sábado, 21 de novembro de 2009

As Dispensações


Os 7 períodos probatórios da raça humana
1 O PRIMEIRO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
da inocência (Gn 2.15–3.21). Duração desse
período: apenas alguns dias (Gn 2.17-24).
2 O SEGUNDO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
da consciência (Gn 3.22–8.14). Duração
desse período: 1.656 anos (Gn 5.1-29; 7.11).
3 O TERCEIRO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
do governo humano (Gn 8.15–8.32). Duração
desse período: 427 anos (Gn 11.10–12.9).
4 O QUARTO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
da promessa (Gênesis 12.1–Êxodo 12.37).
Duração desse período: 430 anos (Êx 12.40; Gl
4.30).
5 O QUINTO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
da lei (Êx 12.38–Mt 2.23; 11.11; Lc 16.16).
Duração desse período: mais de 1.700 anos –
de Moisés a Cristo.
6 O SEXTO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
da graça (Mt 3.1; Ap.19.10; Jo 1.17).
Duração desse período: do primeiro ao segundo
advento de Cristo e o aprisionamento de
Satanás no abismo no final dessa era. Isso já
dura mais de 2.000 anos. O arrebatamento, a
primeira ressurreição, o julgamento dos santos,
o julgamento das nações, e a tribulação
ou a 70ª semana de Daniel ocorrerão no fim
dessa era.
7 O SÉTIMO PERÍODO PROBATÓRIO – A dispensação
do governo divino (Ap 19.11–20.15). Duração
desse período: 1.000 anos (Ap 20.1-10).

Fonte ; Biblia de estudo Dake

1 º Trimestre de 2010 !!!

Lições Bíblicas Mestre Jovens e Adultos

1º Trimestre de 2010

A cada trimestre, um reforço espiritual para aqueles que desejam edificar suas vidas na Palavra de Deus.
No 1º trimestre de 2010, estaremos estudando o tema 2ª Coríntios - "Eu, de muito boa vontade, gastarei e me deixarei gastar pelas vossas almas."
Comentarista: Pastor Elienai Cabral

SUMÁRIO DA LIÇÃO:
1- A Defesa do apostolado de paulo
2- O Consolo de deus em meio à aflição
3- A Glória do ministério Cristão
4- A Glória das duas alianças
5- Tesouro em vasos de barro
6- O Ministério da reconciliação
7- Paulo, um modelo de líder servidor
8- Exortação à santificação
9- O Princípio biblico da generosidade
10- A Defesa da autoridade apostólica de paulo
11- Caraterísticas de um autêntico líder
12- Visões e revelações do Senhor
13- Solenes advertências pastorais


Fonte : www.cpad.com.br

DAVI ENFRENTA REBELIÕES CONTRA SEU GOVERNO


Davi, apesar de ser rei escolhido por Deus, enfrentou rebeliões ao longo de seu governo.

“Então disse o rei a Zadoque: Torna a levar a arca de Deus à cidade; que, se achar graça nos olhos do Senhor, Ele me tornará a trazer para lá, e me deixará ver a ela e a sua habitação” (II Sm.15:25)


INTRODUÇÃO

- Em continuação aos complementos ao estudo deste trimestre, analisaremos, neste apêndice, as duas rebeliões sofridas por Davi enquanto no trono de Israel, a saber: as revoltas de Absalão e de Seba.

- A existência de rebeliões durante o governo de Davi mostram-nos, com clareza, que não há qualquer homem que sirva a Deus que não venha a ser hostilizado no exercício do ministério dado pelo Senhor.

I – OS ANTECEDENTES DA REBELIÃO DE ABSALÃO

- Neste segundo apêndice às lições bíblicas deste trimestre, estudaremos as duas rebeliões enfrentadas por Davi durante seu reinado, assunto importante do reinado de Davi e que, por falta de tempo e espaço, não foi objeto de análise pelo ilustre comentarista.

- A existência de rebeliões durante o governo de Davi, um rei escolhido por Deus, mostra, claramente, que, no exercício do ministério que Deus concede a cada servo Seu, haverá hostilidades, traições e dificuldades, mas que temos de saber como lidar com estas intempéries da vida, pois a única certeza que temos da parte do Senhor é a de que, neste mundo, teremos aflições (Jo.16:33).

- A primeira revolta contra Davi foi efetuada por seu próprio filho, Absalão, revolta esta que teve grandes proporções, visto que Davi chegou, inclusive, a perder o trono, tendo ficado algum tempo fora do governo. Esta rebelião apresenta-se como uma figura das dificuldades que surgem em nossas vidas por causa de nossos próprios erros, como consequência de nossos próprios pecados. A luta entre Davi e Absalão está incluída na sentença divina proferida por ocasião do “caso de Urias, o heteu”, em que o Senhor disse que “a espada jamais se apartará da tua casa(…) suscitarei da tua mesma casa o mal sobre ti e tomarei tuas mulheres perante os teus olhos, e as darei a teu próximo, o qual se deitará com tuas mulheres perante este sol” (II Sm.12:10,11).

- Absalão foi o terceiro filho de Davi, nascido de Maaca, filha de Talmai, rei de Gesur (II Sm.3:3). Seu nome significa “pai da paz”, o que indica que Davi, ao tê-lo como filho, quis enaltecer o “casamento político” que havia feito, como a dizer que, mediante esta política de aliança com Gesur, angariaria a paz com os povos em redor.

- Já a partir do nome dado a este seu filho, vemos que Davi se enganava com relação ao papel que ele desempenharia em Israel. Logo vemos que Absalão era um filho diferenciado com relação aos seus dois irmãos mais velhos. Tanto Amnom quanto Quileabe (ou Daniel) eram filhos de mulheres que Davi havia obtido no período da sua perseguição, mulheres que o haviam acompanhado na sua fuga constante de Saul, mulheres acostumadas com o campo de batalha, com o deserto, com as privações. Absalão, porém, tinha como mãe uma princesa. Ainda que Gesur fosse um reino pequeno e sem muita expressão ou esplendor, a formação de Maaca era completamente diferente das outras duas mulheres de Davi.

- Absalão, desta maneira, teve uma formação diferente da de seus dois outros irmãos, até porque, como já temos visto ao longo do trimestre, Davi era completamente ausente da formação de seus filhos. Não bastasse isso, Absalão ainda era o único príncipe cuja mãe não era israelita, o que, também, significou uma educação diferenciada, visto que, certamente, sua mãe lhe ensinou costumes e condutas que eram estranhos ao povo de Israel.

- Não é de se admirar que, ao contrário dos seus dois irmãos, que o texto sagrado não registra o que faziam, dando a entender, pelo menos no caso de Amnom, que eram “bon vivants”, Absalão fosse um empreendedor, que tivesse se especializado no comércio de lã, tanto que tinha tosquiadores em Baal-Hazor (II Sm.13:23), muito provavelmente uma atividade que fosse bem desenvolvida entre os gesuritas. Absalão, ainda, apresentava-se como sendo mais próximo do povo, como era o seu pai, ao contrário de Amnom, que tinha um perfil mais elitista, mais palaciano.

- Seria, precisamente, nas omissões de Davi como pai que se iniciaria o distanciamento entre pai e filho que acabariam por fazer com que Absalão fosse o “próximo” da profecia de Natã. Quando Amnom abusou de Tamar, irmã germana de Absalão, Davi nada fez para reparar a honra da filha nem para punir o infrator.

- Esta falta de atitude por parte de Davi deixou Absalão decepcionado, a ponto de ter levado Tamar para a sua própria casa, onde ali habitou solitária, ante a desonra sofrida. Absalão tomou esta iniciativa a fim de retirar o escândalo ocorrido, e que Tamar estava a dar publicidade, tendo, por certo, esperado alguma providência da parte de seu pai, providência, porém, que não veio.

- Absalão, então, passou a aborrecer Amnom, diante do que este fizera com Tamar. Nada disse a respeito e mandou que Tamar se calasse, mas deixou que a amargura nascesse em seu coração e daí para o ódio foi um pequeno passo. É muito ruim quando deixamos nascer raízes de amargura em nossos corações. Estas raízes trazem-nos perturbação e, como se não bastasse isso, levam-nos a contaminar os outros (Hb.12:15). A amargura é uma erva daninha que pode nos levar a perder a graça de Deus. É característica daqueles que não foram alcançados pela salvação, dos pecadores (Rm.3:14). O “pai da paz” tornava-se o “pai da vingança”, o “pai do revide”.

- Absalão, então, sabedor de que o rei não participava de festas familiares, arquitetou um plano para matar Amnom. Convidou o rei e seus irmãos para uma festa em Baal-Hazor e, como já sabia que o rei não iria, fez questão de pedir ao rei que mandasse Amnom, o primogênito, para a festa. Na festa, regada a vinho, quando Amnom se embebedou, mandou que os seus moços o matassem, o que foi feito, tendo os demais filhos do rei fugido em direção a Jerusalém (II Sm.13:23-36).

- Vemos como é triste a negligência paterna em relação à família. Davi foi negligente, não quis participar da festa com seus filhos e, como se isto fosse pouco, criou as condições para que Absalão pudesse matar Amnom. Achava que, assim como havia “deixado para lá” a desonra de Tamar, Absalão também não se importava com o caso, numa comprovação de que não conhecia a índole de Absalão, que era completamente ausente do que se passava na sua casa, de como eram seus filhos. Até mesmo Jonadabe, o amigo de Amnom, sobrinho de Davi, tinha conhecimento de que Absalão, desde o dia da notícia do abuso de Tamar, tinha decidido matar Amnom. Só quem sabia era Davi, o pai de ambos.

- Em nossos dias, não tem sido diferente. Os pais, na sua esmagadora maioria, não acompanham a vida de seus filhos, mesmo os de tenra idade, que são deixados para ser criados em creches, escolas ou nas casas de parentes e amigos (normalmente os avós). Se há uma necessidade de que ambos os cônjuges trabalhem para que se possa ter o mínimo para a sobrevivência (embora não possamos desprezar que este “mínimo para a sobrevivência” cada vez mais significa a satisfação de necessidades que não são essenciais, mas decorrem única e exclusivamente da mentalidade consumista de nosso tempo), também não podemos descurar de nosso papel como pais, que é indelegável, insubstituível. É mister que sacrifiquemos parte de nossas vidas pessoais na criação dos filhos, nem que seja horas de sono e momentos de lazer.

- A falta de acompanhamento do crescimento e da vida dos filhos faz-nos ficar na mesma situação em que ficou Davi, uma pessoa completamente alheia à realidade de seu lar e que, sem querer, colaborou decisivamente para que a desgraça chegasse à sua casa. Dirá alguém que Davi não tinha escape, diante da sentença divina. No entanto, quando a sentença divina veio, Davi já tinha sido um mau pai e um mau marido. Poderia ter evitado esta sentença divina se, em sendo uma pessoa dedicada à sua família, não tivesse um comportamento que, no limite, o levou a praticar tudo o que fez no “caso de Urias, o heteu”.

- Davi não participava do dia-a-dia familiar e esta sua ausência, muito bem notada por Absalão, foi a oportunidade que se teve para a vingança, que somente teve ocasião por causa, mais uma vez, da negligência de Davi em castigar Amnom pelo mal cometido contra Tamar. A falta de acompanhamento, a ausência traz a falta de autoridade e esta resulta em falta de disciplina. Um abismo chama outro e a família é completamente prejudicada, quando não, destruída.

- Absalão fez uma “festinha” que nada tinha a perder para as “festinhas” que ocorrem todos os dias entre jovens e adolescentes, não apenas os que têm seus pais no mundo, mas, mesmo, entre os que cristãos se dizem ser. A falta de acompanhamento, a ausência dos pais serve como estímulo para estas reuniões sem freios morais, para estes encontros onde impera a carnalidade. A festa de Absalão foi regada a vinho e tinha como objetivo a morte de Amnom. As festas de hoje em dia têm o mesmo roteiro: são regadas a álcool e outras drogas e têm como finalidade a morte, tanto física quanto espiritual. Vale a pena ter mais dinheiro e posição social e perder a família? Davi, se pudesse ser indagado hoje sobre isto, certamente diria que não.

- Após o crime cometido, Absalão fugiu para Gesur, onde buscou asilo junto a seu avô Talmai (II Sm.13:37). A política de alianças estabelecida no casamento de Davi com Maaca mostrava aí o seu lado deletério. Davi, nem se quisesse, poderia pedir o retorno de Absalão para justiçá-lo, pois isto representaria uma guerra entre os dois países. Sempre que nos aliamos indevidamente com o mundo, perdemos autoridade espiritual. Comprometendo-nos com coisas do mundo, haverá instantes em que não poderemos fazer o que Deus nos manda, por falta de condições. Por isso, não podemos jamais nos aliar, nos vincular com o mundo e com o pecado.

- Davi, porém, jamais iria tomar uma atitude drástica contra Absalão. Apesar do espírito prevenido do filho, o rei não tinha condição alguma de tomar qualquer iniciativa de justiçamento de Absalão, pois sabia que Absalão agira por causa da sua inércia. Além do mais, com a morte de Amnom, Absalão passara a ser o herdeiro presuntivo da coroa, já que muito provavelmente Quileabe (ou Daniel) não mais vivesse a este tempo, visto que as Escrituras nada falam a seu respeito.

- A morte de Amnom causou consternação em toda a família real. Todos choraram por ela e, certamente, houve um abalo no governo com tamanho escândalo entre os filhos de Davi. Davi, mesmo, chorou por seu filho muitos dias (II Sm.13:37), mas, pouco a pouco, consolou-se com a perda de Amnom (II Sm.13:39).

- Com a consolação vinda pela perda de Amnom, Davi começou a sentir saudades de Absalão, com quem certamente se identificava pelo seu modo de ser (II Sm.13:39). Apesar de Davi ter sido negligente e se comportado mal neste episódio como pai, vemos aqui, mais uma vez, um traço da personalidade de Davi que o faz ser, realmente, um homem segundo o coração de Deus. Davi, ao contrário de Absalão, não guardava rancor, mas era benigno e perdoador. Este aspecto do caráter de Davi aponta-nos para Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, que não veio para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo.3:17; 12:47).

- Davi sabia que Absalão havia cometido um crime, mas não tinha o intento de se vingar de seu filho. Davi tinha por Absalão amor genuíno, autêntico, proveniente do Espírito Santo que nele habitava e que, por isso, era um amor benigno, que não se irrita, não suspeita mal e que tudo suporta (I Co.13:4-7).

- No entanto, apesar de ter sentido saudades de Absalão, de lhe querer bem, Davi não externou esta circunstância, o que foi desastroso, pois, como o homem não conhece o coração do outro, Absalão nunca pôde perceber isto e, como, ao contrário do pai, era rancoroso, acabou por alimentar um ódio que lhe seria fatal, não só no que respeita à sua vida, como também ao seu relacionamento com Davi.

- Joabe percebeu que Davi era benigno para com Absalão e, por isso, conseguiu, por intermédio de um estratagema, que Absalão fosse autorizado a retornar a Israel. Davi permitiu seu retorno, mas se recusou a vê-lo, tendo ficado mais dois anos sem ver o rosto de Absalão (II Sm.14:21-24,28). Este gesto foi outro desastre: Absalão, retornando do exílio, não sentiu o perdão do pai. Embora tivesse sido autorizado a voltar para Israel, não lhe foi concedido sequer que visse o rosto do rei. Absalão não sentiu o perdão paterno e isto fez com que passasse a odiar o seu pai

- Foram dois anos em que Absalão também arquitetou todo o seu plano para se vingar de seu pai. Absalão, em vez de “pai da paz”, era o “pai dos intentos malignos”. Quantos não são como Absalão, que não dormem porque, em suas camas, estão sempre a maquinar o mal, mesmo se dizendo “crentes” (cf. Mq.2:1). A estes, o proverbista diz que são pessoas enganadas (Pv.12:20), pessoas que se iludem e pensam que o mal que fazem ficará impune diante do Senhor. O próprio Davi mostra que tais pessoas são ímpias (Sl.36:4). Não sejamos dos tais!
OBS: Segundo Reese, o Salmo 36 foi elaborado já nos últimos tempos do reinado de Davi, de forma que o salmo não se refere especificamente a Absalão, o que, aliás, está bem de acordo com o sentimento nutrido por Davi em relação a seu filho, como estamos a verificar.

- Foram dois anos planejando como matar Amnom e mais dois anos planejando como se vingar do rei. Absalão era formoso, agradável como nenhum outro homem em Israel. Reunia, assim, em sua pessoa, todos os aparatos necessários para ter uma liderança carismática: a boa aparência e a agradabilidade, a simpatia, a popularidade. Tomemos cuidado, porque, assim como naqueles dias em Israel, o inimigo de nossas almas levanta, no meio do povo de Deus, “Absalões”, que, tendo o nome de “pais da paz”, são formosos e agradáveis, mas que trazem consigo o “vírus da rebelião”, que têm como objetivo contaminar o povo do Senhor com a amargura e o rancor, levando-os a se insurgir contra aqueles que foram constituídos por Deus.

- Passados dois anos, Absalão chamou Joabe, pois queria ver a face do rei. Era necessário que tivesse ele uma aparência favorável diante do povo, que não mais se considerasse como um proscrito do reino. Joabe, sabedor das intenções de Absalão, não quis atender aos chamados de Absalão, até que, por ter havido o incêndio da cultura de cevada de Joabe, conseguiu que Joabe lhe falasse e que ele intermediasse seu encontro com Davi (II Sm.14:28-32).

- Naquele encontro, Davi poderia ter se redimido de tudo quanto havia feito de errado neste caso. Tivesse demonstrado a sua benignidade com relação a Absalão, externado as suas saudades, certamente seu amor teria coberto uma multidão de pecados (Tg.5:20; I Pe.4:8) e o intento rebelde de Absalão se aplacaria. No entanto, foi um encontro meramente protocolar. Absalão prostrou-se diante do rei e Davi o beijou. Não há registro de qualquer atitude sentimental por parte de ambos. Foi uma mera formalidade que somente serviu para consolidar, no coração de Absalão, as suas más intenções (II Sm.14:33).

- O formalismo, nos dias hodiernos, tem contribuído também para que o amor sucumba, para que não haja a lídima manifestação do amor de Deus na vida de muitas pessoas. Davi não quis se mostrar benigno, temendo que, com isso, sua autoridade fosse diminuída. Absalão, com seu ressentimento, não tinha condição alguma de demonstrar amor por seu pai. O resultado foi que o encontro não aproximou pai e filho, mas, antes, os afastou de vez, pois, a partir daí, Absalão iniciou a execução de seu plano. Será que não temos deixado o amor de Deus ser sufocado em nossas vidas por causa do formalismo, das convenções sociais? Ainda há tempo de fazermos o amor brotar!

II – A REBELIÃO DE ABSALÃO

- O encontro gélido entre Davi e Absalão consolidou o intento de rebelião. Por primeiro, Absalão aparelhou carros e cavalos, bem como cinquenta homens que corressem adiante dele. Formou, assim, uma guarda particular e se muniu do necessário para se locomover rapidamente pelo país. Zelava, assim, pela sua imagem, mostrando ter poderio e “classe”, com uma aparência real que impressionasse o povo.

- Devemos ter muito cuidado com a aparência. Ela é enganosa e não serve de critério para o julgamento (Jo.7:24). Absalão tinha de aparecer para o povo como um verdadeiro rei, como “o cara”, aquele que daria orgulho a toda a nação pelo seu porte e sua condição. Já era o homem mais belo de seu tempo, ostentava uma grande cabeleira, que era tosquiada uma vez ao ano (II Sm.14:26), de modo que, aliado a esta circunstância que a própria natureza lhe dera, acresceu estes carros, cavalos e homens.

- Muitos, hoje em dia, têm sido guiados pela aparência. Existem, mesmo, profissionais que cuidam precisamente da imagem das chamadas “celebridades”, visando sempre angariar popularidade, simpatia e influência sobre as demais pessoas. Vivemos na era do audiovisual, onde a aparência tem dominado a tudo e a todos. Já soubemos de verdadeiros cursos para pregadores e cantores, a fim de que, pela aparência, consigam levar os crentes ao delírio e, assim, possam bem arrecadar de igreja em igreja. Tomemos cuidado e sigamos o conselho de Jesus sobre não julgarmos segundo a aparência.

- Mas Absalão não impressionava apenas pela aparência. Também, ante a facilidade de locomoção, fazia questão de se levantar pela manhã e ficar a uma banda do caminho da porta do palácio do rei em Jerusalém. Ali, fazia questão de falar com cada um que vinha para tentar uma audiência com o rei e, ao conversar com a pessoa, dizia que ele era bom e reto, mas que ninguém, no palácio, poderia tratar do caso. Então, suspirava, dizendo que bom seria se ele mesmo se tornasse juiz em Israel e, como se isto não bastasse, quando alguém chegava para se inclinar diante dele (pois ele era príncipe), ele não o permitia, estendia a sua mão, pegava-o e o beijava. Assim, dizem-nos as Escrituras, Absalão furtou o coração dos homens de Israel (II Sm.15:2-6).

- Absalão, como já dissemos, era popular e agradável. Assim como Davi, era alguém que gostava de viver no meio do povo, de se relacionar com as pessoas. Extremamente sociável, Absalão soube se aproveitar deste seu traço de personalidade para se aproximar da população e começar a lhe fazer promessas e a instigá-los contra o governo constituído.

- Absalão mostra-nos outro traço característico do rebelde, do que está em busca de seguidores: o egocentrismo. Por detrás de todo seu suposto interesse pelo povo, havia um autoelogio, uma autoexaltação: “Ah, quem me dera ser juiz na terra! Para que viesse a mim todo o homem que tivesse demanda ou questão, para que lhe fizesse justiça” (II Sm.15:4). O grande líder rebelde que está para surgir no mundo, o Anticristo, também agirá desta maneira, a ponto de Jesus ter dito que “virá em seu próprio nome” e será aceito (Jo.5:43). Os verdadeiros líderes na Igreja nunca vêm em seu próprio nome, mas em nome do Senhor.

- Absalão postava-se a uma banda do caminho da porta, ou seja, não podia interromper o acesso do povo ao rei, mas ficava à margem do caminho, chamando a atenção do povo. Quem passasse por ele e não parasse, certamente chegaria até o palácio real e seria recebido por Davi, pois não havia qualquer notícia de que Davi não atendesse o povo. No entanto, quem parasse e fosse persuadido por Absalão, sairia dali revoltado e indignado, sem ter resolvido seu problema e passando a servir tão somente aos interesses de Absalão.

- É assim que ocorre atualmente em muitas igrejas locais. Muitos, em vez de irem ao encontro do rei, que é o Senhor Jesus, prestam mais atenção naquele que está a uma banda do caminho, que já não tem comunhão com o Senhor e, por isso, se põe do lado de fora do palácio real. Ainda que cercado de carros, cavalos e de um séqüito impressionante, não têm acesso à casa do rei.

- Não podemos deixar de olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé (Hb.12:1,2), nem muito menos deixar de seguir o caminho que nos conduz à vida eterna (Jo.14:6). Se pararmos à margem do caminho, encontraremos “Absalões”, que são pessoas rebeldes, que querem simplesmente se exaltar e nos desviar da comunhão com o Senhor. Com Absalão, o povo não tinha solução para os seus problemas, não via a face do rei e saía para as suas cidades indignado, revoltado e com o seu coração disposto a tão somente beneficiar Absalão. Precisamente o que ocorre hoje: estes falsos líderes, falsos apóstolos, falsos profetas, falsos cristos desviam o povo da comunhão com Deus, tornam-nos revoltados com tudo e com todos e dispostos tão somente a providenciar o bem destes mesmos líderes rebeldes. Não percamos nossa salvação permitindo que nossos corações sejam furtados por este tipo de gente!

- Davi, também, teve sua parcela de culpa. Como era um pai ausente e totalmente descuidado, não se importou em saber o que fazia Absalão a uma banda do caminho da porta de seu palácio. Obcecado pela sua vida “profissional”, nem ao menos se interessou em saber se Absalão não estava ali precisamente para prejudicar o exercício do governo. É incrível, mas, em sua negligência, não percebeu que diminuíam aqueles que vinham procurá-lo para resolver questões e demandas, também não se importou com os comentários desairosos que começaram a surgir no reino a respeito de sua suposta negligência no tratamento das questões do povo.

- Talvez, podemos até imaginar, Absalão tinha uma parcela de razão. Se Davi não se negava a atender o povo, o fato de não ter esboçado qualquer reação com esta diminuição de causas talvez fosse a demonstração de uma certa “burocratização” que este serviço havia assumido durante anos de reinado. É um grande perigo no exercício de qualquer tarefa a sua automatização, a sua transformação em mera rotina, sem qualquer dedicação ou vontade.

- Na obra do Senhor, então, isto não pode ocorrer. Quando alguém passa a fazer a obra de Deus por mera rotina, sem qualquer envolvimento de coração, corre o risco de vir a sofrer muitas agruras ao longo da jornada. Quem trata as coisas como rotina, como algo automático, facilmente se cansa do que está a fazer, pois o cansaço nada mais é que a ruptura temporária do equilíbrio interno, que a falta de capacidade para realizar um esforço e a ausência de motivação, de energia produz o cansaço. A obra de Deus realizada desta maneira desagrada ao Senhor, como vemos, claramente, em Ml.1:13, pois o sentimento de cansaço revela desprezo para com as coisas de Deus.

- Davi parece que estava neste estado, quem sabe até festejando a diminuição de causas que se lhe apresentavam, pois, assim, o serviço terminaria mais cedo e ele poderia descansar… Mal sabia ele que, pelo seu desinteresse em o que estava acontecendo do lado de fora do palácio, haveria de pagar um alto preço…

- Quantos, na atualidade, não estão a sofrer do mesmo mal. Vivemos dias em que não faltam aventureiros a se apresentar, diante do povo de Deus, como falsos profetas, falsos cristos, falsos apóstolos, falsos mestres. É mister que isto aconteça, para que se cumpram as profecias. Mas não é por causa disto, ou até é em virtude disto, que cada um deve ser vigilante o bastante para não dar lugar a este tipo de gente. Muitos são os obreiros que estão como Davi: encastelam-se em seus gabinetes palacianos e pouco se importam se o povo vem, ou não, ao seu encontro. Nem indagam porque diminui o povo que está à sua procura, nem buscam saber se não há “Absalões” à beira do caminho. O resultado é que, mais cedo, mais tarde, serão todos surpreendidos pela rebelião e pela perda da posição, pois os ladrões terão furtado o coração do povo que estava sob sua responsabilidade e, o que é pior, não há qualquer garantia de que, como Davi, conseguirão retornar ao convívio palaciano. A estes, cabe-nos tão somente reproduzir as palavras de Jesus: “E as coisas que vos digo digo-as a todos: Vigiai” (Mc.13:37) ou, ainda, “Eis que venho sem demora; guarda o que tens, para que ninguém tome a tua coroa” (Ap.3:11). O que tem de gente por aí já descoroado por aí…

- Quando Absalão fez quarenta anos de idade (ou segundo a tradução da Septuaginta, quando se completaram quatro anos da volta de Absalão a Israel), pediu ao rei que lhe permitisse ir a Hebrom a fim de que pagasse um voto que fizera em Gesur de que serviria ao Senhor se tornasse a Jerusalém (II Sm.15:7). Vemos aqui que Absalão apresenta outra característica do rebelde: a mentira. A mentira já estava presente em todas as dissimulações que Absalão fazia com o povo, com muitas promessas mas nenhuma solução. No entanto, a mentira passou a ser explícita no instante em que pediu a Davi ordem para ir a Hebrom, o que obteve facilmente, já que Davi estava totalmente alheio à realidade que o cercava (II Sm.15:9).

- Em Hebrom, Absalão fez aquilo que tanto planejara. Mandou aviso às tribos de Israel, por meio de espias, dizendo que quando tocassem as trombetas em Hebrom, Absalão fosse declarado rei de Israel(II Sm.15:10). Notamos neste gesto de Absalão outras características do rebelde, a saber:
a) o rebelde sempre trabalha na “surdina”, ou seja, a dissimulação é sua técnica, não há transparência em suas atitudes. Por isso, o homem de Deus deve sempre buscar ser transparente, a fim de não ser confundido com o dissimulador, com o ímpio (algo que não tem sido observado em nossas igrejas locais, para tristeza e lamento de nossa parte). Tanto é assim que, no instante de sua “aclamação”, Absalão conseguiu a companhia de duzentos convidados que de nada sabiam e que haviam sido enganados na sua simplicidade (II Sm.15:11).
b) o rebelde tem a seu favor um “serviço de inteligência” – a dissimulação funciona sempre que se possuem espiões, informantes. O maior “serviço de inteligência” eu existe, como nos ensina o pastor Ailton Muniz de Carvalho, é o do diabo, que tem a seu serviço milhões de demônios, razão pela qual sempre está muito bem informado, tão bem informado que muitos chegam até a achar que ele é onisciente, o que, evidentemente, não é a verdade.
c) o rebelde sempre trabalha eficazmente a comunicação – o bom rebelde precisa ter um bom serviço de comunicação para poder aparecer e se apresentar melhor que a autoridade constituída. Absalão mandou “tocar trombetas” e, ante estas trombetas, fazer que se anunciasse que já reinava em Hebrom. Nos dias hodiernos, muitos rebeldes têm se valido da mídia para se fazer ouvir e aparentar o que não são.

- A estratégia de Absalão deu grande resultado. Aitofel, o principal conselheiro de Davi, homem tão sábio que suas palavras eram tidas como a própria palavra de Deus naqueles dias (II Sm.16:23), impressionado com o movimento, traiu Davi e se aliou a Absalão, o que teve grande repercussão no meio do povo, a ponto de, a cada instante, a conspiração se fortificar de tal maneira (II Sm.15:12) que, quando Davi percebeu, notou que não tinha condição alguma de enfrentar a revolta, resolvendo abandonar Jerusalém, deixando-a à mercê de Absalão (II Sm.15:13,14).

- A traição de Aitofel leva-nos a uma reflexão. Apesar de ser um homem extremamente sábio, praticamente um profeta, visto que seu conselho era como se fosse a palavra de Deus naqueles dias, ele se deixou persuadir por Absalão, vindo a se rebelar contra o ungido do Senhor. Entendem alguns rabinos que Aitofel era avô de Bate-Seba, pois Eliã, que é apontado como pai de Bate-Seba (II Sm.11:3), é identificado como filho de Aitofel na relação dos valentes de Davi (II Sm.23:34). Assim sendo, Aitofel teria traído Davi como resultado do ressentimento gerado quando do “caso de Urias, o heteu”, o que, inclusive, explicaria esta traição precisamente no momento em que “a espada voltaria a se manifestar na casa de Davi”, bem como haveria “o mal sobre as mulheres de Davi”.

- Este pensamento é corroborado, ainda, pelo fato de que foi Aitofel quem sugeriu a Absalão que entrasse às dez concubinas que haviam sido deixadas pelo rei no palácio, a fim de que o povo de Israel dúvida alguma tivesse da inimizade entre Davi e Absalão, do caráter irreversível da rebelião (II Sm.16:21,22).

- Entretanto, Aitofel, cujo nome significa “irmão de loucura”, “irmão da insensatez” ou “tolo”, apesar de toda a sua sabedoria e do alto conceito adquirido na sociedade israelita, deixou-se enganar por Absalão, não resistiu às aparências apresentadas pelo príncipe nem pelas estratégias de comunicação e persuasão do rebelde.

- Aitofel era um nome proeminente da corte de Davi, um respeitado conselheiro real, o mais importante de todos eles, tão considerado pelo rei que, quando este soube que havia sido traído, fez uma oração especial ao Senhor para que o conselho de Aitofel fosse transtornado, porquanto sabia que, se isto não ocorresse, não teria praticamente chance de alterar o quadro adverso pelo qual estava passando (II Sm.15:31), tendo, inclusive, pedido que Husai voltasse para ficar ao lado de Absalão com o único objetivo de transtornar o conselho de Aitofel (II Sm.15:32-37).

- Todavia, Aitofel era dotado de uma sabedoria que é como se fosse da parte de Deus, mas não o era. Diz a Bíblia que seus conselhos eram “como se fosse a palavra de Deus”, mas não era a Palavra de Deus. Isto nos mostra que Aitofel não era um profeta, apenas um sábio, um sábio segundo o mundo, um sábio carnal e, como tal, o portador de uma sabedoria que não vem do alto, que é terrena, animal e diabólica, porque consistente em amarga inveja e sentimento faccioso no coração (Tg.3:14-16).

- Tanto assim é que Aitofel logo criou uma situação para tornar impossível qualquer reconciliação entre Davi e Absalão, através do abuso das concubinas de Davi pelo príncipe. Aitofel, também, quis ter doze mil soldados que, sob seu comando, fossem ao encalço de Davi a fim de que fosse logo ele destruído, diante da situação precária em que o rei destronado se encontrava, conselho que foi transtornado por Husai. Ao ver que Absalão não seguira seu conselho e, com isso, Davi teria condições amplas de retornar ao trono, Aitofel foi até sua casa, deixou tudo em ordem e se suicidou (II Sm.17:1-23).

- Aitofel figura aqueles que, embora tenham servido a Jesus Cristo, fizeram-no ou desde o início única e exclusivamente por meio da carne, visto que não nasceram de novo, não alcançaram a salvação, mas tão somente se tornam prosélitos do cristianismo, religiosos e nada mais do que isto, ou, então, a partir de um determinado período da caminhada da fé, desviaram-se do caminho, embora se tenham mantido nominalmente cristãos, passando a negar o Senhor, que os resgatou, com seu “modus vivendi” (cf. II Pe.2:1-3).

- Aitofel tipifica aqueles que, nestes nossos dias, deixar-se-ão seduzir pelos falsos discursos, pelos falsos mestres e apostatarão da fé, desviando-se da verdade e dano ouvidos a espíritos enganadores, a doutrinas de demônios e que amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências (I Tm.4:1; II Tm.4:3,4). Aqueles “quase todos” que, diante da multiplicação da iniquidade, esfriarão seu amor a Deus (Mt.24:12).

- Se não tivermos comunhão com o Senhor Jesus, se não buscarmos a verdadeira sabedoria, seremos, sim, enganados pelo inimigo, por mais sábios que sejamos segundo a carne. Vigiemos para que não sejamos enganados como foi Aitofel que, ao perceber que havia escolhido “o lado errado”, estava num estado espiritual tão lastimável, sem qualquer esperança de perdão, que, em vez de buscar a reconciliação com Davi, cuja benignidade bem poderia livrá-lo da morte, preferiu seguir o destino da perdição, suicidando-se. Neste passo, aliás, Aitofel também prefigura a Judas Iscariotes que, tendo servido a Cristo, também assumiu o papel de traidor e acabou por se suicidar, tornando-se o “filho da perdição”. Por isso mesmo, alguns estudiosos das Escrituras procuram ver no Sl.55:12-14 uma referência histórica a Aitofel e profética a Judas. Reese, mesmo, entende que este salmo foi composto durante a revolta de Absalão.
- Davi, ao saber da proclamação de Absalão em Hebrom e que todo o povo o seguia, decidiu sair de Jerusalém, apressando-se em fazê-lo. Se havia sido negligente no acompanhamento dos fatos até a rebelião, ao verificar que não tinha popularidade e que a revolta tinha o agrado do povo, comportou-se como um verdadeiro estadista. Apressou-se em sair da capital, deixando-a livre para o usurpador, não só para escapar com vida, mas, também, para evitar que Jerusalém fosse atacada e sua população morta ao fio da espada (II Sm.15:14).

- Vemos aqui o desprendimento que Davi tinha para com a sua posição real, um comportamento bem diferente daquele que tinha Saul. Embora tivesse inclusive sacrificado sua vida familiar em virtude do exercício do reino, Davi não punha a sua confiança na posição ou no cargo, mas, sim, em Deus. Ao perceber que sua permanência no trono traria transtornos ao seu povo, preferiu sair de Jerusalém. Como seria bom que os líderes da atualidade tivessem esta mesma conduta, não se apegando aos cargos e funções, mas sempre tendo em vista o bem-estar do povo que, afinal de contas, é o rebanho de Deus…

- Este desprendimento de Davi também é evidenciado pelo fato de não ter obrigado pessoa alguma a segui-lo. Quando saiu, deixou dez concubinas no palácio real, para guardá-lo. Não quis levar todo o “harém” consigo, pois sabia que isto, além de atrapalhar a jornada, poria em risco a vida das próprias pessoas. Tanto é verdade que, embora as concubinas tenham sofrido abuso por parte de Absalão, o gesto de Davi poupou-lhes a vida, já que, quando o rei retornou, estavam todas vivas, o que não ocorreria caso tivessem ido com o rei na fuga (II Sm.20:3).

- Davi não forçou pessoa alguma a segui-lo. Seus servos o acompanharam e o rei não objetou tal companhia, pois sabia que, pela função que exerciam, corriam risco de morte caso ficassem em Jerusalém. Já com relação a Itai, giteu, fez-lhe a proposta de que ficasse em Jerusalém pois, por ser estrangeiro, poderia ser aproveitado por Absalão, com isto como que “dispensando” os seus valentes estrangeiros, mas todos, de livre e espontânea vontade, resolveram seguir a Davi, mesmo sabendo que o momento era adverso (II Sm.15:19-22).

- O mesmo Davi fez com os sacerdotes que, inclusive, trouxeram a arca para acompanhar Davi. O rei disse para que eles ficassem em Jerusalém, pois ali era o seu lugar, apenas tendo pedido que mandassem informações a respeito de Absalão e seus homens. Neste instante, vemos como Davi era desprendido do poder e do cargo, das coisas desta vida, pois afirmou aos sacerdotes que, se Deus quisesse e ele retornasse em paz, veria outra vez a arca do Senhor na capital (II Sm.15:24-29).

- Segundo Reese, neste momento, quando Davi manda que a arca voltasse a Jerusalém, compôs o Salmo 61, uma oração em que o abatido clama a Deus, pedindo para que o Senhor o leve até “a rocha que é mais alta do que eu” (Sl.61:1,2). Nos momentos de dificuldade e de adversidade, nada como lembrarmos que aqui não é o nosso descanso e que nosso objetivo é morarmos para sempre com o Senhor, “a rocha mais alta do que eu”. Temos esta confiança? É esta a nossa esperança (I Jo.3:1-3)?

- Davi estava destronado e não tinha ainda a revelação divina do que lhe sobreviria. Não sabia se permaneceria, ou não, no governo de Israel. Mas isto não abalou a sua esperança de vida eterna, nem tampouco de que não faltaria descendência sua para reinar sobre Israel. Sabia que habitaria no tabernáculo de Deus para sempre (Sl.61:4), que os anos do rei seriam como muitas gerações (Sl.61:6). Saindo de Jerusalém, Davi renova o seu voto de servir ao Senhor eternamente, de cantar-lhe salmos perpetuamente (Sl.61:6,8).

- Como Davi era diferente de muitos crentes e de muitos pregadores de prosperidade nestes dias. Para estes, se a adversidade chegou, se perderam tudo quanto haviam recebido, é sinal de que estão em pecado, de que não podem mais usufruir da salvação em Cristo Jesus. Para estes, até, é momento de “cobrar Deus”. Davi, no entanto, depois de tantos anos, voltando a perder posição, casa, amigos, continuava fiel a Deus e crendo em Suas promessas, pois sua confiança não estava nas bênçãos recebidas da parte de Deus, mas, sim, no Deus da bênção. Será que podemos repetir as palavras do rei destronado no Salmo 61? Que Deus nos dê esta graça!

- Neste seu gesto, Davi tipifica, uma vez, o Senhor Jesus. Jesus não obriga que pessoa alguma o siga. Quem resolver segui-lo, deve saber que irá tomar um caminho de sofrimento, de renúncia, de incompreensão do mundo. Todos seguiam a Absalão, os servos de Davi estavam que na “contramão da história”. É precisamente este o caminho que o Senhor nos propõe. Ninguém pode reclamar as agruras e as lágrimas do caminho, mas deve ter a confiança suficiente de que nosso comandante trar-nos-á a vitória e entraremos em Jerusalém no momento oportuno, apesar de todo o sofrimento, de toda a oposição. Jesus não lança pessoa alguma fora (Jo.6:37), mas não prende ninguém para segui-lO (Jo.6:67). Temos seguido a Jesus, ou temos retrocedido neste caminho? Estamos dispostos a seguir a Jesus ou estamos esperando que Ele nos venha prender para depois nós O seguirmos?

- Enquanto Absalão mandava chamar Aitofel de Gilo, onde estava o sábio a fazer seus sacrifícios (II Sm.15:12), Davi subiu o monte das Oliveiras e foi pedir direção a Deus (II Sm.15:30-32). O líder escolhido de Deus busca a direção do Senhor, adora-O e nada faz que não seja segundo o parecer do Espírito Santo (At.15:28), enquanto que o líder construído pela habilidade humana, o líder carnal, o líder midiático sempre busca sua direção e estratégia junto aos sábios segundo o mundo. Que tipo de líderes têm sobressaído em nosso meio? Que tipo de líderes temos seguido? Tomemos cuidado!

- Neste ponto, devemos nos lembrar da magistral obra de John Bunyan, O Peregrino, quando o autor nos mostra que, logo no início de sua jornada, Cristão se encontra com Sábio-Segundo-o-Mundo, morador da cidade da Prudência Carnal, que não fica longe da cidade da Destruição. Esta personagem quase fez Cristão desviar de seu caminho, oferecendo-lhe uma vida “mais fácil” que a da jornada ao céu, onde a moralidade, legalidade e a urbanidade lhes dariam uma existência digna e honrada. Não podemos buscar nestas coisas a nossa salvação, mas, sim, única e exclusivamente na direção do Espírito Santo. Somos guiados pelo Espírito ou temos nos prendido a mandamentos de homens e de demônios? Tomemos cuidado!
OBS: “…Cristão – Quanto a mim, sei perfeitamente o que quero: ver-me livre deste pesado fardo.
Sábio – Compreendo isto. Mas para que hás de ir por um caminho tão perigoso, se eu posso indicar-te outro em que não há nenhuma dessas dificuldades? Tem um pouco de paciência, e ouve-me: o meu remédio está à mão, e em vez de perigos, acharás segurança, amigos, e satisfação.
Cristão – Então fala; peço-te com muita insistência; descobre-me esse segredo.
Sábio – Olha: nessa aldeia próxima, que se chama Moralidade, vive um homem de muito juízo e grande reputação, cujo nome é Legalidade, o qual é muito hábil em tratar pessoas como tu, o que tem sido provado com numerosos exemplos; além disso, também sabe curar os indivíduos que padecem do cérebro. A casa dele fica daqui a um quarto de légua, quando muito, e, se ele não estiver em casa, seu filho, Urbanidade, que é um mancebo de grande talento, poderá servir-te tão bem como seu pai. Não deixes de lá ir. E se não estás disposto, como não deves estar, a voltar à tua cidade, manda buscar tua mulher e teus filhos, porque na aldeia de que te falo há muitas casas devolutas, e podes arranjar uma por preço muito módico. Outra coisa boa aí encontrarás: vizinhos honrados, de fino trato e bons costumes. A vida ali é muito barata e cômoda.
Ao ouvir estas palavras, Cristão ficou indeciso durante alguns momentos, mas logo lhe acudiu este pensamento: - Se é verdade o que ele diz, a prudência manda-me seguir as suas palavras.
Cristão – Por onde é que se vai à casa desse honrado homem?(…)
Algum tanto mais animado, Cristão levantou-se, mas sempre envergonhado e trêmulo.
Evangelista prosseguiu: Presta atenção ao que vou dizer-te: vais saber quem foi que te enganou, e para quem te ias dirigindo. O primeiro era Sábio-Segundo-o-Mundo, nome que muito apropriadamente usa: antes de tudo, porque só gosta das doutrinas deste mundo (I João 4:5), pelo que vai sempre à igreja da cidade da Moralidade, e gosta dessa doutrina, porque ela o livra da cruz (Gálatas 6:2); em segundo lugar, porque sendo carnal o seu temperamento, procura perverter os meus retos desígnios. Por isso há três coisas nos conselhos que esse homem te deu, as quais devem ser execrandas para ti:
1.ª – Haver-te desviado do caminho;
2.ª – Haver-te tentado fazer com que aborreças a cruz;
3.ª – Haver-te encaminhado por essa vereda que conduz à morte.
Deves, portanto:
1.º – Repudiar a quem te desviou do caminho, erro em que caíste, e que equivale a desprezar o conselho de Deus para seguir o do homem. O Senhor disse: “Porfiai em entrar pela porta estreita.” (Lucas 13:24). Para essa porta é que te dirigias. “Porque estreita é porta que conduz à vida, e poucos são os que acertam com ela.” (Mateus 7:13-14). Esse malvado desviou-te daquela porta, e do caminho que a ela vai ter, para lançar-te na perdição. Odeia, pois, o seu procedimento, odianto-te também a ti mesmo por lhe haveres prestado ouvidos.
2.º – Detestar aquele que diligenciou que a Cruz te repugnasse, porque deves preferi-la a todos os tesouros do Egito (Hebreus 11:25-26). Além do que, o Rei da Glória disse-te que “aquele que salvar a sua vida perdê-la-á” e “se alguém vem após mim e não aborrece seu pai e sua mãe, filhos, irmãos e mulher e irmãs, e a sua própria vida, não pode ser meu discípulo” (Marcos 8:35; Lucas 14:26-27; João 12:25; Mateus 10:37-39). Por isso te digo que uma doutrina que busca persuadir-te de que é morte aquilo que a Verdade disse que é indispensável para se obter a vida eterna, é uma doutrina abominável e que deves detestar.
3.º – Aborrecer aquele que te encaminhou para a senda que conduz ao mistério da morte.
Agora podes calcular se a pessoa a quem te dirigias, seria capaz de te livrar do teu fardo. Essa pessoa chama-se Legalidade, e é um dos filhos da escrava, que ainda está na escravidão, assim como seus filhos (Gálatas 4:21-27), misteriosamente representada pelo monte Sinai, que tu receaste iria cair sobre ti. Ora, se ele e seus filhos estão na escravidão, como poderias tu esperar que te dessem a liberdade? Oh! Nunca! Não seria capaz Legalidade de te libertar, de livrar-te do fardo. Nunca livrou pessoa alguma, nem poderá jamais fazê-lo. Não podes ser justificado pelas obras da lei, porque por elas nenhum vivente pode ser aliviado da sua carga. Fica, pois, sabendo que Sábio-Segundo-o-Mundo é um embusteiro e Legalidade, apesar do seu sorriso afetado, não passa de um hipócrita, sem préstimo para coisa alguma. Crê que tudo quanto ouviste a esses insensatos não foi mais do que uma tentativa para te afastar da salvação, desviando-te do caminho que te havia indicado.…” (BUNYAN, John. O Peregrino. Digitalização de Carlos Boas., pp.10,13).

- Ao adorar a Deus, no monte das Oliveiras, Davi compôs o Salmo 3. Ali, apesar da multiplicidade de seus adversários, o rei destronado ainda tinha a Deus como o seu escudo, a sua glória, o responsável pela sua exaltação (Sl.3:1,2). O estresse era imenso, mas Davi não perdeu o sono, porque confiava em Deus (Sl.3:5). Será que temos esta fé ou estamos perdendo o sono por causa de nossos problemas. Nós mesmos já perdemos o sono mais de uma vez, mas, quando isto acontece, devemos nos humilhar na presença do Senhor. Em vez de ficar rolando de um lado para outro da cama, devemos nos ajoelhar e clamar ao Senhor, pedindo o aumento da nossa fé e, certamente, o Senhor nos dará o sono, pois está pronto a nos sustentar.

- Davi, apesar da situação delicada em que se encontrava, não tinha medo, mesmo sem saber o que lhe sobreviria. Sabia que a salvação, se viesse, viria do Senhor e por ela clamava, pondo-se nas mãos do seu Deus (Sl.3:6-8). Por fim, mostrando que, como bom líder, punha o interesse público acima do seu, independentemente do que lhe estava para acontecer, pedia a bênção de Deus sobre Israel (Sl.3:8).

- Além do Salmo 3, segundo Reese, nesta adoração no monte das Oliveiras, Davi também compôs os salmos 22, 14 e 53. O Salmo 22, que seria recitado pelo Senhor Jesus na cruz do Calvário (Mt.27:46; Mc.15:34), é um clamor do rei em virtude do estado de abandono em que se encontrava, salmo talvez motivado pela notícia de que até Aitofel, seu conselheiro principal (I Cr.27:33), havia se aliado a Absalão. Davi se sentia desprezado do povo, um verme e não homem, zombado por todos (Sl.22:6,7). Neste instante, Davi tipificava o Senhor Jesus na cruz do Calvário, como, aliás, também profetizaria Isaías a respeito (Is.53).

- Ainda que estivesse num estado desesperador (Sl.22:12-18), Davi mostra que confiava em Deus e que seria livrado da espada, da boca do cão, da boca do leão (Sl.22:20,21). Sabia que Deus poderia livrá-lo e, por isso, já conclamava o povo a louvar ao Senhor, porque é um Deus que não despreza nem abomina a aflição do aflito nem esconde dele o Seu rosto (Sl.22:22-24), pois é Deus quem reina e domina sobre as nações (Sl.22:28-31).

- Nos salmos 14 e 53 (que têm textos muito parecidos), Davi mostra que, apesar de toda a situação, que era decorrente das consequências de seu pecado, era daqueles que buscavam ao Senhor, enquanto que os seus inimigos eram néscios, pessoas que criam na sabedoria humana, que desprezavam a Deus. Vemos aqui, na revolta de Absalão, a tipificação daqueles que servem a Deus e não O servem. A grande maioria segue o rebelde, estriba-se na sabedoria humana, na aparência e nos enganos decorrentes das eficazes estratégias de comunicação. O resultado é que praticam o mal e fazem com a corrupção reine soberana entre as suas hostes. Já os servos de Deus são pequenos em número, sofrem agruras, parecem não ter como se livrar da opressão do adversário, mas marcharão seguindo ao Senhor e terão, no fim, a vitória. Como diz Davi nestes dois salmos, o Senhor fará voltar os cativos de Seu povo e Jacó se regozijará e Israel se alegrará (Sl.14:7; 53:6).

- De que lado estamos? Estamos do lado da imensa maioria que segue a rebelião contra Deus, que está vivendo com base na aparência e nas estratégias de comunicação, ou estamos a seguir a Jesus, mesmo em meio a choros, lágrimas e perseguições? Temos seguido as instruções da sabedoria segundo o mundo ou, em adoração a Deus, buscado a direção do Espírito Santo? Pensemos nisto.

- Davi, ao descer um pouco do monte, acabou sendo enganado por Ziba que, com presentes e víveres para o rei e seus homens, conseguiu obter tudo que Davi havia dado a Mefibosete, consoante já estudamos, com pormenores no apêndice nº1, onde vimos, também, como Davi foi amaldiçoado e apedrejado por Simei (( II Sm.16:1-14). O rei sofria, assim, as consequências de seu pecado.

- Absalão não seguiu o conselho de Aitofel, tendo preferido a opinião de Husai, que havia sido mandado por Davi para transtornar o conselho de Aitofel. Absalão seguiu o conselho de Husai porque era egoísta e soberbo. No seu conselho, Husai tocou no ponto fraco do filho de Maaca: a vaidade. Ao dizer que deveria congregar todo o povo, como a areia do mar, e sobrevir sobre Davi e alcançar retumbante vitória, Husai desperto o ego do príncipe usurpador. Por que haveria Absalão de permitir que Aitofel, com um número relativamente pequeno de homens, fosse matar Davi, se ele próprio, com toda pompa e circunstância, poderia vencer o rei? Absalão, em sua vanglória, acabou desperdiçando a sua oportunidade de vencer Davi que, como Aitofel havia dito, estava com seus homens de moral baixo e com sérias dificuldades tanto físicas quanto psíquicas.

- Em Maanaim, Davi encontrou-se com Barzilai, que lhe deu a provisão necessária para a recuperação de seus homens. Não havia valentia, habilidade ou heroísmo que pudesse substituir a necessidade de uma boa e suficiente alimentação e descanso. Os homens de Davi deviam ter tempo para se recuperar, para se abastecer para que todo o seu valor pudesse ser eficaz na guerra contra Absalão e seu exército. A presença de Barzilai e seu gesto foram fundamentais para que Davi e seus homens recobrassem o ânimo necessário para a batalha (II Sm.17:27-29).

- Temos aqui uma linda lição espiritual. Não há como nos desvencilharmos da batalha espiritual sem que nos abasteçamos, sem que tenhamos instantes de repouso e recuperação. Uma das grandes armas do inimigo de nossas almas, atualmente, tem sido dar aos homens um ritmo alucinante, motivo pelo qual milhões e milhões de pessoas estão sendo vítimas de estresse e tantos outros males deste decorrentes, tanto físicos quanto psíquicos, inclusive os que servem ao Senhor.

- Davi precisava recuperar-se, assim como seus homens, do estresse da deposição, dos sofrimentos e das tristezas ocasionadas pela rebelião de Absalão. Muitos caem no “conto de Husai”, achando que, mesmo esgotados e cansados, podem, sim, enfrentar o maligno, porque mesmo “com o espírito amargurado”, são “como a ursa no campo, roubada dos cachorros” (II Sm.17:8), ou seja, “como uma ursa selvagem da qual roubaram seus filhotes” (II Sm.17:8 NVI). Na verdade, somos seres humanos e, em meio às adversidades, realmente nos “dobramos” (a palavra “cansaço” significa “dobra” em latim), nos curvamos às circunstâncias e, por isso, nestes instantes, precisamos, em primeiro lugar, buscar a Deus, como fez Davi, que subiu o monte para adorar o Senhor; em segundo lugar, ter o necessário abastecimento e repouso, tanto físico, quanto espiritual, ou seja, ter momentos a sós com Deus para meditar na Sua Palavra, alimentar-se de toda palavra que provém da boca de Deus e orar ao Senhor (II Sm.16:14; 17:28,29).

- Jesus, mesmo, ensinou-nos a ter momentos a sós com o Senhor, devendo entrar em nosso aposento e ali orar em secreto ao Senhor (Mt.6:6). Não podemos permitir que o ritmo frenético dos nossos dias comprometa a qualidade de nossa vida espiritual e nos faça perder a salvação. Precisamos ir a “Maanaim”, cujo significado é “acampamento duplo”, ou seja, o lugar onde devemos parar (um acampamento), a fim de sermos fortalecidos pelo poder de Deus (pois a ideia de duplo nos evoca o poder de Deus – Sl.62:11). Um lugar de retiro, até porque Maanaim ficava situada nas fronteiras de Gade Manassés e Basã (Js.13:26,30), uma cidade de levitas (Js.21:38; I Cr.6:8), ou seja, um lugar apropriado para os que serviam ao Senhor. Um lugar onde vemos a presença de Deus, como viu Jacó ao voltar de Padã-Arã (Gn.32:1,2). Temos ido a Maanaim?

- Para sermos bem orientados, necessitamos ter a direção dAquele que tudo sabe. Só quem é guiado pelo Espírito tem acesso às verdadeiras informações. Enquanto Absalão até tinha notícia de que havia espias a levar informações a Davi, mas não conseguiu encontrá-los, Davi de tudo ficava sabendo, porque Deus estava no controle da situação (II Sm.17:15-22). A informação, dizem os estrategistas militares, é fundamental para alcançar a vitória numa guerra. Assim, devemos ter plena comunhão com o Senhor, que tudo sabe e tudo vê, para que não venhamos a ser surpreendidos pelo adversário na batalha cotidiana em busca da perseverança na salvação.

- Lamentavelmente, porém, nos dias difíceis em que vivemos, não são poucos os que desprezam a informação do Espírito Santo. Não querem saber qual é a Sua direção, qual é o Seu conselho. Preferem correr atrás de “revelações”, de “visões”, em vez de buscar a Palavra de Deus, em vez de buscar ao próprio Deus, através da oração, da meditação nas Escrituras. Vão atrás de “profetas”, de “vasos”, de “caixinhas de promessas”, de “tiradores de palavra”. O fim destes será o mesmo do de Absalão: a derrota, o fracasso. Despertemos enquanto é tempo!

- Segundo Reese, neste instante tão difícil de sua vida, Davi, nos momentos de recuperação e revigoramento, compôs os salmos 42, 43, 55, 71, 28, 143, 40, 27, 69, 120 e 121 (estes dois últimos “cânticos dos degraus”, Reese entende serem de autoria davídica, o que, entretanto, não se encontra explícito no texto sagrado). Esta profusão de salmos mostra-nos como Davi, apesar da terrível situação que vivia, estava em plena comunhão com Deus. São salmos em que o rei destronado expõe a sua aflição, a sua angústia, mas, ao mesmo tempo, mostra a sua confiança em Deus.

- Chega o dia da batalha. Davi dividiu suas tropas em três partes, entregando-as a Joabe, a Abisai e a Itai, tendo Davi ficado em Maanaim. O rei destronado mandou expressamente que não matassem nem fizessem mal a Absalão. Tinha entendido que não havia externado seu amor para com seu filho e sua disposição para o perdão era evidente. A batalha se deu no bosque de Efraim e Davi teve grande vitória, vitória esta que se deve mais a Deus que a seu exército. O Senhor mostrava ter ouvido todo o clamor do rei em seus salmos e houve mais mortes em virtude dos que consumiu o bosque do que os que foram mortos pela espada (II Sm.18:8). Deus trabalha como quer e fez ver que Sua vontade era que Davi reinasse sobre Israel e não quem o povo queria que fosse constituído rei.

- Joabe, então, aproveitando-se do fato de que Absalão havia ficado pendurado entre o céu e a terra, num carvalho, por causa de sua vasta cabelereira, matou Absalão, contrariando, assim, abertamente a ordem de Davi para que não fizessem mal a Absalão. Mais um episódio da lei da ceifa: assim como Joabe criara condições para que Davi obtivesse a morte de Urias, agora o mesmo Joabe impedia Davi de ter poupada a vida de seu filho (II Sm.18:9-17).

- Davi é informado, em Maanaim, a respeito da vitória militar e da morte de Absalão. A tristeza pela morte de seu filho é maior do que a alegria pela vitória militar e Davi se lamenta muito. Joabe, entretanto, obriga o rei a deixar de lamentar pela morte do filho, sob pena de ter mais uma ocasião para que surgisse algum abalo ao seu reino. O sacrifício da vida familiar em função do reinado chega aqui a um clímax: Davi é obrigado a silenciar sobre seu lamento sobre Absalão por causa de sua posição (II Sm.18:33-19:10).

- Davi, então, retorna a Jerusalém. No caminho de volta, encontra-se com Simei, que obtém a promessa de que não seria morto apesar de seu insulto. Igualmente, encontra-se com Mefibosete, quando é afrontado com a grande injustiça que havia cometido contra o filho de Jônatas, que, entretanto, mostra toda sua superioridade em se contentar a ver o bem do rei. Por fim, quer retribuir a Barzilai, mas este, já velho, pediu que se fizesse bem a um servo seu, Quimã (II Sm.19:11-39).

- Todos aqueles que serviram a Davi, que ficaram do seu lado, foram recompensados. Aqueles que, embora tenham ficado contra Davi, mas que, a tempo, foram lhe pedir perdão, também foram libertos da morte. Davi mostra-se aqui como tipo de Jesus: Jesus a todos dá perdão, porque Ele nos trouxe a graça de Deus (Jo.1:17). Não temos porque ter medo de ir ao encontro de Jesus, que venceu o mundo (Jo.16:33), o pecado e a morte (Ap.1:17,18). Em Jesus, aqui tipificado por Davi, sempre alcançaremos o perdão e o galardão. Por que então deixar de ir aos pés do Senhor? Que sejam nossas as palavras do poeta sacro traduzido/adaptado por Paulo Leivas Macalão: “A Teus pés, ó Jesus Cristo, acho terna compaixão, para todos os meus pesares, mês conflitos, minha dor. Livra-me, ó Jesus Cristo, de cuidados, de aflição, e concede-me constante Teu poder consolador.(…) A Teus pés, ó Jesus Cristo, tenho um gozo divinal! A Teus pés encontro abrigo, ó, bondoso Salvador. Só em Ti, ó Jesus Cristo, há consolo sem igual, para minh’alma abatida, neste mundo de horror” (segunda e quarta estrofes do hino 434 da Harpa Cristã).

- Segundo Reese, neste retorno a Jerusalém, Davi compôs o Salmo 122, um dos “cânticos dos degraus” (Salmos 122 a 134), ou seja, os salmos que os israelitas entoavam quando se dirigiam a Jerusalém para a realização das festas, que o texto sagrado explicitamente ser de autoria de Davi, que teria composto, além deste, os Salmos 124, 131 e 133. Ao adentrar na capital, da qual saiu sem que soubesse se voltaria, Davi não se contém e diz da sua alegria em estar dentro das portas de Jerusalém, em ir à casa do Senhor. Assim como quando havia saído e pedido a bênção sobre a cidade, Davi torna a fazer este pedido ao Senhor. Assim deve ser o crente: bendito ao sair, bendito ao entrar. Temos sido assim?

- Davi é novamente levado ao trono, com o consentimento de todo o povo de Israel (II Sm.19:41-43). Alcançara a vitória, superara o maior desafio de seu reinado: a rebelião de seu próprio filho. Mas, se pensava ele que seria a única rebelião que sofreria, estava bem enganado…

III – A REVOLTA DE SEBA

- Davi ainda enfrentaria uma outra rebelião contra o seu governo. Seba, chamado pela Bíblia de “homem de Belial”, ou seja, um homem maligno, um “desordeiro” (segundo a NVI), filho de Bacri, da tribo de Benjamim, também promoveu uma revolta contra Davi, conclamando o povo a se voltar contra o rei. Como todo rebelde, como vimos, “tocou a buzina”, ou seja, usou da estratégia da comunicação.

- Seba usou, nesta rebelião, da velha divisão entre Judá e as demais tribos de Israel. Quando Davi foi destronado, por duas vezes se evocou esta diferença de tratamento no reino. Simei amaldiçoou o rei e disse que ele estava pagando o que havia feito a Saul, como a rememorar a guerra civil que tinha havido entre Isbosete e Davi. Ziba, ao enganar Davi, também usara do argumento das rusgas entre as casas de Davi e de Saul para dizer que Mefibosete tinha pretensões de reinar e, por isso, não havia seguido Davi.

- O fato é que, como as onze tribos de Israel haviam feito uma aliança com Davi para que este reinasse sobre todo o Israel, sempre havia aqueles que questionavam o reinado de Davi e que ainda ansiavam pelo tempo em que as tribos pudessem voltar a ter uma vida autônoma, como nos dias dos juízes. É sempre um problema convivermos com os “saudosistas”, aqueles que, inconformados com o passar do tempo e o agir de Deus, ainda buscam “as coisas que para trás ficam”, deixando de avaliar qual é a vontade de Deus para o Seu povo.

- A passagem do tempo e a mudança das coisas é inevitável. Temos um caminho já profetizado pelas Escrituras para que a humanidade passe e não temos como impedir que isto aconteça. Só a Palavra de Deus permanece para sempre (I Pe.1:25), mas tudo que é humano, tudo que é próprio do homem e do mundo é passageiro, pois o homem é como a flor da erva (I Pe.1:24) e o mundo, com sua concupiscência, algo que não pode durar (I Jo.2:17).

- Os “saudosistas” são aqueles que se prendem às coisas que lhe agradavam no passado, mas que não resistiram ao inevitável fluxo do tempo, porque eram coisas feitas pelos homens ou, então, pelo mundo e sua concupiscência. O que é Deus permanece para sempre, pois o Senhor é eterno, mas tudo o mais não resiste ao tempo.

- Seba, valendo-se destes “saudosistas”, alardeou que o povo de Israel não tinha parte nem herança com o filho de Jessé e, por isso, poderia se ver livre do governo do homem de Judá. Sem que tivessem aprendido a dura lição da revolta de Absalão, o povo de Israel, ou seja, das onze tribos, se deixou levar por este discurso fácil de Seba e se rebelou contra Davi, que ficou tendo apenas o apoio de sua tribo, Judá (II Sm.20:2).

- Seba evocou o passado para “vender a ideia de liberdade” para o povo, mas se esqueceu de que o povo das onze tribos havia, voluntariamente, feito um pacto com Davi em Hebrom, com o qual se submetiam a seu reinado, não tendo Davi feito coisa alguma que permitisse a violação deste pacto. A revolta não se sustentava nem poderia ter o apoio divino, pois significava infidelidade, algo que não agrada a Deus.

- Hoje, muitos também estão a defender “mudanças” e “liberdade”. Aliás, este “discurso da liberdade” é próprio dos falsos mestres que se levantam nestes últimos dias (II Pe.2:19). A liberdade não significa “autonomia”, “não haver quem me mande”, “não me submeter a pessoa alguma”, mas, sim, “fazer a vontade de Deus”. A liberdade cristã é heterônoma, ou seja, significa a submissão à lei do Senhor, à lei de Cristo. Liberdade não é libertinagem, não é liberdade para pecar (Rm.6:1,2), pois quem peca não é livre, mas servo do pecado (Jo.8:34).

- Seba defendeu a “liberdade”, mas uma liberdade que impunha quebra de compromissos assumidos, compromissos entre homens mas feito diante de Deus (II Sm.5:3). Israel havia reconhecido que Deus era com Davi e que a vontade de Deus era que Davi governasse sobre Israel, como agora poderia, simplesmente, dizer que não tinha parte nem herança no filho de Jessé? É o que muitos têm feito e defendido em nossos dias. Os “anarquistas cristãos” defendem que as pessoas “não se submetam”, “mudem de igreja”, esquecidos que, se não servimos a igrejas nem a denominações, quando nos batizamos nas águas assumimos um compromisso de servir a Deus naquele lugar e sob aquelas condições diante do próprio Deus, Deus, aliás, que nos levou a ser membros do corpo de Cristo naquele lugar e sob aquelas condições. Fujamos dos “Sebas” de hoje em dia!

- Joabe, aproveitando-se da revolta de Seba, acabou por matar a Amasa, que havia liderado o exército de Absalão mas que, ante a benignidade de Davi, havia sido posto, após a revolta de Absalão, em lugar de Joabe sobre o comando do exército (II Sm.19:13; 20:4-10). Joabe, então, reassumiu o comando do exército e foi em busca deSeba (II Sm.20:11).

- Joabe perseguiu os homens de Seba, que se refugiaram na cidade de Bete-Maaca, que foi cercada pelos homens de Joabe. Antes que a cidade fosse invadida, uma mulher perguntou se queriam a destruição da cidade, tendo Joabe dito que queriam apenas Seba, tendo o povo, então, cortado a cabeça de Seba e a lançado a Joabe. Joabe, então, voltou a Jerusalém e a situação política se acalmou (II Sm.20:12-22).

- Seba, então, querendo ser “o cabeça” do povo, acabou perdendo a própria cabeça. Defendendo a liberdade e a falta de fidelidade aos pactos, acabou vendo o povo de Bete-Maaca quebrar todo e qualquer compromisso com ele e matá-lo sem dó nem piedade, lançando sua cabeça a Joabe. O sentimento faccioso e de libertinagem não traz segurança nem mesmo ao líder rebelde, não forma um povo, mas tão somente pessoas que pensam única e exclusivamente em si, que não sabem comportar-se como integrantes de um povo, de um corpo, como é a igreja do Senhor. Este individualismo, tão prevalecente em nossos dias, precisa ser evitado e repreendido, a fim de que não venhamos a ter o mesmo triste fim de Seba.

Caramuru Afonso Francisco

sábado, 14 de novembro de 2009

A interpretação atual e tradicional dos dízimos e das ofertas baseada no antigo testamento-particularmente em Malaquias-culmina na teologia da prosper




A interpretação atual e tradicional de Malaquias três e do restante do antigo testamento é uma interpretação literal que afirma; para o crente ser abençoado financeiramente deve ser dizimista fiel. O crente que não é dizimista fiel não é abençoado financeiramente. Temos, portanto, o segredo do sucesso financeiro, bem como o segredo do fracasso financeiro. Este ensino é estraido de uma interpretação literal de Malaquias três do verso oito ao onze. Segundo o professor D. Kizzear. Em uma nota de rodapé para Malaquias três do dez ao doze na bíblia de estudo vida nova. Quatro bênçãos são prometidas ao dizimista: 1, mantimento na casa do senhor v. 10; 2, bênçãos de natureza espiritual v.10; 3, produtividade nos campos e nos negócios v.11; 4, reconhecimento das bênçãos divinas por parte do mundo v.12. Ele conclui sua nota dizendo que no novo testamento somos chamados a renunciar tudo por ele que tudo Entregou por nos. Todo professor serio deve concordar com Kizzear e suas conclusões deste texto. E consequentemente reconhecer que o método de interpretação empregado no texto deve ser o método literal. Porem, ao que me parece, esta interpretação deste texto nos deixa com um problema. Não são somente as conclusões acima que são extraídas deste texto. Extraímos também a Conclusão de que ao retermos o dizimo somos condenados como ladrões. A despeito da coerência do método utilizado, não posso admitir tais conclusões por um único motivo geral.
Esta exegese não leva em conta a regra áurea de interpretação; a analogia da fé. Nenhum teólogo ou professor serio e honesto pode negligenciar a regra básica de que o antigo testamento deve ser interpreta à luz do novo testamento e não o contrario, pois o antigo testamento é provisório e preparatório e só pode ser entendido à luz do novo testamento.Sabemos que todas as doutrinas cristãs estão contidas no antigo testamento, mas só podem ser mantidas e sustentadas se corresponderem ao ensino do novo testamento. Malaquias três deve ser interpretado em primeiro lugar à luz do restante do antigo testamento e consequentemente á luz do novo testamento. E não de modo isolado como - ao que me parece -, fez o professor Kizzear e principalmente os teólogos da prosperidade. Portanto, nossa discussão será limita a tentar provar - mediante uma analise dos principais textos que mencionam os dízimos – que a atual interpretação é insustentável e que só pode nos levar à teologia da prosperidade.
A primeira referencia bíblica a dizimo remonta a Abrão que deu dízimo a Melquesedeque. (GN. 14, 20). Este é um dos textos prova que são usados para provar a atual doutrina dos dízimos. Este è, para mim, um argumento aparentemente forte e que apresenta no mínimo três dificuldades que torna invalida sua aplicação para a igreja nos dias atuais. Primeiro, a pratica de dar dízimos a homens com poder e autoridade sacerdotal, é uma pratica pagâ antiga, e não uma revelação divina dada a Abrão. Todo herói de guerra, ao retornar da guerra com a vitória, recebia a benção do sacerdote, e como conseqüência o herói de guerra lhe dava o dizimo dos despojos, como sinal de adoração e gratidão ao deus ao qual o sacerdote era representante. Alguns professores - principalmente os dizimistas - sustentam que por se tratar de uma passagem citada no novo testamento concluem que ela permite a pratica para os crentes do novo testamento.
Esta tese parece boa, mas não corresponde à verdade. Só porque uma passagem do antigo testamento é citada no novo não quer dizer que deva ser um padrão de conduta para ele. Esta historia bíblica deve ser vista como uma revelação provisória e preparatória da superioridade do sacerdócio de Cristo, como superior ao sacerdócio levitico. Esta tese é uma conclusão extraída de uma exegese de hebreus sete. Só por meio de uma exegese forçada podemos chegar a outras conclusões nestes dois textos.
Segundo, Os teólogos dispensacionalistas fizeram uma clara e coerente distinção entre Israel e a igreja. Estas distinções dispensacionalistas devem - já que somos dispensacionalistas – ser levadas em conta ao interpretarmos o antigo testamento, pois a maioria de seu conteúdo esta restrito em seu contesto. O evento de Abrão – como já dissemos – era um costume antigo. Deus – no antigo testamento – não se relaciona com o homem por meio de praticas e costumes divinos, mas sim humanos. Deus usa praticas do cotidiano de vida do povo para que o povo possa entendê-lo, e consequentemente se relacionar com ele. Por exemplo; para entrar em aliança com Abraão Deus não usa um procedimento divino ou transcendente, pelo contrario ele usa um procedimento do cotidiano de vida de Abraão. A nova aliança também foi instituída mediante um costume comum de execução que havia no império romano. Aprouve a Deus estabelecer - como lei irrevogável – um costume antigo, para o sustento e manutenção dos sacerdotes, bem como de sua obra e dos pobres e necessitados, de modo restrito para a nação de Israel. Não podemos confundir costumes antigos com palavra Deus, nem tampouco trazer para a igreja mandamentos que estão restritos a Israel. A não ser que Deus nos autorize por meio dos ensinamentos de seus apóstolos e profetas contidos no novo testamento.
Terceiro todo exegeta serio que tenha um compromisso com a verdade da palavra de Deus deve concordar que para estabelecermos uma doutrina e torna-la padrão para o ensino e a pratica na igreja, não basta apenas obter três referencias bíblicas como textos prova, pois na maioria dos casos tais textos prova não prova o que é improvável. Nem é suficiente usar o método hermeneutico comumente chamado analogia da fé, pois com tal método simplesmente colocamos o antigo testamento no mesmo nível de revelação do novo testamento, e isto é inverossímil. O professor que deseja ser coerente com a revelação contida nas sagradas escrituras deve, primeiro, como padrão doutrinário, reconhecer que o antigo testamento deve ser interpretado à luz do novo testamento, e não o contrario, e levar em conta a relação que existe entre ambos de promessa e cumprimento, revelação em progresso e revelação completa. Devemos esperar que com o progresso da revelação venha uma revelação mais clara e completa de qualquer ensino pressuposto no antigo testamento. O que, a meu ver é decisivo, é que não há no novo testamento qualquer indicio que relacione o dizimo de Abraão com a igreja, nem tampouco o dizimo de Malaquias. Portanto, afirmamos, o dizimo conforme ensinado na lei, bem como antes dela, não tem parte no novo testamento, e não pode ser ensinado desta maneira na igreja, pois agindo assim abrimos as portas para a teologia da prosperidade. Cristo não ensinou e nem tampouco ordenou tal pratica para a igreja. Paulo - que na minha concepção é o padrão doutrinário para a igreja, e para medir a ortodoxia – também não ensinou tal pratica. Em resumo, nenhum teólogo apostólico ensinou tal pratica. Por isso, perguntamos, porque os autores do novo testamento não mencionam o dizimo? Duas respostas são possíveis; primeiro esta era uma pratica tão normal nestes dias, que menciona-la seria supérfluo. Este é um argumento simplista, e não leva em conta a idéia de que no novo testamento são mencionadas muitas coisas que eram de fato normais e praticadas por todos. Segundo, a diversidade encontrada nos documentos do novo testamento frequentemente reflete os diferentes interesses pessoais e estilos idiossincráticos de cada um dos autores. (esta é uma reflexão do doutor Donald A. Carson. Extraída de seu livro; unidade e diversidade no novo testamento.) E ele aconselha a sermos cuidadosos ao afirmar que um autor não crê nesta ou naquela doutrina simplesmente porque não há menciona ou enfatiza. Reiterando o que disse, não quero com minhas palavras negar a possibilidade de os autores do novo testamento reconhecer ou não a pratica do dizimo. Quero com ênfase, ressaltar que com a falta de ênfase por parte dos autores sagrados a igreja não deve estabelecer o dizimo como doutrina bíblica com base em uma doutrina bíblica que esta restrita ao antigo testamento e é uma pratica segundo a lei. Eu acrescentaria mais uma idéia à reflexão de Carson; a diversidade do novo testamento também se da por aquilo que eles viam como essencial e não essencial o que é importante e menos importante. Isto explica o porquê de tantas omissões e tantas coisas em demasia nos escritos sagrados do novo testamento. Creio também ser este o principal motivo para a omissão por parte dos teólogos apostólicos das praticas de dízimos, já que falam apenas de ofertas, não deveríamos entender o que não é indicado. Deixe-me mostrar a partir de textos chave no novo testamento, o que aqui é, e não é indicado. Encontramos em o novo testamento, apenas dois textos que falam sobre o dizimo; Mateus 23.23 com seu equivalente sinóptico em Lucas; Lucas 18. 12 e hebreus 7. 4-10.
Mateus 23.23. Ai de vos, escribas e fariseus, hipócritas, porque dais o dizimo da hortelã, do endro e do cominho e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça a misericórdia e a fé; devíeis porem, fazer estas coisas, sem omitir aquelas! E claro e obvio que Jesus aqui, não esta ministrando um ensino normativo para a igreja. Este texto é decisivo, e prova que Cristo ratificou a pratica dos dízimos ao afirmar que devemos fazer estas coisas, sem omitir aquelas, esta é parte final do verso e, portanto esta ai firmada por Cristo a pratica dos dízimos, enfaticamente como dever. Esta exegese é convincente para apenas os que já estão vendidos a ela. Na verdade este texto - de acordo com uma exegese coerente - É decisivo contra o atual ensino praticado pela igreja, principalmente os teólogos da prosperidade. E isto por três motivos; Primeiro, Jesus, obviamente trata com escribas e fariseus. Ambos eram ministros da religião da lei, isto é, legalistas viviam sob o regime e a tutela da lei. E Cristo não nega este fato, pois também, tinha um ministério caracterizado por sua submissão a lei do antigo testamento. Embora com freqüência rompesse com a tradição por um sem numero de ensinos e ditos que só puderam ser entendidos e compreendidos depois de sua morte e ressurreição (Carson. Ibid pg. 60). Portanto, Cristo, comprometido com o cumprimento irrestrito da lei convoca os escribas e fariseus a cumprirem a lei por completo e não apenas parte dela ou simplesmente aquilo que lhes são convenientes cumprir. (Tg. 2.10).
Segundo, eles davam os dízimos, mas negligenciavam os preceitos mais importantes da lei; a justiça a misericórdia e a fé. O que não esta indicado aqui e que Cristo divide a lei em preceitos importantes e menos importantes. Para mim isto é extraordinário, temos o doador da lei nos ensinando como entender a lei. Os que querem viver sob a lei devem cumprir literalmente tanto os preceitos mais importantes quanto os menos importantes. Mas os ministros da lei supervalorizavam os preceitos menos importantes e minimizavam os mais importantes da lei. Por isso merecem ser chamados de hipócritas. Tome um fôlego, Cristo não trata a sua igreja assim, sabe por quê? Porque ela vive sob a graça e não sob a lei. Para Deus a oferta de Caim não é pior do que a oferta de Abel. É evidente que os preceitos mais importantes da lei aqui é a justiça a misericórdia e a fé. Ao que me parece já esta provado que não podemos mais firmar uma doutrina de dízimos com base neste texto. Mas mesmo se pudéssemos este texto nos mostra que uma supervalorização do dizimo é errado, e qualificar os cristão de fiel e infiel com base em dar e não dar dízimos é mais errado ainda. Isto é visto de nossos púlpitos todos os dias. Acho que tenho aqui uma tangente inconsciente entre a salvação pelas obras e pela fé.
Terceiro, os preceitos mais importantes da lei devem ser ensinados como pratica padrão na igreja. E os preceitos menos importantes devem ser abolidos. Tornou-se padrão na teologia moderna dividir a lei em três aspectos; cerimonial os rituais e as praticas religiosas do culto levitico. Civil as leis estatutárias para o regimento da nação. Moral preceitos éticos de conduta e caráter para uma santidade de vida e uma comunhão perfeita com Deus e com o próximo. Em qual aspecto da lei os dízimos de Malaquias devem se enquadrar? Isto não é indicado aqui. E Cristo não toca nesta parte. Mas ele nos da uma pista aqui, que devemos seguir para resolver este problema. Ao que me parece os preceitos mais importantes devem der enquadrados no aspecto moral da lei. A justiça a misericórdia e a fé são enfatizados no novo testamento, ao passo que, os preceitos menos importantes não são enfatizados. A doutrina dos dízimos e ofertas do antigo testamento devem estar enquadrados nos aspectos cerimonial e civil da lei, e, portanto, não são aplicáveis à igreja. A igreja vive, não sob a lei, mas sob a graça. É, portanto, pela graça que a igreja cumpre a lei moral de Cristo através da operação do espírito santo na vida de todo cristão. (MT. 5-7; RM. 7,8; 13.8-10; GL. 3-5).
Hebreus 7. 4-10
V. 5. Os que recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher, de acordo com a lei, os dízimos do povo... Este texto traz consigo uma antítese entre o sacerdócio de Cristo e o sacerdócio levitico. E sem duvida, o autor sagrado – que é desconhecido e cujas habilidades teológicas são extraordinárias – vê claramente a relação estreita que existe entre a ordem de Melquisedeque com a ordem de Cristo. Ao que me parece Abraão com seu dizimo é apenas um coadjuvante em uma peça teatral cujos personagens centrais são Cristo e Melquisedeque. Ora é evidente que o autor aos hebreus não tem o propósito de estabelecer uma pratica de dizimo na igreja. O que ele nos revela é o que já foi indicado; de acordo com o verso 5 há uma ligação estreita entre o dizimo de Abraão e os dízimos da lei.
Este é o quadro que emerge de uma analise dos principais textos da bíblia que tratam de dízimos e ofertas. Fica evidente que a atual interpretação de tais textos não pode ser sustentada frente a uma analise livre de tendências legalistas e de prosperidade. Olhe mais de perto a nota do professor Kizzear ele diz na benção três que haverá produtividade nos campos e nos negócios. Se aplicarmos esta benção a Israel estamos corretos, mas, contudo, erramos se aplicarmos esta benção a igreja. Consegue ver a teologia da prosperidade nesta benção? E quando afirmamos que o dizimo é uma semente, que plantamos hoje para colher amanhã? E quando afirmamos que Malaquias três é um lugar onde Deus nos deixa prova-lo? E quando afirmamos que os dizimistas são abençoados ao passo que os não dizimistas são amaldiçoados? O pastor e teólogo das assembléias de Deus do Brasil, Eliezer Lira. Disse em um encontro de casais que quem não é dizimista esta cometendo latrocínio, e não deve ser admitido no seio da igreja, pois é um bandido. O pastor Cruvinel, teólogo e professor de grego, disse que aqueles que não são dizimistas não estavam autorizados a comprar seu dvd, pois Deus não entra pela janela. O que ele quis dizer com isso? Obvio não é? É por causa dessas aberrações que este ensaio foi preparado.
A vida cristã desmente esta pratica. A realidade da vida cristã, bem como a realidade da vida na sociedade não tolera tal idéia dentro de seus muros. A igreja deve abandonar tais praticas ilícitas, e procurar desenvolver um procedimento bíblico que seja coerente para ensinar e estimular o povo a contribuir. No caso de dízimos e ofertas creio que sem sombra de duvida podemos formular a partir de dados tanto do antigo quanto do novo testamento, uma doutrina de dízimos e ofertas que seja livre de tais aberrações supra citadas. Devemos iniciar o nosso trabalho a partir do novo testamento, em direção ao antigo testamento, e jamais o contrario. O antigo testamento deve ser interpretado à luz do novo e não contrario. O ensino de Paulo sobre o assunto deve ser o nosso guia para desenvolver uma doutrina coerente de dízimos e ofertas. Qualquer ensino, seja ele apostólico ou profético, ou sapiencial, no antigo ou no novo testamento deve como regra estar de acordo com o ensino de Paulo. O doutor John Stott afirma que as partes didáticas da bíblia devem ter prioridade sobre as partes narrativas, e as partes narrativas devem ser interpretadas à luz das partes didáticas. (batismo e plenitude do Espírito Santo. Vida nova) não podemos fazer uma exegese minuciosa de todos os dados bíblicos por falta de espaço. Porem quero deixar perfeitamente claro apenas o fator decisivo. A contribuição financeira na igreja deve ser única e exclusivamente voluntária. Ninguém é obrigado a contribuir, e ninguém deve ser ensinado a contribuir e esperar receber bênçãos financeiras em troca e nem tampouco colocar Deus a prova. Este é um ensino que pode e deve ser derivado do novo testamento e conseqüentemente ensinado na igreja.
A origem da alma esta em Deus e consequentemente a sociedade é colocada lá também. A vida deve ser medida pela vida. Nos temos que aceitar a vida e o mundo como nos são dados e não como sonhamos que seja. É melhor calcular os custos antes de começar a construir a torre... Lc. 14.28. O mundano é a analogia do celestial. Os filhos deste mundo são sábios julgam por seus próprios padrões e fazem bem suas obras – melhor que os filhos da luz que julgam por meio deles – e o senhor os louva por isso. Não há nada melhor para um homem do que comer e beber, e do que fazer sua alma se alegrar no seu trabalho. Isto também eu vi que era da mão de Deus. (Ec. 2.24). Consegue entender a filosofia pratica de Eclesiastes? Siga teu caminho coma teu pão com alegria e beba teu vinho (opa! Vinho?) com coração alegre, pois agora Deus aceita suas obras. Que tuas vestes sejam sempre brancas; e que não falte unção há tua cabeça. Viva alegremente com tua esposa a quem tu amas todos os dias de tua vida, a qual ele te deu sob o sol, pois esta é tua porção nesta vida e em teu labor que tens debaixo do sol o que quer que tuas mãos encontrem para fazer, faça-o com tua força; pois não há obra, nem invenção, nem conhecimento, nem sabedoria no tumulo para onde vais. (Ec. 9.7-10). Consegue ver tal filosofia nos ensinos de Cristo? Considere o ponto de vista da vida que as parábolas dos evangelhos sinópticos expressam. Nelas vemos o mundo simplesmente como se pode encontrar. As coisas invisíveis de Deus são entendidas pelas coisas que são criadas. Este não é um processo racional obvio e auto-evidente, ele é próprio da natureza da revelação. Para que o que se pode ser conhecido de Deus manifeste-se entre eles, pois Deus lhes manifestou... Porque as coisas invisíveis de Deus são claramente vistas desde a criação do mundo, sendo entendidas por meio das coisas que são criadas. Mesmo seu poder eterno e divindade. (Rm. 1.19; 20).
Este é o quadro relativamente mal pintado que emerge de meu entendimento da vida cristã sendo vivida na vida do mundo. Concluo com sabias palavras do famoso teólogo suíço que diz; Uma liberdade de movimento humilde, mas proposital e realmente feliz, sempre em algum grau, nos será permitida mesmo nesta era – A liberdade de entra e sair em silencio da casa dos publicanos e pecadores; a liberdade de viver na terra dos filisteus; a liberdade de entrar e sair da casa de mammom e da injustiça; a liberdade de entrar e sair da casa do estado; a liberdade de entrar e sair da falsamente proclamada ciência e artes liberais; e por fim a liberdade ate mesmo de entrar e sair da casa de adoração (Karl Barth).




Pb. Juliano da Silva
Setembro 2009




Nota : As opiniões aqui expressas não representam necessariamente a posição e interpretação do blog.

DAVI E A CASA DE SAUL


O relacionamento de Davi com a casa de Saul mostra o seu coração misericordioso, que tem, porém, como limite, a justiça de Deus.

Texto áureo: “E disse Davi: Há ainda alguém que ficasse da casa de Saul, para que lhe faça bem por amor de Jônatas?” (II Sm.9:1)


INTRODUÇÃO

- Neste trimestre letivo, que estamos a estudar a vida de Davi, resolvemos acrescer as lições de alguns apêndices que complementam a história desta grande personagem bíblica.

- Iniciaremos estes acréscimos com um estudo a respeito do relacionamento de Davi com a casa de Saul, episódios que mostram o coração bondoso que Davi possuía, mas que também ilustra que Deus é justo e que ninguém é bom senão Deus (Mt.19:17; Mc.10:18; Lc.18:19).

I – A BONDADE DE DAVI PARA COM MEFIBOSETE

- Como acréscimo ao estudo da vida de Davi, estudaremos neste apêndice um ponto que, pela exiguidade do trimestre, não foi diretamente abordado pelo nosso ilustre comentarista, qual seja, o relacionamento que Davi teve com a casa de Saul, o seu antecessor.

- Como uma prática costumeira e encontradiça na história de todos os povos, era comum que, uma vez entronizado um rei que não pertencesse à família do rei anterior, fossem os familiares do rei substituído mortos, visto que, certamente, seriam um natural foco de oposição ao novo governante. Era costume, pois, na mudança de uma dinastia (isto é, da família reinante), que todos os integrantes da dinastia substituída fossem mortos.

- Davi assumiu o reino, como temos visto no estudo do trimestre, após vencer uma guerra civil com Isbosete, o único filho de Saul que havia sobrevivido à batalha de Gilboa (I Sm.31). Assim, era natural que quisesse o extermínio da família de Saul, como forma de se confirmar no reino.

- No entanto, Davi era um homem segundo o coração de Deus, um governante diferente, que sabia que havia sido escolhido por Deus e que devia o trono à ação divina. Sendo assim, ao contrário do que todos costumavam fazer, não quis a destruição da casa de Saul, seu antecessor. Pelo contrário, quando Isbosete ainda vivia, conseguiu que este lhe devolvesse sua ex-mulher Mical, que Saul havia dado a outro homem, restaurando-lhe a dignidade de sua mulher e, por conseguinte, como uma das rainhas do país, após subir ao trono.

- Logo após a morte de Saul e de seus filhos, entre eles Jônatas, Davi mostrou que seria um governante diferente. Ungido como rei de Judá, Davi fez questão de mandar elogios aos moradores de Jabes-Gileade por terem providenciado sepultura aos corpos de Saul e de Jônatas, tornado “troféus” nas mãos dos filisteus e exibidos em suas cidades, numa clara demonstração de que não tinha qualquer sentimento vingativo contra a casa de Saul (II Sm.2:5-7).

- Uma vez confirmado no reino, Davi, não contente com o fato de ter trazido Mical para o palácio, lembrou-se do pacto que havia feito com Jônatas, filho de Saul, segundo o qual cada um prometera ao outro que não permitiria que as respectivas descendências se extinguissem (I Sm.20:11-17). Uma vez no trono, mesmo tendo Jônatas morrido, Davi sabia que, como servo de Deus, tinha de cumprir o que havia jurado, de forma que indagou seus súditos a respeito de alguém ter restado da descendência de Saul, mui especialmente da descendência de Jônatas.

- Nos dias de Davi, quando se estava na dispensação da lei, era imperioso ao homem honrar os juramentos que tivesse feito (Nm.30:2; Mt.5:33). Davi sabia que, embora não houvesse quem da casa de Saul pudesse cobrar seu juramento, e fosse até esperado que exterminasse a toda a descendência de Saul e isto fosse visto como absolutamente natural entre os israelitas, havia um Deus nos céus que a tudo havia presenciado, de forma que não poderia Davi fugir ao juramento feito.

- Em nossos dias, dias da dispensação da graça, não devemos jurar (Mt.5:34-36), mas nosso falar deve ser sim, sim, não, não, pois o que passa disto é de procedência maligna (Mt.5:37). Nossa responsabilidade, portanto, é bem maior que as dos homens da época da lei, e, lamentavelmente, muitos são os que cristãos se dizem ser mas cuja palavra nada vale, que não sustentam o que falam, o que prometem. Que Deus nos guarde e que, com Davi, aprendamos a cumprir a nossa palavra, ainda que isto possa aparentemente trazer transtornos e incompreensões na nossa vida terrena.

- Davi estava disposto a cumprir o juramento que fizera a Jônatas e, então, busca saber se ainda havia alguém da casa de Saul que ele pudesse beneficiar, por amor a Jônatas. Foi, então, chamado, um servo da casa de Saul, chamado Ziba, a fim de que informasse o rei se restara alguém da casa de Saul (II Sm.9:1-3).

- Ziba, que, embora fosse servo da casa de Saul, estava praticamente livre, vez que não havia mais a quem servir, muito provavelmente imaginando que Davi iria pôr fim a todos os descendentes de Saul e disto ele tiraria proveito, indicou a Davi que ainda havia restado um filho de Jônatas, chamado Mefibosete, aleijado de ambos os pés, que estava na casa de Maquir, em Lo-Debar.

- O texto sagrado diz-nos que, quando da batalha de Gilboa, assim que as novas chegaram a Jizreel, onde estava o filho de Jônatas, Mefibosete, então com cinco anos de idade, sua ama fugiu e tomou o menino e, na fuga, o menino caiu e ficou coxo (II Sm.4:4). Sua ama o levou até Lo-Debar, onde ficou morando na casa de Maquir. Lo-Debar, cujo nome significa “nada” (Am.6:13, que, na Versão Almeida Revista e Corrigida, traduz ‘Lo-Debar” por “nada”), era uma cidade em Gileade, perto do Jordão (Js.13:26), local bem distante do centro das decisões políticas do país, onde Mefibosete estava escondido, precisamente para que tivesse sua vida poupada, já que era o herdeiro presuntivo da coroa, por parte da descendência de Saul.

- Ao saber da existência deste filho de Jônatas, Davi manda que ele fosse trazido até Jerusalém. Mefibosete chegou e, naturalmente, temendo por sua vida, prostrou-se diante de Davi, como a pedir clemência, dizendo-se servo de Davi. O rei, porém, disse a Mefibosete que não temesse e que, ao contrário do que se imaginava, o havia chamado para lhe fazer bem, restituindo tudo que era de Saul e, ainda, dizendo que, de contínuo, Mefibosete comeria pão na mesa do rei, tendo, pois, “status” de príncipe, de filho do rei (II Sm.9:4-7).

- Mefibosete, demonstrando toda a sua humildade, perguntou, então, a Davi quem era para que tivesse tamanha honra, já que se considerava um cão morto, mas Davi chamou Ziba e lhe comunicou que Mefibosete passava a ser dono de tudo quanto era de Saul e que Ziba deveria tornar a servir a casa de Saul, agora a Mefibosete, juntamente com seus quinze filhos e vinte servos. Ziba, sem outra alternativa, prometeu cumprir a ordem do rei, tornando a ser servo quando achava que se tornaria senhor de tudo quanto havia sido de Saul, como costumava ocorrer. Mefibosete tinha então um filho, Mica, e Ziba e todos os seus passaram a servir a Mefibosete, que morava em Jerusalém e de contínuo comia à mesa do rei (II Sm.9:8-13).

- Neste episódio de Davi e Mefibosete, temos algumas lições importantes do ponto-de-vista espiritual. Davi, aqui, tipifica o nosso Deus, o Soberano do Universo, que, podendo executar justiça contra o homem que Lhe desobedeceu, prefere, porém, usar de misericórdia, permitindo-lhe uma nova oportunidade para ter comunhão com Ele.

- Mefibosete, que simboliza o ser humano, estava em Lo-Debar, ou seja, no lugar chamado “nada”. Quem está separado de Deus, quem se esconde de Deus, e nos escondemos do Senhor quando pecamos (Gn.3:8), está no “nada”, visto que sem Deus nada podemos fazer (Jo.15:5 “in fine”). Somos uma nulidade, um verdadeiro “cão morto”, como se expressou Mefibosete ao rei Davi, que nada merecíamos da parte do Senhor. Como diz o próprio Davi no Salmo 8:4, “que é o homem mortal para que Te lembres dele? E o filho do homem, para que o visites?” ou, ainda, no Salmo 144:3, “Senhor, que é o homem para que o conheças, e o filho do homem, para que o estimes? O homem é semelhante à vaidade; os seus dias são como a sombra que passa”.

- Não podemos nos iludir. Deus ama o homem porque é misericordioso, porque é amor, não porque o homem mereça qualquer demonstração de amor da parte do Senhor. Os dias em que vivemos são dias de um falso humanismo, de uma indevida exaltação do ser humano, tornado medida de todas as coisas. O homem nada é sem Deus e se não fosse o amor e a misericórdia divinas, nada nos estaria assegurado senão o justo tormento eterno pelos nossos delitos e pecados. Mas a mensagem do Evangelho é uma mensagem de boas novas precisamente porque nos faz saber que Deus é bom e que o homem, esta nulidade, tem oportunidade, pela misericórdia divina, de voltar a ter comunhão com o Senhor e ser alguma coisa, mesmo sendo menos que nada (Is.40:17).

- O próprio nome de Mefibosete tem um significado que demonstra a lamentável condição do ser humano diante de Deus. “Mefibosete” significa “ele espalha, “ele extermina” ou, ainda, “vergonha”. Esta é a situação do ser humano sem Deus e sem salvação: nada ajunta, só espalha, está em constante inimizade com o Criador de todas as coisas (Mt.12:30; Lc.11:23). Sem Deus, o homem não tem vida nem constrói coisa alguma, só “extermina”, só produz morte, ou seja, tudo quanto faz é separado de Deus, visto que seus pecados o separam da bondade e da misericórdia divinas (Is.59:1,2). Por fim, é ele uma “vergonha”, ou seja, possui um sentimento de inferioridade, de indignidade, porque deixou de ocupar a posição para a qual foi criado, que era em comunhão com Deus, para dele viver separado, num destino que não é o seu, num futuro que não foi o reservado para ele. Afinal, vergonha é opróbrio e a Bíblia diz que “…o pecado é o opróbrio dos povos”(Pv.14:34b).

- Davi convocou Mefibosete para que comparecesse a Jerusalém. Mefibosete não tinha condição alguma de se apresentar diante do rei. Corria risco de morte, visto que era o representante da dinastia derrotada, tinha de viver escondido para o resto de sua vida, mas o rei quis saber de seu paradeiro, quis trazê-lo à sua presença. A salvação não tem qualquer iniciativa humana, pois o homem, por si só, não tem como comparecer à presença de Deus. Entretanto, Deus chamou o homem à salvação, convoca-o a se apresentar diante do Senhor e a reconhecer o seu pecado e, através da fé em Cristo Jesus, ter a oportunidade de recuperar a sua posição espiritual perdida por causa do pecado.

- Mefibosete aceitou o convite do rei e foi até a sua presença. Lá chegando, prostrou-se diante do rei e se disse seu servo. Para que o homem alcance a salvação é preciso reconhecer o senhorio de Deus, fazer-se Seu servo e adorá-lO na beleza da Sua santidade. Sem arrependimento dos pecados, sem submissão à vontade de Deus não há salvação. Somos salvos? Temos realmente nos prostrado diante do Senhor e aceito a Sua vontade?

- Mefibosete apresentou-se ao rei em Jerusalém. Foi o rei quem o chamou, mas ele teve de sair de Lo-Debar, da “nulidade”, do “lugar dos oráculos”, pois Lo-Debar também era conhecida como “Debir” e era tido como um lugar onde os cananeus tinham lugares de adoração antes da conquista por Israel da região. Para o homem alcançar a salvação, é preciso que deixe o pecado, que deixe os ídolos, que abandone a vã maneira de viver que recebeu por tradição de seus pais e parta para Jerusalém, para a cidade da presença de Deus, para a “cidade fundada em paz”, ou seja, corra em direção a Jesus Cristo, o “Príncipe da Paz”, o único caminho que leva ao Pai (Jo.14:6).

- Mefibosete foi para Jerusalém e lá chegou porque tomou o caminho certo. Somente alcançaremos a salvação se tomarmos o caminho certo, que é Jesus Cristo, o único que nos leva até a presença do Pai, a fim de que, ali, possamos nos arrepender dos nossos pecados e assumir o compromisso de obedecer-Lhe.

- Diante do arrependimento, da adoração e da confiança demonstrada, Mefibosete encontrou o favor do rei. Davi disse que nada temesse e que haveria de recuperar a posição que antes detinha. Como herdeiro de Saul, receberia todos os bens de seu avô e, como se isto fosse pouco, também passaria a comer de contínuo na mesa do rei, como um verdadeiro príncipe, retomando, assim, mesmo sendo outra a dinastia reinante, a posição que lhe cabia por direito antes da morte de seu avô e da qual nem chegou a desfrutar, em virtude de sua tenra idade.

- A salvação proporciona o mesmo para o homem. Uma vez salvo, o homem recupera a posição que havia perdido no Éden, ou seja, passa a ter comunhão com Deus, a ter uma vida de contínuo na mesa do rei, a desfrutar da intimidade, da orientação, da companhia e do amor do Senhor. Esta é a “restituição” simbolizada aqui no episódio de Mefibosete. Muitos, na atualidade, têm se aproveitado desta passagem bíblica para defender uma suposta “prosperidade material” do crente, dizendo que, uma vez alcançada a salvação, o cristão irá ter a fartura material de Mefibosete, os bens de Mefibosete e ainda sentar-se com os “grandões” da sociedade, assim como o neto de Saul. Que pobreza de interpretação, que mostra, aliás, que tais pregadores são os mais miseráveis de todos os homens, já que esperam em Cristo apenas para as coisas desta vida (I Co.15:19).

- A “restituição” que se tipifica aqui é única e tão somente de ordem espiritual. Mefibosete voltou ao seu “status” de neto de Saul e de príncipe de Israel. No episódio, sem dúvida alguma, isto representava benesses de ordem material e uma posição social proeminente, mas o ensino escriturístico aqui tem a ver com a nossa posição espiritual. No pecado, estávamos num lago horrível, num charco de lodo (Sl.40:2) e o Senhor dali nos tirou, quando nos arrependemos dos nossos pecados, pondo nossos pés numa rocha, firmando nossos passos e nos pondo na boca um cântico novo (Sl.40:3). De perdidos, mortos, agora fomos vivificados em Cristo (Ef.2:1-5), temos comunhão com Deus, passamos da morte para a vida (Jo.5:24).

- Saímos da cidade da miséria do pecado, de “Lo-Debar”, para irmos para Jerusalém, a cidade santa, a cidade da presença de Deus, onde, de contínuo, gozamos da comunhão com o Senhor, comunhão esta que é demonstrada visivelmente na celebração da ceia do Senhor, a “mesa do Senhor” (I Co.10:21). Pouco importa se temos, ou não, bens materiais, até porque o texto sagrado, como veremos, dá a entender que Mefibosete, no mínimo, só ficou com metade de seu patrimônio após o término da rebelião de Absalão.

II – DAVI E MICAL

- Na sequência do estudo do relacionamento com Davi com a casa de Saul, veremos, ainda que sucintamente, o relacionamento de Davi com a filha de Saul, Mical, sua primeira mulher.

- Como já vimos em lições anteriores, Davi recebeu Mical como sua mulher, pelo dote de cem prepúcios de filisteus (na verdade, ele entregou duzentos). Saul, sabendo que Mical amava Davi, procurou, com astúcia, fazer com que o jovem, em luta contra os filisteus para conseguir este dote, morresse neste embate, o que, porém, não teve o resultado pretendido por Saul (I Sm.18:20-28).

- O texto sagrado faz questão de dizer que Mical amava Davi, mas nada fala sobre o sentimento de Davi para com Mical. Não podemos especular a respeito disto, mas Davi não se esforçaria tanto se não viesse, pelo menos, com simpatia Mical, se não gostasse dela, até porque demonstrou, desde o episódio do gigante, que tinha interesse em se casar.

- Quando Davi fugiu para não ser morto por Saul, avisado por Mical, que demonstrou seu amor para com Davi avisando-o da armadilha de Saul, ainda que corresse risco de morte com isto, Saul deu Mical como mulher a outro homem, Palti, filho de Laís (I Sm.25:44).

- Durante a guerra civil com Isbosete, Davi pediu ao seu oponente que lhe fosse devolvida Mical, sendo, surpreendentemente, atendido pelo filho de Saul, que, com este gesto, mostrava não querer entrar em atrito com Davi (II Sm.3:13-15). O texto sagrado diz-nos que Paltis saiu atrás de Mical, chorando atrás dela, prova de que muito a amava, mas nada fala sobre o comportamento de Mical, que, de qualquer maneira, voltava ao convívio do que homem que amava e que estava em posição de proeminência.

- Todavia, como se vê em lição do trimestre a respeito, Davi não soube cultivar este amor de Mical por ele. Na verdade, Davi, embora tenha pedido de volta a Mical, não devotou nenhum cuidado nem proeminência a Mical, que, inclusive, não tinha filhos de Davi, a indicar que Davi nem ao menos tinha intimidade sexual com a filha de Saul. Entendeu Davi que, ao restituir Mical a sua condição de mulher de Davi, tinha cumprido o seu papel.

- Mical, como toda mulher, sentiu-se desprezada e o seu amor se tornou em rancor, em amargura. Tal situação atingiu seu clímax quando Mical, ao ver Davi cantando e dançando com o povo na cerimônia de trazida da arca do testemunho para Jerusalém, ter desprezado Davi em seu coração e, por causa de tal desprezo, acabar repreendendo publicamente o rei, o que era uma falta extremamente grave, seja para uma mulher, seja para um súdito (II Sm.6:16,20-22; I Cr.15:29).

- Como resultado desta repreensão pública, Davi a repreendeu, lembrando que era o escolhido de Deus em lugar de Saul, pai de Mical, para reinar sobre Israel, algo, aliás, que Mical sabia muito bem, pois havia vivenciado o início da perseguição que Saul empreendera contra Davi. Entretanto, em vez de reconhecer a unção de Davi e a sua dignidade, Mical o desprezara, o menosprezara e, num instante, em que demosntrava toda sua alegria perante o Senhor. Mical mostrava, assim, que preferia que Davi fosse seu marido do que rei sobre Israel, que achava que Davi devia antes se submeter a ela do que ao Senhor, o que era inadmissível. Davi disse que seu desprezo não retiraria a honra que tinha, da parte de Deus, diante do povo e, ante esta atitude tresloucada de Mical, ficou ela estéril e não teve filhos até o dia da sua morte (II Sm.6:23).

- Neste episódio, temos importantes lições espirituais e familiares. Por primeiro, vemos que o marido não deve negligenciar o amor de sua mulher. Mical tinha um amor muito grande por Davi, a ponto de ter arriscado sua vida para proteger a de seu marido, mas este amor, não tendo sido cultivado, tornou-se em desprezo de coração. O amor conjugal não é divino, por isso não é eterno, depende de ser cultivado dia após dia pelos cônjuges. Como costuma dizer um pastor conhecido nosso, o amor conjugal é como uma planta que temos em casa, que precisa ser regada todos os dias para se manter viva e atraente.

- Por segundo, aprendemos que um relacionamento conjugal não se sustenta por força da manutenção das aparências ou por interesses humanos. O retorno de Davi e de Mical não foram obra de uma dedicação ou de uma demonstração de amor, como havia sido o casamento de ambos, mas fruto exclusivo do interesse. Davi quis Mical de volta para se “redimir” diante do povo de Israel, para mostrar que até a mulher que Saul lhe havia tirado ele estava a recuperar, era um “troféu” a apresentar em seu embate político-militar com Isbosete. Mical tornou-se, assim, uma cláusula do acordo de paz que se esboçava em Israel, um “negócio de Estado”, nada mais que isto.

- Por outro lado, para Mical, o retorno ao convívio de Davi era também um excelente negócio. Deixaria de ser marido de um homem que, bem ou mal, era vinculado ao rei morto e retornaria ao palácio real. Apesar da mudança dinástica na monarquia de Israel, Mical recuperaria a sua posição social, voltando não só a ser princesa, mas, sim, rainha de Israel e, pensava ela, a principal mulher de Davi, pois era filha de Saul e representaria a unificação de ambas as famílias reais. Certamente, de suas entranhas sairia o terceiro rei de Israel…

- Os interesses não podem sustentar um casamento, mesmo quando os interesses parecem ser vantajosos para ambos os cônjuges. Somente o amor desinteressado, que é o amor “agape” (I Co.13:5), dado por Deus, tem condições de fazer superar as divergências e manter unido um casal apesar das adversidades (Ct.8:7).

- Por terceiro, aprendemos que, mesmo na vida conjugal, a adoração ao Senhor, a vida espiritual tem proeminência. Não pode o cônjuge querer impedir o seu companheiro de ter uma vida de comunhão com Deus. Deus está acima até do nosso cônjuge. Se o cônjuge é a pessoa que mais amamos nesta vida debaixo do sol, se é alguém com quem nos tornamos um, isto cessa com a morte física de um dos dois ou com o arrebatamento da Igreja (Gn.2:24; Mt.22:30; Mc.12:25; Rm.7:2,3). O casamento não é eterno, está preso a esta dimensão, enquanto que a vida com Deus é eterna, não tem fim (Jo.3:16; I Ts.4:17).

- Isto não significa, entretanto, que a vida ministerial esteja acima da vida familiar, como muitos ministros e oficiais das igrejas locais têm equivocadamente achado. Nossa vida espiritual está acima da vida familiar, mas nossa vida familiar está acima de nossa vida eclesiástica ou ministerial. Davi errou muito ao negligenciar Mical e, por isso, foi desprezado no coração por Mical. O erro de Mical foi desonrar o rei publicamente, mas a Bíblia não a censura por ter desprezado Davi em seu coração. Ademais, a vida familiar desastrosa de Davi comprometeu, inclusive, o seu ministério, a sua imagem como homem de Deus, de modo que não há como deixarmos de reconhecer que a família ocupa o segundo lugar, em nossas vidas, depois da vida com Deus.

- Por quarto, aprendemos com Mical que não podemos, de forma alguma, deixar esfriar o amor que temos pelo Senhor. Falando agora alegoricamente, vemos em Mical a figura do salvo que deixa que seu amor a Deus se esfrie, por causa da iniquidade, enquanto que Davi, o “amado”, representa aqui o próprio Deus.

- Mical amou Davi, quando este era apenas um jovem na corte real, um jovem que já não era bem visto pelo rei Saul. O amor de Mical era genuíno, autêntico, desinteressado, sincero. Quantos crentes não amam assim a Jesus e, por Ele, inclusive, chegam mesmo a arriscar suas vidas!

- No entanto, as circunstâncias da vida fazem com que estes deixem que seu amor pelo Senhor arrefeça. Contrariedades na vida, falta de diálogo e de convivência com o “amado” fizeram com que Mical se tornasse insensível, não mais demonstrasse amor por Davi.

- Quando indagada por seu pai porque deixara Davi fugir, Mical mentiu, dizendo que havia sido ameaçada por Davi. Teve vergonha de declarar o seu amor por Davi diante de Saul. Ora, Saul bem sabia que Mical amava a Davi, era fato público e notório. A atitude de Mical, ainda que buscando sua sobrevivência, revela que preferiu ganhar a sua vida do que manter o amor por Davi. Muitos crentes assim procedem: preferem ganhar a sua vida do que perdê-la por amor ao Senhor e, como disse Jesus, quem ganha a sua vida, perdê-la-á (Mt.10:39; 16:25; Mc.8:35; Lc.9:24).

- Quando a pessoa começa a dar mais valor ao seu bem-estar que à fidelidade a Jesus, busca satisfazer seus prazeres, sonhos e desejos, em vez de seguir a Cristo, começa a caminhada rumo ao arrefecimento do amor a Deus, caminho perigoso e que quase todos estão a trilhar nestes dias finais da dispensação da graça (Mt.24:12; Ap.2:4). É o “abandono do primeiro amor” que Jesus denunciou à igreja de Éfeso e que tem verificado na vida de muitos. Tomemos cuidado!

- Mical, buscando resguardar sua própria vida, mentiu, o que, sejamos justos e imparciais, fez também Davi, quase que na mesma época, diante do sumo sacerdote Aimeleque. Entretanto, Davi se arrependeu, como vemos nos salmos compostos quando esteve em Gate, enquanto que Mical perseverou em sua mentira, aceitando casar-se com Paltis, segundo a ordem de Saul.

- Dirá alguém que Mical não tinha como recusar-se a aceitar este casamento, que corria risco de morte. No entanto, não arriscou porventura Mical sua vida quando arquitetou a fuga de Davi? Ao aceitar o casamento com Paltis (ou Paltiel), mostrou que seu amor por Davi se havia esfriado e podemos afirmar isto diante da reação de Paltis quando lhe tomaram Mical, a demonstrar que Mical lhe havia sido uma boa mulher, de que ela realmente assumiu seu papel de mulher de outro homem, desistindo de Davi.

- Este arrefecimento do amor chegou ao desprezo de coração. Ao ver Davi bailando e saltando na entrada de Jerusalém, quando acompanhava a arca, da janela de sua casa, Mical desprezou Davi em seu coração. Este é o caminho daquele que se envergonha do Senhor, que não mais O ama: chega o instante em que despreza a presença de Deus, em que as coisas de Deus lhe trazem mal-estar, em que a alegria do Senhor lhe causa náuseas, lhe causa ódio e rancor.

- Mical desprezou Davi no seu coração, não lhe agradou a adoração que se fazia ao Senhor, não teve nenhum temor de fazê-lo quando a arca do testemunho entrava na cidade. Mical, inclusive, estava em sua casa, não saía do palácio, porque estava presa à posição social, às coisas desta vida, não queria se misturar com a plebe, não queria sequer prestigiar e homenagear a arca, símbolo da presença de Deus no meio de Israel.

- Assim se portam os crentes frios, que não mais amam a Deus. Para eles, as coisas terrenas têm mais valor que os cultos ao Senhor. Para eles, a liturgia é “maçante”, “chata”, “rotineira”. Eles querem viver das ilusões do mundo, das aparências, do luxo, do consumismo desenfreado. Desprezam as coisas do Senhor, as bênçãos espirituais, estão voltados única e exclusivamente para o mundo e o que ele oferece. Tomemos cuidado!

- Por quarto, vemos que Mical, já tendo desprezado Davi em seu coração, insulta-o publicamente, desonra-o. Este é o estágio final daquele que abandona o Senhor. O limite da desobediência é o insulto ao Senhor, a apostasia, o desrespeito, a blasfêmia contra a divindade. Se a blasfêmia for contra o Espírito Santo, aí estaremos diante do “pecado para a morte”, que não tem perdão. Mical, ao insultar o ungido de Deus, foi duramente repreendida e ficou estéril, levou sobre si uma maldição.

- Que despropósito. Enquanto toda a casa de Davi foi abençoada pelo rei após o término da festividade da vinda da arca para Jerusalém (I Cr.16:43), Mical, aquela que deveria ser a mais proeminente, aquela que era das poucas mulheres de Davi que tinha sido princesa antes de ser rainha, e a única princesa de Israel, recebia, pela perda do amor, da parte do Senhor a pior das maldições que uma mulher poderia ter — a esterilidade. Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo!

- Davi havia sido bondoso para com Mical e a havia restituído à vida palaciana, mas Deus não Se agradou de seu comportamento, de modo que a tornou estéril, impedindo-a de dar uma descendência que fosse, simultaneamente, da casa de Davi e da casa de Saul. Na linhagem messiânica, não se teria, de forma alguma, semente daquele que ousou apostatar da fé.

III – DAVI E MEFIBOSETE

- Quando se fala da história de Davi e de Mefibosete, costuma-se tão somente contar a bondade demonstrada pelo rei ao neto de Saul e filho de Jônatas, de que já tratamos no primeiro item deste estudo. No entanto, existe outro episódio a envolver não só ambas as personagens, como também o servo de Saul, Ziba, que é relatado quando da revolta de Absalão e que também será objeto de nosso estudo, que trata de como Davi se relacionou com a casa de Saul.

- Quando Davi recebeu a notícia de que Absalão se proclamara rei em Hebrom e que tinha a seu lado o povo, o rei, prudentemente, resolveu sair de Jerusalém, fugindo, a fim de que, se pudesse, organizasse a resistência contra o usurpador. Na sua fuga, levou seus familiares, deixando apenas dez concubinas para guardar o palácio real (II Sm.15:14-16).

- Mefibosete, que era como se fosse um dos filhos do rei, pediu a Ziba que lhe albardasse um jumento, mas Ziba, vendo nesta situação uma oportunidade para ter aquilo que almejara e não conseguira antes, ou seja, os bens que haviam sido de Saul e agora eram de Mefibosete, saiu de Jerusalém e foi ao encontro de Davi, deixando Mefibosete em Jerusalém (II Sm.19:26).

- Ziba encontrou Davi quando este descia do monte das Oliveiras (II Sm.15:30; 16:1), após ter se entrevistado com Husai, depois de ter adorado o Senhor. Davi estava psicológica e fisicamente abalado, sabia que Absalão tinha muito melhores condições de reinar e, deste modo, corria risco de morte. Estava, além disso, extremamente cansado, quase que esgotado fisicamente, até porque já não era um jovem.

- Ao encontrar-se com Ziba que, astutamente, vinha com um par de jumentos albardados e sobre eles duzentos pães, com cem cachos de passas, com frutas de verão e com um odre de vinho, perguntou o rei qual era a pretensão do servo de Mefibosete. Ziba, então, disse que todo aquele mantimento era para o rei e seus homens.

- Em seguida, Davi perguntou sobre o paradeiro de Mefibosete e Ziba, então, maldosamente, disse que Mefibosete ficara animado com a rebelião, achando que, com ela, ele se tornaria rei de Israel, pois haveria a restauração da casa de Saul. Davi, sem pensar duas vezes, sem se lembrar do comportamento e conduta exemplares que Mefibosete apresentava na corte, pois, afinal de contas, comia de contínuo da mesa do rei, era pessoa que desfrutava da intimidade de Davi e de sua família, irado, abalado pelos presentes trazidos por Ziba, sem que desse qualquer chance a Mefibosete, tomou tudo o que era de Mefibosete e o deu a Ziba que, radiante, inclinou-se diante de Davi (II Sm.16:3,4).

- Davi fugiu, Husai conseguiu transtornar o conselho de Aitofel, que era o homem mais sábio daquele tempo e Davi acabou por vencer Absalão, recuperando o trono. Ao voltar para Jerusalém, Mefibosete foi encontrar-se com Davi, barbudo e mal-cheiroso, visto que não havia feito a barba nem lavado seus vestidos desde que Davi havia fugido de Jerusalém.

- Davi, então, tardiamente, pergunta a Mefibosete porque ele não o havia acompanhado e Mefibosete contou-lhe a verdade, de como fora enganado por Ziba. Davi, então, caiu em si, pois viu que fora extremamente injusto com Mefibosete, que havia intercedido a Deus, a favor do rei durante todo o tempo da rebelião. Tentou, então, remediar a situação, dizendo que Ziba e Mefibosete repartissem o patrimônio meio a meio, ao que Mefibosete disse que tudo poderia ficar com Ziba, pois o que ele mais queria era o bem-estar do rei, a resposta às suas orações, o que ele havia alcançado (II Sm.19:24-30).

- Neste episódio, temos muitas e importantes lições espirituais. A primeira delas é que não podemos decidir precipitadamente, máxime quando nos encontramos abalados psicológica, física e espiritualmente. O adversário de nossas almas sempre está à espreita, buscando a ocasião quando “descemos do cume do monte” para nos atacar e nos fazer errar.

- Deus, quando dialogou com Caim, disse que o “pecado jaz à porta” (Gn.4:7), ou seja, está, como diz o povo do interior brasileiro, “de tocaia”, pronto para atacar e dominar o que primeiro aparecer desavisadamente no seu caminho. Como disse o apóstolo Pedro, o adversário anda em derredor, buscando a quem possa tragar (I Pe.5:8).

- Davi havia acabado de adorar a Deus, pedido ao Senhor que o livrasse daquela situação, mas, depois de ter se entrevistado com Husai e recebido a orientação divina para que viesse a ter nova oportunidade de voltar ao trono de Israel, desceu do cume do monte das Oliveiras, desatento, sem a devida concentração espiritual e se tornou alvo fácil de Ziba que, com os presentes, com os mantimentos trazidos, conseguiu seu intento de tomar tudo quanto pertencia a Mefibosete.

- Este erro lamentável de Davi, um dos maiores de sua vida, visto que aceitou peita contra um inocente, agiu por impulso, pensando única e exclusivamente na satisfação de suas necessidades imediatas, tem como contraponto a conduta de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo que, mesmo faminto após quarenta dias e quarenta noites de jejum, não se deixou levar pela oferta diabólica de satisfação de suas necessidades mediante um indevido e inadmissível exercício de Sua divindade (Mt.4:2-4).

- Tomemos muito cuidado, amados irmãos, pois o adversário continua a se utilizar das mesmas armas, pois tudo o que há no mundo se reduz a três fatores: concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e soberba da vida (I Jo.2:16).

- Davi, faminto, psicologicamente abatido, deixou-se levar pelo presente de Ziba e cometeu uma grande injustiça, tomando tudo quanto pertencia a Mefibosete e o entregando a Ziba, sem que pudesse sequer verificar se o que Ziba estava a falar era verdade. Esqueceu-se de que Mefibosete era aleijado de ambos os pés e, assim, jamais teria condições de reinar sobre Israel. Esqueceu-de de que o povo todo estava a apoiar Absalão e que não havia a mínima condição de Mefibosete se tornar rei de Israel por ser o herdeiro presuntivo da casa de Saul, casa esta que havia sido retirada do trono pelo próprio Deus. Davi de nada disso se lembrou e, movido pela paixão, cometeu tamanha injustiça.

- Ziba aqui, como podemos ver, representa o adversário de nossas armas, a astuta serpente, que nunca deve ser subestimada. Com suas ofertas atraentes que, quase sempre, servem para saciar nossas necessidades imediatas, consegue fazer com que percamos o mais importante, que é a vida eterna, a comunhão com Deus. Pensemos nisto toda vez que formos tentados. Assim como Tamar fez com Judá (Gn.38), corremos o risco de sob um pretexto de termos de apenas pagar um cabrito, perder tudo quanto temos de mais importante, o selo (patrimônio), o lenço ou cordão (a autoridade moral e espiritual) e o cajado (a dignidade). Não nos iludamos: o salário do pecado é a morte (Rm.6:23).

- Não podemos deixar o cume do monte, ou seja, não podemos sair da presença do Senhor. Temos de manter com Deus uma íntima comunhão, estar diante d’Ele todos os dias de nossa vida, a fim de que não sejamos enganados pelo inimigo de nossas almas. É no esconderijo do Altíssimo, à sombra do Onipotente que encontramos descanso (Sl.91:1). Nas mãos do Senhor, ninguém poderá nos arrebatar (Jo.10:28). Quantos têm fracassado por fazerem como Davi: descer do cume do monte, ou seja, sair da presença de Deus.

- Enquanto Davi tentava voltar ao trono, Mefibosete, que foi obrigado a ficar em Jerusalém, não teve medo de Absalão. Deixou de barbear-se e não lavou seus vestidos, numa prática de quem pedia a Deus incessantemente por algo. Sua forma de agir, pública e notória, mostrava que estava a pedir algo a Deus, a se sacrificar diante do Senhor, demonstrando toda a sua tristeza e toda a sua angústia pela situação. Intercedia em favor de Davi, porque o amava e era grato a tudo quanto Davi lhe havia feito, como, aliás, fez questão de ressaltar no reencontro com o rei.

- Mefibosete simboliza o salvo que está em comunhão com o Senhor e que se aflige pela obra do Senhor, pelo nome do Senhor. Evidentemente que, na tipificação, não é caso de o salvo se mortificar por causa do Senhor, que vive e reina para sempre, mas pode e deve fazê-lo pelos seus irmãos, aqueles que, como ele, pertencem ao corpo de Cristo (I Co.12:27). Devemos orar uns pelos outros (Tg.5:16) e, por vezes, em momentos de angústia e grande aflição, jejuarmos como reforço à oração intercessória, já que o Senhor não está fisicamente mais conosco (Mt.9:15; Mc.2:20; Lc.5:35), algo tanto mais necessário nos dias trabalhosos pelos quais vivemos. O salvo deve alegrar-se com quem se alegra, mas também chorar com os que choram (Rm.12:15). Mefibosete comia de contínuo na mesa do rei, mas, quando o rei teve de fugir, passou a se afligir por ele.

- Mefibosete, desta feita, foi ao encontro do rei. Na vez anterior, Davi o chamou, pois não tinha condições de se apresentar ao rei. Agora, é Mefibosete que vai ao seu encontro em Jerusalém. Este fato mostra-nos, por primeiro, que Mefibosete não saiu de seu lugar, estava em Jerusalém. Os salvos estão assentados nas regiões celestiais onde já foram abençoados com todas as bênçãos espirituais (Ef.1:3; 2:6). Este é o lugar em que Deus nos pôs, do qual não podemos jamais sair.

- Mefibosete foi ao encontro do rei porque estava em comunhão com ele, não havia pecado e, por isso, podia chegar com ousadia no santuário (Hb.10:19). Se estamos em comunhão com o Senhor, i.e., um verdadeiro coração, inteira certeza de fé, os corações purificados da má consciência e o corpo lavado com água limpas, podemos nos apresentar diante do Rei, porque o Senhor Jesus, nosso grande sacerdote sobre a casa de Deus, já nos abriu um novo e vivo caminho (Hb.10:20-22). Aleluia!

- Mefibosete, ao se apresentar diante de Davi, como tinha a consciência limpa, contou a verdade, dizendo ter sido enganado por Ziba, pois, ao esperar que o jumento fosse albardado pelo seu servo, foi deixado, não podendo caminhar por ser coxo de ambos os pés. Esta circunstância lembra-nos que dependemos única e exclusivamente do Senhor e que não podemos confiar no homem, pois maldito é o homem que confia no homem (Jr.17:5). Que é confiar no homem? É confiar em alguma pessoa, como Mefibosete em Ziba? Não, é confiar no ser humano, em nós mesmos, em vez de confiar no Senhor. Como diz Jeremias, é “fazer da carne o seu braço e apartar seu coração do Senhor”.

- Mefibosete, ao ser traído por Ziba, confiou plenamente em Deus e pôde ver o livramento do Senhor. Continuou em Jerusalém e, publicamente, demonstrando sua tristeza pela saída de Davi. Correu sério risco de morte, mas Deus não permitiu que Absalão o matasse e ele pôde sentir a mão do Senhor lhe protegendo, enquanto que Davi, sem que ele o soubesse, o havia privado de todos os seus bens. Vale a pena confiar em Deus!

- Mefibosete corria risco de morte quando se encontrou com Davi, mas não mentiu, como fez Mical ou o próprio Davi em situações similares. Jamais devemos mentir, devemos sempre falar a verdade (Ef.4:25). O resultado disto foi que saiu da situação com vida e numa situação moral e espiritual bem melhor que a do próprio rei Davi.

- Mefibosete, depois de ter contado a verdade, nada pediu. Deixou que o rei, a quem chamou de “um anjo de Deus”, tomasse a decisão que lhe aprouvesse (II Sm.19:27). Que expressão de amor de Mefibosete: chamar de “anjo de Deus” aquele que lhe havia privado de todo o seu patrimônio injustamente. Mefibosete mostrava ter o verdadeiro amor, o amor desinteressado, como também sua profunda gratidão por todos os benefícios que Davi lhe havia feito. Comer de contínuo na mesa do rei era para Mefibosete muito mais importante do que todos os bens que possuía. Temos procedido do mesmo modo: temos nos satisfeito apenas com as bênçãos espirituais nos lugares celestiais em Cristo ou queremos os bens do mundo?

- Mefibosete, ainda, disse ao rei que, na sua situação, não tinha direitos a reclamar ao rei, pois era alvo da sua misericórdia. Quem é beneficiado pela misericórdia não cria direitos, tem de saber que tudo que tem decorre de favores imerecidos. Como faltam crentes como Mefibosete nos dias atuais, em que muitos estão a “exigir seus direitos” de Deus, como se tivessem algum mérito. Somos salvos pela graça (Ef.2:8) e não podemos nos gloriar pela salvação, nem tampouco, como muitos paroleiros em nossos dias, “reclamar direitos” ou “requerer” diante de Deus. Tomemos cuidado!

- Davi, envergonhado, procurou remediar a situação. Vendo que Mefibosete lhe fora sempre leal e que Ziba havia mentido, tentou fazer uma média, mandando que Ziba e Mefibosete repartissem o patrimônio (II Sm.19:29).

- Mefibosete, então, dá outra grande lição ao rei. Disse que o rei não precisava tentar solucionar o caso. Ele estava feliz com o retorno de Davi ao trono, com a resposta às suas orações, isto lhe bastava. Podia Ziba ficar com os bens materiais, pois Mefibosete preferia o bem-estar do rei e a continuidade da intimidade, da comunhão entre ele e o rei (II Sm.19:30). Que lição para os nossos dias. Para Mefibosete, a graça do rei lhe bastava. Será que a graça de Jesus nos basta?

- O texto sagrado não nos diz se a ordem do rei Davi foi cumprida, com a repartição do patrimônio entre Ziba e Mefibosete, ou se Mefibosete passou a viver única e exclusivamente da mesa do rei. O certo é que Mefibosete não recuperou todo o patrimônio que tinha antes, o que mostra quão enganosos são os que usam Mefibosete como símbolo de enriquecimento e da “bênção de restituição”. Fujamos destes falsificadores da Palavra de Deus!

IV – DAVI E SIMEI

- Outro episódio a envolver Davi com a casa de Saul é a que se refere a Simei, um homem da casa de Saul, que, em Baurim, pequena aldeia situada na estrada que levava Jerusalém a Jericó, onde, aliás, morara Mical com Paltis, quando Davi fugia de Absalão.

- Ao passar por Baurim, Simei foi ao seu encontro e começou a apedrejá-lo, amaldiçoando a Davi, chamando-o de homem de sangue e homem de Belial, dizendo que o Senhor estava agora a dar o devido pagamento por todo o sangue da casa de Saul e que Davi perdera o reino para seu filho Absalão (II Sm.16:5-8).

- Num momento de abatimento total, em plena fuga, Davi encontra o rancor de alguns da casa de Saul. Era evidente que muitos dos familiares de Saul não haviam se conformado com a perda do reino para a família de Davi, mas permaneciam enrustidos, visto que, embora Davi tivesse sido benevolente com a casa de Saul, certamente não toleraria uma oposição.

- No entanto, diante da mudança das circunstâncias políticas, Simei não perdeu a oportunidade de insultar Davi e externar todo seu ódio e todo seu rancor. Isto nos mostra claramente que não devemos confiar nas pessoas nem nas circunstâncias que nos são favoráveis. Só Deus conhece o coração do homem (I Sm.16:7) e o silêncio ou até a proximidade de alguns não significa, em absoluto, que sejam nossos amigos e que estejam ao nosso lado. Devemos ter íntima comunhão com o Senhor, pois só o discernimento espiritual nos fará saber quem é por nós e quem não o é.

- Simei aproveitou-se da situação adversa por que passava Davi e “foi à forra”. Começou a apedrejar Davi, um gesto insultante, porque assim eram tratados os criminosos. Não bastassem as pedras que eram atiradas, em cima de um fato verdadeiro, construiu uma série de mentiras. Disse que Davi era um homem de sangue, o que era verdade, tanto que, por este motivo, não pôde construir o templo, como afirma Flávio Josefo: “…Deus apareceu em sonhos a Natã e ordenou-lhe que dissesse a Davi que, ainda que louvasse a sua intenção, não queria que a executasse, porque suas mãos tinham sido muitas vezes manchadas de sangue dos seus inimigos…” (Antiguidades Judaicas VII, 4, 270. In: História dos hebreus. Trad. de Vicente Pedroso, v.1, p.154). O texto sagrado não é explícito mas dá a entender que foi por este motivo que o Senhor não permitiu que Davi construísse o templo (II Sm.7:8,9; I Cr.17:7,8).

- As palavras de Simei mostram-nos como age o inimigo de nossas almas, que é o “diabo”, isto é, o acusador, o caluniador. A partir de uma verdade, que devia ser de todos conhecida, ou seja, de que Davi era um homem de sangue, construiu-se um edifício de mentiras. Por primeiro, Simei apedrejou Davi, transformando o rei em um criminoso da pior espécie, pois o apedrejamento era pena para os mais graves crimes na lei de Moisés.

- Assim tem agido o adversário de nossas almas na atualidade. Tem transtornado todos os fundamentos morais, jurídicos, políticos e sociais no mundo para tornar os salvos em criminosos, para transformar a virtude em crime, para tornar o certo em errado. O relativismo moral vigente em nossos dias é a antessala para a completa inversão de valores, que já temos sentido, característica de uma sociedade dominada pelo pecado (Is.5:20).

- Não bastasse isso, muitos, na atualidade, têm sido enganados pelo discurso que tornou Deus em criminoso. Não são poucos os que chamam o Deus da Bíblia de “carrasco”, “cruel” e outras coisas inomináveis. Este estado de coisas só tende a aumentar, pois, na Grande Tribulação, será a atitude dos seguidores da besta o blasfemar contra Deus, apesar de sofrerem na pele a demonstração do poder e da ira do Senhor (Ap.16:9).

- O que é mais triste é verificar que, nos dias hodiernos, já são muitos os que cristãos se dizem ser que chamam o que a Bíblia ensina de “atraso”, de “crueldade”, de “absurdo”, indo atrás de outros evangelhos, onde a “dureza”, o “legalismo”, o “autoritarismo” são substituídos por “novas visões”, por “novidades”. Tal atitude nada mais é que repetir a mentira de Simei e apedrejar aquilo que é certo, considerar que Deus é mentiroso (I Jo.5:10).

- Mas Simei não se limitou a apedrejar o rei mas, também, a partir da constatação de que Davi era homem de sangue, passou a dizer que Davi estava a pagar o preço pelo derramamento do sangue da casa de Saul. Ora, que mentira terrível a que era lançada por Simei. Como Davi poderia estar a pagar pelo derramamento do sangue da casa de Saul se nunca havia derramado o sangue de quem quer que fosse ligado a Saul? Vemos pelo texto sagrado que, bem ao contrário, Davi derramou o sangue daqueles que lhe foram comunicar que haviam matado Saul e seus filhos. Davi estava a pagar o preço pelo seu próprio pecado, estava a colher as consequências de seu erro, nada mais do que isto.

- Simei chamou, também, a Davi de “homem de Belial”, ou seja, de “homem mau”, “homem perverso”. Que duro é recebermos ofensas como as que Davi estava recebendo. Davi sempre fora bondoso, leal e prudente. Havia, sim, errado e estava a pagar o preço de seu erro, mas daí a chamá-lo de “homem de Belial” era demais. No entanto, Davi nada respondia, prosseguindo seu caminho de aflição e de fuga.

- Por fim, Simei lançou sobre Davi uma falsa profecia, dizendo que Deus havia tirado o reino de Davi e dado a Absalão. No momento em que esta profecia foi proferida, Davi estava em nítida situação de desvantagem e, mais do que isto, abalado física e psicologicamente. Devemos ter muito cuidado quando passamos por aflições e tribulações. Neste momento, devemos aumentar ainda mais nossa comunhão com Deus, pois o adversário não perderá oportunidade para levantar falsos profetas, para proferir “profetadas”, que podem nos gerar ainda mais fraqueza e desânimo espirituais.

- Ao ouvir estas coisas, Abisai, irmão de Joabe, propôs ao rei que Simei fosse morto. Abisai, aqui, era mais um agente do inimigo de nossas almas. Diante de tanta calúnia e de tanto insulto, nada mais natural que Simei fosse morto. Mas Davi era um homem segundo o coração de Deus e sabia que, se autorizasse a morte de Simei, que não seria difícil de acontecer, pois Simei estava desarmado e Abisai era um dos valentes do rei, Davi tornaria verdade a falsa acusação: derramaria o sangue de alguém da casa de Saul.

- Não podemos pagar o mal com o mal (Rm.12:21). Somente o bem vence o mal e, se praticarmos o mal, seremos vencidos, não alcançando a vitória. A prática do mal é pecado e, assim, estaremos nos escravizando em vez de nos livrando do problema.Diz Pedro que é melhor padecermos fazendo o bem do que fazendo o mal (I Pe.3:17).

- Davi, apesar de toda a situação adversa, não se encontrava abalado espiritualmente naquele instante. Havia sido levado pelo impulso com Ziba, mas, agora, não permitiu que a carne falasse mais alto. Disse a Abisai que não se importasse com aquilo. Simei estava ali a mando do Senhor, era um instrumento de provação divina e, portanto, ele nada faria, deixando ao Senhor, que conhecia a sua miséria, o pagamento com bem da sua situação adversa (II Sm.16:7-12).

- Davi prosseguiu seu caminho, não dando confiança às ofensas e calúnias de Simei, que continuou a atirar pedras e a levantar poeira (II Sm.16:13). Simei ia ao longe do monte e levantava poeira. Assim faz o inimigo de nossas almas: anda ao derredor, não se aproxima, se verdadeiramente estamos em comunhão com o Senhor, mas não deixa de atirar suas pedras e de “levantar poeira”. Precisamos, porém, diante desta situação, prosseguir o nosso caminho. O fato é que, na sequência do caminho, Davi e seus homens embora tivessem chegado cansados, alcançou o lugar de refrigério (II Sm.16:14).

- Aprendamos esta lição. Não devemos dar confiança às calúnias do diabo ao longo de nossa jornada. Não podemos querer resolver as falsas acusações com a prática do mal, que é o que o diabo quer, pois, assim, pecaremos e perderemos a salvação. Prossigamos a nossa caminhada, confiando em Deus e deixando a Ele a solução dos nossos problemas. Apenas não deixemos de olhar para Jesus, o autor e consumador da nossa fé, correndo a carreira que nos está proposta (Hb.12:1-3). Ao final da nossa jornada, acharemos, juntamente com os irmãos, o descanso para as nossas almas, que não é aqui neste mundo (Mq.2:10).

- O Senhor, assim como esperava Davi, olhou para a sua miséria e pagou com bem a maldição lançada por Simei. Davi retornou ao trono e, num gesto de que era realmente de coração que havia deixado a solução do problema para o Senhor, perdoou a Simei, que, incontinenti, prostrou-se diante do rei assim que ele passou o Jordão (II Sm.19:18-23).

- Simei confessou o seu pecado diante do rei e lhe pediu perdão. Abisai, uma vez mais, quis que Davi mandasse matar o caluniador, mas Davi, fiel ao seu propósito inicial, perdoou a Simei, dizendo que ele não morreria e confirmando isto com juramento. Simei alcançou o perdão do rei e Davi cumpriu a sua promessa, não o matando. Antes, porém, de morrer, lembrou a Salomão o mal que Simei havia feito e Salomão lhe impôs a prisão domiciliar em Jerusalém. Simei acabou morto porque desobedeceu a Salomão, saindo de Jerusalém (I Rs.2:8,9; 36-46). Com Simei, temos a mesma lição que aprendemos com Davi: o pecado é perdoado mas as suas consequências nos seguem inevitavelmente.

V – DAVI E OS DEMAIS FILHOS DE SAUL

- Neste estudo do relacionamento de Davi com a casa de Saul, resta-nos, tão somente, falarmos do episódio que envolveu o enforcamento de alguns descendentes de Saul, mencionado em II Sm.21.

- Diz-nos o texto sagrado que sobreveio uma fome de três anos sobre Israel. Davi, então, consultou ao Senhor qual o motivo daquela situação e o Senhor lhe disse que a fome havia sobrevindo sobre Israel por causa de Saul e da sua casa sanguinária, porque haviam matado os gibeonitas (II Sm.21:1).

- Este curto relato bíblico traz-nos importantíssimas lições. Por primeiro, mostra-nos que Deus está no absoluto controle de todas as coisas. Esta matança dos gibeonitas por Saul não foi sequer relatada na Bíblia nas passagens referentes ao reinado de Saul, ou seja, foi algo que passou despercebido dos escritores sagrados, mas não do Senhor. Deus bem observou o que Saul havia feito e, diante da total indiferença de Israel para que se fizesse justiça, agiu trazendo fome sobre a terra.

- Por segundo, vemos que Deus cuida de todos os homens, mesmo os mais humildes e simples. Os gibeonitas, sabemos todos, haviam enganado o povo de Israel e se infiltrado no meio do povo de Deus. No entanto, havia um pacto entre Israel e os gibeonitas, que lhes preservava a vida e Deus não permite que Seu povo seja infiel nos compromissos assumidos. Ao mandar matar os gibeonitas, Saul estava violando o pacto firmado no tempo de Josué e isto era desagradável aos olhos do Senhor. Os gibeonitas foram mortos e o reinado de Saul terminou. Isbosete e, depois, Davi reinaram e nada havia sido feito para reparar este mal. No tempo certo, décadas depois do acontecido, Deus resolveu agir, ante a inércia dos homens, porque Ele cuidava também dos gibeonitas e zelava pela justiça no meio do Seu povo.

- Não precisamos fazer revoluções, rebeliões ou motins em nossas igrejas locais por causa das injustiças cometidas, ainda que contra os mais pequenos, ainda que contra os “gibeonitas”, ou seja, aqueles que estão em nosso meio sem que, na verdade, pertençam a nós. O Justo Juiz tudo vê e não permitirá que a injustiça perdure. No tempo certo, tomará as devidas providências. Certo é que, como servos de Deus, não devemos folgar com a injustiça, nem aceitá-la, devemos denunciá-la, falar a verdade, mas não busquemos resolver com as nossas forças. Deixemos nas mãos do Senhor que, a Seu tempo, tudo fará e de modo perfeito.

- Por terceiro, vemos que Deus tem, entre Suas formas de agir, o uso da natureza. Como a desmentir os “adoradores da natureza” dos nossos dias, o Senhor faz questão de mostrar que tem o absoluto controle das forças naturais, empregando-as para fazer justiça. Recentemente, aliás, o pastor Sebastião Rodrigues da Silva, presidente da AD em Cuiabá/MT, na 38ª Assembleia Geral Ordinária da CONFRADESP (Convenção Fraternal Interestadual das Assembléias de Deus – Ministério do Belém no Estado de São Paulo), fez questão de relatar uma série de visões e mensagens proféticas que tem recebido, entre as quais o Senhor nos faz lembrar que, neste período do “princípio de dores” em que vivemos, fará mostrar Seu poder sobre a natureza e, através dela, mostrar que Jesus está às portas, que é tempo de nos santificarmos e de nos prepararmos para o arrebatamento da Igreja, o que, aliás, está consonante com os sinais da vinda do Senhor relatados no sermão escatológico de Jesus.

- Deus enviou a fome sobre Israel e foram necessários três anos para que Davi consultasse a Deus, percebesse que aquilo não era algo natural, mas, sim, uma iniciativa divina, um chamamento de atenção da parte de Deus. Deus não atua com juízos pela natureza porque queira ver a humanidade sofrer, mas, antes, para que o homem perceba que há um Deus nos céus e que é necessário obedecer-Lhe para que se alcance a vida eterna.

- Por quarto, vemos, uma vez mais, que Davi nada fazia sem antes consultar ao Senhor. Se Saul matou os gibeonitas sem qualquer orientação divina e dentro de um espírito nacionalista, popular e simpático aos israelitas mas totalmente fora da vontade do Senhor, Davi consultou a Deus para saber qual o motivo da fome e como deveria agir para que a justiça se fizesse.

- Davi, então, chamou os gibeonitas e disse o que desejariam para que se fizesse a devida reparação. Vemos, neste episódio, que Deus não é apenas Deus de amor, mas também é Deus de justiça. Faz-se absolutamente necessário que a justiça se realize. Não é à toa que o texto sagrado resume a administração de Davi como sendo o rei que fazia justiça (II Sm.8:15). Temos feito justiça nos lugares que ocupamos?

- Os gibeonitas disseram que não queriam prata nem ouro, mas que se lhes dessem sete homens, a fim de que fossem eles enforcados em Gibeá, a cidade de Saul, para servirem de exemplo para todo o povo, a fim de que não mais houvesse perseguição em Israel contra os gibeonitas. Diante de tal pedido, Davi os atendeu, já que era esta a vontade de Deus, poupando, porém, a Mefibosete, filho de Jônatas, diante do pacto que havia feito com aquele filho de Saul, quando ainda vivia na corte de Saul.

- Davi, então, entregou nas mãos dos gibeonitas, os filhos de Rizpa, a concubina de Saul, ou seja, Armoni e outro também chamado Mefibosete, como também os cinco filhos da irmã de Mical, quie tivera de Adriel, filho de Barzilai. Todos foram enforcados pelos gibeonitas (II Sm.21:4-9).

- Davi fez aquilo por ordem divina, não era da sua vontade que se derramasse sangue da casa de Saul, mas a casa de Saul havia sido sanguinária e Deus, então, não poderia deixar que isto ficasse impune. Não foi Davi quem os enforcou, mas, sim, os gibeonitas.

- Numa clara demonstração de que Davi não se agradara desta situação, ao saber que Rizpa não permitiu que os corpos dos enforcados fossem atacados pelos abutres e por outros animais carniceiros (II Sm.21:10), resolveu dar uma sepultura digna não só aos enforcados mas a toda a casa de Saul, mandando que fossem desenterrados os ossos de Saul e de Jônatas e que, juntamente com os enforcados, fossem todos sepultados em Zela, na sepultura da família, pois ali estava sepultado Cis, o pai de Saul (II Sm.21:11-14).

- Terminava assim a saga da casa de Saul na história de Israel. Davi levou os ossos de todos à sepultura de Cis, o pai de Saul. Este gesto representou o retorno da família ao seu “statu quo ante”. A casa de Saul passava para a história, retornando a ser uma simples família do povo de Israel. A descendência de Saul não se encerrou por causa de Mefibosete, filho de Jônatas, mas dela não se tem registro algum dali para a frente. Davi, porém, em sua fidelidade a esta casa , cumpriu o último dever que tinha para com eles: o de dar-lhes a devida e digna sepultura.

- Que sejamos como Davi, cumpridores de todos os nossos deveres para com o próximo, deixando que a justiça de Deus se faça, não se substituindo ao Senhor e, ainda que o próximo rejeite a Deus e morra espiritualmente, tudo fazendo para lhes dar uma digna e devida sepultura. Amém.

Caramuru Afonso Francisco