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segunda-feira, 1 de março de 2010
Música no Culto ou Culto à Música?
Reproduzo na íntegra um artigo verdadeiramente profético do pastor e pregador da Assembléia de Deus, Valdir Nunes Bícego, de saudosa memória, publicado no jornal Mensageiro da Paz, em junho de 1994, há exatos quatorze anos. Este pastor foi o pregador convidado na inauguração de nosso templo da Assembléia de Deus em Uberaba, em 26 e 27 de julho de 1997. Em abril de 1998, passou para o Senhor, vítima fatal de um assalto, numa terça-feira, em frente à sua residência. No domingo anterior, participando do último culto na igreja Assembléia de Deus, Lapa - SP, profetizou que naquela semana alguém ali, passaria o rio Jordão, numa referência bíblica e de figura de linguagem, do falecimento de algum crente ali presente, no correr daquela semana. Tratava-se dele mesmo. Na segunda-feira, em reunião com seus obreiros, exortou: "Nunca vivam ao redor do pastor da igreja. Vivam ao redor de Cristo. O pastor pode morrer amanhã. Cristo é eterno!". No dia seguinte, cumprindo sua carreira, dormiu no Senhor!
O texto bíblico de Daniel 3.1-15 nos ensina que a religião de Nabucodonosor era caracterizada não somente pela adoração à imagem por ele erigida, mas também, e principalmente, pela exagerada utilização dos mais variados instrumentos musicais daquela época, o que induzia as multidões a prestar culto àquele deus pagão. Não havia prédica ou mensagem, mas somente o sonido dos instrumentos. Era a musicolatria, ou seja, a adoração à música. O valor que davam à música era tão grande que, de certo modo, superava até mesmo a adoração à imagem.
Pelo texto acima entendemos que somente havia adoração se primeiramente houvesse música. Valorizavam mais a música que sua adoração. Era um culto somente externo, emocional, com sonidos musicais nos seus ouvidos, porém, sem qualquer conteúdo espiritual para alimentação e regozijo de suas almas, que continuavam vazias, desprovidas das realidades e convicções eternas.
Embora milênios tenham-se passado, verificamos hoje, com muita tristeza e sem nos conformarmos que, com poucas exceções, o mesmo espírito que prevalecia naquelas reuniões tem invadido uma parte considerável de nossas igrejas. Em seus cultos a Deus, há preocupação demasiada com o louvor que, praticamente, ocupa quase todo o tempo da reunião, em detrimento das oportunidades para testemunhos das bênçãos recebidas, manifestação dos dons espirituais e tempo suficiente para a exposição da Palavra de Deus, pela qual a fé é gerada nos corações (Romanos 10.17).
Tal atitude tem privado o auditório do mais importante do culto, que é a manifestação do sobrenatural de Deus na reunião. É a “religião de Nabucodonosor” infiltrada disfarçadamente em nosso meio.
Não há dúvidas de que o louvor tem um valor importantíssimo nas reuniões quando é feito na hora e tempo certos. Porém, quando é feito de modo exagerado, prejudica o culto. É muito comum, em algumas igrejas, o louvor tomar quase todo o horário do culto, restando, conseqüentemente, pouco espaço para a pregação da Palavra, que, às vezes, nem pregação é, mas somente um preenchimento formal do tempo, com uma palavra sem nenhuma inspiração. Assim, o povo sai das reuniões mal alimentado espiritualmente, tornando-se, portanto, uma presa fácil para Satanás. Ou então, a Palavra é exposta muito tempo após o início da reunião, quando o povo já está com sua mente cansada, sem condições de absorver a mensagem. Quem são os culpados? Os líderes. Eu vejo, entre outras razões, duas pelas quais alguns pastores conduzem ou permitem que o culto seja conduzido desta maneira:
1) Não oraram, nem meditaram na Palavra e, conseqüentemente, não receberam a mensagem para transmitir ao povo (às vezes, não possuem a humildade de reconhecer este fato e conceder a palavra a quem tenha algo de Deus para falar à igreja para sua edificação).
Conforme Mateus 24.25, o obreiro tem a obrigação de buscar a Deus a fim de receber alimento espiritual para dar ao povo. Quando isso ocorre, ele sente tão grande responsabilidade diante de Deus, que dirige o culto com o seu coração quase “explodindo” ou “fervendo” (Salmos 45.1), mal esperando o momento de entregar o que recebeu do Senhor (1 Coríntios 11.23) e, assim, não abrirá mão do tempo reservado para a Palavra. Aleluia!
2) Perderam a autoridade espiritual, as “rédeas” do culto, etc. São influenciados por pessoas, algumas consideradas “ilustres” e, como querem agradar a todos e a alguns, até com receio de perderem sua posição, deixam ou permitem que o culto siga sem o seu objetivo principal, que é o de alcançar as almas perdidas. Procedendo assim, acabam sendo dirigidos e não dirigentes dos cultos. Que tristeza!
Culto racional
De acordo com 1 Coríntios 14.26, os nossos cultos devem ter cinco coisas importantes: louvor, mensagem, revelação, língua e interpretação. O louvor, portanto, deve ocupar parte do culto, e não todo o culto. É somente a parte introdutória do culto. Quando Israel caminhava pelo deserto, a tribo de Judá ia na frente, e os músicos atrás (Salmos 68.25).
“Entrai pelas portas dele com louvor e em seus átrios com hinos”, Sl 100.4. “Apresentai-vos ao Senhor com canto”, Salmos 100.2. “As tuas portas chamarás louvor”, Is 60.18. O louvor abre a porta e, uma vez aberta, as demais coisas devem fazer parte do culto.
Como resultado negativo desta ênfase que vem sendo dada ao louvor, podemos mencionar, entre outros:
1) Estamos formando um grande contingente de cantores e músicos e, com poucas exceções, de ganhadores de almas, que é a missão de todos os crentes. A maioria das pessoas envolvidas na área do louvor pensa que seu trabalho na Casa do Senhor é somente cantar e tocar; daí a razão de se preocuparem somente com ensaios, programas, festividades, etc. Alguns há que, depois de participarem do louvor, retiram-se do recinto do culto, como se já tivessem feito a sua parte na reunião. Há outros que só estão na igreja porque gostam de cantar e tocar; é provável que, se um dia não houver nada disso, ou estiverem impossibilitados de participar do louvor, venham a se retirar. Alguns obreiros alegam que dão grande ênfase à parte do louvor para “segurar” alguns na igreja, principalmente os jovens, o que é um engano total. O que “segura” uma pessoa na igreja é a comunhão com Deus, o desejo de adorá-lo e de alimentar-se espiritualmente para firmeza na fé e robustecimento do espírito.
2) Como nossa igreja não possui um órgão oficial de censura doutrinária e rítmica para letras e músicas de hinos, estamos observando uma avalanche de músicas profanas recheadas de palavras evangélicas. Algumas destas músicas foram compostas por descrentes visando paixão carnal por outra pessoa; outras são temas de filmes. Isto sem falar dos ritmos avançados, em nada ficando a dever para o samba, o rock, o baião, etc., os quais somente promovem o balanço do corpo, e não o quebrantamento do coração. Influenciados, muitas vezes, por este espírito mundano, alguns hinos são compostos por pessoas sem temor de Deus, alguns até desviados, visando apenas lucro. O mercado musical evangélico de hoje, devido à referida ênfase, tem-se tornado tão grande que supera a muitos outros seculares, o que gera a composição de hinos somente com fins lucrativos, sem preocupações com a qualidade técnica e espiritual dos mesmos.
3) Em alguns lugares, o volume do som para o microfone, play-back e instrumentos musicais é tão alto que chega a ferir os tímpanos. De acordo com especialistas no assunto, o ouvido humano não suporta mais que 80 decibéis. Acima disto, os tímpanos poderão ser afetados para sempre, prejudicando a audição: senhoras gestantes poderão ter seus filhos afetados, sujeitos a nascerem com problemas. Isto sem falar no incômodo que causam à vizinhança da igreja, havendo lugares em que as autoridades necessitam intervir para diminuir o ruído exagerado.
Apelo às lideranças
O louvor, seja através dos cânticos ou da música, é uma bênção na igreja quando inspirado por Deus e executado no momento e tempo certos.
A igreja não pode perder de vista a sua missão principal na terra, que é a de levar almas para Cristo. Às vezes eu me coloco no lugar de um pecador que adentra algumas destas reuniões em que ficam o tempo todo cantando e tocando. Imagino como deve ser difícil para ele suportar quase duas horas de cânticos, alguns sem nenhuma inspiração, outros até com ritmos mundanos, sem ouvir qualquer mensagem de Deus pela Palavra. Ou então, quando ouve, já se gastou tanto tempo com outras coisas que não tem condição de absorvê-la. É bem possível que na hora do apelo ele não se decida e talvez não volte mais para aquela igreja, uma vez que encontrará em muitos lugares do mundo reuniões não muito diferentes das ali promovidas.
Talvez seja esta uma das razões porque a nossa igreja está obtendo hoje uma pequena taxa média de crescimento anual da ordem de 5%, quando em décadas passadas, chegamos a atingir 23%.
Se quisermos atingir um dos objetivos da Década da Colheita, que é ganhar 50 milhões de almas para Cristo até o ano 2000, precisamos crescer 26% ao ano. Por que crescíamos tanto no passado? Uma das razões era o sobrenatural de Deus operando nas reuniões através de testemunhos legítimos, manifestação dos dons espirituais e momento e tempo certo para a exposição da Palavra de Deus.
Não quero que ninguém interprete que sou inimigo de louvores no culto. Não, de modo nenhum. Sou profundo admirador dos louvores, seja por coral, banda, orquestra, conjuntos, hinos avulsos, etc., desde que sejam realizados no momento e no tempo apropriado das reuniões.
Queira Deus que esta mensagem de advertência alcance todos os leitores, principalmente as lideranças de nossas igrejas, a fim de que possamos redirecionar a programação de nossos cultos conforme o texto de 1 Coríntios 14.26, já comentado acima, e, assim, alcançar o nosso objetivo principal, que são as almas para Cristo.”
Valdir Nunes Bícego
( Compilado pelo pastor Eliel Goulart )
Valdir Nunes Bícego
(26/06/2008)
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2 comentários:
Muito bom esse artigo. Concordo plenamente.
Amado agradeço por sua participação! Um grande abraço!
A M
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