sexta-feira, 8 de maio de 2009

OS OBSTÁCULOS À VITÓRIA ESPIRITUAL



Na vida espiritual, não podemos cometer os mesmos erros da geração israelita do êxodo.


“Aquele pois que cuida estar em pé, olhe, não caia.” (I Co.10:12)



INTRODUÇÃO

- Neste trimestre, estamos a estudar os problemas da Igreja e suas soluções, com base na primeira carta que Paulo escreveu aos coríntios. A título de complementação às lições, estudaremos, desta feita, o capítulo 10 daquela epístola, onde o apóstolo Paulo, usando do exemplo da geração israelita do êxodo, que não entrou na Terra Prometida por causa da sua incredulidade (Hb.3:19), aponta quais são os principais obstáculos para que alcancemos a vitória espiritual, que é a perseverança até o fim, sem o que não se concluirá o processo da salvação (Mt.24:12).

- Estes obstáculos apresentados pelo apóstolo, e que foram figurados no fracasso espiritual da geração do êxodo, podem, ainda hoje, impedir (e impedirão, lamentavelmente) muitos de chegar ao céu. Que busquemos a Deus e não permitamos que tais condutas venham a nos fazer reprovados diante do Senhor (i Co.9:27).

I – DEUS PROPORCIONA SALVAÇÃO E DÁ CONDIÇÕES DE PERSEVERANÇA A TODO O SEU POVO

- O apóstolo Paulo, em meio ao tratamento do problema da idolatria, um dos questionamentos realizados pelos crentes em Corinto, fez uma digressão a respeito da liberdade e do direito dos apóstolos, a fim de mostrar aos crentes coríntios que, embora fosse ele dotado de uma posição privilegiada diante de Deus, isto não o impedia de ter deveres diante do Senhor.

- Em meio a esta discussão, em que mostrou que o cristão deve, sobretudo, ser alguém que tenha consciência de que é “servo”, Paulo mostrou aos crentes que, assim como ocorria com ele, todos os crentes deveriam tomar cuidado na sua vida espiritual, não permitindo que o pecado os levasse à perdição. Para tanto, trouxe como figura da vida espiritual a jornada do povo de Israel no deserto, um dos maiores fracassos espirituais registrados nas Escrituras, já que, dos milhares de homens e mulheres maiores de 20 anos que saíram do Egito, libertos pela mão forte do Senhor, tão somente 2(dois), isto mesmo, dois atravessarem o rio Jordão – Josué e Calebe (Nm.14:28-20).

- De início, o apóstolo mostra que o Senhor a todos livrou no Egito. “Todos estiveram debaixo da nuvem e todos passaram pelo mar” (I Co.10:1). A promessa de Deus fora libertar todo o povo de Israel da escravidão, sem exceção de qualquer pessoa (Ex.3:9,10). Assim, também, na nossa dispensação, a vontade de Deus é salvar a todos os homens (I Tm.2:4).

- Muitos se acham “escolhidos” ou “chamados”, entendendo que são superiores aos demais seres humanos, porque alcançaram a salvação em Cristo Jesus. Nada mais enganoso. Tal sentimento não provém do Espírito Santo, mas dos nossos corações e devemos tomar cuidado pois o coração do homem é enganoso (Jr.17:9). Deus nos salvou porque quer que todos os homens se salvem e isto se deu única e exclusivamente por Sua graça (At.15:11; Ef.2:8). Nós cremos, é bem verdade, mas até mesmo a fé veio através do ouvir pela Palavra de Deus (Rm.10:17), de modo que não há qualquer “atestado de superioridade” que possamos ostentar em virtude de nossa condição de servos do Senhor, mesmo perante os incrédulos.

- “Todos estiveram debaixo da nuvem”. Quando o povo de Israel deixou o Egito, após tê-lo despojado, dizem-nos as Escrituras que o povo de Israel tomou o caminho indicado por Deus, que não era o caminho da terra dos filisteus, mas fez rodear o povo pelo caminho do deserto (Ex.13:17,18). Esta era a direção de Deus e o apóstolo, ao retomar a jornada da geração do êxodo, mostra aos crentes em Corinto que é necessário mas não suficiente iniciar o caminho pela direção e orientação divina.

- É indispensável que tomemos o caminho indicado pelo Senhor e este caminho, como sabemos pelo que já estudamos neste trimestre letivo, outro não é senão o caminho da cruz do Calvário, porque foi lá que o Senhor Se entregou por nós e pagou o preço dos nossos pecados. Temos de seguir a Jesus, pois Ele é o caminho (Jo.14:6). A noção de que a vida cristã é um Caminho era tanta que era este o nome que os crentes da igreja primitiva davam à fé cristã(At. 19:9,23; 22:4; 24:14).

- Tendo tomado a direção de Deus, os israelitas passaram, também a ser guiados pela nuvem, durante o dia, que se tornava coluna de fogo durante a noite. Por isso, o apóstolo diz que “todos estiveram debaixo da nuvem”, que os guiou e os protegeu durante toda a jornada do deserto e até mesmo antes da entrada no deserto, pois a nuvem/coluna de fogo teve participação fundamental para impedir que os egípcios pudessem alcançar o povo antes e durante a travessia a seco do Mar Vermelho (Ex.14:24).

- Assim como ocorreu com o povo de Israel, o Senhor está conosco desde o momento em que O aceitamos como Senhor e Salvador (Mt.28:20) até que atinjamos o fim da nossa fé, a salvação das nossas almas (I Pe.1:9). Ele nos põe a todos “debaixo da nuvem”, ou seja, debaixo da Sua orientação, da Sua direção, da Sua proteção. Temos descanso em Cristo Jesus, o nosso sábado (Hb.4:11), enquanto estivermos no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente (Sl.91:1).

- Não podemos, em hipótese alguma, deixar este local de proteção, repouso e refrigério que nos dá o Senhor, pois, se o fizermos, certamente enfrentaremos as agruras do mundo sem Deus e sem salvação. Com efeito, a nuvem protegia o povo de Israel do sol causticante do deserto. Debaixo da nuvem, havia sombra, enquanto fora da nuvem, o calor do deserto podia causar insolação e até mesmo a morte. Debaixo do sol, os israelitas jamais conseguiriam resistir ao deserto.

- À noite, quando as temperaturas do deserto são extremamente frias, a nuvem se tornava em coluna de fogo, não só para iluminar a escuridão terrível do deserto, como também para aquecer o povo, que, no frio terrível do clima desértico noturno, não resistiria se não houvesse aquecimento. Assim também, nós, os servos do Senhor, no dia mau, no dia da adversidade, somos iluminados pela luz do Evangelho de Cristo e somos aquecidos pelo Seu amor, de modo a que as aflições não nos venham enfraquecer espiritualmente, não venham nos trazer frieza espiritual.

- A nuvem e a coluna de fogo estavam à disposição de todo o povo, indistintamente. Deus havia prometido levar o Seu povo para Canaã e, como não é Deus que faça acepção de pessoas (Dt.10:17; At.10:34),fez com que a nuvem e a coluna de fogo abrangessem a todos os israelitas. No entanto, não foram todos os que se mantiveram debaixo da nuvem ou debaixo da coluna, arriscando-se seja debaixo do sol causticante, seja na escuridão e frio do deserto. Muitos saíram dos limites da nuvem e da coluna de fogo para fazer o que não convém, para se misturar com outros povos, aonde a nuvem e a coluna de fogo não chegavam (como os que foram festejar com as moabitas no episódio de Baal-Peor – Nm.25:1-3), ou, mesmo, os que começaram a se atrasar na jornada, desgarrando-se do conjunto do povo e se pondo em região de risco, como os que ficaram na “última parte do arraial” (Nm.11:1) ou “na última parte do povo” (Nm.22:41).

- Assim como todos estiveram “debaixo da nuvem”, isto é, debaixo da graça de Deus, também, disse o apóstolo Paulo que os israelitas da geração do êxodo também “passaram todos pelo mar”. No momento da travessia do mar Vermelho, nenhum israelita foi deixado do lado do Egito, nem tampouco qualquer egípcio conseguiu matar ou prender qualquer israelita, não tendo israelita algum morrido afogado no mar (Ex.14:27-31).

- A passagem pelo mar simboliza a salvação da escravidão, a instauração de uma vida nova para o povo, a sua libertação cabal. Ao passar pelo mar Vermelho, Israel dá um testemunho a todas as nações de que se libertara do poder de Faraó e do Egito (Js.2:10). Já tinham sido libertos depois da praga dos primogênitos, quando alcançaram a alforria, e ainda despojando os egípcios, mas, na passagem do mar, mostram a todo o mundo que eram, agora, um povo liberto, um povo livre por Deus. Neste sentido, a passagem pelo mar Vermelho é figura do batismo nas águas, o ato pelo qual confessamos publicamente a nossa salvação diante de Deus e dos homens. Por isso, “quem crer e for batizado, será salvo” (Mc.16:16a).

- Não é por outro motivo que o apóstolo Paulo afirmou que os israelitas haviam sido “batizados em Moisés, na nuvem e no mar” (I Co.10:2). O “batismo em Moisés” nada mais era que a inserção de cada israelita no povo de Deus, que a assunção da condição de integrante da propriedade escolhida de Deus dentre todos os povos. Também pelo “batismo em um Espírito”, formamos um povo, a Igreja, o corpo de Cristo (I Co.12:13). Esta inserção no povo de Deus é demonstrada pela novidade de vida (a nova direção, a nova orientação trazidas pela nuvem — Rm.6:4) e pelo batismo nas águas, quando, então, é cumprida a justiça de Deus, com a confissão pública de nossa morte para o mundo e vida para Deus Rm.6:11).

- Notamos, portanto, que o apóstolo enfatiza aos crentes de Corinto que a novidade de vida e o batismo nas águas eram importantes e necessários, devendo ser uma característica de TODOS os crentes que integravam a igreja local. Aliás, o próprio Paulo, no início de sua carta, mostrou que a igreja em Corinto cumpria rigorosamente a ordenança do Senhor Jesus quanto ao batismo nas águas (I Co.1:13-17).

- Nos dias em que vivemos, muitos estão piores do que os crentes de Corinto que, apesar de todos os problemas, não haviam menosprezado a ordem de Jesus com relação à necessidade do batismo nas águas para que se fizesse parte da igreja local. Na atualidade, são muitos os que exercem funções na igreja local, participam ativamente de todas as suas atividades, mas ainda não se batizaram nas águas. Trata-se de uma distorção inadmissível, de afronta ao ensino bíblico. A igreja local deve ter suas portas abertas a todos, permitindo que todos venham ouvir a Palavra de Deus, mas uma coisa é ouvir a Palavra, receber oração, conselhos, orientações e outra, bem diversa, é participar das atividades da igreja local. Somente aqueles que publicamente confessaram que morreram para o mundo e vivem agora para Deus, declaração acompanhada de frutos dignos de arrependimento, é que podem atuar na igreja local. “Todos foram batizados em Moisés, na nuvem e no mar”, por isso eram “filhos de Israel”. Todos os que atuarem na igreja local devem ter apresentado novidade de vida e descido às águas do batismo.

- Mas não bastou que todos tivessem tido uma vida nova, uma vida de liberdade, nem que tivessem passado o mar Vermelho. O apóstolo Paulo também mostrou aos crentes em Corinto que todos aqueles israelitas também tiveram de comer e beber dum mesmo manjar espiritual, como também da mesma bebida.

- Comer e beber da mesma coisa é sinal de comunhão uns com os outros e com o próprio Deus. A história sagrada mostra que o povo de Israel passou a ser alimentado com o maná, o pão que descia do céu, um verdadeiro alimento celestial (Ex.16:4,14,15; Sl.78:24). O mesmo alimento para todos os israelitas, que comiam o suficiente para cada um (Ex.16:21). Este maná, que depois teve uma porção posta dentro da arca do testemunho (Hb.9:4), era nada mais, nada menos que símbolo de Jesus Cristo, o verdadeiro pão do céu, o genuíno pão da vida (Jo.6:31-35,48).

- Precisamos nos alimentar do pão da vida, do pão do céu, diariamente, para que possamos sobreviver na jornada que nos leva até Canaã. Todo dia, cada um segundo a sua capacidade, deve buscar este pão, alimentar-se dEle. Que pão é este? É a Palavra de Deus, pois Jesus é o Verbo de Deus (Jo.1:1). Temos nos disposto a se alimentar diariamente deste pão? Ele está disponível a todos, é distribuído a todos, mas, infelizmente, como acontecia com os israelitas da geração do êxodo, não são todos os que se alimentam, porque perdem a oportunidade de buscá-lo (Ex.16:20,27).
- A bebida que os israelitas bebiam era a água que vinha da rocha que fora fendida por Moisés (Ex.17:5,6). A tradição judaica diz que esta rocha passou a acompanhar os israelitas em sua jornada pelo deserto. A Bíblia é silente a respeito, mas as palavras do apóstolo parecem confirmar esta tradição, porque diz que esta rocha, também símbolo de Jesus, os seguia (I Co.10:4), algo que também parece se deduzir do Sl.78:15,16.

- A bebida também nos fala da Palavra de Deus, porque a água é símbolo da Palavra que nos lava e limpa (Jo.15:3; Ef.5:26; Tt.3:5), Palavra que nos santifica (Jo.17:17), santificação absolutamente necessária para que vejamos o Senhor (Hb.12:14). Mas não são todos os que bebem desta água. Muitos murmuram e acabam por, apressadamente, a tentar o Senhor, endurecendo os seus corações e, assim, caindo na condenação de Massá e Meribá (Ex.17:7; Dt.6:16; Sl.95:8; Hb.3:15; 4:7), deixando as fontes limpas, as águas cristalinas da Palavra para buscarem cisternas rotas, que não podem saciar a sede espiritual (Jr.2:13).

- Muitos, na atualidade, estão a tomar este rumo perigosíssimo. Deixam a Palavra de Deus, menosprezam-na, desprezam-na, correndo atrás de vãs filosofias, de mandamentos de homens, que somente levarão o povo ao engano e à perdição. Vivemos os dias da apostasia, ou seja, do afastamento da sã doutrina, da Palavra de Deus. Temos de nos tornar para a lei e para o testemunho de Deus, que são as Escrituras (Jo.5:39), se quisermos ver a glória de Deus (Is.8:20).

- A comunidade de bebida e de comida também nos mostra que se torna indispensável a comunhão do povo de Deus em torno de Jesus Cristo. A celebração da ceia do Senhor é a figuração desta união da Igreja em torno de Sua cabeça, de Seu Senhor. Todos temos de estar em torno de Cristo, em comunhão com Ele e com o Seu corpo. O pão mostra-nos que temos comunhão uns com os outros, que nos comportamos como parte do corpo, sem individualismo, sem egoísmo, servindo uns aos outros. O vinho mostra-nos que temos comunhão com Cristo, que estamos em santidade, que não há pecado que bloqueie a comunicação entre nós e o Senhor (Is.59:2), que não há “coágulo” que nos impeça a livre passagem do sangue de Cristo que nos purifica de todo o pecado (I Jo.1:7), que nos mantém as vestes brancas para podermos entrar na cidade pelas portas (Ap.22:14).

- Assim como o povo de Israel quando do êxodo teve todas as condições para chegar a Canaã, assim também, ensina o apóstolo aos crentes de Corinto, Deus também dá à Igreja as condições para que, ingressando na vida cristã, venha a chegar até a salvação, venha a alcançar a Canaã celeste. No entanto, apesar de todas as condições dadas, aquela geração não chegou a Canaã, morreu no deserto, porque “Deus não Se agradou da maior parte deles, pelo que foram prostrados no deserto” (I Co.10:5).

- Paulo mostra aos crentes de Corinto que o caminho que estavam tomando, dos quais fora cientificado pelos familiares de Cloé, era um caminho perigoso, que os podia levar à perdição, assim como os israelitas do êxodo. Assim também ocorre nos dias de hoje, devemos tomar cuidado para que não venhamos a falhar. Mas por que os israelitas do êxodo (com exceção de Josué e Calebe) desagradaram a Deus? O que os impediu de entrar em Canaã? Foi isto que o apóstolo procurou ensinar aos crentes de Corinto e nos ensina, também.

II – OS OBSTÁCULOS QUE IMPEDIRAM OS ISRAELITAS DE ENTRAR EM CANAÃ

- Mas por que os israelitas desagradaram a Deus a ponto de serem prostrados no deserto? O apóstolo Paulo diz os motivos que levaram os israelitas da geração do êxodo ao fracasso espiritual, alertando que tais causas eram “figuras” para os crentes de Corinto, como também para todos os crentes da dispensação da graça. Não devemos nos esquecer, entretanto, que o desagrado divino é sempre motivo pela incredulidade, pela falta de fé, que sempre está por detrás de todas as atitudes tomadas por aqueles que se desviam dos caminhos do Senhor (Hb.11:6; 3:19).

- A primeira atitude que levou os israelitas a serem prostrados no deserto foi a “cobiça das coisas más” (I Co.10:6). Os israelitas, ao longo da jornada, sempre demonstraram ter um “desejo incontrolado” com relação àquilo que não era bom, àquilo que pertencia ao tempo da escravidão, com aquilo que dizia respeito ao Egito. Ainda antes de passarem o mar, diante daquele obstáculo natural, o povo já murmurou, querendo os “sepulcros do Egito” (Ex.14:11). Este amor pelo Egito, símbolo do “amor ao mundo” (I Jo.2:15), foi um dos grandes responsáveis pela derrocada espiritual do povo.

- Vez por outra, o povo israelita demonstrava desejar, cobiçar o que havia sido deixado no Egito. Ainda antes de passar o mar, disse querer servir aos egípcios (Ex.14:12). Também tiveram saudades das “panelas de carne” (Ex.16:3), dos “deuses do Egito” (Ex.32:2), dos “peixes, pepinos, melões, porros, cebolas e alhos do Egito” (Nm.11:5). Chegaram, mesmo, a resolver escolher um capitão para os levar de volta ao Egito (Nm.14:3,4).

- Querer e desejar as coisas da vida passada, as coisas do mundo é algo que desagrada profundamente a Deus. Não podemos amar o mundo nem o que no mundo há. O amor ao mundo é prova de que não temos o amor de Deus. Ou amamos a Deus, ou amamos o mundo. O justo é diferente do ímpio (Sl.1),vive em oposição aos homens do mundo (Sl.17:13,14), porque o mundo aborrece o servo do Senhor (Jo.15:18,19).

- No entanto, muitos, a exemplo dos israelitas da geração do êxodo, embora tenham tido seus pés tirados da escravidão do pecado, infelizmente não tiraram o mundo de seus corações. Aquela geração, desde o primeiro instante, mostrou que amava o Egito e desejava para lá retornar, apesar da escravidão terrível que sofreram e do grande livramento que Deus lhes dera. Assim agem muitos crentes na atualidade, como estavam agindo os crentes de Corinto. Estamos com o nosso coração no mundo? Estamos a cobiçar as coisas más? Será que podemos, do fundo dos nossos corações, repetir as palavras do poeta sacro Joel Carlson, “Oh! Glória! Aleluia! Meu desejo é estar no céu! (primeira parte do coro do hino 485 da Harpa Cristã)?

- Muitos, na atualidade, a exemplo dos crentes de Corinto, estão cobiçando as coisas más. Querem poder, fama, posição social, dinheiro, prazer, enfim, querem desfrutar de todas as delícias passageiras do pecado, inclusive se servindo da igreja local para tanto. Acordemos, irmãos, pois por causa desta cobiça das coisas más, os israelitas não entraram em Canaã!

- A segunda atitude tomada pelos israelitas que o fizeram ser prostrados no deserto foi a idolatria ( I Co.10:7). Muitos israelitas saíram de debaixo da nuvem, deixaram de comer maná e beber a água da rocha para comer e beber outros alimentos, entre si (como no episódio do bezerro de ouro), como com outros povos (como com as moabitas em Peor). Afinal de contas, nestas comilanças e bebedeiras, havia folguedos, muita festa animada, muita dança e sensualidade.

- Quantos, na atualidade, não estão a repetir os mesmos erros daqueles israelitas, preferindo os manjares terrenos, passageiros e pecaminosos, ao manjar espiritual e às águas vivas? Quantos não têm abandonado a reverência das reuniões genuínas de adoração, a contrição e a reflexão feita com base na meditação das Escrituras pelos folguedos, pelos festejos que “agitam”, “mexem com a adrenalina”, mas que são completamente abomináveis ao Senhor?

- A idolatria campeia nos dias de hoje entre os que cristãos se dizem ser, assim como, em Corinto, a carnalidade e o menosprezo pela mensagem da cruz estavam permitindo que, sorrateiramente, a idolatria, tão forte e intensa em Corinto, viesse a se imiscuir no meio do povo de Deus.

- Poderão muitos dizer que se há um pecado que os “evangélicos” não cometem é a idolatria, pois não se veem imagens nos templos e salões dos crentes. Mas será que isto é verdade? Não se veem (pelo menos por enquanto), imagens de escultura nas igrejas dos que crentes se dizem ser, mas já não se pode falar o mesmo com relação aos ícones, ou seja, representações de personagens em pinturas, pois muitos líderes já têm suas fotografias estampadas com grande destaque nos templos e salões. Que dizer, então, dos “fãs clubes” de pregadores e de cantores que já existem no meio do povo “evangélico”? Não é isto pura idolatria? Aliás, é o mundo que chama de “ídolos” a tais artistas e pessoas famosas…

- Mas, se isto fosse pouco, que dizer das “crendices” e “simpatias” cada vez mais presentes no meio do povo “evangélico”, que está sendo ensinada a pôr sua fé em “sal grosso”, “rosas ungidas”, “tijolos da prosperidade”, “redinhas”, “sabonetes com extrato de arruda”, “toalhinhas com suor de pastores (perdão, apóstolos)”, “grutas dos milagres”, “bexigas cheias de ar divino” e tantas outras “neobobagens”, na feliz expressão do jornalista Johazadak Pereira? Estamos diante de idolatria, pois idolatria nada mais é a colocação de algo em lugar de Deus, seja o que for. E isto porque nem estamos a falar da “egolatria”, ou seja, a “adoração do próprio eu”, a maior de todas as idolatrias da atualidade.

- Os crentes de Corinto caminhavam perigosamente para a idolatria, uma vez que já tinham se estabelecido em partidos, elevando homens a condição de “super-homens”, como estavam a fazer com Paulo, Apolo e Cefas. O partidarismo gera um “culto da personalidade”, que também é “idolatria” e que tem como resultado visível os ícones há pouco mencionados. Nos dias hodiernos, não tem sido diferente e precisamos evitar que isto ocorra, pois correremos o risco de ficar prostrados no deserto deste mundo, não entrando na Canaã celeste.

- A terceira atitude tomada pelos israelitas do êxodo que o impediram de alcançar a Terra Prometida foi a prostituição. “Não nos prostituamos, como alguns deles fizeram e caíram num dia vinte e três mil’ (I Co.10:8). Este era um sério perigo para os crentes de Corinto, tendo sido, inclusive, a razão pela qual o apóstolo Paulo havia escrito a “carta anterior” (I Co.5:9): a associação com os que se prostituem.

- Assim como a Corinto dos dias de Paulo, o mundo hodierno está imerso na promiscuidade, na imoralidade sexual. Os israelitas mencionados pelo apóstolo Paulo foram os que se prostituíram com as moabitas em Peor, participando das festividades sensuais em honra a Baal (Nm.25:1,9). A prostituição veio sorrateiramente, começando com um convite para que participassem dos festejos, convite que levou à participação na comida e, depois, à prostituição deslavada, vez que os cultos a Baal eram feitos mediante a manutenção de relações sexuais.

- O mesmo estava se dando entre os coríntios. Eles já estavam a se associar a pessoas que se prostituíam (como era o caso do iníquo que Paulo mandou que fosse tirado da comunhão, cuja mulher do seu pai não era crente), como também estavam a participar da mesma alimentação que era sacrificada aos ídolos. Não demoraria muito e todos passariam a também se prostituir, como o iníquo, como, aliás, alertava o apóstolo, ao dizer que um pouco de fermento leveda toda a massa (I Co.5:6).

- É o que, lamentavelmente, tem acontecido em muitas igrejas locais na atualidade. A permissividade moral, inclusive sob o aspecto sexual, tem sido a tônica em muitos lugares. Tudo tem sido tolerado, muitos iníquos, que estão a praticar imoralidades sexuais, são mantidos no meio dos crentes, quando não são elogiados e exaltados entre todos. Não há mais qualquer palavra contra a promiscuidade em muitos lugares, mas um velado apoio a tudo quanto de mau e perverso tem sido disseminado pela mídia e pelo mundo em geral. Permitem-se os namoros escandalosos de jovens e adolescentes, o comportamento indecente seja no vestuário, seja no vocabulário, seja na internet, tudo sendo considerado “normal”. Já há mesmo aqueles que aceitam a “doutrina do ficar gospel”, deixando os seus lares à disposição para a fornicação dos jovens e adolescentes e ainda achando que agem bem ao assim fazer para que eles “não venham a pecar em motéis ou outros ambientes perigosos”. Isto é lamentável!

- Naquele tempo, Deus fulminou vinte e quatro mil com uma praga e ainda houve quem quisesse comover o povo com aquele juízo divino, levando sua parceira sexual ao meio da congregação para despertar piedade e dó, mas tal pessoa foi devidamente morta por Fineias, filho do sumo sacerdote, numa atitude exemplar que, inclusive, fez cessar a praga do meio do povo (Nm.25:6-8). É preciso que se levantem Fineias no meio do povo de Deus, que retome a ordem da moral sexual na igreja local, a fim de que a praga que tem matado muitos espiritualmente cesse e o Senhor volte a salvar, batizar com o Espírito Santo, curar enfermos e preparar o povo para o céu!

- A lassidão moral no meio do povo dito “evangélico” é patente e se torna preciso mudar este estado de coisas, se não quisermos ficar prostrados no deserto. Exijamos a santificação, a começar de nós mesmos! Ensinemos a sã doutrina aos jovens e adolescentes, que não são orientados a respeito da sexualidade bíblica, sendo doutrinados pelo diabo e seus agentes disseminados neste mundo perverso e que se torna cada vez mais pervertido. Precisamos mostrar aos crentes quais são as regras bíblicas da atividade sexual e como devemos nos portar diante do Senhor e dos homens, antes que seja tarde demais.
- A quarta atitude tomada pelos israelitas que foram prostrados no deserto foi a tentação a Cristo (I Co.10:9). Paulo retoma, para falar deste comportamento desagradável a Deus, o episódio das “serpentes ardentes” (Nm.25:4-9). Dizem as Escrituras que, ao rodear a terra de Edom, passando pelo monte Hor e pelo caminho do mar Vermelho, ou seja, numa região bem próxima ao início da jornada, o povo se angustiou. Certamente, lembraram-se do passado e de sua desobediência e de que estavam a andar em círculos aguardando o perecimento de toda aquela geração incrédula.

- Entretanto, em vez de se arrependerem, de clamarem a Deus uma nova oportunidade, o povo, angustiado, passou a falar contra Deus e contra Moisés. Eis a atitude que não podemos tomar se quisermos entrar em Canaã: a rebelião, a revolta contra o Senhor. A Bíblia ensina-nos que o pecado de rebelião é como feitiçaria (I Sm.15:23), ou seja, a rebelião, a revolta contra Deus é um estágio de difícil retorno espiritual, pois é um instante em que somos possuídos pelo inimigo de nossas almas, tornando-nos verdadeiros invocadores de demônios.

- Vivemos dias em que, pasmemos todos, há pregadores que incentivam e estimulam as pessoas a “serem revoltadas”, que “a revolta leva o revoltado a tomar uma atitude de fé”. Nada mais antibíblico! A rebelião é pecado de feitiçaria e devemos, isto sim, nos submeter ao Senhor, à Sua vontade, pois esta foi a atitude de Jesus Cristo, que, por fazer a vontade do Pai (Jo.4:34) e, por causa disto, humilhar-se até a morte, e morte de cruz, foi exaltado soberanamente sobre todo o nome (Fp.2:8,9).

- O Senhor Jesus foi claro, quando tentado pelo diabo, a nos ensinar que não devemos tentar a Deus (Mt.4:7). Muitos, no entanto, não têm observado este ensino do Mestre e têm “desafiado a Deus”, “colocado Deus contra a parede”, “determinado para Deus”, numa atitude absurda, que só os levará a serem prostrados no deserto, a não ingressarem na Canaã celeste. Vemos com muita preocupação a proliferação de ensinos e condutas que tratam a Deus como se Ele fosse um “empregado”, um “subalterno”, alguém pronto a satisfazer os caprichos do crente. Esta conduta de “tentação a Deus” fez com que os israelitas fossem mordidos pelas serpentes ardentes e todos quantos não reconheceram sua pequenez e não olharam para a serpente de metal, morreram por causa das picadas.

- O próprio Jesus ensinou-nos que aquela serpente de metal era símbolo da Sua pessoa na cruz do Calvário (Jo.3:14,15). Se não nos renunciarmos a nós mesmos, se não reconhecermos nossa situação miserável e que só no Calvário temos esperança e solução para a eternidade, pereceremos no deserto. Deixe a revolta de lado! Deixe suas razões de lado e vá para os pés da cruz do Senhor! “A tremer ao pé da cruz, Graça eterna achou-me; Matutina Estrela ali Raios seus mandou-me” (Fanny Jane Crosby, segunda estrofe do hino 289 do Cantor Cristão).

- A quinta atitude tomada pelos israelitas que fizeram que fossem prostrados no deserto é a murmuração. A palavra “murmuração” vem do palavra “mu”, que significa “grunhido de um cão”, “gemido”, “expressão de dor”. “Murmuração” é “descontentamento”, “falatório depreciativo”, “detração”, “maledicência”. Os israelitas, entretanto, mesmo diante de tantas manifestações de cuidado de Deus ao longo do deserto, passaram a falar mal de Deus, a maldizer o Senhor, deram expressões de dor em vez de gratidão e, por isso, pereceram no deserto.

- A murmuração é uma atitude de quem não confia em Deus, de que não reconhece a Deus como seu Senhor. Os murmuradores rejeitam aprender do Senhor (Is.29:24), são pessoas imersas no pecado (Rm.1:30; Jd.16), que admiram as pessoas em vez de reconhecer o senhorio divino. Devemos seguir a Jesus, não murmurar a respeito dEle (Jo.7:12). Deixemos a murmuração para que possamos entrar na Terra Prometida.

- Não há motivo para que maldigamos a Deus, para que reclamemos dEle, pois, como diz o apóstolo, Deus não permite que soframos tentação além do que possamos suportar (I Co.10:13). Devemos tão somente ser vigilantes e cuidadosos para que venhamos a cair, se cuidamos estar em pé (I Co.10:12).

- Todas as coisas que aconteceram com os israelitas da geração do êxodo podem acontecer conosco, que estamos caminhando com direção a Canaã celeste. Por isso aconteceram e foram registradas, para servir como aviso para nós (I Co.10:11).

- Que não venhamos a cometer os mesmos erros daquela gente, para sermos capazes de entrar na Terra Prometida, que não é a pátria terrestre, mas a pátria celeste, que é a melhor(Hb.11:16). O apóstolo mostrou aos crentes de Corinto que deveriam eles fugir das atitudes que haviam impedido a vitória espiritual dos israelitas, motivo pelo qual lembrara as falhas praticadas, para que eles (os crentes de Corinto), assim como nós, pois tudo foi escrito para nosso ensino (Rm.15:4), não viessem a ficar prostrados no deserto, não desfrutando da eternidade com o Senhor.

Caramuru Afonso Francisco

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