Ali, apesar da multiplicidade de seus adversários, o rei destronado ainda tinha a Deus como o seu escudo, a sua glória, o responsável pela sua exaltação (Sl.3:1,2). O estresse era imenso, mas Davi não perdeu o sono, porque confiava em Deus (Sl.3:5). Será que temos esta fé ou estamos perdendo o sono por causa de nossos problemas. Nós mesmos já perdemos o sono mais de uma vez, mas, quando isto acontece, devemos nos humilhar na presença do Senhor. Em vez de ficar rolando de um lado para outro da cama, devemos nos ajoelhar e clamar ao Senhor, pedindo o aumento da nossa fé e, certamente, o Senhor nos dará o sono, pois está pronto a nos sustentar.

- Davi, apesar da situação delicada em que se encontrava, não tinha medo, mesmo sem saber o que lhe sobreviria. Sabia que a salvação, se viesse, viria do Senhor e por ela clamava, pondo-se nas mãos do seu Deus (Sl.3:6-8). Por fim, mostrando que, como bom líder, punha o interesse público acima do seu, independentemente do que lhe estava para acontecer, pedia a bênção de Deus sobre Israel (Sl.3:8).

- Além do Salmo 3, segundo Reese, nesta adoração no monte das Oliveiras, Davi também compôs os salmos 22, 14 e 53. O Salmo 22, que seria recitado pelo Senhor Jesus na cruz do Calvário (Mt.27:46; Mc.15:34), é um clamor do rei em virtude do estado de abandono em que se encontrava, salmo talvez motivado pela notícia de que até Aitofel, seu conselheiro principal (I Cr.27:33), havia se aliado a Absalão. Davi se sentia desprezado do povo, um verme e não homem, zombado por todos (Sl.22:6,7). Neste instante, Davi tipificava o Senhor Jesus na cruz do Calvário, como, aliás, também profetizaria Isaías a respeito (Is.53).

- Ainda que estivesse num estado desesperador (Sl.22:12-18), Davi mostra que confiava em Deus e que seria livrado da espada, da boca do cão, da boca do leão (Sl.22:20,21). Sabia que Deus poderia livrá-lo e, por isso, já conclamava o povo a louvar ao Senhor, porque é um Deus que não despreza nem abomina a aflição do aflito nem esconde dele o Seu rosto (Sl.22:22-24), pois é Deus quem reina e domina sobre as nações (Sl.22:28-31).

- Nos salmos 14 e 53 (que têm textos muito parecidos), Davi mostra que, apesar de toda a situação, que era decorrente das consequências de seu pecado, era daqueles que buscavam ao Senhor, enquanto que os seus inimigos eram néscios, pessoas que criam na sabedoria humana, que desprezavam a Deus. Vemos aqui, na revolta de Absalão, a tipificação daqueles que servem a Deus e não O servem. A grande maioria segue o rebelde, estriba-se na sabedoria humana, na aparência e nos enganos decorrentes das eficazes estratégias de comunicação. O resultado é que praticam o mal e fazem com a corrupção reine soberana entre as suas hostes. Já os servos de Deus são pequenos em número, sofrem agruras, parecem não ter como se livrar da opressão do adversário, mas marcharão seguindo ao Senhor e terão, no fim, a vitória. Como diz Davi nestes dois salmos, o Senhor fará voltar os cativos de Seu povo e Jacó se regozijará e Israel se alegrará (Sl.14:7; 53:6).

- De que lado estamos? Estamos do lado da imensa maioria que segue a rebelião contra Deus, que está vivendo com base na aparência e nas estratégias de comunicação, ou estamos a seguir a Jesus, mesmo em meio a choros, lágrimas e perseguições? Temos seguido as instruções da sabedoria segundo o mundo ou, em adoração a Deus, buscado a direção do Espírito Santo? Pensemos nisto.

- Davi, ao descer um pouco do monte, acabou sendo enganado por Ziba que, com presentes e víveres para o rei e seus homens, conseguiu obter tudo que Davi havia dado a Mefibosete, consoante já estudamos, com pormenores no apêndice nº1, onde vimos, também, como Davi foi amaldiçoado e apedrejado por Simei (( II Sm.16:1-14). O rei sofria, assim, as consequências de seu pecado.

- Absalão não seguiu o conselho de Aitofel, tendo preferido a opinião de Husai, que havia sido mandado por Davi para transtornar o conselho de Aitofel. Absalão seguiu o conselho de Husai porque era egoísta e soberbo. No seu conselho, Husai tocou no ponto fraco do filho de Maaca: a vaidade. Ao dizer que deveria congregar todo o povo, como a areia do mar, e sobrevir sobre Davi e alcançar retumbante vitória, Husai desperto o ego do príncipe usurpador. Por que haveria Absalão de permitir que Aitofel, com um número relativamente pequeno de homens, fosse matar Davi, se ele próprio, com toda pompa e circunstância, poderia vencer o rei? Absalão, em sua vanglória, acabou desperdiçando a sua oportunidade de vencer Davi que, como Aitofel havia dito, estava com seus homens de moral baixo e com sérias dificuldades tanto físicas quanto psíquicas.

- Em Maanaim, Davi encontrou-se com Barzilai, que lhe deu a provisão necessária para a recuperação de seus homens. Não havia valentia, habilidade ou heroísmo que pudesse substituir a necessidade de uma boa e suficiente alimentação e descanso. Os homens de Davi deviam ter tempo para se recuperar, para se abastecer para que todo o seu valor pudesse ser eficaz na guerra contra Absalão e seu exército. A presença de Barzilai e seu gesto foram fundamentais para que Davi e seus homens recobrassem o ânimo necessário para a batalha (II Sm.17:27-29).

- Temos aqui uma linda lição espiritual. Não há como nos desvencilharmos da batalha espiritual sem que nos abasteçamos, sem que tenhamos instantes de repouso e recuperação. Uma das grandes armas do inimigo de nossas almas, atualmente, tem sido dar aos homens um ritmo alucinante, motivo pelo qual milhões e milhões de pessoas estão sendo vítimas de estresse e tantos outros males deste decorrentes, tanto físicos quanto psíquicos, inclusive os que servem ao Senhor.

- Davi precisava recuperar-se, assim como seus homens, do estresse da deposição, dos sofrimentos e das tristezas ocasionadas pela rebelião de Absalão. Muitos caem no “conto de Husai”, achando que, mesmo esgotados e cansados, podem, sim, enfrentar o maligno, porque mesmo “com o espírito amargurado”, são “como a ursa no campo, roubada dos cachorros” (II Sm.17:8), ou seja, “como uma ursa selvagem da qual roubaram seus filhotes” (II Sm.17:8 NVI). Na verdade, somos seres humanos e, em meio às adversidades, realmente nos “dobramos” (a palavra “cansaço” significa “dobra” em latim), nos curvamos às circunstâncias e, por isso, nestes instantes, precisamos, em primeiro lugar, buscar a Deus, como fez Davi, que subiu o monte para adorar o Senhor; em segundo lugar, ter o necessário abastecimento e repouso, tanto físico, quanto espiritual, ou seja, ter momentos a sós com Deus para meditar na Sua Palavra, alimentar-se de toda palavra que provém da boca de Deus e orar ao Senhor (II Sm.16:14; 17:28,29).

- Jesus, mesmo, ensinou-nos a ter momentos a sós com o Senhor, devendo entrar em nosso aposento e ali orar em secreto ao Senhor (Mt.6:6). Não podemos permitir que o ritmo frenético dos nossos dias comprometa a qualidade de nossa vida espiritual e nos faça perder a salvação. Precisamos ir a “Maanaim”, cujo significado é “acampamento duplo”, ou seja, o lugar onde devemos parar (um acampamento), a fim de sermos fortalecidos pelo poder de Deus (pois a ideia de duplo nos evoca o poder de Deus – Sl.62:11). Um lugar de retiro, até porque Maanaim ficava situada nas fronteiras de Gade Manassés e Basã (Js.13:26,30), uma cidade de levitas (Js.21:38; I Cr.6:8), ou seja, um lugar apropriado para os que serviam ao Senhor. Um lugar onde vemos a presença de Deus, como viu Jacó ao voltar de Padã-Arã (Gn.32:1,2). Temos ido a Maanaim?

- Para sermos bem orientados, necessitamos ter a direção dAquele que tudo sabe. Só quem é guiado pelo Espírito tem acesso às verdadeiras informações. Enquanto Absalão até tinha notícia de que havia espias a levar informações a Davi, mas não conseguiu encontrá-los, Davi de tudo ficava sabendo, porque Deus estava no controle da situação (II Sm.17:15-22). A informação, dizem os estrategistas militares, é fundamental para alcançar a vitória numa guerra. Assim, devemos ter plena comunhão com o Senhor, que tudo sabe e tudo vê, para que não venhamos a ser surpreendidos pelo adversário na batalha cotidiana em busca da perseverança na salvação.

- Lamentavelmente, porém, nos dias difíceis em que vivemos, não são poucos os que desprezam a informação do Espírito Santo. Não querem saber qual é a Sua direção, qual é o Seu conselho. Preferem correr atrás de “revelações”, de “visões”, em vez de buscar a Palavra de Deus, em vez de buscar ao próprio Deus, através da oração, da meditação nas Escrituras. Vão atrás de “profetas”, de “vasos”, de “caixinhas de promessas”, de “tiradores de palavra”. O fim destes será o mesmo do de Absalão: a derrota, o fracasso. Despertemos enquanto é tempo!

- Segundo Reese, neste instante tão difícil de sua vida, Davi, nos momentos de recuperação e revigoramento, compôs os salmos 42, 43, 55, 71, 28, 143, 40, 27, 69, 120 e 121 (estes dois últimos “cânticos dos degraus”, Reese entende serem de autoria davídica, o que, entretanto, não se encontra explícito no texto sagrado). Esta profusão de salmos mostra-nos como Davi, apesar da terrível situação que vivia, estava em plena comunhão com Deus. São salmos em que o rei destronado expõe a sua aflição, a sua angústia, mas, ao mesmo tempo, mostra a sua confiança em Deus.

- Chega o dia da batalha. Davi dividiu suas tropas em três partes, entregando-as a Joabe, a Abisai e a Itai, tendo Davi ficado em Maanaim. O rei destronado mandou expressamente que não matassem nem fizessem mal a Absalão. Tinha entendido que não havia externado seu amor para com seu filho e sua disposição para o perdão era evidente. A batalha se deu no bosque de Efraim e Davi teve grande vitória, vitória esta que se deve mais a Deus que a seu exército. O Senhor mostrava ter ouvido todo o clamor do rei em seus salmos e houve mais mortes em virtude dos que consumiu o bosque do que os que foram mortos pela espada (II Sm.18:8). Deus trabalha como quer e fez ver que Sua vontade era que Davi reinasse sobre Israel e não quem o povo queria que fosse constituído rei.

- Joabe, então, aproveitando-se do fato de que Absalão havia ficado pendurado entre o céu e a terra, num carvalho, por causa de sua vasta cabelereira, matou Absalão, contrariando, assim, abertamente a ordem de Davi para que não fizessem mal a Absalão. Mais um episódio da lei da ceifa: assim como Joabe criara condições para que Davi obtivesse a morte de Urias, agora o mesmo Joabe impedia Davi de ter poupada a vida de seu filho (II Sm.18:9-17).

- Davi é informado, em Maanaim, a respeito da vitória militar e da morte de Absalão. A tristeza pela morte de seu filho é maior do que a alegria pela vitória militar e Davi se lamenta muito. Joabe, entretanto, obriga o rei a deixar de lamentar pela morte do filho, sob pena de ter mais uma ocasião para que surgisse algum abalo ao seu reino. O sacrifício da vida familiar em função do reinado chega aqui a um clímax: Davi é obrigado a silenciar sobre seu lamento sobre Absalão por causa de sua posição (II Sm.18:33-19:10).

- Davi, então, retorna a Jerusalém. No caminho de volta, encontra-se com Simei, que obtém a promessa de que não seria morto apesar de seu insulto. Igualmente, encontra-se com Mefibosete, quando é afrontado com a grande injustiça que havia cometido contra o filho de Jônatas, que, entretanto, mostra toda sua superioridade em se contentar a ver o bem do rei. Por fim, quer retribuir a Barzilai, mas este, já velho, pediu que se fizesse bem a um servo seu, Quimã (II Sm.19:11-39).

- Todos aqueles que serviram a Davi, que ficaram do seu lado, foram recompensados. Aqueles que, embora tenham ficado contra Davi, mas que, a tempo, foram lhe pedir perdão, também foram libertos da morte. Davi mostra-se aqui como tipo de Jesus: Jesus a todos dá perdão, porque Ele nos trouxe a graça de Deus (Jo.1:17). Não temos porque ter medo de ir ao encontro de Jesus, que venceu o mundo (Jo.16:33), o pecado e a morte (Ap.1:17,18). Em Jesus, aqui tipificado por Davi, sempre alcançaremos o perdão e o galardão. Por que então deixar de ir aos pés do Senhor? Que sejam nossas as palavras do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “A Teus pés, ó Jesus Cristo, acho terna compaixão, para todos os meus pesares, mês conflitos, minha dor. Livra-me, ó Jesus Cristo, de cuidados, de aflição, e concede-me constante Teu poder consolador.(…) A Teus pés, ó Jesus Cristo, tenho um gozo divinal! A Teus pés encontro abrigo, ó, bondoso Salvador. Só em Ti, ó Jesus Cristo, há consolo sem igual, para minh’alma abatida, neste mundo de horror” (segunda e quarta estrofes do hino 434 da Harpa Cristã).

- Segundo Reese, neste retorno a Jerusalém, Davi compôs o Salmo 122, um dos “cânticos dos degraus” (Salmos 122 a 134), ou seja, os salmos que os israelitas entoavam quando se dirigiam a Jerusalém para a realização das festas, que o texto sagrado explicitamente ser de autoria de Davi, que teria composto, além deste, os Salmos 124, 131 e 133. Ao adentrar na capital, da qual saiu sem que soubesse se voltaria, Davi não se contém e diz da sua alegria em estar dentro das portas de Jerusalém, em ir à casa do Senhor. Assim como quando havia saído e pedido a bênção sobre a cidade, Davi torna a fazer este pedido ao Senhor. Assim deve ser o crente: bendito ao sair, bendito ao entrar. Temos sido assim?

- Davi é novamente levado ao trono, com o consentimento de todo o povo de Israel (II Sm.19:41-43). Alcançara a vitória, superara o maior desafio de seu reinado: a rebelião de seu próprio filho. Mas, se pensava ele que seria a única rebelião que sofreria, estava bem enganado…

III – A REVOLTA DE SEBA

- Davi ainda enfrentaria uma outra rebelião contra o seu governo. Seba, chamado pela Bíblia de “homem de Belial”, ou seja, um homem maligno, um “desordeiro” (segundo a NVI), filho de Bacri, da tribo de Benjamim, também promoveu uma revolta contra Davi, conclamando o povo a se voltar contra o rei. Como todo rebelde, como vimos, “tocou a buzina”, ou seja, usou da estratégia da comunicação.

- Seba usou, nesta rebelião, da velha divisão entre Judá e as demais tribos de Israel. Quando Davi foi destronado, por duas vezes se evocou esta diferença de tratamento no reino. Simei amaldiçoou o rei e disse que ele estava pagando o que havia feito a Saul, como a rememorar a guerra civil que tinha havido entre Isbosete e Davi. Ziba, ao enganar Davi, também usara do argumento das rusgas entre as casas de Davi e de Saul para dizer que Mefibosete tinha pretensões de reinar e, por isso, não havia seguido Davi.

- O fato é que, como as onze tribos de Israel haviam feito uma aliança com Davi para que este reinasse sobre todo o Israel, sempre havia aqueles que questionavam o reinado de Davi e que ainda ansiavam pelo tempo em que as tribos pudessem voltar a ter uma vida autônoma, como nos dias dos juízes. É sempre um problema convivermos com os “saudosistas”, aqueles que, inconformados com o passar do tempo e o agir de Deus, ainda buscam “as coisas que para trás ficam”, deixando de avaliar qual é a vontade de Deus para o Seu povo.

- A passagem do tempo e a mudança das coisas é inevitável. Temos um caminho já profetizado pelas Escrituras para que a humanidade passe e não temos como impedir que isto aconteça. Só a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25), mas tudo que é humano, tudo que é próprio do homem e do mundo é passageiro, pois o homem é como a flor da erva (I Pe.1:24) e o mundo, com sua concupiscência, algo que não pode durar (I Jo.2:17).

- Os “saudosistas” são aqueles que se prendem às coisas que lhe agradavam no passado, mas que não resistiram ao inevitável fluxo do tempo, porque eram coisas feitas pelos homens ou, então, pelo mundo e sua concupiscência. O que é Deus permanece para sempre, pois o Senhor é eterno, mas tudo o mais não resiste ao tempo.

- Seba, valendo-se destes “saudosistas”, alardeou que o povo de Israel não tinha parte nem herança com o filho de Jessé e, por isso, poderia se ver livre do governo do homem de Judá. Sem que tivessem aprendido a dura lição da revolta de Absalão, o povo de Israel, ou seja, das onze tribos, se deixou levar por este discurso fácil de Seba e se rebelou contra Davi, que ficou tendo apenas o apoio de sua tribo, Judá (II Sm.20:2).

- Seba evocou o passado para “vender a ideia de liberdade” para o povo, mas se esqueceu de que o povo das onze tribos havia, voluntariamente, feito um pacto com Davi em Hebrom, com o qual se submetiam a seu reinado, não tendo Davi feito coisa alguma que permitisse a violação deste pacto. A revolta não se sustentava nem poderia ter o apoio divino, pois significava infidelidade, algo que não agrada a Deus.

- Hoje, muitos também estão a defender “mudanças” e “liberdade”. Aliás, este “discurso da liberdade” é próprio dos falsos mestres que se levantam nestes últimos dias (II Pe.2:19). A liberdade não significa “autonomia”, “não haver quem me mande”, “não me submeter a pessoa alguma”, mas, sim, “fazer a vontade de Deus”. A liberdade cristã é heterônoma, ou seja, significa a submissão à lei do Senhor, à lei de Cristo. Liberdade não é libertinagem, não é liberdade para pecar (Rm.6:1,2), pois quem peca não é livre, mas servo do pecado (Jo.8:34).

- Seba defendeu a “liberdade”, mas uma liberdade que impunha quebra de compromissos assumidos, compromissos entre homens mas feito diante de Deus (II Sm.5:3). Israel havia reconhecido que Deus era com Davi e que a vontade de Deus era que Davi governasse sobre Israel, como agora poderia, simplesmente, dizer que não tinha parte nem herança no filho de Jessé? É o que muitos têm feito e defendido em nossos dias. Os “anarquistas cristãos” defendem que as pessoas “não se submetam”, “mudem de igreja”, esquecidos que, se não servimos a igrejas nem a denominações, quando nos batizamos nas águas assumimos um compromisso de servir a Deus naquele lugar e sob aquelas condições diante do próprio Deus, Deus, aliás, que nos levou a ser membros do corpo de Cristo naquele lugar e sob aquelas condições. Fujamos dos “Sebas” de hoje em dia!

- Joabe, aproveitando-se da revolta de Seba, acabou por matar a Amasa, que havia liderado o exército de Absalão mas que, ante a benignidade de Davi, havia sido posto, após a revolta de Absalão, em lugar de Joabe sobre o comando do exército (II Sm.19:13; 20:4-10). Joabe, então, reassumiu o comando do exército e foi em busca deSeba (II Sm.20:11).

- Joabe perseguiu os homens de Seba, que se refugiaram na cidade de Bete-Maaca, que foi cercada pelos homens de Joabe. Antes que a cidade fosse invadida, uma mulher perguntou se queriam a destruição da cidade, tendo Joabe dito que queriam apenas Seba, tendo o povo, então, cortado a cabeça de Seba e a lançado a Joabe. Joabe, então, voltou a Jerusalém e a situação política se acalmou (II Sm.20:12-22).

- Seba, então, querendo ser “o cabeça” do povo, acabou perdendo a própria cabeça. Defendendo a liberdade e a falta de fidelidade aos pactos, acabou vendo o povo de Bete-Maaca quebrar todo e qualquer compromisso com ele e matá-lo sem dó nem piedade, lançando sua cabeça a Joabe. O sentimento faccioso e de libertinagem não traz segurança nem mesmo ao líder rebelde, não forma um povo, mas tão somente pessoas que pensam única e exclusivamente em si, que não sabem comportar-se como integrantes de um povo, de um corpo, como é a igreja do Senhor. Este individualismo, tão prevalecente em nossos dias, precisa ser evitado e repreendido, a fim de que não venhamos a ter o mesmo triste fim de Seba.

Caramuru Afonso Francisco

Um comentário:

oagapeo poesias do amor de Deus disse...

Saudações em Cristo.
Caro Irmão, gosto muito de seus comentários deste maravilhoso blog, como também amo a EBD, pois venho te parabenizar por essa iniciativa desse instrumento que vem beneficiar aos amantes da Palavra de Deus. Deixo um convite par participar do meu blog da EBd, e uma comunidade com o nome: "Amantes da Escola Bíblica dominical" deixo os links.
Blog: HTTP://oagape.blogspot.com Com o título: Escola Dominical.
comunidade:http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=33191002
Pb. Laerço dos Santos
Deus o abençoe. Paz.