segunda-feira, 9 de março de 2020

DOMÍNIO DO HOMEM DO PECADO


No versículo primeiro do capítulo treze do Livro de Apocalipse, João disse que presenciou uma besta saindo do mar. O mar é uma linguagem simbólica que implica a entender que a fonte de poder da besta não está em cima, mas em baixo. Ou seja, o mar está representando as nações e povos (Ap. 17.15). A besta representa o governo do Anticristo sobre todas as nações do mundo.
João ainda no mesmo versículo descreveu a característica física desse equivalente ser: a sua cabeça tinha dez chifres, dez diademas e acima da cabeça trazia um nome de blasfêmia. Essa expressão de blasfêmia certamente está se reportando de um homem que vai se ostentar como deus.
  Muitos imperadores de Roma blasfemavam quando se diziam que eram deuses e cobravam adoração dos seus súditos e ao mesmo tempo perseguiam aqueles que não cumpriam tal ordem, que era o caso dos cristãos dos primeiros três séculos da era cristã.  Tem-se o exemplo de Nero que se auto- intitulava “o salvador do mundo”, a tal declaração para os cristãos, que tinham Jesus como o verdadeiro Salvador da humanidade, era vista como uma grande blasfêmia contra Deus.
 O Imperador Domiciano, contemporâneo de João, de igual modo se declarava “nosso Senhor e Deus”. É bem verdade que o apóstolo João não especificou qual era o tipo de blasfêmia que se encontrava sobre a cabeça da besta, mas dado o pano de fundo histórico, que é o caso dos primeiros imperadores que se intitulavam como deus, a blasfêmia da besta será exatamente quando se ostentar como deus (Dn. 11.36; IITs. 2.3,4).
A busca do significado do número da besta, 666, tem levantado várias especulações desde os primórdios do cristianismo. Este número já foi atribuído a imperadores como Nero, por ter sido o grande perseguidor e exterminador de vidas de alguns cristãos ainda no século I.
O manuscrito catalogado de Papiro Oxyrhynco 4499, de origem egípcia, datado do final do terceiro e início do quarto século, traz no Livro de Apocalipse uma relevante leitura sobre o número da besta. Ao contrário, dos outros manuscritos que tem preservado o número 666, números estes que são representados pelos caracteres gregos: chi, ksi e o sigma final.  O Papiro Oxyrhynco 4499 traz o número da besta de 616 representados pelas letras gregas chi, iota e o sigma final. Observe que há apenas uma variante, iota, que equivale o número 1, divergindo com outros importantes manuscritos que trazem o número tradicional 666. Essa variante foi uma forma intencional dos copistas modificar o texto com o propósito de “identificar o Anticristo com algum personagem da história que estivesse associado a perseguição e opressão religiosa, como, por exemplo, o Imperador Nero (37-68 A.D.), cujo nome latino (Nero Cesar) escrito em caracteres hebraicos [...] é equivalente a 616”. (PAROSCHI, 2012, p. 47).
O discípulo de Policarpo, Irineu, conhecendo a leitura do número 616, a considerou como uma variante que veio ser acrescentada pelos copistas com a intenção de favorecer sua teologia. Pois, o número tradicional, 666, se encontrava nos melhores e mais confiáveis manuscritos. Ainda Irineu dizia que o tradicional número era confirmado por aqueles que conheceram pessoalmente o apóstolo João,  que traz a ideia que uma destas testemunhas que diziam que o sinal da besta era o 666 e não 616, seja Policarpo, discípulo de João e mestre de Irineu.
A primeira besta, que é identificada de Anticristo, é uma figura simbólica que além de ela ser associada a Nero, os estudiosos procuraram identificá-la também com o Papa e o ditador Hitler, e semelhantemente a muitos outros grandes e cruéis personagens da história. No entanto, o primeiro objetivo aqui não consiste em descobrir quem será a besta citada em Apocalipse 13, mas, sim, procurar saber qual o real significado do seu número, 666.
A interpretação bastante evidenciada da escatologia na atualidade, porém não confiável, é a identificação do número 666 com o chip que trará todos os dados da vida de uma pessoa. A lógica usada para essa interpretação, no entanto equivocada, está no avanço da tecnologia. Com o crescimento tecnológico seria uma forma do mundo está preparando o cenário para o surgimento do Anticristo.  Mais tarde ele usará esses avanços tecnológicos como forma de umas das ferramentas para controlar as pessoas. E o chip por ser uma das últimas invenções no ramo da tecnologia será um meio que favorecerá o Anticristo para identificar aqueles que realmente pertencerá a ele. As pessoas que não trazer em seu corpo o chip não poderão “comprar e vender” (Ap 13. 18).
Dizer que o número da besta seja futuramente um chip, seria uma interpretação precipitada e equivocada de alguns estudiosos da escatologia. O número 666 é uma forma simbólica de dizer quem servirá e adorará a besta. A escolha mais correta de entender isso é fazer uma análise do texto imediato, do que ficar fazendo ou procurando especulações extras bíblicas. O capítulo 13 de Apocalipse registra por várias vezes o verbo adorar atribuindo adoração a besta: (1) depois de a besta ter sido curada toda a terra se maravilhou e a seguiu (13.3); (2) o Dragão, mais conhecido como Satanás, será adorado porque deu autoridade para a besta (13.4); (3) mais uma vez verbo adorar é identificado sendo atribuído a besta (13.8); (4) a segunda besta, a que emergiu da terra, curará a primeira besta e fará com que os moradores da terra a adorem (13.13). Essa segunda besta é de fato o Falso Profeta que “não fará exceções em suas exigências para que todos os habitantes da terra recebam a marca do Anticristo (isto é, da primeira besta). O texto diz claramente que todos serão marcados – “pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos”. A marca da besta é um substantivo de Satanás para a marca com a qual os 144.000 serão selados (Ap 7.3), e que servirá para identificar os que pertencem a Deus. A marca da besta identifica os seus seguidores, os que se acham sob o controle de Satanás” (HORTON, 2011, p. 184).
 É o mesmo caso com o nome ou número da besta registrado na mão direita ou na testa das pessoas, conforme já dito em cima, o verbo adorar usado por João é para explicar exatamente o que ele quis dizer sobre o número 666.
Portanto, é percebido que em meio à história, a besta e seu sinal são interpretados por estudiosos cristãos com aquilo que está acontecendo em seus dias. Como foi o caso dos primeiros cristãos que por passarem por uma terrível perseguição fizeram uma interpretação equivocada identificando a besta e o seu número como sinal aos imperadores de Roma. Os estudiosos da escatologia da atualidade têm assustado a Igreja com o surgimento do chip atribuindo este aparelho ao suposto número da besta. Cometendo assim os mesmos erros dos cristãos do passado. Quando na realidade a Bíblia por si só explica que o número da besta, 666 é apenas uma forma simbólica para diferenciar daqueles que servirão o Anticristo dos outros que servirão a Deus no período da Grande Tribulação. A Bíblia afirma que haverá pessoas que não negarão de hipótese alguma o nome de Jesus durante este período (7.14; 13.7-10).


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

EHRMAN, Bart. O que Jesus Disse? O que Jesus Não Disse? Quem mudou a Bíblia e Por quê. São Paulo: Prestigio, 2006.
HUNT, Dave. Quanto Tempo Nos Resta? Provas convincentes da Volta Iminente de Cristo. Porto Alegre, RS: Chamada da Meia Noite, 1999.
HORTON, M. Stanley. Apocalipse. As Coisas que Breve Devem Acontecer. Rio de Janeiro: CPAD, 2011.
PAROSCHI, Wilson. Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento. Barueri, SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.
RENOVATO, Elinaldo. O Final de Todas as Coisas. Esperança e Glória para os Salvos. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.
RICHARDS, O. Lawrence. Guia do Leitor da Bíblia. Uma Análise de Gênesis a Apocalipse Capítulo por Capítulo. Rio de Janeiro, CPAD, 2016.



NATANAEL DIOGO SANTOS, Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus  (Templo Central). Cursou Grego no Seminário Teológico de Martin Bucer.  Professor de Teologia. Autor do Livro OS DOIS TESTAMENTOS da Editora Reflexão.  Autor de Artigos Publicados na Revista Obreiro Aprovado e Jornal Mensageiro da Paz da CPAD.


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