À vista da exorbitante quantidade de crentes que existe em uma congregação , a porcentagem dos que frequentam a EBD (Escola Bíblica Dominical) é sempre relativamente muito baixa, o que, na maioria dos casos, deve-se ao fato de não haver interação professor-aluno. Indubitavelmente, para o professor da EBD obter resultados satisfatórios é necessário ele estreitar os laços com os seus aprendizes, porque isso é fundamental para o progresso do conhecimento e da frequência destes.
O conceito básico e sucinto da interação de professor-aluno se dá pelo afeto, amor e comunicação do docente para seus alunos e pelo dinamismo em proporcionar uma aula de qualidade. O educador, na verdade, quer o respeito da sua sala e a valorização de o quanto ele se esmerou para a preparação da aula, para desenvolver o conhecimento com respeito à Palavra de Deus. No entanto, o professor precisa lembrar que, além da relevância do respeito para com sua pessoa e trabalho, o aluno, do mesmo modo, espera do seu educador consideração, amor, atenção etc.
O termo ensinar, que no latim é insgnare, significa “instruir sobre”, “indicar”, “assinalar”, “mostrar algo alguém”, “marcar”. Ser professor da EBD (ou de qualquer outra área) não se prende apenas ao campo de preparar e expor aula com precisão ao alcance do entendimento do estudante, mas também o educador cristão precisa marcar seus educandos no ponto de vista da valorização destes, além de dinamizar didaticamente certas operações para chegar ao objetivo desejado, que é os estudantes compreenderem o assunto da aula.
O professor deve juntar o útil ao agradável. Em outras palavras, com a capacidade de expor um ensino com conteúdo riquíssimo e expressar interesse pela pessoa do seu aluno, o educador da EBD alcançará grande sucesso do ponto de vista do crescimento intelectual, da moral e da presença dos discentes na sala, sem contar o quanto esse professor não será mais esquecido por essa sala de aula.
Outro fator relevante é o professor ser um grande observador com relação ao que os alunos estão achando de sua aula. Pois, se eles não estão entendendo o assunto lecionado, logo não haverá produtividade e crescimento intelectual com relação à compreensão e o entendimento das preleções, e se não houver aprendizagem, então não terá desenvolvimento espiritual. E por conta disso o mestre urgentemente precisa ser dinâmico dentro da perspectiva de outra metodologia para prender seus alunos ao ensino da Palavra de Deus.
Em última análise, no contexto cristão, a metodologia não é tudo, apesar de ser necessária; o mestre dependerá muito de uma vida devocional na oração para que os alunos não venham apenas absorver conhecimento teológico e bíblico, mas acima de tudo o Espírito Santo atue fortemente na santificação de suas vidas. Como já dizia Karl Bart (1886-1968): “se não houver grande agonia em nosso coração, não haverá grandes palavras em nossos lábios” (Bart apud, LOPES, 2008, p. 74). Por outro lado, o reformador Lutero (1483-1546) disse: “aquele que orou bem, estudou bem” (idem). Se o professor esperar que a sua sala de aula cresça apenas com seus métodos e capacidade intelectual é uma forma muito presunçosa de se pensar. A EBD não pode se pautar apenas em seminários preparatórios, em uma boa organização e na metodologia do professor, agora se tudo isso estiver pautado na oração, passará a ser o método de Deus.
1.1 Interagindo através simplicidade
Yawn (2015), ao entrevistar R. C. Sproul para elaboração do seu livro, Pregos Bem Fixados, registra as seguintes palavras: “ser difícil de entender é fácil. Ser fácil de entender é difícil [...]” (YAWN, 2015, p. 94). Para ser fácil de entender se torna difícil, porquanto, há mais exigências e dedicação exaustiva para o professor se aprimorar. Se ele conseguir apreender o conteúdo da aula verdadeiramente (não superficialmente), poderá ser capaz de colocar o assunto da lição na mente do seu aluno. O professor deve ser laico, ou seja, em toda sala da EBD há alunos de todos os níveis de intelectualidade e de cultura familiar. Porém, o educador tem que procurar uma forma metodológica para fazer com que todas elas entendam o conteúdo da lição.
Realmente, se o professor não domina a lição, certamente será superficial ao expor o assunto desta. Agora, por outro lado, se o educador tem o verdadeiro domínio da aula, que é algo muito difícil de se alcançar, ele terá a facilidade de manuseá-la e transmiti-la com simplicidade. Por conseguinte, será acessível e de fácil compreensão para os alunos, uma vez que transmitir ensino da maneira simples é uma forma de convencer as pessoas a viverem aquela Filosofia.
O mesmo Sproul chegou a dizer que se alguém diz conhecer e na verdade não tem a capacidade de fazer uma criança de seis anos entender determinado assunto, então essa pessoa não tem realmente o domínio do assunto. Ele será apenas um transmissor de informação. Contudo, o problema nunca estará somente na sala, mas em quem está transmitindo a aula. “Quando não sabemos explicar claramente, é porque não entendemos. Quando entendemos, então os outros também entenderão” (2015, p. 95).
1.2 Interagindo através do diálogo
No contexto particular, é sempre bom o professor interagir com seus educandos. Isto é, procurar saber onde cada um deles mora para facilitar a percepção de como está o estado de cada um deles.
Se determinado aluno que tinha uma boa frequência começar a apresentar grande ausência, o professor precisa se interessar em visitá-lo para obter conhecimento do porquê desse afastamento das aulas. E o diálogo é muito importante nesse momento para descobrir do educando qual o estado da sua vida (seja ele psicológico, moral e espiritual) para, em seguida, o mestre tomar alguma providência e reanimá-lo para voltar a frequentar as aulas. Se na verdade este discente estiver vivendo uma grande crise existencial e espiritual, com o interesse e o diálogo do professor, este aprendiz se sentirá uma pessoa importante para a congregação e, em especial, para sua classe.
O momento de dialogar não cabe só quando o aluno estiver ausente das aulas. Contudo, para o professor evitar a decadência de sua turma precisa sempre estar à procura desta para o diálogo. Pois a conversa constante será um tipo de vacina para imunizar os estudantes diante da ausência da EBD.
Se há iteração do diálogo, individualmente e particularmente, do professor para com certo aluno, como já apresentado outrora, há o dialogar da maneira coletiva, ou seja, o professor ao estar lecionando, usará o método da interrogação, porque dessa forma, o assunto será transmitido da maneira precisa e automaticamente apreendida pela classe. Pois esse tipo de diálogo é um dos melhores métodos a ser apresentado para instigar o aprendiz e o despertar para o interesse do assunto lecionado.
Os ensinos de Jesus chamavam atenção das pessoas, já que o método do diálogo apresentado por Ele fazia o seu ensinamento sobre o Reino de Deus não ser monótono. Os Evangelhos registram que Cristo fez cento e cinquenta e três perguntas aos seus ouvintes no propósito de marcar na mente dos seus pupilos o ensino da Palavra de Deus (Mt 22.20; Mc 12.16; Lc 20.24; 10.26). Não diferentemente, o apóstolo Paulo também usava o diálogo. Às vezes, quando ele se encontrava nas sinagogas para debater e ensinar com relação ao Evangelho de Cristo, o autor do livro de Atos, Lucas, usou o termo grego dialegomai aproximadamente dez vezes para descrever a comunicação do apóstolo para com seu público (At 17.2; 17.17; 19.18).
Durante a lecionação, o professor da EBD, em determinado momento, procurará algumas formas de perguntas para criação do diálogo:
1) Da classe para o professor;
2) Do professor para a classe;
3) Perguntas retóricas, que são perguntas feitas sem a espera de uma resposta, porém são um método que criará reflexão sobre determinado assunto da aula (Rm 8. 31-36) ;
4) Entrevista como forma de perguntas feitas à classe com relação aos pontos da lição, para ver se realmente a turma apreendeu o conteúdo.
Portanto, cabe aqui lembrar que esse método de ensino não pode ser aplicado no decorrer de toda a aula, porque quando há muitas interrogações, em meio a uma exposição da lição, subentende-se que o educador não se preparou e está sem conteúdo.
1.3 Interagindo através do humor e seu cuidado
Um pouco de humor durante a transmissão da aula faz o ensino ser mais atraente. “A verdade que é dita com graça pode alcançar melhor o coração do ouvinte (MORAES, 2005, p. 189)”. Lembre-se de que é só um pouco de humor, pois o objetivo do professor da EBD é transmitir a mensagem do Evangelho.
Uma aula que gira só em torno do humor é muito perigosa, porque isso expressará improviso, fazendo com que os alunos percebam que o professor está com deficiência de conteúdo. Além do mais, pode tirar o foco do assunto que está abordado na lição.
O exagero do humor pode fazer com que a aula tome outra direção, como no caso de os alunos se acharem no direito de abusar da preleção, no sentido de fazer brincadeiras com seu educador de forma desrespeitosa. Outro fator relevante é que não pode haver tom de brincadeiras com a situação de limitação, ou até mesmo qualquer problema dos alunos. O professor tem que tomar muito cuidado para não fazer uso dos personagens da Bíblia para proporcionar humor.
CONCLUSÃO
Portanto, a grande desvalorização da EBD pela maioria dos membros que formam uma comunidade cristã, no Brasil, tem proporcionado muitas pessoas analfabetas em relação à Bíblia.
Pastores, coordenadores, superintendentes e professores já têm procurado meios para solucionar esta deficiência na EBD. Certamente, um dos fatores que têm levado o grande número de crentes A desvalorizarem esse trabalho realizado pela igreja é a falta da interação professor-aluno. Porquanto, quando o setor educativo da comunidade seguir por esse meio, haverá um grande progresso na qualidade da educação nas escolas bíblicas.
O problema da deficiência das escolas bíblicas nas igrejas não se prende só exatamente na negligência da interação do professor-aluno. Só que esse pode ser considerado um dos principais pontos que, quando resolvido, boa parte da complicação da ausência de alunos será solucionada.
A colaboração do educador interagindo com seus educandos de forma bem dinâmica formará verdadeiros cristãos no sentido moral e espiritual, e além do mais os capacitarão para serem, futuramente, mestres que manejarão bem a Palavra da verdade.
A culpa da deficiência da EBD em solo brasileiro não pode ser colocada só nos professores, mas há uma necessidade de a igreja local olhar para outros problemas como a necessidade de um grande investimento, começando por uma preparação teológica com relação aos professores, ou pelo menos incentivando-os a cursar um seminário básico de Teologia para melhor trazerem ricos conteúdos para os seus alunos. A igreja brasileira precisa investir no físico da escola, como a construção de salas de aulas com todo aparato de uma escola secular: carteiras, lousa, tecnologia como computador e “data show”, para o professor apresentar melhor ainda a sua aula, além de uma formatura à altura para que os alunos vejam a valorização e reconhecimento pelos seus esforços de estarem em busca do conhecimento a respeito do Reino de Deus. Quando a coordenação executar com mais esmero e dinamismo, naturalmente o corpo discente terá mais prazer em frequentar e participar das aulas da EBD.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MORAES, Jilton. Homilética. Da Pesquisa ao Púlpito. São Paulo: Editora Vida, 2005.
ROBINSON, Haddon; LARSON, B. Craig. A Arte e o Ofício da Pregação Bíblica. Um Manual Abrangente para os Comunicadores da Atualidade. São Paulo: Shedd Publicações, 2009.
YAWN, Byron. Pregos Bem Fixados. Descubra seu estilo de Pregação. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.
SOBRE O AUTOR
NATANAEL DIOGO SANTOS, Pastor Auxiliar da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Coroatá-MA (Templo Central). Professor de Teologia. Cursou Grego no Seminário de Teologia Martin Bucer. Autor do Livro Os Dois Testamentos publicado pela Editora Reflexão. E autor de Artigos publicados no Jornal Mensageiro da Paz e na Revista Obreiro Aprovado da CPDA (Casa Publicadora da Assembleia de Deus).
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