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sábado, 7 de março de 2020
O EVANGELHO TRANSFORMA CULTURA
Em relação do ponto de vista etimológica da palavra cultura, o termo é derivado do verbo latim colere que literalmente traz o significado de “cultivo”, “cuidado com as plantas, com os animais e tudo o que se relaciona com a terra, como a agricultura”; o seu significado abrange também a palavra “culto” relacionado a crença a determinados deuses; da palavra cultura vem o termo “puericultura”, porquanto está relacionado com a educação das crianças e seus cuidados (ARANHA; MARTINS, 2009, p. 409). Em resumo, o conceito etimológico da palavra cultura é um tipo de humanização que se encontra constantemente em um estágio de processo dando sentidos de significados, significados que tanto esclarece a modificação aplicada ao mundo e as pessoas que convivem nele. Sendo mais preciso, essa modificação se dá nos grupos encontrados em uma sociedade e comunidade definindo a cultura como algo totalmente plural, variável e dinâmica.
O conceito de cultura partindo da visão antropológica confirma-se que o homem por não andar por seu próprio instinto -, e para se adaptar no mundo do qual está estalado, ele inventará ferramentas, ferramentas estas que podem ser classificadas como objetivas e subjetivas. A primeira se define como as construções de materiais, as obras de artes, as leis e a forma de organizar a sociedade; a segunda é a visão de mundo, crenças, princípios morais e representações ideológicas que lhe garantirá o meio de convivência e sobrevivência para o desenvolvimento da sua humanidade.
Cultura é definida também como um meio de ligação com o homem e o mundo do qual ele convive. Fazendo o indivíduo se relacionar com certos grupos sociais lhe adaptando em tipos de costumes e valores morais e éticos garantindo assim, a continuação da sociedade uma vez diversificada em seus comportamentos e interesses sociais. Valores morais seria o conjunto de regras e princípios que qualificará o agir e o comportamento do indivíduo em meio a um grupo social; valores éticos são formas de o indivíduo refletir sobre essas regras e princípios que fundamentam uma vida moral (2009, p. 214). À Medida como o curso da história foi se desenrolando foram se formando grandes tradições onde construíram e marcaram civilizações conhecidas até hoje, como do tipo: a civilização grega, ocidental e chinesa.
Portanto, ao longo da história, homens como Alexandre, o Grande, implantava a cultura helênica através da espada. Do mesmo modo, nações como Roma implantava seu império e cultura com o poder bélico. Lembrando-se da vez quando Roma conquistou a Grécia, na realidade desta vez não foi Roma que implantou a sua cultura, no entanto, a Grécia envolveu os romanos na sua filosofia, ética, moral e até mesmo na sua religião politeísta. Paroschi (2012) disse: “Quando a Grécia caiu sob o domínio romano, foi Roma que acabou sucumbindo ante a influência da cultura e dos ideais gregos” (PAROSCHI, 1012, p. 7). Em meio de duas culturas fundidas, pode-se dizer assim, o cristianismo através dos seus pregadores teve o grande desafio e o trabalho de influenciar através da sua cultura o paganismo das nações provinciais agora envolvidas na cultura greco-romana.
1.1 A formação da cultura cristã em outros povos
As nações pagãs, uma vez feita província do Império Romano, começaram a serem impactadas com outra cultura, desta vez totalmente projetada dentro dos aspectos morais e éticos e espirituais do cristianismo. E isso somente passou acontecer quando a Igreja de Cristo saiu dos limites geográficos de Israel. Sumariamente, entende-se que com esse avanço do cristianismo pelo mundo, em boa parte do Oriente e por não dizer relativamente em todo o Ocidente, criou-se uma cultura exatamente fundamentada nos ensinos de Cristo Jesus. Onde o amor a Deus acima de todas as coisas e ao próximo foi difundido através dos séculos que terminou formando tradições e marcando antigas e atuais civilizações, em especial a região ocidental.
Estudiosos do século XIX, como o teólogo alemão, Ferdinand Christian Baur afirmava, que Pedro ensinava o Evangelho a partir dos ensinos de Cristo, ensinos estes baseados de acordo com o seguimento judaico-cristão, enquanto isso, os ensinos de Paulo já eram vistos moldados de acordo com a cultura greco-romana (BLOMBERG, 2010, p.69). Logo, não se pode concordar com tal teoria, porquanto, é comprovado que todos os ensinos teológicos de Paulo espalhado sistematicamente por suas cartas estão fundamentados categoricamente na teologia de Cristo. Tem-se exemplo de ensinamentos éticos: 1 Coríntios 9.14 com Mateus 10.10 e com Lucas 10.7; 1 Coríntios 7 com Marcos 10.2-12; Romanos 12.14 com Lucas 6.28; Romanos 13.7 com Marcos 12.17; Romanos 14. 13 com Mateus 7.1 e com Lucas 6.37. Esses textos paulinos em paralelo com os ditos de Jesus são apenas uma pequena parte de uma vasta gama de provas de outros textos éticos de Paulo fundamentados com os ensinos de Cristo e assim transmitidos metodicamente aos povos gentílicos para a formação de suas culturas.
1.2 A formação da cultura cristã no mundo politeísta
Quando os primeiros cristãos saíram dos limites geográficos de Israel, estrategicamente, em contraste com o politeísmo, eles pregavam e ensinavam a respeito de um único Deus (ICo 6. 4-6). Responsabilidade antes realizada pelos judeus em seus tempos de glória. “A pregação missionária cristã no mundo gentílico não podia ser simplesmente o querigma cristológico; ela teve que começar, antes com o anúncio do único Deus. Pois, não só a visão judaica e judaico-cristã predominante é a de que o único Deus verdadeiro é desconhecido no mundo gentílico e que a religião gentílica é politeísmo e idolatria, mas também, com efeito, o trabalho missionário cristão alcançou inicialmente aquelas camadas em que o politeísmo ainda era uma força viva” (BULTMANN, 2008, p. 110).
Os missionários cristãos depois de desembarcarem no mundo gentio, em sequência, se depararam com cultos prestados a vários deuses com apresentações cerimoniosas litúrgicas por prostitutas em atos sensuais e pornográficos. A comunidade cristã, então, com os fundamentos da sua fé e temas de mensagens já traçados convidaram os gentios a servir um único Deus (Gl 4.8). Pois, as pessoas que estavam em um círculo vicioso de um mundo politeísta, o kerigyma do Evangelho propagado pelos apóstolos, em especialidade por Paulo, começou vim com temas e pontos falando sobre os tempos da ignorância (At 17.30; Ef 4.18).
E da vez quando Paulo chega à cidade dos tessalonicenses encontrou um cenário totalmente idolatra com relação a deuses falsos e mortos, pois, a sua mensagem em primeira instância foi anunciada com a temática de único Deus vivo e verdadeiro (ITs 1.9). Do mesmo modo, ele se deparou em uma cidade grega, por nome Corinto, a rica, e pregou alertando que seus deuses eram mudos, porém, o apóstolo apresentou um Deus que fala mediante a revelação de seu Filho (ICo 12.2). Ainda em Corinto, o apóstolo dos gentios, pela revelação do Espírito de Deus proclamou em meio àquela gente, que por trás de seus ídolos havia demônios (ICo 10.19, 20). Na cidade da Galácia, situada na região da Ásia menor, Paulo pregou para os gálatas afirmando a respeito dos seus ídolos não eram deuses, logicamente entende-se que esses ídolos eram apenas invenções e criações da mente humana (Gl 4.8).
Além das mensagens cristãs, em contraste com o politeísmo, anunciarem e se reportarem com relação a um só Deus, elas se prendiam também em revelá-Lo como o arquiteto e criador supremo do universo. Por sua vez quem garantia essa revelação era o Antigo Testamento, a Bíblia usada até então pelos primeiros cristãos. A tradução das Escrituras Veterotestamentárias, até muitas vezes usada pelos apóstolos para recitar seus textos no Novo Testamento, era na realidade a Septuaginta (LXX). Um texto traduzido do hebraico para grego por setentas grandes eruditos judaicos a amando de Ptolomeu Filadelfo entre 275 e 250 a. C. Segundo a lenda, esses mestres, em dupla, foram confinados em quartos ou salas separadas para produzirem o texto grego, e quando saíram foi constatado como um milagre, pois, haviam produzido os seus respectivos textos semelhantes.
De acordo com os ensinos dos cristãos a respeito da promessa da vinda do Messias baseados nos textos sagrados judaicos, foi predominante para o surgimento dos ensinos morais e éticos da cultura judaico - cristão. Paulo conhecendo bem o Antigo Testamento sempre procurava apresentar aos povos das religiões politeístas, a respeito de um único Deus e criador.
Atenas, capital da Grécia, foi um desses lugares que ele apresentou esse Deus. Lucas no seu livro histórico, Atos dos apóstolos, cirurgicamente narrou quando Paulo se encontrou cercado por uma grande quantidade de ídolos (At 17. 16 – 34). O médico amado disse, pois a cidade estava dominada pela idolatria (17.16). Uma vez Vincent (1834-1922) registrou as seguintes palavras: Plinio nos informa que na época de Nero, Atenas continha mais de três mil estátuas públicas, além de um número incontável de imagens menores, no interior de casas particulares. Deste número, a grande maioria em estátuas de deuses, semideuses ou heróis. Em uma rua, havia, diante de cada casa uma coluna quadrada, que sustentava um busto do deus Hermes. Outra rua, chamada de Rua dos Trípodes, era margeada por trípodes, dedicados a vencedores dos jogos nacionais gregos, e ostentando, cada uma delas, uma inscrição a uma divindade. Cada porta e cada pórtico tinha seu deus protetor. Cada rua, cada praça, ou melhor, cada canto da cidade tinha seus santuários, e um poeta romano notou amargamente que era mais fácil encontrar deuses em Atenas do que homens. (Davies apud Vincent, 2012, p.437).
Com seu espírito revoltado, em meio àquela terra de deuses, Paulo pregava para os judeus em sinagogas e para os gregos em ágoras. Visto que os judeus falavam muito de ressurreição, mas pouco da imortalidade, os gregos acreditavam no fim do corpo e na imortalidade da alma. Sobretudo, o apóstolo mostrou a superioridade do cristianismo em comparação à religião judaica e o paganismo grego, no sentido de não só acreditar na ressurreição do corpo, mas na sua imortalidade (At 17. 17,18 31).
Em meio àquela grande quantidade de ídolos, Paulo encontrou um altar atribuído ao “Deus Desconhecido” (17.23). O Deus Desconhecido era uma forma dos gregos dizerem que ainda poderia haver outras divindades e, para evitarem supostas maldições levantaram um altar ao cujo deus. Sabiamente, então, Paulo aproveitou a oportunidade para descortinar o entendimento sobre o Deus do qual pregava - era o criador do mundo (17.24). Visto que isso foi uma forma de ele está refutando duas classes de filósofos: os epicureus e os estóicos (17.18). O primeiro além de acreditarem na aniquilação da alma por intermédio da morte, ainda eram ateus. No sentido de não acreditarem na providência e na supremacia Divina. O segundo eram panteístas, pois, acreditavam que o mundo era Deus. Logo, Paulo para refutar os epicureus disse que Deus existe e é o provedor e o supremo criador de tudo. Como ao mesmo tempo refutou os estóicos quando afirmou que Ele não é o mundo, mas o criador e o governador deste.
Os deuses das nações politeístas eram ídolos limitados, no sentido de atuar apenas em determinadas funções. Com relação aos deuses da Grécia não eram diferentes, pois, cada um atuava limitadamente em cidades ou equivalentes áreas da vida, por isso a superstição e crença dos gentios em grandes quantidades de deuses. Porém, Paulo para refutá-los disse que o Deus Desconhecido o qual ele pregava havia através de um homem criado toda a raça humana (17.26). Em outras palavras, o apóstolo estava falando do poder ilimitado desse Deus. Enquanto, os respectivos deuses gregos se prendiam em atuar apenas em determinados pontos da vida do ser humano e da natureza, o Deus Desconhecido de Paulo era Deus para cada situação da vida.
CONCLUSÃO
Portanto, a cultura cristã uma vez formada no Ocidente está sendo modificada, pois, os povos de culturas de outras religiões estão invadidos as nações e as transformando com sua cultura religiosa pagã, isso não é uma previsão, mas o pluralismo religioso já é uma realidade nos países cristãos, porque de acordo com acumulação de estrangeiros de outras religiões em nações cristãs estão aos poucos mudando a característica da formação da cultura nesses países que predomina o cristianismo. Em muitos países, o crescimento da diversidade empírica de religiões e ideologias está, em parte, ligado aos novos padrões de imigração (com frequência de suas ex-colônias) e com o declínio geral da influência da tendência judaico-cristã na visão de mundo e nos valores (CARSON, 2013, p.16).
Em função da predominância do pluralismo religioso nos países cristãos resultará na formação da cultura de tolerância religiosa. E aquilo que já era difícil, em relação da proclamação do Evangelho, se tornou mais difícil ainda. Porquanto, o pluralismo propaga que não existe mais o absoluto, mas tudo é interpretado dentro do subjetivo. Isto é, não tem uma única religião verdadeiramente correta, mas todas do aspecto de vista dos seus respectivos devotos elas podem ser verdadeiras.
Toda religião tem por principal objetivo de pregar a ética e a moral; mas só que esses valores que programam o caráter de um homem em meio de uma sociedade estão no próprio esforço do indivíduo adepto a esta religião. Ao contrário das outras religiões, o cristianismo ensina que o esforço não se encontra no cristão, mas, sim, na graça da pessoa bendita de Cristo Jesus. Então, o que a Igreja deve fazer com a pregação do Evangelho, se todas as religiões são supostamente tidas como verdadeiras no sentido de seus valores éticos, morais e espirituais? Na realidade o único meio para quebrar este pluralismo religioso é a Igreja acreditar no poder da Palavra, pois, ela é a única que tem o poder argumentativo e espiritual para formar vidas e culturas (Rm 10.17; Hb 4.12).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; Martins, Maria Helena Pires. Filosofando. Introdução à Filosofia. São Paulo: Editora Moderna, 2009.
CARSON, D.A. Deus Amordaçado. O Cristianismo Confronta o Pluralismo. São Paulo: Editora Shedd, 2013).
BLOMBERG, Craig L. Questões Cruciais do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010.
BULTMANN, Rudolf. Teologia do Novo Testamento. Santo André, SP: Editora Academia Cristã, 2008.
DAMIÃO, Valdemir. História das Religiões. Sua Influência na Formação da Humanidade. Rio de Janeiro: Editora CPAD, 2010.
LATOURETTE. Kenneth Scott. Uma História do Cristianismo. Volume 1. São Paulo: Editora Hagnos, 2006.
PAROSCHI, Wilson. Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento. Barueri, SP: Editora Sociedade Bíblica do Brasil, 2012.
NATANAEL DIÔGO SANTOS é Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Coroatá – MA (Templo Central). Bacharel em Teologia pela Faculdade Evangélica do Piauí (FAEPI). Especialização em Estudos Teológicos no Centro Presbiteriano de Pós-Graduação na Andrew Jumper – CPAJ, vinculada a Universidade Presbiteriana Mackenzie. Professor de Teologia. Cursou Grego no Seminário Teológico de Martin Bucer.. Autor de Artigos Publicados na Revista Obreiro Aprovado e Jornal Mensageiro da Paz da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Casado com Cristiane Lima M. Santos, Pai de Kevellin Caroline Lima M. Santos. Autor do Livro Os Testamentos Publicado pela Editora Reflexão.
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