terça-feira, 26 de maio de 2009

1 ª Conferencia da escola Dominical em Acreuna - GO


Da esquerda para a direita Pr.Maciel(superintendente Geral da EBD de Itumbiara- Go)Ev. Anderson,Pr. Esdras Bentho (um dos palestrantes)Ev.André (eu) e o Pb. Juliano

terça-feira, 19 de maio de 2009

lição 8 Coisas sacrificadas aos ídolos




Da liberdade cristã, e da liberdade de consciência.

Uma analise global dos argumentos de Paulo em 8.1-11.1 evidencia que ele é essencialmente a favor da liberdade (veja especialmente 8.8, 9.1-12, 19). Ele defende dois tipos de liberdade: A liberdade absoluta em Cristo (8.8; 9: 19 e 10.29) E a liberdade de limitar a própria liberdade por amor a algum irmão cuja consciência é menos forte (8.13, 9.12, 15, 19).

A discussão mencionada por Paulo em 1 Corintios 8, sobre comida sacrificadas a ídolos não é diretamente relevante aos dias de hoje.Willian Barclay explica: Os sacrifícios aos deuses era uma parte integrante da vida antiga. Havia dois tipos de sacrifícios: o particular e o publico. No sacrifício particular, o animal era dividido em três partes. Uma parte simbólica era queimada sobre o altar...; os sacerdotes recebiam a porção a que tinham direito...; o próprio adorador recebia o restante da carne, com a qual oferecia um banquete. Essas festas eram realizadas na casa do ofertante; bem como no templo do deus ao qual o sacrifício era oferecido... O problema que os cristãos enfrentavam era o seguinte: “podiam participar destas festas? Podiam colocar na boca uma carne que foi oferecida a um ídolo, a um deus pagão”? Se a resposta for não, então os cristãos de Corinto estariam se excluindo de quase todos os acontecimentos sociais... No sacrifício publico... Depois que a porção simbólica era queimada e os sacerdotes recebiam a sua parte, o restante da carne era entregue aos magistrados e a outras autoridades. O que eles não chegavam a aproveitar era vendido aos açougues e mercados; dificilmente alguém podia comer carne que não fosse de algum modo dedicada a um deus pagão... (W. Barclay, The letters to the Corinthians. 1954).

Só Deus é senhor da consciência, e a deixou livre das doutrinas humanas e mandamentos de homens, que em qualquer coisa, sejam contrario à sua palavra, ou que em matéria de fé, ou de culto estejam fora dela. Crer ou obedecer a doutrinas ou mandamentos de homens, por motivo de consciência é trair e destruir a verdadeira liberdade de consciência e a própria razão. Aqueles que sobre o pretexto de liberdade cristã, cometem qualquer pecado ou toleram qualquer concupiscência destroem por isso mesmo o fim da liberdade cristã; pelo contrario sendo livres, sem medo sirvamos ao senhor em santidade e justiça, diante dele todos os dias de nossa vida. (confissão de fé de Westminster. Citação parcial).

Toda a argumentação de Paulo, no capitulo 8 de 1 Corintios é um exemplo pratico de obediência á lei do amor: o amor se restringe para o bem dos outros. Fazer com que um irmão tropece uma só vez é, para Paulo, um perigo tão consternador, que ele prefere nunca mais tocar em carne para evitar tal desastre. Este é o verdadeiro amor cristão e (Paulo afirma com igual fervor) a verdadeira liberdade cristã.


Ev. Anderson Fernando da Silva - Bacharel em Teologia.
Colaboração: Pb Juliano Silva.

domingo, 10 de maio de 2009

Reflexão


Experiências espirituais ,como o batismo com o Espírito Santo são maravilhosa por excelência ! O fato é que além de poder vislumbrar o ensino bíblico a respeito, podemos, em cumprimento da Palavra de Deus, recebermos pessoalmente esta gloriosa bênção pentecostal!

Lia com muito interesse o post do Pr. Esdras Costa Bento (1 ) sobre sua experiência e muito me emocionei, quando lembrei – me de minha própria . E de lamentar que experiências legítimas sejam “ esquecidas” e os sedizentes crentes estarem á procura de novas unções , vitórias “sabor de mel”....



Ev. André Moreira

1. http://teologiaegraca.blogspot.com

sexta-feira, 8 de maio de 2009

OS OBSTÁCULOS À VITÓRIA ESPIRITUAL



Na vida espiritual, não podemos cometer os mesmos erros da geração israelita do êxodo.


“Aquele pois que cuida estar em pé, olhe, não caia.” (I Co.10:12)



INTRODUÇÃO

- Neste trimestre, estamos a estudar os problemas da Igreja e suas soluções, com base na primeira carta que Paulo escreveu aos coríntios. A título de complementação às lições, estudaremos, desta feita, o capítulo 10 daquela epístola, onde o apóstolo Paulo, usando do exemplo da geração israelita do êxodo, que não entrou na Terra Prometida por causa da sua incredulidade (Hb.3:19), aponta quais são os principais obstáculos para que alcancemos a vitória espiritual, que é a perseverança até o fim, sem o que não se concluirá o processo da salvação (Mt.24:12).

- Estes obstáculos apresentados pelo apóstolo, e que foram figurados no fracasso espiritual da geração do êxodo, podem, ainda hoje, impedir (e impedirão, lamentavelmente) muitos de chegar ao céu. Que busquemos a Deus e não permitamos que tais condutas venham a nos fazer reprovados diante do Senhor (i Co.9:27).

I – DEUS PROPORCIONA SALVAÇÃO E DÁ CONDIÇÕES DE PERSEVERANÇA A TODO O SEU POVO

- O apóstolo Paulo, em meio ao tratamento do problema da idolatria, um dos questionamentos realizados pelos crentes em Corinto, fez uma digressão a respeito da liberdade e do direito dos apóstolos, a fim de mostrar aos crentes coríntios que, embora fosse ele dotado de uma posição privilegiada diante de Deus, isto não o impedia de ter deveres diante do Senhor.

- Em meio a esta discussão, em que mostrou que o cristão deve, sobretudo, ser alguém que tenha consciência de que é “servo”, Paulo mostrou aos crentes que, assim como ocorria com ele, todos os crentes deveriam tomar cuidado na sua vida espiritual, não permitindo que o pecado os levasse à perdição. Para tanto, trouxe como figura da vida espiritual a jornada do povo de Israel no deserto, um dos maiores fracassos espirituais registrados nas Escrituras, já que, dos milhares de homens e mulheres maiores de 20 anos que saíram do Egito, libertos pela mão forte do Senhor, tão somente 2(dois), isto mesmo, dois atravessarem o rio Jordão – Josué e Calebe (Nm.14:28-20).

- De início, o apóstolo mostra que o Senhor a todos livrou no Egito. “Todos estiveram debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar” (I Co.10:1). A promessa de Deus fora libertar todo o povo de Israel da escravidão, sem exceção de qualquer pessoa (Ex.3:9,10). Assim, também, na nossa dispensação, a vontade de Deus é salvar a todos os homens (I Tm.2:4).

- Muitos se acham “escolhidos” ou “chamados”, entendendo que são superiores aos demais seres humanos, porque alcançaram a salvação em Cristo Jesus. Nada mais enganoso. Tal sentimento não provém do Espírito Santo, mas dos nossos corações e devemos tomar cuidado pois o coração do homem é enganoso (Jr.17:9). Deus nos salvou porque quer que todos os homens se salvem e isto se deu única e exclusivamente por Sua graça (At.15:11; Ef.2:8). Nós cremos, é bem verdade, mas até mesmo a fé veio através do ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), de modo que não há qualquer “atestado de superioridade” que possamos ostentar em virtude de nossa condição de servos do Senhor, mesmo perante os incrédulos.

- “Todos estiveram debaixo da nuvem”. Quando o povo de Israel deixou o Egito, após tê-lo despojado, dizem-nos as Escrituras que o povo de Israel tomou o caminho indicado por Deus, que não era o caminho da terra dos filisteus, mas fez rodear o povo pelo caminho do deserto (Ex.13:17,18). Esta era a direção de Deus e o apóstolo, ao retomar a jornada da geração do êxodo, mostra aos crentes em Corinto que é necessário mas não suficiente iniciar o caminho pela direção e orientação divina.

- É indispensável que tomemos o caminho indicado pelo Senhor e este caminho, como sabemos pelo que já estudamos neste trimestre letivo, outro não é senão o caminho da cruz do Calvário, porque foi lá que o Senhor Se entregou por nós e pagou o preço dos nossos pecados. Temos de seguir a Jesus, pois Ele é o caminho (Jo.14:6). A noção de que a vida cristã é um Caminho era tanta que era este o nome que os crentes da igreja primitiva davam à fé cristã(At. 19:9,23; 22:4; 24:14).

- Tendo tomado a direção de Deus, os israelitas passaram, também a ser guiados pela nuvem, durante o dia, que se tornava coluna de fogo durante a noite. Por isso, o apóstolo diz que “todos estiveram debaixo da nuvem”, que os guiou e os protegeu durante toda a jornada do deserto e até mesmo antes da entrada no deserto, pois a nuvem/coluna de fogo teve participação fundamental para impedir que os egípcios pudessem alcançar o povo antes e durante a travessia a seco do Mar Vermelho (Ex.14:24).

- Assim como ocorreu com o povo de Israel, o Senhor está conosco desde o momento em que O aceitamos como Senhor e Salvador (Mt.28:20) até que atinjamos o fim da nossa fé, a salvação das nossas almas (I Pe.1:9). Ele nos põe a todos “debaixo da nuvem”, ou seja, debaixo da Sua orientação, da Sua direção, da Sua proteção. Temos descanso em Cristo Jesus, o nosso sábado (Hb.4:11), enquanto estivermos no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente (Sl.91:1).

- Não podemos, em hipótese alguma, deixar este local de proteção, repouso e refrigério que nos dá o Senhor, pois, se o fizermos, certamente enfrentaremos as agruras do mundo sem Deus e sem salvação. Com efeito, a nuvem protegia o povo de Israel do sol causticante do deserto. Debaixo da nuvem, havia sombra, enquanto fora da nuvem, o calor do deserto podia causar insolação e até mesmo a morte. Debaixo do sol, os israelitas jamais conseguiriam resistir ao deserto.

- À noite, quando as temperaturas do deserto são extremamente frias, a nuvem se tornava em coluna de fogo, não só para iluminar a escuridão terrível do deserto, como também para aquecer o povo, que, no frio terrível do clima desértico noturno, não resistiria se não houvesse aquecimento. Assim também, nós, os servos do Senhor, no dia mau, no dia da adversidade, somos iluminados pela luz do Evangelho de Cristo e somos aquecidos pelo Seu amor, de modo a que as aflições não nos venham enfraquecer espiritualmente, não venham nos trazer frieza espiritual.

- A nuvem e a coluna de fogo estavam à disposição de todo o povo, indistintamente. Deus havia prometido levar o Seu povo para Canaã e, como não é Deus que faça acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34),fez com que a nuvem e a coluna de fogo abrangessem a todos os israelitas. No entanto, não foram todos os que se mantiveram debaixo da nuvem ou debaixo da coluna, arriscando-se seja debaixo do sol causticante, seja na escuridão e frio do deserto. Muitos saíram dos limites da nuvem e da coluna de fogo para fazer o que não convém, para se misturar com outros povos, aonde a nuvem e a coluna de fogo não chegavam (como os que foram festejar com as moabitas no episódio de Baal-Peor – Nm.25:1-3), ou, mesmo, os que começaram a se atrasar na jornada, desgarrando-se do conjunto do povo e se pondo em região de risco, como os que ficaram na “última parte do arraial” (Nm.11:1) ou “na última parte do povo” (Nm.22:41).

- Assim como todos estiveram “debaixo da nuvem”, isto é, debaixo da graça de Deus, também, disse o apóstolo Paulo que os israelitas da geração do êxodo também “passaram todos pelo mar”. No momento da travessia do mar Vermelho, nenhum israelita foi deixado do lado do Egito, nem tampouco qualquer egípcio conseguiu matar ou prender qualquer israelita, não tendo israelita algum morrido afogado no mar (Ex.14:27-31).

- A passagem pelo mar simboliza a salvação da escravidão, a instauração de uma vida nova para o povo, a sua libertação cabal. Ao passar pelo mar Vermelho, Israel dá um testemunho a todas as nações de que se libertara do poder de Faraó e do Egito (Js.2:10). Já tinham sido libertos depois da praga dos primogênitos, quando alcançaram a alforria, e ainda despojando os egípcios, mas, na passagem do mar, mostram a todo o mundo que eram, agora, um povo liberto, um povo livre por Deus. Neste sentido, a passagem pelo mar Vermelho é figura do batismo nas águas, o ato pelo qual confessamos publicamente a nossa salvação diante de Deus e dos homens. Por isso, “quem crer e for batizado, será salvo” (Mc.16:16a).

- Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo afirmou que os israelitas haviam sido “batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (I Co.10:2). O “batismo em Moisés” nada mais era que a inserção de cada israelita no povo de Deus, que a assunção da condição de integrante da propriedade escolhida de Deus dentre todos os povos. Também pelo “batismo em um Espírito”, formamos um povo, a Igreja, o corpo de Cristo (I Co.12:13). Esta inserção no povo de Deus é demonstrada pela novidade de vida (a nova direção, a nova orientação trazidas pela nuvem — Rm.6:4) e pelo batismo nas águas, quando, então, é cumprida a justiça de Deus, com a confissão pública de nossa morte para o mundo e vida para Deus Rm.6:11).

- Notamos, portanto, que o apóstolo enfatiza aos crentes de Corinto que a novidade de vida e o batismo nas águas eram importantes e necessários, devendo ser uma característica de TODOS os crentes que integravam a igreja local. Aliás, o próprio Paulo, no início de sua carta, mostrou que a igreja em Corinto cumpria rigorosamente a ordenança do Senhor Jesus quanto ao batismo nas águas (I Co.1:13-17).

- Nos dias em que vivemos, muitos estão piores do que os crentes de Corinto que, apesar de todos os problemas, não haviam menosprezado a ordem de Jesus com relação à necessidade do batismo nas águas para que se fizesse parte da igreja local. Na atualidade, são muitos os que exercem funções na igreja local, participam ativamente de todas as suas atividades, mas ainda não se batizaram nas águas. Trata-se de uma distorção inadmissível, de afronta ao ensino bíblico. A igreja local deve ter suas portas abertas a todos, permitindo que todos venham ouvir a Palavra de Deus, mas uma coisa é ouvir a Palavra, receber oração, conselhos, orientações e outra, bem diversa, é participar das atividades da igreja local. Somente aqueles que publicamente confessaram que morreram para o mundo e vivem agora para Deus, declaração acompanhada de frutos dignos de arrependimento, é que podem atuar na igreja local. “Todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar”, por isso eram “filhos de Israel”. Todos os que atuarem na igreja local devem ter apresentado novidade de vida e descido às águas do batismo.

- Mas não bastou que todos tivessem tido uma vida nova, uma vida de liberdade, nem que tivessem passado o mar Vermelho. O apóstolo Paulo também mostrou aos crentes em Corinto que todos aqueles israelitas também tiveram de comer e beber dum mesmo manjar espiritual, como também da mesma bebida.

- Comer e beber da mesma coisa é sinal de comunhão uns com os outros e com o próprio Deus. A história sagrada mostra que o povo de Israel passou a ser alimentado com o maná, o pão que descia do céu, um verdadeiro alimento celestial (Ex.16:4,14,15; Sl.78:24). O mesmo alimento para todos os israelitas, que comiam o suficiente para cada um (Ex.16:21). Este maná, que depois teve uma porção posta dentro da arca do testemunho (Hb.9:4), era nada mais, nada menos que símbolo de Jesus Cristo, o verdadeiro pão do céu, o genuíno pão da vida (Jo.6:31-35,48).

- Precisamos nos alimentar do pão da vida, do pão do céu, diariamente, para que possamos sobreviver na jornada que nos leva até Canaã. Todo dia, cada um segundo a sua capacidade, deve buscar este pão, alimentar-se dEle. Que pão é este? É a Palavra de Deus, pois Jesus é o Verbo de Deus (Jo.1:1). Temos nos disposto a se alimentar diariamente deste pão? Ele está disponível a todos, é distribuído a todos, mas, infelizmente, como acontecia com os israelitas da geração do êxodo, não são todos os que se alimentam, porque perdem a oportunidade de buscá-lo (Ex.16:20,27).
- A bebida que os israelitas bebiam era a água que vinha da rocha que fora fendida por Moisés (Ex.17:5,6). A tradição judaica diz que esta rocha passou a acompanhar os israelitas em sua jornada pelo deserto. A Bíblia é silente a respeito, mas as palavras do apóstolo parecem confirmar esta tradição, porque diz que esta rocha, também símbolo de Jesus, os seguia (I Co.10:4), algo que também parece se deduzir do Sl.78:15,16.

- A bebida também nos fala da Palavra de Deus, porque a água é símbolo da Palavra que nos lava e limpa (Jo.15:3; Ef.5:26; Tt.3:5), Palavra que nos santifica (Jo.17:17), santificação absolutamente necessária para que vejamos o Senhor (Hb.12:14). Mas não são todos os que bebem desta água. Muitos murmuram e acabam por, apressadamente, a tentar o Senhor, endurecendo os seus corações e, assim, caindo na condenação de Massá e Meribá (Ex.17:7; Dt.6:16; Sl.95:8; Hb.3:15; 4:7), deixando as fontes limpas, as águas cristalinas da Palavra para buscarem cisternas rotas, que não podem saciar a sede espiritual (Jr.2:13).

- Muitos, na atualidade, estão a tomar este rumo perigosíssimo. Deixam a Palavra de Deus, menosprezam-na, desprezam-na, correndo atrás de vãs filosofias, de mandamentos de homens, que somente levarão o povo ao engano e à perdição. Vivemos os dias da apostasia, ou seja, do afastamento da sã doutrina, da Palavra de Deus. Temos de nos tornar para a lei e para o testemunho de Deus, que são as Escrituras (Jo.5:39), se quisermos ver a glória de Deus (Is.8:20).

- A comunidade de bebida e de comida também nos mostra que se torna indispensável a comunhão do povo de Deus em torno de Jesus Cristo. A celebração da ceia do Senhor é a figuração desta união da Igreja em torno de Sua cabeça, de Seu Senhor. Todos temos de estar em torno de Cristo, em comunhão com Ele e com o Seu corpo. O pão mostra-nos que temos comunhão uns com os outros, que nos comportamos como parte do corpo, sem individualismo, sem egoísmo, servindo uns aos outros. O vinho mostra-nos que temos comunhão com Cristo, que estamos em santidade, que não há pecado que bloqueie a comunicação entre nós e o Senhor (Is.59:2), que não há “coágulo” que nos impeça a livre passagem do sangue de Cristo que nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), que nos mantém as vestes brancas para podermos entrar na cidade pelas portas (Ap.22:14).

- Assim como o povo de Israel quando do êxodo teve todas as condições para chegar a Canaã, assim também, ensina o apóstolo aos crentes de Corinto, Deus também dá à Igreja as condições para que, ingressando na vida cristã, venha a chegar até a salvação, venha a alcançar a Canaã celeste. No entanto, apesar de todas as condições dadas, aquela geração não chegou a Canaã, morreu no deserto, porque “Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto” (I Co.10:5).

- Paulo mostra aos crentes de Corinto que o caminho que estavam tomando, dos quais fora cientificado pelos familiares de Cloé, era um caminho perigoso, que os podia levar à perdição, assim como os israelitas do êxodo. Assim também ocorre nos dias de hoje, devemos tomar cuidado para que não venhamos a falhar. Mas por que os israelitas do êxodo (com exceção de Josué e Calebe) desagradaram a Deus? O que os impediu de entrar em Canaã? Foi isto que o apóstolo procurou ensinar aos crentes de Corinto e nos ensina, também.

II – OS OBSTÁCULOS QUE IMPEDIRAM OS ISRAELITAS DE ENTRAR EM CANAÃ

- Mas por que os israelitas desagradaram a Deus a ponto de serem prostrados no deserto? O apóstolo Paulo diz os motivos que levaram os israelitas da geração do êxodo ao fracasso espiritual, alertando que tais causas eram “figuras” para os crentes de Corinto, como também para todos os crentes da dispensação da graça. Não devemos nos esquecer, entretanto, que o desagrado divino é sempre motivo pela incredulidade, pela falta de fé, que sempre está por detrás de todas as atitudes tomadas por aqueles que se desviam dos caminhos do Senhor (Hb.11:6; 3:19).

- A primeira atitude que levou os israelitas a serem prostrados no deserto foi a “cobiça das coisas más” (I Co.10:6). Os israelitas, ao longo da jornada, sempre demonstraram ter um “desejo incontrolado” com relação àquilo que não era bom, àquilo que pertencia ao tempo da escravidão, com aquilo que dizia respeito ao Egito. Ainda antes de passarem o mar, diante daquele obstáculo natural, o povo já murmurou, querendo os “sepulcros do Egito” (Ex.14:11). Este amor pelo Egito, símbolo do “amor ao mundo” (I Jo.2:15), foi um dos grandes responsáveis pela derrocada espiritual do povo.

- Vez por outra, o povo israelita demonstrava desejar, cobiçar o que havia sido deixado no Egito. Ainda antes de passar o mar, disse querer servir aos egípcios (Ex.14:12). Também tiveram saudades das “panelas de carne” (Ex.16:3), dos “deuses do Egito” (Ex.32:2), dos “peixes, pepinos, melões, porros, cebolas e alhos do Egito” (Nm.11:5). Chegaram, mesmo, a resolver escolher um capitão para os levar de volta ao Egito (Nm.14:3,4).

- Querer e desejar as coisas da vida passada, as coisas do mundo é algo que desagrada profundamente a Deus. Não podemos amar o mundo nem o que no mundo há. O amor ao mundo é prova de que não temos o amor de Deus. Ou amamos a Deus, ou amamos o mundo. O justo é diferente do ímpio (Sl.1),vive em oposição aos homens do mundo (Sl.17:13,14), porque o mundo aborrece o servo do Senhor (Jo.15:18,19).

- No entanto, muitos, a exemplo dos israelitas da geração do êxodo, embora tenham tido seus pés tirados da escravidão do pecado, infelizmente não tiraram o mundo de seus corações. Aquela geração, desde o primeiro instante, mostrou que amava o Egito e desejava para lá retornar, apesar da escravidão terrível que sofreram e do grande livramento que Deus lhes dera. Assim agem muitos crentes na atualidade, como estavam agindo os crentes de Corinto. Estamos com o nosso coração no mundo? Estamos a cobiçar as coisas más? Será que podemos, do fundo dos nossos corações, repetir as palavras do poeta sacro Joel Carlson, “Oh! Glória! Aleluia! Meu desejo é estar no céu! (primeira parte do coro do hino 485 da Harpa Cristã)?

- Muitos, na atualidade, a exemplo dos crentes de Corinto, estão cobiçando as coisas más. Querem poder, fama, posição social, dinheiro, prazer, enfim, querem desfrutar de todas as delícias passageiras do pecado, inclusive se servindo da igreja local para tanto. Acordemos, irmãos, pois por causa desta cobiça das coisas más, os israelitas não entraram em Canaã!

- A segunda atitude tomada pelos israelitas que o fizeram ser prostrados no deserto foi a idolatria ( I Co.10:7). Muitos israelitas saíram de debaixo da nuvem, deixaram de comer maná e beber a água da rocha para comer e beber outros alimentos, entre si (como no episódio do bezerro de ouro), como com outros povos (como com as moabitas em Peor). Afinal de contas, nestas comilanças e bebedeiras, havia folguedos, muita festa animada, muita dança e sensualidade.

- Quantos, na atualidade, não estão a repetir os mesmos erros daqueles israelitas, preferindo os manjares terrenos, passageiros e pecaminosos, ao manjar espiritual e às águas vivas? Quantos não têm abandonado a reverência das reuniões genuínas de adoração, a contrição e a reflexão feita com base na meditação das Escrituras pelos folguedos, pelos festejos que “agitam”, “mexem com a adrenalina”, mas que são completamente abomináveis ao Senhor?

- A idolatria campeia nos dias de hoje entre os que cristãos se dizem ser, assim como, em Corinto, a carnalidade e o menosprezo pela mensagem da cruz estavam permitindo que, sorrateiramente, a idolatria, tão forte e intensa em Corinto, viesse a se imiscuir no meio do povo de Deus.

- Poderão muitos dizer que se há um pecado que os “evangélicos” não cometem é a idolatria, pois não se veem imagens nos templos e salões dos crentes. Mas será que isto é verdade? Não se veem (pelo menos por enquanto), imagens de escultura nas igrejas dos que crentes se dizem ser, mas já não se pode falar o mesmo com relação aos ícones, ou seja, representações de personagens em pinturas, pois muitos líderes já têm suas fotografias estampadas com grande destaque nos templos e salões. Que dizer, então, dos “fãs clubes” de pregadores e de cantores que já existem no meio do povo “evangélico”? Não é isto pura idolatria? Aliás, é o mundo que chama de “ídolos” a tais artistas e pessoas famosas…

- Mas, se isto fosse pouco, que dizer das “crendices” e “simpatias” cada vez mais presentes no meio do povo “evangélico”, que está sendo ensinada a pôr sua fé em “sal grosso”, “rosas ungidas”, “tijolos da prosperidade”, “redinhas”, “sabonetes com extrato de arruda”, “toalhinhas com suor de pastores (perdão, apóstolos)”, “grutas dos milagres”, “bexigas cheias de ar divino” e tantas outras “neobobagens”, na feliz expressão do jornalista Johazadak Pereira? Estamos diante de idolatria, pois idolatria nada mais é a colocação de algo em lugar de Deus, seja o que for. E isto porque nem estamos a falar da “egolatria”, ou seja, a “adoração do próprio eu”, a maior de todas as idolatrias da atualidade.

- Os crentes de Corinto caminhavam perigosamente para a idolatria, uma vez que já tinham se estabelecido em partidos, elevando homens a condição de “super-homens”, como estavam a fazer com Paulo, Apolo e Cefas. O partidarismo gera um “culto da personalidade”, que também é “idolatria” e que tem como resultado visível os ícones há pouco mencionados. Nos dias hodiernos, não tem sido diferente e precisamos evitar que isto ocorra, pois correremos o risco de ficar prostrados no deserto deste mundo, não entrando na Canaã celeste.

- A terceira atitude tomada pelos israelitas do êxodo que o impediram de alcançar a Terra Prometida foi a prostituição. “Não nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caíram num dia vinte e três mil’ (I Co.10:8). Este era um sério perigo para os crentes de Corinto, tendo sido, inclusive, a razão pela qual o apóstolo Paulo havia escrito a “carta anterior” (I Co.5:9): a associação com os que se prostituem.

- Assim como a Corinto dos dias de Paulo, o mundo hodierno está imerso na promiscuidade, na imoralidade sexual. Os israelitas mencionados pelo apóstolo Paulo foram os que se prostituíram com as moabitas em Peor, participando das festividades sensuais em honra a Baal (Nm.25:1,9). A prostituição veio sorrateiramente, começando com um convite para que participassem dos festejos, convite que levou à participação na comida e, depois, à prostituição deslavada, vez que os cultos a Baal eram feitos mediante a manutenção de relações sexuais.

- O mesmo estava se dando entre os coríntios. Eles já estavam a se associar a pessoas que se prostituíam (como era o caso do iníquo que Paulo mandou que fosse tirado da comunhão, cuja mulher do seu pai não era crente), como também estavam a participar da mesma alimentação que era sacrificada aos ídolos. Não demoraria muito e todos passariam a também se prostituir, como o iníquo, como, aliás, alertava o apóstolo, ao dizer que um pouco de fermento leveda toda a massa (I Co.5:6).

- É o que, lamentavelmente, tem acontecido em muitas igrejas locais na atualidade. A permissividade moral, inclusive sob o aspecto sexual, tem sido a tônica em muitos lugares. Tudo tem sido tolerado, muitos iníquos, que estão a praticar imoralidades sexuais, são mantidos no meio dos crentes, quando não são elogiados e exaltados entre todos. Não há mais qualquer palavra contra a promiscuidade em muitos lugares, mas um velado apoio a tudo quanto de mau e perverso tem sido disseminado pela mídia e pelo mundo em geral. Permitem-se os namoros escandalosos de jovens e adolescentes, o comportamento indecente seja no vestuário, seja no vocabulário, seja na internet, tudo sendo considerado “normal”. Já há mesmo aqueles que aceitam a “doutrina do ficar gospel”, deixando os seus lares à disposição para a fornicação dos jovens e adolescentes e ainda achando que agem bem ao assim fazer para que eles “não venham a pecar em motéis ou outros ambientes perigosos”. Isto é lamentável!

- Naquele tempo, Deus fulminou vinte e quatro mil com uma praga e ainda houve quem quisesse comover o povo com aquele juízo divino, levando sua parceira sexual ao meio da congregação para despertar piedade e dó, mas tal pessoa foi devidamente morta por Fineias, filho do sumo sacerdote, numa atitude exemplar que, inclusive, fez cessar a praga do meio do povo (Nm.25:6-8). É preciso que se levantem Fineias no meio do povo de Deus, que retome a ordem da moral sexual na igreja local, a fim de que a praga que tem matado muitos espiritualmente cesse e o Senhor volte a salvar, batizar com o Espírito Santo, curar enfermos e preparar o povo para o céu!

- A lassidão moral no meio do povo dito “evangélico” é patente e se torna preciso mudar este estado de coisas, se não quisermos ficar prostrados no deserto. Exijamos a santificação, a começar de nós mesmos! Ensinemos a sã doutrina aos jovens e adolescentes, que não são orientados a respeito da sexualidade bíblica, sendo doutrinados pelo diabo e seus agentes disseminados neste mundo perverso e que se torna cada vez mais pervertido. Precisamos mostrar aos crentes quais são as regras bíblicas da atividade sexual e como devemos nos portar diante do Senhor e dos homens, antes que seja tarde demais.
- A quarta atitude tomada pelos israelitas que foram prostrados no deserto foi a tentação a Cristo (I Co.10:9). Paulo retoma, para falar deste comportamento desagradável a Deus, o episódio das “serpentes ardentes” (Nm.25:4-9). Dizem as Escrituras que, ao rodear a terra de Edom, passando pelo monte Hor e pelo caminho do mar Vermelho, ou seja, numa região bem próxima ao início da jornada, o povo se angustiou. Certamente, lembraram-se do passado e de sua desobediência e de que estavam a andar em círculos aguardando o perecimento de toda aquela geração incrédula.

- Entretanto, em vez de se arrependerem, de clamarem a Deus uma nova oportunidade, o povo, angustiado, passou a falar contra Deus e contra Moisés. Eis a atitude que não podemos tomar se quisermos entrar em Canaã: a rebelião, a revolta contra o Senhor. A Bíblia ensina-nos que o pecado de rebelião é como feitiçaria (I Sm.15:23), ou seja, a rebelião, a revolta contra Deus é um estágio de difícil retorno espiritual, pois é um instante em que somos possuídos pelo inimigo de nossas almas, tornando-nos verdadeiros invocadores de demônios.

- Vivemos dias em que, pasmemos todos, há pregadores que incentivam e estimulam as pessoas a “serem revoltadas”, que “a revolta leva o revoltado a tomar uma atitude de fé”. Nada mais antibíblico! A rebelião é pecado de feitiçaria e devemos, isto sim, nos submeter ao Senhor, à Sua vontade, pois esta foi a atitude de Jesus Cristo, que, por fazer a vontade do Pai (Jo.4:34) e, por causa disto, humilhar-se até a morte, e morte de cruz, foi exaltado soberanamente sobre todo o nome (Fp.2:8,9).

- O Senhor Jesus foi claro, quando tentado pelo diabo, a nos ensinar que não devemos tentar a Deus (Mt.4:7). Muitos, no entanto, não têm observado este ensino do Mestre e têm “desafiado a Deus”, “colocado Deus contra a parede”, “determinado para Deus”, numa atitude absurda, que só os levará a serem prostrados no deserto, a não ingressarem na Canaã celeste. Vemos com muita preocupação a proliferação de ensinos e condutas que tratam a Deus como se Ele fosse um “empregado”, um “subalterno”, alguém pronto a satisfazer os caprichos do crente. Esta conduta de “tentação a Deus” fez com que os israelitas fossem mordidos pelas serpentes ardentes e todos quantos não reconheceram sua pequenez e não olharam para a serpente de metal, morreram por causa das picadas.

- O próprio Jesus ensinou-nos que aquela serpente de metal era símbolo da Sua pessoa na cruz do Calvário (Jo.3:14,15). Se não nos renunciarmos a nós mesmos, se não reconhecermos nossa situação miserável e que só no Calvário temos esperança e solução para a eternidade, pereceremos no deserto. Deixe a revolta de lado! Deixe suas razões de lado e vá para os pés da cruz do Senhor! “A tremer ao pé da cruz, Graça eterna achou-me; Matutina Estrela ali Raios seus mandou-me” (Fanny Jane Crosby, segunda estrofe do hino 289 do Cantor Cristão).

- A quinta atitude tomada pelos israelitas que fizeram que fossem prostrados no deserto é a murmuração. A palavra “murmuração” vem do palavra “mu”, que significa “grunhido de um cão”, “gemido”, “expressão de dor”. “Murmuração” é “descontentamento”, “falatório depreciativo”, “detração”, “maledicência”. Os israelitas, entretanto, mesmo diante de tantas manifestações de cuidado de Deus ao longo do deserto, passaram a falar mal de Deus, a maldizer o Senhor, deram expressões de dor em vez de gratidão e, por isso, pereceram no deserto.

- A murmuração é uma atitude de quem não confia em Deus, de que não reconhece a Deus como seu Senhor. Os murmuradores rejeitam aprender do Senhor (Is.29:24), são pessoas imersas no pecado (Rm.1:30; Jd.16), que admiram as pessoas em vez de reconhecer o senhorio divino. Devemos seguir a Jesus, não murmurar a respeito dEle (Jo.7:12). Deixemos a murmuração para que possamos entrar na Terra Prometida.

- Não há motivo para que maldigamos a Deus, para que reclamemos dEle, pois, como diz o apóstolo, Deus não permite que soframos tentação além do que possamos suportar (I Co.10:13). Devemos tão somente ser vigilantes e cuidadosos para que venhamos a cair, se cuidamos estar em pé (I Co.10:12).

- Todas as coisas que aconteceram com os israelitas da geração do êxodo podem acontecer conosco, que estamos caminhando com direção a Canaã celeste. Por isso aconteceram e foram registradas, para servir como aviso para nós (I Co.10:11).

- Que não venhamos a cometer os mesmos erros daquela gente, para sermos capazes de entrar na Terra Prometida, que não é a pátria terrestre, mas a pátria celeste, que é a melhor(Hb.11:16). O apóstolo mostrou aos crentes de Corinto que deveriam eles fugir das atitudes que haviam impedido a vitória espiritual dos israelitas, motivo pelo qual lembrara as falhas praticadas, para que eles (os crentes de Corinto), assim como nós, pois tudo foi escrito para nosso ensino (Rm.15:4), não viessem a ficar prostrados no deserto, não desfrutando da eternidade com o Senhor.

Caramuru Afonso Francisco

quinta-feira, 7 de maio de 2009

A DESINTEGRAÇÃO FAMILIAR, O FATOR DESAGREGADOR E DESTRUIDOR DO NOSSO SÉCULO


A desintegração familiar é a doença que mais males provoca na humanidade do presente século.

Portanto, deixará o varão o seu pai e a sua mãe e apegar-se-á à sua mulher, e serão ambos uma carne. (Gn.2:24)

INTRODUÇÃO


- A família, obra-prima da criação divina, é o principal alvo dos ataques do príncipe deste mundo que, por meio de eficaz trabalho de desintegração das famílias, está destruindo os indivíduos, os grupos sociais (inclusive as igrejas locais) e a humanidade, como um todo.

I – O QUE É E QUAIS AS FUNÇÕES DA FAMÍLIA

- O primeiro grupo social a que uma pessoa pertence é a família, grupo criado pelo próprio Deus (Gn.2:23,24) e que procura suprir as necessidades sentimentais, afetivas e emocionais básicas do ser humano. A função da família é, precisamente, impedir que haja o sentimento de solidão, que caracterizava Adão antes da formação da mulher (Gn.2:20).

- Os homens, mesmo, sem conhecer a Palavra de Deus, reconhecem o papel fundamental que a família exerce na vida de um homem. A Declaração Universal dos Direitos do Homem afirma que "…a família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado." (artigo XVI, nº 3), preceito que é repetido pela Constituição brasileira, que afirma que "…a família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado…" (art.226). Entretanto, apesar dos preceitos normativos solenes, o adversário tem realizado um trabalho terrível de destruição contra a família, até porque seu trabalho é o de matar, roubar e destruir (Jo.10:10).

- Deus não só criou a família como estabeleceu quais as regras e as condutas que devem ser observadas pelos membros da família. As Escrituras trazem quais os parâmetros do relacionamento entre cônjuges, entre pais e filhos e entre irmãos. O segredo da felicidade no relacionamento familiar está em ter uma conduta conforme a Bíblia Sagrada.

- Como a família foi criada por Deus, é Ele quem deve estabelecer as regras, as normas ao homem, a quem cabe, simplesmente, obedecer. A família não é nossa criação, nem pode ser estruturada segundo os nossos conceitos ou a nossa vontade. Existem princípios que devem ser seguidos. Muito se fala, hoje, a respeito da diversidade de culturas, dos diferentes modos de vida das várias raças, tribos e nações em volta do mundo, mas isto não é suficiente para que consideremos que os princípios estabelecidos por Deus não devam ser observados por todos os homens. Os homens, envolvidos em seus delitos e pecados, acabam distorcendo os princípios estabelecidos por Deus e cabe à igreja, como defensora destes princípios, imergir nas culturas dos povos de modo a que tais culturas sejam transformadas e voltem aos princípios estatuídos pelo Senhor. Observemos que, entre os próprios judeus, a dureza de coração foi responsável pela existência de normas jurídicas sobre a família que estavam em desacordo com os princípios estabelecidos por Deus, como denunciou o próprio Senhor Jesus ao ser indagado sobre a norma do repúdio que vigorava, na época, em Israel (Mt.19:3-8).

- As Escrituras indicam que o homem não foi feito para viver solitariamente. Muito pelo contrário, a Bíblia é explícita ao dizer que , ao contemplar o homem, Deus afirmou que " não é bom que o homem esteja só" (Gn.1:18), tendo, então, estabelecido a necessidade de criar a mulher, que serviria como uma adjutora, ou seja, como uma ajudadora, que estivesse diante do homem. Esta explicitação do texto bíblico, em que se dá a narrativa da criação da mulher, especifica algo que o próprio Deus já havia delineado no instante em que decidiu criar o ser humano, porquanto, ao nos ser informada a intenção divina, é-nos dito que, no plano divino, estava o de dotar o homem não só de domínio sobre a criação na terra, mas também, de capacidade de reprodução (Gn.1:28), o que exigia a formação da família, único ambiente em que se poderia concretizar o desejo de Deus para o homem.

- É, precisamente, dentro deste escopo que devemos observar a família. Ela é uma instituição que foi criada por Deus para que o homem pudesse cumprir tudo aquilo que Deus havia planejado para que o homem fizesse. Sem a família, seria impossível que o homem frutificasse e se multiplicasse sobre a face da Terra e, por conseguinte, que o homem pudesse dominar sobre a criação que estava na Terra. É interessante notar que, ao exercer a sua primeira função de dominador sobre o restante da natureza terrena, o homem percebeu que estava só, sentimento este que foi observado por Deus. Sem a providência divina de criação da mulher e, por conseguinte, da família, o homem não teria condições sequer de dominar o restante da natureza, pois, acometido que estava de um sentimento de solidão, de falta, não teria condições psicológicas epara se impor frente aos demais seres.

- Alguns estudiosos costumam dizer que a mulher é uma criatura mais excelente que o homem, porque é o resultado do suprimento de uma carência do homem, sendo, portanto, por assim dizer, um aperfeiçoamento da criação divina. No entanto, se bem observarmos a narrativa bíblica, chegaremos à conclusão de que não é a mulher a criação mais excelente na humanidade, mas, sim, a criação da família, pois foi a criação desta instituição que significou a supressão da carência tanto do homem (que havia motivado a criação da mulher), como da própria mulher. O texto bíblico é claro ao indicar que a tão-só criação da mulher era uma condição necessária, porém não suficiente para que se tivesse a solução da questão da solidão. Esta solução, diz-nos o texto sagrado, somente se deu a partir do instante que Deus estabeleceu que homem e mulher, doravante, se uniriam, formando famílias, de modo a permitir que o propósito divino de domínio e frutificação fosse realizado e concretizado pela humanidade. Assim, é a família a mais excelente criação divina para a humanidade, sendo, pois, assaz apropriado o título desta nossa lição, vez que o comentarista intitulou a família como sendo a "obra-prima de Deus".

- Sem a família, pois, não pode o homem atingir o propósito estabelecido por Deus quando de sua criação. Não há como o homem atender ao que lhe é exigido pelo seu Criador sem que exista a família. Sem a família, o homem não pode sequer ser considerado um homem no sentido estrito da Palavra e as conseqüências que têm vindo à sociedade moderna em virtude do intenso e progressivo processo de desintegração familiar que temos contemplado é uma prova do que estamos a dizer. Via de regra, os criminosos mais hediondos que têm surgido, que nem sequer se portam como seres humanos, tamanha a sua bestialidade, verdadeiras bestas-feras em corpo humano, são pessoas que foram vítimas da ausência da instituição familiar no histórico de suas vidas. A destruição da instituição familiar representa, assim, a própria destruição da humanidade, da imagem e semelhança de Deus na vida dos seres humanos e é por isso que o adversário de nossas almas, que nos odeia e nos detesta, tem investido tanto na destruição desta instituição. Destrua-se a família e estarão destruídos os seres humanos e, por conseguinte, toda a sociedade.
OBS: Uma das maiores demonstrações da dificuldade de nossos tempos está, precisamente, em observarmos que o adversário de nossas almas, o deus deste século, tem conseguido obnubilar a própria concepção de família no meio da humanidade, algo que, para não se dizer que se trata de implicância ou desvario dos crentes, é observado por diversas pessoas, inclusive o ex-chefe da Igreja Romana, João Paulo II, que, em 1981, assim afirmou: "…A FAMÍLIA nos tempos de hoje, tanto e talvez mais que outras instituições, tem sido posta em questão pelas amplas, profundas e rápidas transformações da sociedade e da cultura. Muitas famílias vivem esta situação na fidelidade àqueles valores que constituem o fundamento do instituto familiar. Outras tornaram-se incertas e perdidas frente a seus deveres, ou ainda mais, duvidosas e quase esquecidas do significado último e da verdade da vida conjugal e familiar. Outras, por fim, estão impedidas por variadas situações de injustiça de realizarem os seus direitos fundamentais.…" (JOÃO PAULO II. Exortação Apostólica Familiaris Consortio, nº 1. www.vatican .va Acesso em 01 mar.2004).

- Neste ponto, é importante esclarecermos que o objetivo da família é o de permitir o cumprimento do propósito divino estabelecido para o homem, qual seja, o domínio sobre a criação na Terra, bem como a frutificação e multiplicação na face da Terra e o suprimento da necessidade de companheirismo. A família, portanto, tem como finalidade o suprimento de necessidades relativas à vida sobre a face da Terra, ou seja, a família não tem qualquer finalidade no tocante à vida eterna, como bem explicou Jesus quando questionado pelos saduceus, a indicar que, na eternidade, não haverá a instituição familiar humana (Mc.12:25), pois a família humana terá sido substituída pela Igreja, que é a família de Deus (Ef.2:19), o povo de Deus que habitará para sempre com o Senhor (Ap.21:3).

- O primeiro papel da família é o da frutificação, ou seja, o de propiciar condições para que o homem produza o fruto do Espírito, pois, quando falamos em frutificação, não estamos nos referindo à reprodução biológica, conceito que se encontra no “multiplicai e enchei a terra” de Gn.1:28, mas, sim, na construção de um “modus vivendi” (modo de vida) de acordo com a vontade de Deus, como, aliás, Jesus nos fala em Jo.15:16, bem como complementa o apóstolo Paulo em Gl.5:22.

- Eis, portanto, o principal motivo para que o adversário de nossas almas se levante contra a família com tanto ímpeto. Sem a família, o homem não tem condições de frutificar, sua frutificação fica muito prejudicada. Assim, quando se destrói a família, retira-se do homem o principal ambiente favorável para que venha a produzir o fruto do Espírito. Não é por outro motivo, aliás, que o apóstolo afirma que a Igreja deve ser “a família de Deus” (Ef.2:19), pois se faz necessário que, ante o processo de desintegração familiar existente neste século, a Igreja seja um refúgio e crie um ambiente em que se torne possível a frutificação, o que somente se atingirá se cumprirmos o mandamento de Jesus: “amai uns aos outros” (Jo.15:17).

- Entendida a finalidade da família e sua circunscrição a esta dimensão terrena de nossa vida, podemos, então, estabelecer quais seriam as funções da família, qual o seu papel diante da sociedade e de cada ser humano, segundo o propósito estabelecido por Deus.

- A primeira função da família é, conforme observamos na própria Palavra de Deus, a de propiciar a perpetuação da espécie humana. A Bíblia diz que o ser humano foi feito macho e fêmea (Gn.1:27), para que houvesse a frutificação e multiplicação do gênero humano (Gn.1:28). Assim, a primeira função da família é permitir a reprodução da espécie, para que se cumpra o propósito divino para o homem. Tal afirmação bíblica é acolhida, sem restrições pela sociologia. Como afirmam os renomados sociólogos norte-americanos Paulo Horton e Chester Hunt, "…cada sociedade depende principalmente da família para a produção de filhos. Teoricamente, são possíveis outros arranjos, e muitas sociedades têm sistemas para a aceitação de crianças produzidas fora de um relacionamento matrimonial. Porém, nenhuma estabeleceu um conjunto de normas para o suprimento de filhos, exceto como parte de uma família." (Sociologia, p.170-1). Assim, em dias de profundo desprezo pela instituição do casamento, que, é, como veremos durante este trimestre, o meio legítimo para a constituição de uma família, tiveram os legisladores e juristas de estender o conceito de família, a fim de poder abrigar os filhos decorrentes de relacionamentos amorosos que têm surgido nestes nossos dias trabalhosos, tudo porque não se consegue conceber como se pode propagar a espécie senão num ambiente familiar.
OBS: Disto não escapou sequer o Brasil que, na Constituição de 1988, teve de criar duas novas espécies de família para que se impedisse a desproteção dos filhos. Assim é que reconheceu como sendo família não só a oriunda da união estável entre homem e mulher, sem casamento, como também a comunidade formada por um dos pais e seus descendentes(artigo 226 da Constituição da República). Aliás, recentemente, na lei que criou a renda mínima, também se alargou o conceito de família.

- A segunda função da família é a de regrar o relacionamento íntimo e sexual entre homem e mulher. A multiplicação e o preencher da terra não se fariam desordenadamente, a exemplo do que ocorre com a maior parte das espécies animais irracionais, mas o homem e a mulher, para poder se reproduzir e cumprir o desígnio divino, teriam de constituir solenemente a família, através do casamento (Gn.2:23,24). Como afirmam os já mencionados sociólogos Horton e Hunt: "…a família é a principal instituição através da qual as sociedades organizam e regulam a satisfação dos desejos sexuais…todas as sociedades esperam que a maioria dos contatos sexuais ocorra entre pessoas que suas normas institucionais definem como tendo acesso legítima uma à outra…nenhuma sociedade é inteiramente promíscua."(op.cit., p.170). A história demonstra que onde a sociedade deixou de ter a família como o ambiente adequado para o relacionamento sexual, gerando, por conseguinte, a disseminação da imoralidade sexual e da prostituição, a civilização simplesmente desmoronou, a sociedade deixou de existir como tal. São exemplos bíblicos do que estamos a dizer a geração dos dias de Noé, a geração dos dias de Ló nas chamadas cidades da planície (Sodoma, Gomorra, Admá e Zeboim), bem como o reino do norte, isto é, o reino de Israel nos dias do profeta Oséias.

- A terceira função da família é a chamada função de socialização, ou seja, a família é o meio pelo qual o ser humano é inserido na vida em sociedade. É na família que o homem aprende as regras e a forma de convivência com os seus semelhantes e com o próprio Deus. Ao estabelecer que o homem deveria frutificar e multiplicar-se sobre a face da Terra, Deus afirmou que isto deveria ser feito para que os homens pudessem sujeitar a criação terrena (Gn.1:28). Ora, ao dizer que a frutificação e a multiplicação antecederiam ao domínio, Deus, implicitamente, estava afirmando que os filhos, resultado desta frutificação e multiplicação, deveriam ser conscientizados de que o homem havia sido criado para dominar a criação na Terra. Esta informação, esta conscientização, que nada mais é senão a "educação" (palavra latina que significa orientação, direção, condução para um determinado lugar), é, portanto, uma das tarefas primordiais da família. Esta função educadora da família, que, no ato da criação, foi apenas implicitamente indicada nas Escrituras, foi explicitamente considerada pelo Senhor na dispensação da lei, quando Moisés determinou que os pais nunca deixassem de instruir e de ensinar seus filhos os mandamentos dados por Deus a Israel (Dt.6:6-9), algo que, posteriormente, foi relembrado em forma poética pelo salmista (Sl.78:1-8).

- A quarta função da família é a chamada função afetiva, ou seja, a família é o local estabelecido por Deus para que o homem e a mulher não se sintam sós, mas possam se complementar, possam alcançar satisfação e prazer. Diz-nos as Escrituras que foi para retirar este sentimento de solidão que se abateu sobre Adão após a nomeação dos animais que Deus criou a mulher e, em seguida, a instituição familiar. A família é o lugar em que o homem e a mulher se sentem realizados do ponto-de-vista humano, em que se satisfazem todos os sentimentos e emoções que vêm da própria alma. O homem é um ser social, não foi feito para viver sozinho e, somente na família, esta necessidade é suprida. Como afirmou, com muita propriedade, a Constituição "Gaudium et Spes", documento do Concílio Vaticano II, que foi a reunião que estabeleceu os atuais parâmetros da doutrina da Igreja Romana, …Deus não criou o homem solitário. Desde o início, ' Deus os criou varão e mulher' (Gn.1,27). Esta união constituiu a primeira forma de comunhão de pessoas. O homem é, com efeito, por sua natureza íntima, um ser social. Sem relações com os outros, não pode nem viver nem desenvolver seus dores. Deus, portanto, como lemos novamente na Escritura Sagrada, viu ' serem muito boas todas as coisas que fizera' (Gn.1,31)." (Gaudium et Spes, nº 12.In: Compêndio do Vaticano II. Ed. Vozes, p.154-5). Horton e Hunt afirmam que "…seja o que for que as pessoas precisam, uma delas é a resposta humana íntima. A opinião psiquiátrica sustenta que provavelmente a maior causa isolada de dificuldades emocionais, problemas de comportamento e até de moléstia física é a falta de amor, isto é, a falta de um relacionamento cálido e afetuoso com um pequeno círculo de pessoas íntimas…"(Sociologia, p.171). O conteúdo afetivo da família está demonstrado nas Escrituras quando se afirma que, na constituição da família, o homem deverá deixar seu pai e sua mãe e se apegar à sua mulher (Gn.2:24). São dois gestos de forte teor emocional e sentimental: deve-se deixar pai e mãe, ou seja, existe um vínculo, existe algo que prendia o homem à sua família, e, ao mesmo tempo, deve-se apegar à sua mulher, isto é, deve-se criar um vínculo, um "cordão de três dobras" no novo casal (Ec.4:12). A existência deste relacionamento afetivo na família é tão característico que, para figurar o Seu relacionamento amoroso com o homem, Deus não usará outro símbolo senão o da própria família, pondo-se como Pai e Seu Filho como Noivo da Igreja.
OBS: A presença do afeto na família é tão peculiar a este grupo social que, na atualidade, em meio à própria descaracterização da família frente aos princípios bíblicos, que os juristas têm, cada vez mais, considerado que o que identifica uma família nos nossos dias é, precisamente, a existência da "afeição" entre os integrantes de um núcleo familiar. Neste sentido, aliás, vale a pena aqui reproduzir o pronunciamento do pastor batista Gilson Bifano na 84ª Assembléia da Convenção Batista Brasileira, realizada em 2003: “…Que é uma família?
Não podemos continuar aceitando a definição clássica de família como sendo tão somente quando vivem sob um mesmo teto um casal e um ou mais filhos. Temos, como igreja, de rever nosso conceito de família, ampliar nossa visão e pensar nos vários tipos de família. Temos em nossas igrejas: - famílias conjugais. São aqueles casais sem filhos ainda ou que não tiveram filhos; temos famílias nucleares, compostas de pai, mãe e filhos;- temos famílias unipessoais (onde só uma pessoa mora numa casa, podendo ser um solteiro, uma viúva, ou uma divorciada). - temos as famílias monoparenterais quando há somente a presença de um dos pais e a família ampliada ou extensa. Quando nós, como igrejas, pensarmos nessa amplitude, teremos melhores condições de ajudar as famílias a serem a realização do plano de Deus para a sociedade. Na Bíblia, encontramos exemplos de vários de tipos de família. - famílias monoparenterais, como é o caso de Agar e Ismael, depois de serem expulsos por Sara. - família de solteiros, como parece: Marta, Maria e Lázaro.
- também no Novo Testamento, encontramos a família nuclear formada por José, Maria, Jesus e seus irmãos.
- temos exemplo de uma família conjugal, um casal que aparentemente não teve filhos, como é o caso de Áquila e Priscila.
- vemos também no Novo Testamento o caso de Pedro, que possivelmente tinha a sua sogra por perto, e é exemplo de uma família ampliada. Uma pastoral ou um ministério com famílias não deve ter como alvo somente os casais da igreja.…” (Gilson BIFANO. A família e os desafios de um novo tempo. http://www.clickfamilia.org.br/familia/index_lista_resultado.asp?ID=620 Acesso em 05 mar.2004).

- A quinta função da família é a função protetora. Como ensinam Horton e Hunt, "…em todas as sociedades, a família oferece um certo grau de proteção física, econômica e psicológica a seus membros…" (op. cit., p.172). É na família que nós encontramos proteção, ou seja, na família, nós temos um "lar", um local onde somos acolhidos e desfrutamos de liberdade, um lugar onde está a nossa privacidade e intimidade. Nos povos pagãos, era no ambiente familiar que se invocava a proteção das divindades dos antepassados, os chamados "deuses lares". Este ambiente de intimidade e de privacidade peculiares à família é a razão e fundamento de vários dispositivos legais adotados pelos povos civilizados, como as garantias da inviolabilidade do domicílio (ninguém pode penetrar na casa de alguém, mesmo que tenha ordem judicial para tanto, durante a noite) e do segredo de justiça que envolve as disputas forenses relativas a causas familiares. Deus sempre tratou a família com integral respeito relativo a esta intimidade, algo que, lamentavelmente, não tem sido observado em algumas igrejas locais. A família é inviolável, é o espaço criado por Deus para que as pessoas desfrutassem de sua intimidade e privacidade. Em várias ocasiões, vemos o Senhor determinando este respeito, como, por exemplo, no episódio da Páscoa, em que as famílias deveriam ficar em suas residências, somente se permitindo que famílias pequenas se reunissem(Ex.12:3,4), ou, então, no milagre da ressurreição da filha de Jairo, quando se permitiu apenas que o núcleo familiar estivesse com Jesus e Seus discípulos mais íntimos (Lc.9:51). O lar é um ambiente de proteção, de intimidade, resultado da vida de afeto que se estabelece entre os cônjuges e entre os cônjuges e seus filhos. Mais uma vez, a família é usada como figura do relacionamento entre Deus e o homem, quando, no sermão do monte, Jesus afirma que devemos orar a Deus como nosso Pai e, portanto, num ambiente de intimidade (Mt.6:6).

- A sexta função da família é a função econômica. Horton e Hunt, com propriedade, afirmam que "…a família é a unidade econômica básica na maioria das sociedades primitivas…"(op.cit., p.172). Ainda que, na nossa sociedade atual, esta função econômica tenha perdido, consideravelmente, sua importância, vez que ".exceto na fazenda, a família já não é mais a unidade básica de produção econômica…tornou-se, na verdade, uma unidade de consumo econômico, fundada no companheirismo, afeição e recreação.…"(op.cit., p.176), o fato é que a subsistência da chamada "população economicamente inativa" (crianças, inválidos, idosos sem condições de trabalhar, desempregados crônicos etc.) continua sendo uma tarefa da instituição familiar, mormente em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil, em que a infra-estrutura de assistência social é , ainda, sofrível. Tanto assim é que a nossa Constituição comete, primordialmente, à família a tarefa de sustento das pessoas que não têm condições de trabalhar e de se sustentar (artigo 203 da Constituição da República: "A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente da contribuição à seguridade social e tem por objetivos:.......V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não ter meios de prover á própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei." - grifo nosso). A função econômica da família foi estabelecida por Deus logo após a bênção que deu ao primeiro casal, ao determinar que a natureza estava à sua disposição para obterem o necessário mantimento (Gnm.1:29,30), mantimento este que passou a ser obtido com dificuldade e de forma penosa, depois do pecado do homem (Gn.3:17-19). O cuidado que se deve ter no sustento dos integrantes da família é algo que deve sempre estar na mente dos verdadeiros e autênticos crentes, porquanto foi o que se observou na vida de Jesus e de Sua família terrena (Mt.13:55; Mc.6:3).

- A sétima função da família é a função de "status", ou seja, é através da família que o ser humano obtém a sua primeira posição na sociedade, posição esta que pode ser alterada, mas jamais alguém deixa de ocupar o lugar que lhe dá a estrutura social pelo fato de pertencer a uma determinada família. Deus, ao estabelecer a família, determinou que seria através dela que o homem ocuparia a sua posição de dominador sobre a criação na Terra. Também, ao estabelecer as regras que regeriam o povo de Israel, teve o cuidado de nunca permitir que as famílias e, conseqüentemente, as tribos de Seu povo se descaracterizassem e se misturassem entre si (Nm.27:1-11), tendo, também, sido proibido o aparentamento com os estrangeiros descompromissados com a lei do Senhor (Dt.7:1-4;Ed.9,10). A família deve manter a sua posição diante de Deus, temos de servir a Deus e levar nossa família a também fazê-lo, para que, em nossas vidas, seja uma realidade a afirmação de Josué: " Eu e a minha casa serviremos ao Senhor".

II – O MODELO BÍBLICO DA FAMÍLIA E AS ARMAS PARA A DESINTEGRAÇÃO FAMILIAR NESTE SÉCULO

- Vistas as funções da família, observemos que o modelo bíblico para a família se encontra sintetizado em Gn.2:24, que, não por acaso, foi escolhido para ser o texto áureo deste apêndice. Ali, o Senhor determina como deve ser a família, a saber:
a) uma união heterossexual – “deixará o varão seu pai e sua mãe e apegar-se-á à sua mulher”. Uma família somente poderá cumprir seu papel e sua finalidade se for a união entre um homem e uma mulher. Os dois sexos (“sexo” significa “parte”) precisam se complementar para que, unidos, cumpram todos os propósitos divinos estabelecidos ao ser humano. Esta complementação faz com que a família possa procriar, cumprindo o papel da multiplicação e do preenchimento da terra, como também que se construa uma verdadeira vida em comum.
b) uma união firmada no casamento, ou seja, no máximo compromisso de formaram uma só vida perante os demais homens – “deixará o varão e apegar-se-á à sua mulher”. As expressões bíblicas denotam um compromisso solene, o máximo comprometimento entre um homem e uma mulher que, perante os demais seres humanos, passam a compartilhar uma só vida, uma só existência perante a face da Terra. Este compromisso máximo é o que se denomina de “casamento”, não importando a forma, que varia segundo a cultura de cada povo, de cada nação, mas que deve sempre ser um compromisso sério e duradouro.
c) independência – “deixará o varão o seu pai e a sua mãe” – as famílias são independentes umas das outras, têm uma intimidade que não pode ser devassada por quem quer que seja. A família é um altar de adoração a Deus, um local sagrado, que não pode sofrer interferências, inclusive dos pais dos que resolvem se casar.
d) livre consentimento – “deixará o varão e apegar-se-á à sua mulher” – as famílias devem ser formadas pelo livre consentimento de homem e mulher, sem qualquer constrangimento, por um ato de livre escolha. O varão “deixa” pai e mãe, ou seja, toma uma decisão livre e sem qualquer pressão ou condicionamento.
e) construção de vida em comum – “e serão ambos uma só carne” – a família é o compartilhamento de vida entre homem e mulher e, até um certo instante da vida, dos filhos que lhe sobrevierem. É a construção de um só projeto de vida, de uma coexistência até que haja a separação pela morte física ou por um impasse entre a vida espiritual e a vida a dois sobre a face da Terra.
f) monogamia – “e deixará o varão e apegar-se-á à sua mulher” – a família deve ser construída sob a monogamia, ou seja, cada homem terá apenas uma mulher e vice-versa. A poligamia é execrada por Deus, não corresponde ao princípio ético estabelecido pelo Senhor, como, aliás, Jesus realçou em Seu ministério (Mt.19:1-12).

- Este modelo bíblico tem sido alvo de violentos ataques do adversário que, ao longo dos séculos, sempre tem buscado desintegrar a família conforme os parâmetros divinos, a fim de impedir que os homens tenham um ambiente propício para servirem ao Senhor.

- O primeiro ataque que sofre a família neste século se volta contra a heterossexualidade, algo que, comos e viu no apêndice 2 deste trimestre, é a principal vítima das hostes espirituais da maldade neste período final da dispensação da graça. Cresce assustadoramente no mundo a pressão para a oficialização e apologia às chamadas “uniões homoafetivas”, uma excrescência e uma demonstração de rebeldia contra o modelo divino familiar. Se todos adotassem a fórmula da chamada “união gay”, a humanidade desapareceria em uma única geração, pois não haveria procriação. Ademais, a “união homoafetiva” demonstra toda sua perversão na medida em que não cumpre quaisquer das funções familiares acima expostas, quase sempre nada mais sendo do que a regularização patrimonial para relacionamentos marcados pela depravação.
OBS: No Brasil, ante a dificuldade de aprovação no Congresso Nacional da “união homoafetiva”, apesar de esforços de vários projetos de lei e propostas de emenda constitucional neste sentido, o movimento homossexual, graças ao firme apoio que sempre teve do atual governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, aguarda que o Supremo Tribunal Federal legalize as “uniões homoafetivas”, mediante pedido de reconhecimento formulado pelo referido governador, que deve ser julgado em breve pelo Supremo Tribunal Federal. Oremos para que a Corte Suprema não decida de forma absolutamente contrária à Constituição da República e à sã doutrina.

- O segundo ataque que sofre a família neste século é o desprestígio do casamento. As legislações civis dos países vêm, ano após ano, desprestigiando a figura do casamento. Se é verdade que o dogma romanista da indissolubilidade, que vigorou durante séculos nas legislações dos países ocidentais, era, também, uma excrescência, o certo é que passamos do extremo da indissolubilidade do casamento para a plena dissolubilidade. Hoje, o divórcio está cada vez mais fácil e se busca ainda mais facilitá-lo. Os casamentos são fugazes, passageiros, quase que uma brincadeira entre duas pessoas. O resultado é o aumento escandaloso de divórcios e separações, com a criação de milhares, milhões de crianças moral e afetivamente deformadas, verdadeiro caldo de cultura da criminalidade violenta e cruel que temos observado em nossos dias.

- Além da facilitação e do estímulo para o divórcio e separação, há o reconhecimento de outras formas de união como formadoras de família, como as uniões estáveis (“amasiamentos”), “uniões livres”, concubinatos, “amizades coloridas” e tantas outras maneiras humanas e pecaminosas de convivência entre um homem e uma mulher, uniões sem qualquer compromisso, que também degeneram moral e afetivamente a humanidade. O reconhecimento por parte da legislação de direitos a participantes de tais uniões, às vezes com vantagem sobre os casados, torna-se um fator a mais a promover a desintegração familiar e suas deletérias conseqüências.
OBS: No Brasil, a legislação tem sido cada vez mais permissiva. A união estável já foi praticamente equiparada ao casamento, embora o casamento ainda esteja em um patamar levemente superior, pela Constituição da República de 1988. O concubinato, uma forma ainda inferior de convivência, teve alguns direitos reconhecidos no Código Civil de 2002 e o projeto do “Estatuto das Famílias”, em discussão no Congresso Nacional, pretende ampliar a proteção a outras formas de união, inclusive as “uniões homoafetivas”. Os tribunais, por outro lado, também estão a reconhecer, aqui e ali, efeitos jurídicos para todo o tipo de união, baseando-se cada vez mais na presença de “afetividade”, ainda que sem qualquer compromisso.

- O terceiro ataque que sofre a família diz respeito à independência. As dificuldades econômico-financeiras, a concentração da população nas grandes cidades, a libertinagem sexual tem feito nascer, com cada vez mais freqüência, famílias sem qualquer independência. Famílias que já nascem com filhos, por causa da fornicação e da libertinagem sexual, famílias cujos pais, mesmo tendo filhos no momento oportuno, mas que não pode criá-los por causa de ambos terem de trabalhar para o sustento do lar, criam figuras anômalas de convivência familiar, onde estranhos, avós e todo o tipo de gente passa a compartilhar de uma intimidade da família, que, na verdade, não existe.

- O resultado do surgimento destas “famílias dependentes” é a própria destruição do ambiente de privacidade e de segurança que deveria ser construído pela família, com um maltrato, muitas vezes, irreversível no relacionamento entre cônjuges, entre pais e filhos, com um prejuízo para a formação moral, afetiva e espiritual dos filhos. As conseqüências estão aí para todos constatarem: aumento da violência doméstica (inclusive a sexual, que envolve a pedofilia), a insegurança e a total falta de formação por parte dos filhos, que se tornam presas fáceis de grupos que criarão “ambientes de substituição de carência afetiva” (gangues, organizações criminosas, as “tribos” imersas na prostituição, no uso das drogas e na violência etc.), prejuízo na socialização nas escolas e igrejas locais (escolas e igrejas precisam da formação mínima nos lares, que passa a não existir e nem sempre têm condições de suprir esta falta, o que inviabiliza a sua própria missão).

- O quarto ataque sofrido pela família volta-se contra o livre consentimento. Muitas famílias são formadas mediante o constrangimento dos cônjuges. São os “casamentos arranjados”, os “casamentos forçados”, uma triste realidade que não se apresenta apenas em países muçulmanos, mas que, por incrível que pareça, tem surgido inclusive em certos meios evangélicos, onde se tem apresentado um falso ensino com base na “corte”, que seria o “namoro santo”, um casamento resultante da escolha dos pais, para que haja a devida “bênção”. Tal ensinamento, sem qualquer embasamento bíblico (o que trazem como base bíblica, nada mais são que notas culturais da Antigüidade Oriental, a mesma cultura, aliás, que aceitava a poligamia e que Jesus fez questão de dizer que era fruto mais da “dureza dos corações” do que dos princípios éticos bíblicos)., apenas fomenta a revolta e a indignação dos jovens que, ante um justo sentimento de privação indevida da liberdade, acabam sendo envolvidos pelo adversário e levados a adultérios, divórcios, separações e tantas outras práticas libertinas e contrárias à sã doutrina.

- As famílias devem ser formadas mediante o livre consentimento dos que vão se unir, pois o livre-arbítrio foi uma dádiva divina ao homem. Como servos do Senhor, devemos, sempre, buscar seguir a orientação e direção do Espírito Santo, mas jamais constranger alguém a fazer isto ou aquilo. Isto é uma violência que não tem qualquer base bíblica ou aprovação divina.
OBS: Neste sentido, devemos sempre evitar comportamento tão comum entre os crentes, que é o de obrigar jovens que fornicaram a se casar. Não há base bíblica alguma para que haja o casamento de duas pessoas que praticaram fornicação. A fornicação é pecado, deve ser devidamente punida no seio da igreja, mas o casamento dos que fornicaram não é meio de salvação, nem tampouco uma atitude que tenha a aprovação do Senhor.

- O quinto ataque sofrido pela família volta-se contra a construção da vida em comum. O individualismo e o egoísmo dos dias trabalhosos em que vivemos também acertou em cheio a vida familiar. Em vez de construírem “uma vida em comum”, muitos hoje se unem com o único propósito de desfrutarem de “momentos agradáveis”, de “instantes de felicidade”. Há, mesmo, aqueles que se casam e continuam a morar cada um em sua casa, encontrando-se esporadicamente, quase sempre com o único propósito de manterem relações sexuais. São os ditos “casamentos abertos”, outra invenção humana, onde, inclusive, se permite a infidelidade conjugal consentida.

- Não existe mais sequer a intenção de se construir uma vida em comum, de se compartilhar a vida. Cada um tem seu projeto de vida, mantém uma inconcebível individualidade e independência um do outro, o que persiste quando sobrevêm os filhos, se é que eles vêm, pois, também, está cada vez mais comum haver os chamados “casais dinks” (“dink” – “double income, no kids”, i.e., renda dobrada, nenhuma criança), que buscam tão somente reforçar seus orçamentos, ter momentos de lazer e de prazer em conjunto, sem qualquer intenção de procriação ou de comprometimento de um com o outro.

- O resultado disto é a destruição da própria família. Tais “famílias” não são, na verdade, famílias, mas pessoas que resolvem ter uma aparência de vida familiar para até justificar uma “parceria sexual fixa”, sem qualquer intenção de procriação. Trata-se de mais uma estratégia do inimigo para fazer desaparecer a humanidade e, de certo modo, tem atingido seus efeitos, pois o crescimento demográfico dos países europeus, onde esta tendência é mais forte, tem sido negativo já há quase duas décadas, a ponto de, em cerca de 20 anos, os imigrantes serem maioria absoluta da população em toda a Europa.
- O sexto ataque sofrido pela família volta-se contra a monogamia. Não bastasse a poligamia ser praticada pelo islamismo, que é a religião que mais cresce no mundo, temos que a permissividade sexual dos dias hodiernos tem feito nascer a tolerância à “poligamia informal”, ou seja, à existência de pessoas que têm diversos relacionamentos concomitantes, algo visto como normal e que é, inclusive, algo que produz admiração e respeito entre os homens, com cada vez maior freqüência. Cada vez mais se admite na sociedade a existência de “matriz” e “filial” nos relacionamentos afetivos, caminhando, como já se disse, a legislação a uma concessão de efeitos jurídicos a este estado anormal.

- Este estado caótico em que se encontra a família está a exigir de cada um dos servos do Senhor uma atitude de restauração dos valores bíblicos, de ensino da Palavra de Deus, notadamente a crianças, adolescentes e jovens, sobre o modelo bíblico de família. Devem as igrejas locais, ainda, criar ambientes complementares que supram, de algum modo, a carência afetiva, moral e espiritual dos lares, devendo, também, criar atividades que tornem os lares verdadeiros altares de adoração ao Senhor. Sem tais providências, não se poderá fazer com que as famílias vençam esta crônica doença, que é a sua desintegração.

Caramuru Afonso Francisco

quarta-feira, 6 de maio de 2009

VIOLÊNCIA, A CHAGA VISÍVEL DO PECADO


A violência é um dos aspectos mais evidentes do trabalhar destrutivo do pecado contra a humanidade.

Eis que clamo: Violência! Mas não sou ouvido; grito: Socorro! Mas não há justiça. (Jó 19:7)

INTRODUÇÃO

- No estudo das “doenças do nosso século”, analisaremos, ainda que sucintamente, alguns outros males que contagiam a humanidade nestes dias difíceis em que vivemos.

- A violência é um dos sinais característicos dos nossos dias, dias que antecedem a volta do Senhor Jesus. Estamos vivendo como “nos dias de Noé” (Mt.24:37), que tinha na violência uma de suas principais marcas (Gn.6:11).

I – O QUE É VIOLÊNCIA

- “Violência” é a “ação ou efeito de violentar, de empregar força física (contra alguém ou algo) ou intimidação moral contra (alguém); ato violento, crueldade, força”; “exercício injusto ou discricionário, ger. ilegal, de força ou de poder”, que vem do latim “violentia”, cujo significado é “violência, impetuosidade (do vento), ardor (do sol); arrebatamento, caráter violento; ferocidade, sanha; rigor, severidade”.

- Na Versão Almeida Revista e Corrigida, a palavra “violência” aparece pela vez primeira em Gn.6:11, para descrever o estado do mundo antediluviano, dos “dias de Noé”, quando o texto sagrado nos informa que a terra estava corrompida diante da face de Deus e que a terra havia se enchido de “violência”. A palavra hebraica é “chamac” (חמס), que tem o sentido de “injustiça”, “crueldade”, “opressão”, “violência”.

- Em o Novo Testamento, a palavra “violência” aparece poucas vezes, sendo a tradução da palavra grega “bia” (βία), cujo significado é “força”, “ação empregada contra o corpo ou a mente”.

- A Bíblia Sagrada sempre nos mostra a violência como um estágio de degeneração na caminhada abismo após abismo que caracteriza a vida no pecado (Sl.42:7). Com efeito, a primeira ação violenta que nos é registrada é o assassinato de Abel por Caim (Gn.4:8), atitude noticiada logo após o Senhor ter advertido Caim de que deveria impedir que o pecado dominasse a sua vida (Gn.4:7).

- O que se verifica, portanto, é que o uso da violência, a tomada de atitudes de força contra a mente e o corpo do próximo, nada mais é que resultado, efeito, conseqüência do domínio do pecado sobre o homem. A separação de Deus, causada pelo pecado (Is.59:2), faz com que se perca o amor ao próximo, que se inicie um processo de egoísmo e de isolamento da pessoa em relação aos demais, gerando um ódio e um desejo de destruição do outro, que se materializa, se concretiza por intermédio de ações violentas, por intermédio de atitudes que caracterizam o que denominamos de “violência”.

- Distanciando-se de Deus, o ser humano passa a viver sob o domínio do pecado e o pecado impõe ao homem uma insatisfação constante, de modo que os desejos incontrolados advindos da natureza pecaminosa (a “carne”) leva o homem a tomar atitudes irracionais, a ser levado pelos seus desejos e paixões, a não medir esforços nem parâmetros para saciar seus instintos sem controle. Nesta triste situação, não pensa duas vezes para eliminar o outro, para impedir que a vontade do outro possa ser obstáculo à satisfação de seus desejos.

- Temos, então, o que o filósofo inglês Thomas Hobbes (1588-1679) denominou de “guerra de todos contra todos”. O homem, na sua natureza pecaminosa, torna-se inimigo de todos os demais seres humanos, gerando-se uma situação de desconfiança tal que a própria vida se torna inviável, um verdadeiro risco. Quanto mais o homem se aprofunda no pecado, mais aumenta a violência, levando o homem a um verdadeiro caos na vida em sociedade.

- Quando analisamos a história da humanidade, bem percebemos que os instantes finais de cada civilização são, precisamente, instantes de violência e de descontrole dos princípios mais comezinhos de convivência entre os seres humanos. A violência cresce a ponto de destruição de todo e qualquer grupo social, levando os homens a se destruírem entre si e a desfazerem todo o progresso e todo o desenvolvimento alcançado num determinado estágio de uma determinada sociedade.

II – A VIOLÊNCIA NUNCA FOGE AO CONTROLE DE DEUS

- As Escrituras mostram-nos, claramente, que a violência praticada pelo homem imerso no pecado não fica sem a correspondente responsabilização da parte do Senhor. Tudo que acontece está sob o controle divino e, deste modo, não pensemos que a violência ficará impune. Desde o primeiro crime da humanidade, vemos que Deus está atento e não permitirá que a violência ultrapasse a medida de Sua tolerância, de Sua longanimidade.

- Quando ocorreu o primeiro crime, Deus mostrou a Caim que tudo ocorrera debaixo de Seu controle. O Senhor foi claro ao dizer ao homicida que o sangue da vítima clamava a Ele desde a terra (Gn.4:10), afirmação, aliás, que foi repetida pelo Senhor Jesus (Mt.23:35). Por isso, apesar do aumento da violência, estejamos certos de que Deus não deixará impune aqueles que a praticam, embora a Sua ira somente se vá revelar no instante definido por Sua soberania, pois Ele é longânimo e tardio em irar-Se (Ex.34:6; Ne.9:17; Na.1:3).

- A própria história da humanidade é uma demonstração de que Deus permite que a violência ocorra até um determinado instante. Como já dissemos, não há civilização que não tenha se destruído por causa da violência, mas a violência ocorreu até um determinado limite, quando Deus, mesmo, fez com que aquela determinada civilização fosse riscada do mapa, em virtude de sua maldade.

- Já no mundo antediluviano, vemos que Deus, ao ver que a terra estava cheia de violência, ou seja, que se tinha atingido a “medida da tolerância de Deus”, tomou a devida providência para pôr fim àquele estado de coisas, mandando o dilúvio, o juízo sobre toda aquela geração perversa e corrompida. O mesmo, aliás, fará ao término da Grande Tribulação, quando, na batalha do Armagedom, porá fim à extrema violência com que o Anticristo terá atacado os santos daquele tempo e, mais precisamente, o remanescente de Israel.

- Assim também Deus agiu com relação a Sodoma e Gomorra, com relação aos moradores de Canaã, a Nínive e ao próprio povo do reino do norte, o reino de Israel, que, como nos dá conta o profeta Amós, também havia enveredado pelo caminho da violência (Am.6:3) . Deus, a cada momento, tem mostrado que não permitirá que a violência atinja limites superiores ao de Sua tolerância, sendo, mesmo, a violência existente uma demonstração do que é o pecado e de que como Deus está no controle de todas as coisas.

- Mas por que Deus permite a violência, ainda que num limite que não supere a Sua longanimidade? Precisamente, porque a violência é conseqüência do pecado, pecado este que é uma escolha feita pelo homem no mau uso de sua liberdade. A violência é efeito do pecado e este, do livre-arbítrio dado ao homem e, como quem Deus deu o livre-arbítrio ao homem foi o próprio Deus, temos que Deus, que não muda (Ml.3:6), não tem como retirar tal faculdade do ser humano que, por ter a natureza pecaminosa, acaba por, invetivalmente, pecar e, com o pecado, a gerar um estado propício à disseminação da violência.

- No entanto, Deus não Se mantém impassível diante da violência. Antes mesmo que Caim viesse a matar Abel, o Senhor o advertiu para que não viesse a se deixar dominar pelo pecado. De igual modo, seja por meio da criação (Rm.1:18-21), seja por meio da consciência (Rm.2:14,15), seja por meio de Sua Palavra (Hb.1:1; Jo.5:39; I Pe.1:25), Deus tem alertado a humanidade em todo o tempo e em todos os lugares a respeito da necessidade de não se praticar o mal, de se não deixar dominar pelo pecado.

- Desde a aliança feita com Noé, o Senhor tem alertado o homem de que requererá do homem o sangue derramado injustamente (Gn.9:5,6), mandando ao homem que, em vez de praticar o mal e a violência contra o seu próximo, que frutificasse, multiplicasse e povoasse a Terra (Gn.9:7), ou seja, que desse o fruto de boas obras, que aumentasse a sociedade mediante a multiplicação numérica e de qualidade de vida, fazendo da humanidade uma comunidade fraternal e adequada à vida digna de todos.

- No entanto, não foi este o caminho escolhido pela humanidade, que, ao revés, iniciou novamente uma escalada de violência que, como já dissemos, se desenvolve até um determinado limite, quando, então, o Senhor age, fazendo com que aquela determinada civilização, i.e., “conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade”, desapareça, pois o sangue ali derramado é cobrado do Senhor, como Ele prometeu quando do “pacto noaico”, pondo fim àquele estado de coisas.

- O sábio Salomão foi claríssimo ao dizer que não devemos nos surpreender quando vermos que a violência campeia e grassa como erva daninha sobre a face da Terra, porque o Senhor nunca perde o controle da situação e, no tempo certo, agirá, pois Ele é mais alto do que os altos que existem neste mundo (Ec.5:8). Tenhamos a confiança do salmista que sabia que o Senhor agiria para debelar toda a violência existente na cidade (Sl.55:9). Certo estejamos que há o tempo em que Deus põe fim à violência (Is.10:33). O profeta Ezequiel foi claro ao avisar o povo que se preparassem para ser cativos, para verem destruída a sua civilização, por causa da violência que havia na cidade (Ez.7:23).

- Vemos, portanto, que o caminho para a superação da violência outro não é senão o do voltar-se para Deus, o arrependimento dos pecados e a construção de uma vida santificada, de separação para o pecado. Em nossos dias, não há como debelar-se a violência existente sem que haja uma transformação de vidas por intermédio do Evangelho, o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm.1:16).

- Exemplo disto vemos em Nínive, capital da Assíria, um dos povos mais violentos e cruéis que já existiram sobre a face da Terra. Os assírios eram conhecidos por sua ferocidade, pela maneira particularmente cruel com que tratavam os seus inimigos e, ante tamanha violência, o Senhor decidiu destruí-los, mandando que Jonas fosse o pregador da mensagem de destruição. Deus, assim, uma vez mais, avisava o homem dos males provenientes do pecado.

- A violência em Nínive era tanta que muitos de seus habitantes são chamados pelo texto sagrado de “animais” (Jn.3:7,8), o que nos lembra a expressão utilizada pelo apóstolo Paulo em I Co.15:32, “bestas”, ou seja, homens que, em virtude de seu alto grau de envolvimento com o pecado e a maldade, têm suas mentes completamente cauterizadas, não tendo qualquer afeto natural, agindo única e exclusivamente pelos instintos, sem qualquer racionalidade, de modo que são como os “animais”, sem qualquer sentimento ou piedade.

- Hoje em dia, também, temos muitos “animais” que estão a viver entre nós, pessoas cuja crueldade nos deixa surpresos, perplexos. Quanta maldade, quanta crueldade temos visto nestes dias trabalhosos que antecedem a volta de Cristo! Crimes hediondos, com requintes de perversidade e de crueldade que nos chocam grandemente. É a mais visível demonstração de que como o pecado tem destruído o ser humano, de como estamos vivendo em dias de completo e progressivo domínio do maligno sobre as vidas!

- Quando se chega a este grau de crueldade, a ira de Deus se manifesta com destruição e juízo, a fim de pôr um basta nesta circunstância. Deus não muda e como agiu assim ao longo da história da humanidade, também continuará a agir, ações pontuais, por ora, mas que alcançará um nível mundial ao término da Grande Tribulação.

- No entanto, como é longânimo (Nm.14:18; Sl.103:8; II Pe.3:9), o Senhor não só dá tempo suficiente para que o homem se arrependa, como conclama o homem ao arrependimento. Foi o que fez em Nínive e o povo, surpreendentemente, atendeu ao chamado divino e se arrependeu de seus pecados, o que lhes proporcionou praticamente mais cem anos de existência, até que, nos dias de Naum (Na.1:1-3), por terem incorrido novamente na violência, fossem, por fim, destruídos.


III- O PECADO – O FATO GERADOR DA VIOLÊNCIA

- Muitos discutem as causas da violência, mas, à luz da Palavra de Deus, temos que a causa da violência é o pecado, a morte espiritual, que dá início ao processo que chega até a violência. Sem o pecado, não há que se falar em violência e é por isso, aliás, que, no reino milenial de Cristo, haverá paz e justiça (Sl.85:10).

- A violência é praticada pelo ímpio (Sl.11:5), porque é o ímpio que se encontra sob o domínio do pecado. Quem forja iniqüidades no coração é quem chega à prática da violência (Sl.58:2). A violência é uma conduta de quem se acha escravizado pelo engano, ou seja, pelo pecado (Sl.72:14). Somente aquele que se acha auto-suficiente, que despreza a Deus, acha-se envolvido pela violência (Sl.73:6).

- Muitos afirmam que a causa da violência é a pobreza, a falta de elementos mínimos para a sobrevivência sobre a face da Terra. Não resta dúvida de que a fome, a carência extrema é um fator que pode levar à criminalidade, como, aliás, observa o sábio Agur (Pv.30:9), mas não devemos nos esquecer que, se assim fosse, os ricos não seriam violentos.

- No entanto, o profeta Miquéias é claríssimo ao dizer que “os ricos estão cheios de violência” (Mq.6:12), como também são os que tem na mão o poder de fazer mal que “fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança” (Mq.2:1,2). Como se isto fosse pouco, Ezequiel afirmou ao povo de Judá que eram os sacerdotes, príncipes e profetas, ou seja, a elite do povo quem andava “roubando, fazendo violência ao aflito e ao necessitado” (Ez.22:29).

- Fosse a pobreza a causa da violência, os que são ricos e poderosos no mundo não seriam violentos, não haveria criminalidade na elite, o que, efetivamente, não é o caso, porquanto não só boa parte da elite é a causadora de violência, como também a criminalidade dita “de colarinho branco”, que grassa no mundo afora, é peculiar ao estrato superior da sociedade.

- Outros indicam que não é a pobreza a causa da violência, mas, sim, a injustiça social, a extrema desigualdade social, que faz com que, ante a ausência de perspectivas de ascensão e de progresso na sociedade, os indivíduos das camadas inferiores optem pelo uso da violência, ou, se já estão nas camadas superiores, para que a situação injusta persista, recorram a meios e instrumentos violentos.

- Entretanto, tal pensamento não pode ser também adotado em sua inteireza. A injustiça e desigualdade sociais crescentes são, sem dúvida, estímulo e incentivo a uma violência maior, mas o fato é que a injustiça e desigualdade são provocadas pelo pecado, pois, como sabemos, a iniqüidade é pecado (I Jo.3:4).

- Desde que o homem pecou, houve o início da injustiça, de sorte que a violência, embora seja fruto da injustiça, somente será debelada se a causa da injustiça for eliminada e esta causa é o pecado.

- O patriarca Jó é claro ao afirmar que não tinha violência em suas mãos porque sua oração era pura (Jó 16:17). Quando há pecado, como diz o profeta Isaías, as mãos estão contaminadas de sangue, ninguém clama por justiça, havendo tão somente obras de iniqüidade e, por isso, obras de violência (Is.59:2-6). No mundo pecaminoso, não há qualquer limite nem freio para que haja derramamento de sangue inocente (Isa.59:7). Não é por outro motivo que a violência que encheu a Terra nos dias de Noé nada mais era do que efeito da imaginação continuamente má que havia nas mentes dos homens daquele tempo (Gn.6:5).

- Habacuque, também, fala que via a violência e a destruição como prova e demonstração de que havia iniqüidade e vexação (Hc.1:3). Daí porque termos considerado, no título deste apêndice, a violência como a “chaga visível do pecado”, porque, através do derramamento do sangue inocente, de todas as opressões, constrangimentos e atitudes violentas é que enxergamos, com os olhos físicos, o mal que é o pecado, a ferida que ele provoca na humanidade.

- Por isso, não há outra forma de se coibir a violência senão pela eliminação do pecado. De nada adiantará o desenvolvimento econômico, a redução da pobreza bem como a diminuição das desigualdades e injustiças sociais. Não resta dúvida de que sendo reduzida a pobreza, bem como a injustiça social, teremos menores estímulos para a violência, mas ela não poderá ser debelada enquanto persistir a causa de sua existência, que é o pecado.

- Somente quando o homem se volta, individual e coletivamente, para o Senhor, arrependendo-se de seus pecados e passando a viver de acordo com a vontade de Deus, há cessação da violência. Quantos testemunhos não vemos de pessoas perversas, que haviam ingressado e se aprofundado na vida do crime, que mudam completamente quando aceitam a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador? Somente Jesus pode dar fim ao problema do pecado, pois Ele veio tirar o pecado do mundo (Jo.1:29), é a propiciação de todos os pecados do mundo (I Jo.2:2). E, somente se eliminarmos o pecado, teremos o fim da violência.

- Por isso, a violência somente será retirada da face da Terra quando se estiver diante do reino milenial de Cristo, quando, então, a glória do Senhor resplandecerá sobre o mundo e não se terá mais notícia da violência (Is.60:18), porque se estará em época de salvação e de louvor ao Senhor.

- Como servos do Senhor, entretanto, não podemos nos comportar como Simeão e Levi, que eram “instrumentos de violência” (Gn.49:5), mas, antes, como pacificadores (Mt.5:9), porque somos filhos de Deus e, como tais, pessoas abençoadas e que são mantidas livres do pecado, o fator gerador da violência (Pv.10:6,11).

- Devemos levar a mensagem da paz na pessoa de Jesus Cristo, a mensagem da reconciliação entre Deus e o mundo por intermédio de Jesus (II Co.5:18,19). Não podemos permitir que a violência existente gere mais violência, o que significa, entre outras coisas, não advogar teses como o da utilização da pena de morte ou a prática da justiça com as próprias mãos. A mensagem da Igreja é a do perdão e da reconciliação com Deus, pois, sem a salvação, não haverá como obtermos a recuperação do que já está na senda do crime, nem a melhora das condições sociais.

- Ao vermos as notícias de aumento da crueldade e da criminalidade, não podemos nos desesperar nem nos abalarmos na fé, crendo em “estratégias humanas”, sejam elas de combate ao crime ou de nossa própria proteção, mas, antes, devemos nos envolver com os trabalhos de evangelização, sabendo que só por meio deles poderemos auferir melhores condições de vida em nossa rua, em nosso bairro, em nossa cidade.

- É com imensa tristeza que vemos as igrejas locais completamente distraídas com os trabalhos penosamente levados a efeito por alguns poucos abnegados que, atendendo ao “ide” de Jesus, têm procurado pregar o Evangelho junto àqueles mais propícios à violência e à criminalidade, sejam os marginalizados sociais, os que já se encontram encarcerados, sejam os círculos fechados da elite. Que temos feito para ajudar estas pessoas que, muitas vezes, estão a desenvolver seus trabalhos à margem das estruturas eclesiásticas existentes?

- Combate-se a violência mediante a pregação do Evangelho que transforma o homem, mediante ações que confirmem o nosso amor ao próximo, criando mecanismos e meios pelos quais se pode desembaraçar as almas envolvidas nas estruturas criminógenas, a fim de que, desligadas, possam ir pela estrada da vida servindo a Deus.

- Certo é que o Senhor dará o pago aos violentos e que, ao longo da história, não tem deixado que a violência fique impune, lançando o Seu juízo sobre os homens sanguinários, mas este assunto não nos cabe, mas, sim, a Ele, o Soberano Senhor. Nossa missão é pregar o Evangelho a toda a criatura e mostrar ao mundo que existe, sim, uma solução para a violência: Jesus Cristo. Temos feito isto?

Caramuru Afonso Francisco