sexta-feira, 7 de agosto de 2009

A UNÇÃO DO SANTO


Uma das provas da salvação é a presença contínua, a habitação do Espírito Santo no salvo.
Texto áureo – “E vós tendes a unção do Santo e sabeis tudo.” (I Jo.2:20)


INTRODUÇÃO

- No estudo deste trimestre, a respeito da primeira carta de João, a título de complemento, resolvemos tratar de um tema que não foi objeto de qualquer das lições: a unção do Santo.

- João é o único a se utilizar, em o Novo Testamento, da palavra “unção”, as duas vezes na sua primeira carta.

I – O QUE É UNÇÃO

- No estudo da primeira carta de João, notamos que, por falta de espaço, não se tratou de um tema, o da “unção do Santo”, expressão que é unicamente utilizada em o Novo Testamento pelo apóstolo João, por duas vezes, em sua primeira carta, sendo, pois, oportuno que o enfrentemos, a título de complemento para as lições deste trimestre, até porque uma das falsas doutrinas que se têm disseminado no meio evangélico é a referente à “nova unção”.

- A palavra “unção” só aparece, em o Novo Testamento, em duas referências, ambas no capítulo 2 da primeira carta de João (I Jo.2:20,27), a demonstrar que foi o “apóstolo do amor” quem tratou, com estes termos, da questão atinente à “unção do Santo”, como uma das demonstrações da salvação na vida de alguém. Ao verificarmos como o apóstolo tratou do tema, temos muito a aprender, máxime quando se está a aparecer uma série de “novas unções”, enganando a muitos.

- A palavra “unção”, no grego, é “chrisma” (χρισμα), palavra, aliás, que foi apropriada pela Igreja Romana para dar nome a um de seus “sacramentos”, o “sacramento da confirmação” ou “sacramento da crisma”, quando se entende que é o católico “revestido do Espírito Santo” por um ato necessariamente presidido por um bispo, quando se unge o fiel romanista com óleo.

- “Unção” é, precisamente, “o ato de ungir, de aplicar óleo consagrado sobre uma pessoa ou alguém”, de “untar, esfregar óleo sobre alguém”. Tem-se a unção, portanto, como o derramar ou esfregar óleo sobre alguém, ato que, em hebraico, é denominado de “mishchah” (משתה), palavra que é encontrada em diversas passagens do Antigo Testamento, sempre indicando o óleo ou o ato de derramamento do óleo sobre pessoas ou coisas.
OBS: Na Versão Almeida Revista e Corrigida, em Is.10:27, a palavra traduzida por “unção” não é “mishchah”, mas “shemen” (שמן), cuja melhor tradução é “gordura”, palavra, aliás, que é utilizada na Versão Almeida Revista e Atualizada, enquanto que a Nova Versão Internacional traduz a palavra por “vocês estarão muito gordos”.

- A unção, no Antigo Testamento, era um ato pelo qual se derramava azeite puro de oliveiras (Ex.27:20) sobre pessoas ou coisas para indicar que estes objetos ou estas pessoas estavam agora separadas para o serviço do Senhor, eram “consagradas ao Senhor”. Assim, não só os objetos do tabernáculo (e, depois, do templo) eram ungidos (Ex.40:9,10; Lv.8:10), como também eram ungidos os sacerdotes (Ex.28:41; 29:7,21; 40:15; Lv.8:12,30), os profetas (I Rs.19:16) e os reis (I Sm.9:16), pessoas que eram escolhidas e separadas por Deus para tarefas e missões específicas no meio do Seu povo.

- A unção era um símbolo, portanto, da separação da pessoa para o serviço do Senhor, para a realização de uma tarefa determinada por Deus. Por isso, diz o salmista, deveriam todos tomar muito cuidado no seu relacionamento com os “ungidos” (I Cr.16:22; Sl.105:15), porque a unção era um ato irrevogável, vindo da parte de Deus, que marcava para sempre a vida daquele que era escolhido e separado por Deus para uma obra específica.

- A unção era mais uma das “sombras dos bens futuros” que caracterizava a lei (Hb.10:1). Na verdade, a unção de objetos e de pessoas com azeite de oliva no tempo da lei sinalizava para a “unção do Santo”, que é mencionada pelo apóstolo João, ou seja, a presença do Espírito Santo na vida daquele que, escolhido por Cristo, passa a ter comunhão com Deus por causa da salvação pela fé em Jesus.

- Por primeiro, devemos lembrar que Jesus é o “Messias”, o “Cristo do Senhor” (Lc.2:26), ou seja, o “Ungido”, pois tanto a palavra hebraica “Maschiyach” (משיה) quanto a palavra grega “Christos” (χριστος) significam “ungidos”, tendo a mesma raiz de “unção”, como vimos supra.

- Não é por outro motivo que o apóstolo Pedro, ao pregar na casa de Cornélio, fez questão de afirmar que “Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com virtude” (At.10:38a), mostrando, assim, que Jesus era o “Cristo”, Aquele que havia sido vaticinado pelos profetas, Aquele que teria a plenitude do Espírito de Deus na Sua vida, que, por isso, redimiria não só Israel mas todo o mundo.

- A unção prevista e regulamentada na lei de Moisés, portanto, era apenas figura de uma realidade espiritual, qual seja, a de que, com a vinda do “Messias”, do “Ungido”, o próprio Deus passaria a ungir aqueles que escolhesse para que fossem transformados e se tornassem homens e mulheres em comunhão com Deus, consagrados a Deus, verdadeiro povo de Deus.

- A unção constante do Antigo Testamento, portanto, não pode servir de parâmetro para a Igreja, na dispensação da graça, daí porque não podermos ungir objetos ou pessoas, como se fazia naquela época, com a única exceção da unção de crentes enfermos, por haver previsão bíblica para tanto (Tg.5:14), devendo todas as demais hipóteses constantes nas Escrituras hebraicas serem tratadas como são, ou seja, como “sombras dos bens futuros”, como figura da realidade espiritual, que é a “unção do Santo”.

- Esta “unção do Santo”, de que trata o apóstolo João em sua primeira carta, deve ser entendida diante do ensino já mencionado a respeito da unção divina sobre Jesus. A Bíblia mostra-nos que, no limiar de Seu ministério público, Jesus, ao ser batizado por João, teve o testemunho do Pai e a vinda do Espírito Santo sobre Ele (Filho), sob a forma corpórea de uma pomba (Mt.3:16,17; Mc.1:10,11; Lc.4:21,22; Jo.1:32-34).

- A partir deste momento, Jesus passou a ser guiado pelo Espírito Santo. Ao sair da água, no outro dia, Jesus, em vez de iniciar pregações, foi para o deserto, impelido que foi pelo Espírito Santo (Mt.4:1; Mc.1:12). A partir do momento que Jesus passou a ser o Cristo, ou seja, o Ungido, não mais fez o que quis, mas passou a ser guiado, dirigido pelo Espírito de Deus.

- Vemos, pois, que a unção é, antes de mais nada, a ação do Espírito Santo sobre a vida do ser humano. Numa feliz definição, podemos dizer que “…A unção é o próprio Espírito Santo que habita no regenerado. Dessa forma, todo verdadeiro cristão é ungido por Cristo, com o Espírito de Deus.…” (SIQUEIRA, Gutierres. O que é unção? Disponível em: http://teologiapentecostal.blogspot.com/2007/05/o-que-uno.html Acesso em 29 jul. 2009).

- O Senhor Jesus, em Suas últimas instruções aos discípulos, antes de ser preso e morto, deu ensinamento a respeito do Espírito Santo, tendo, naquela oportunidade, dito que o Espírito, que viria a ser o “outro” Paráclito, ou seja, Aquela Pessoa divina que manteria a companhia com a Igreja (Jo.14:16) até “os tempos da restauração de tudo” (At.3:21), era a Pessoa divina escolhida para ficar com os salvos para sempre, para habitar no crente, para nos ensinar todas as coisas e nos fazer lembrar de tudo quanto havia sido dito pelo Senhor Jesus (Jo.14:17,26).

- Assim como o Senhor Jesus passou a ser guiado e dirigido pelo Espírito Santo a partir do Seu batismo, a fim de cumprir a obra que tinha sido determinada pelo Pai (Jo.17:4), também os discípulos de Jesus receberiam em si mesmos “a unção do Santo”, a fim de que, passando a ser “habitação do Espírito Santo”, pudessem ter a companhia, o ensino, a lembrança, como também a direção, o anúncio do que há de vir, fazendo-nos instrumento para a glorificação do Filho (Jo.16:13,14).

- Quando o apóstolo João nos fala da “unção do Santo”, está a nos lembrar de que somos habitação do Espírito Santo e que é Ele quem nos ensina todas as coisas. Por isso, quem tem “a unção do Santo” “sabe tudo”. Isto quer dizer que o crente que tem a unção não precisa aprender coisa alguma? Evidentemente que não!

- Assim como o apóstolo João nos ensina, em sua primeira carta, que, conquanto o filho de Deus não peque, não há filho de Deus que não peque, ou seja, que, embora o pecado não seja um elemento a caracterizar o salvo, o salvo, enquanto estiver neste mundo, está sujeito a pecar, por acidente, devendo, então, buscar o perdão para com o Pai por meio de Jesus Cristo, também nos ensina que o salvo, embora tenha a unção do Santo, e, por isso, tenha a possibilidade de tudo saber, pois o Espírito Santo nos ensina todas as coisas, pode ser iludido e ser vítima dos falsos profetas, devendo, pois, ser vigilantes e cônscios de que estamos “na última hora”, devendo reter tudo aquilo que o Espírito tem nos ensinado (I Jo.2:24), pois, embora tenhamos a unção do Santo, podemos, sim, ser enganados (I Jo.2:26).

- A “unção do Santo”, portanto, pode tanto ser interpretada como a mesma unção que veio sobre o Filho, quando de Seu ministério público, que o fez ser dirigido e guiado pelo Espírito Santo desde então para realizar a obra que havia sido determinada a Ele e que continua através do Seu corpo, que é a Igreja, como também “a unção do Espírito Santo”, ou seja, a ação do Espírito Santo em nossas vidas, que nos faz servir a Deus e a glorificar o nome de Jesus, em nossa jornada rumo ao céu.

II – A UNÇÃO DO SANTO

- Visto o que é a unção e a “unção do Santo”, devemos, então, observar quais são as características e as consequências desta unção na vida do salvo, dos “filhinhos”, como carinhosamente identifica o apóstolo João os servos do Senhor Jesus.

- O apóstolo é enfático ao dizer que “os filhos de Deus têm a unção do Santo”. Vemos, portanto, que a “unção do Santo”, ao contrário do que muitos estão a dizer na atualidade, não é uma “capacidade especial dada por Deus a alguém”, nem tampouco uma “parcela específica do poder de Deus”, mas, antes, uma característica comum a todos os filhos de Deus. João não fez qualquer ressalva, tão somente disse que os filhos de Deus têm a unção do Santo.

- Para que alguém seja salvo, dizem as Escrituras, é preciso que nasça de novo, ou seja, que a pessoa se torne uma nova criatura. Para que isto ocorra, é preciso que a pessoa nasça da água e do Espírito (Jo.3:5,6). Ninguém poderá alcançar a salvação se não houver uma operação do Espírito Santo na sua vida, operação que é denominada pelos teólogos de "regeneração".

- O processo da salvação do homem começa pelo ouvir e o ouvir pela palavra de Deus (Rm.10:17). A partir do momento que a Palavra é pregada, o Espírito Santo passa a atuar sobre o ouvinte, convencendo-o do pecado, da morte e do juízo (Jo.16:8). Convence o homem do pecado, pois o homem sem Deus não crê em Jesus e, pela atuação do Espírito Santo, passa a crer que a Palavra de Deus é a verdade(Jo.17:17) e que existe o pecado que faz divisão entre o homem e Deus(Is.59:2) e que somente Jesus pode derrubar a parede de separação que existe(Ef.2:14), através do perdão dos pecados. A atuação do Espírito Santo é indispensável para que o homem seja conscientizado da justiça divina e que Deus, em Cristo, propiciou um meio de salvação para o homem. Jesus não está mais entre nós, fisicamente, e, portanto, é necessário que o próprio Deus Se manifeste e demonstre a Sua justiça, o que se faz mediante a Pessoa do Espírito Santo. Por fim, deve o homem ser convencido a respeito do juízo, ou seja, de que o mal e o pecado já foram julgados por Deus e que estão aguardando apenas a execução da sentença, algo que somente Deus pode fazer, através do Espírito Santo.

- Vemos, portanto, que o Espírito Santo é indispensável para que o homem seja convencido do pecado, da morte e do juízo e, assim, resolva se arrepender dos seus pecados e mudar a direção da sua vida, que é o que denominamos de "conversão". A fé salvadora, como nos explica Paulo, é um dom de Deus e, como tal, é algo que é trazido ao nosso ser pelo Espírito Santo. Não é possível que alguém se arrependa de seus pecados sem que o faça por força da atuação do Espírito Santo. O sentimento de tristeza advindo de termos cometido um erro mas que advenha de nosso próprio intelecto não é um arrependimento, mas tão somente um remorso e, como tal, não traz qualquer salvação. Vemos isto, claramente, no episódio que envolveu Judas Iscariotes que, por ter tido apenas remorso, não alcançou a salvação (Mt.27:3-5).

- O Espírito Santo, portanto, a exemplo do que ocorreu no ventre de Maria, continua a operar a obra da geração do novo homem, os filhos de Deus, aqueles que não pertencem ao mundo, aqueles que são novas criaturas. É importantíssimo saber que o salvo passa por este processo de novo nascimento e por esta geração da água (que é a Palavra de Deus) e do Espírito. Esta geração, este novo nascimento, é espiritual e nada tem a ver com a pertinência a este ou aquele grupo religioso, tampouco com o batismo nas águas, que é apenas uma confissão pública de alguém no sentido de que passou por este processo do novo nascimento. É por isso que não podemos reconhecer no batismo o processo de purificação dos pecados e de salvação, pois, na verdade, este processo não é feito por um ritual, mas por uma operação do Espírito Santo na vida do pecador que se arrepende.

- Esta nova geração, produzida pelo Espírito Santo e pela Palavra de Deus (I Pe.1:23), faz-nos um novo ser, um ser que tem comunhão com Deus, e que, por isso mesmo, é chamado de vivificado em Cristo (I Co.15:22), uma nova criação, que passou da morte para a vida(Jo.5:24), ou seja, que vivia distanciada de Deus mas agora está em comunhão com Ele.
OBS: " Cinco fatos concernentes à natureza da regeneração precisam ser vistos: (1) uma nova vida foi gerada, por meio disso, e é eterna; (2) essa vida é a natureza divina; (3) o crente é gerado pelo Espírito; (4) Deus, o Pai, se torna o seu Pai legítimo; (5) portanto, todos os crentes são herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo. Do lado humano, a regeneração está condicionada simplesmente à fé (Jo.1.12,13; Gl.3.26)" (CHAFER, Lewis Sperry. Teologia sistemática, v.8, t.4, p.227)

- Quando a pessoa aceita a Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, arrependendo-se dos seus pecados, como vimos, decide mudar de direção na sua vida, converte-se, porque é convencido pelo Espírito Santo. Neste instante, ao aceitar a Jesus, a pessoa tem perdoados os seus pecados e é purificada pelo sangue do Cordeiro (I Jo.1:7; 2:1). Como consequência do perdão dos pecados, a pessoa passa a ter livre acesso a Deus, pois não existe mais qualquer separação entre ela e a Divindade, já que os pecados foram perdoados, restabelecendo-se, portanto, a comunhão com Deus. Esta comunhão caracteriza-se pela circunstância de o espírito humano ser vivificado, ou seja, aquela parte do homem que estava sem função, separada de Deus, feita, exatamente, para que mantenhamos este contacto com o Senhor, é ativada e este espírito passa a ter um relacionamento com Deus. Ora, a Pessoa da Trindade que faz este relacionamento entre o homem salvo e o seu Criador é, precisamente, o Espírito Santo.

- O Espírito Santo testifica com o nosso espírito de que somos filhos de Deus (Rm.8:16). O Espírito Santo permite-nos conhecer a vontade de Deus e a guiar nossos passos segundo ela, pois somente o Espírito de Deus pode discernir as coisas que são de Deus (I Co.2:11-13). A salvação dá-nos novos valores, um novo modo de vida, de modo que não mais passamos a compartilhar dos valores e dos desejos existentes no mundo, no pecado e no mal. Somente quem é salvo desfruta deste privilégio. O mundo não pode receber nem pode conhecer o Espírito Santo, porque o Espírito, como Seu nome o diz, é Santo, ou seja, está totalmente separado do pecado.

- O Espírito Santo não deixa o crente solitário e à deriva no mar da vida, mas, após convencê-lo da morte, do pecado e do juízo, vem habitar no interior do crente, vem ser seu companheiro até o final. O Espírito Santo é chamado por Jesus de Consolador, ou seja, de Paráclito, palavra que significa aquele que está ao lado, aquele que defende e que se coloca no lugar da pessoa, um verdadeiro advogado. Este é o papel do Espírito Santo, que pronto está para nos ajudar e nos orientar em todos os momentos, de forma a que possamos andar segundo a vontade de Deus.

- Vemos, pois, que uma das notas marcantes que o Espírito Santo imprime no ser humano é a santidade, ou seja, a separação do homem do pecado e do mal. Isto parece ser óbvio e intuitivo, mas é negligenciado por nós muitas vezes. O homem é tornado templo do Espírito Santo (I Co.6:19) e, como tal, passa a ter um corpo que tem como finalidade e propósito única e exclusivamente a glorificação do nome do Senhor e a realização de obras que sejam boas e agradáveis a Deus. Há muitas pessoas que procuram ver a presença do Espírito Santo na vida de alguém baseando-se em atos de poder, sinais ou maravilhas que esta pessoa esteja realizando em nome do Senhor, mas não é este o critério estabelecido pelas Escrituras para sabermos se alguém tem, ou não, o Espírito Santo. Uma pessoa será possuidora do Espírito de Deus se for santa, se ouvir e praticar a Palavra de Deus, se der o fruto do Espírito(Gl.5:22), pois haverá muitos que executarão muitos sinais e maravilhas, mas que, por praticarem a iniquidade, serão dados como desconhecidos de Deus, ou seja, pessoas pertencentes ao mundo, que não pode conhecer nem receber o Espírito Santo do Senhor (Mt.7:15-23; II Tm.2:19).
OBS: " …A diferença entre o homem regenerado e o homem não regenerado transparece como uma antítese que assinale a vida inteira deles. No homem regenerado, há a consciência que busca sujeitar tudo ao senhorio de Cristo, paralelamente à consciência de que há um antigo princípio que procura tornar-se independente de Deus. A solução é entregar nas mãos do Senhor a direção inteira da vida…" (CHAMPLIN, R.N. Regeneração. In: Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, v.5, p.614)

- Esta companhia, esta habitação do Espírito Santo na vida do crente produz no salvo uma série de benefícios, que lhe permitem um contínuo crescimento espiritual. Em primeiro lugar, o Espírito Santo, vindo habitar no crente, faz com que o cristão inicie um contínuo processo de santificação, que nada mais é que a progressiva e contínua separação do pecado. A cada dia, o Espírito Santo faz-nos viver segundo a vontade de Deus, não mais segundo a nossa própria vontade. Como afirmou o apóstolo Paulo, nós passamos a andar segundo o espírito, ou seja, o centro de nossa vida passa a ser o espírito humano, que é, precisamente, o canal entre nós e o Espírito Santo. O velho homem, o homem pecaminoso, é mortificado a cada instante, ou seja, é mantido preso e crucificado (Gl.2:20), sem ação na nossa vida. Não andamos mais segundo a carne, ou seja, segundo estes desejos de nossa natureza pecaminosa, evitando praticar a iniquidade e o mal. Isto só é possível porque passamos a nos inclinar para as coisas do espírito, a fim de agradar a Deus (Rm.8:5-13).

- Em segundo lugar, o Espírito Santo, habitando em nós, faz com que desejemos, cada vez, que o nome de Jesus cresça em nós e que nós diminuamos na Sua presença(Jo.3:30). O Espírito Santo tem como finalidade a glorificação do nome de Jesus (Jo.16:14) e, se nós permitimos que Ele habite em nós, consequentemente, também estamos moldando a nossa vida a fim de que, também, através de nós, os homens glorifiquem a Jesus (Mt.5:16). Não seremos, portanto, egoístas, nem ególatras, mas, muito pelo contrário, tudo faremos para que, em nossas vidas, o nome de Jesus seja glorificado pelos homens, ainda que isto signifique o padecimento de nós mesmos(II Co.4:5-11).

- Em terceiro lugar, a habitação do Espírito Santo traz-nos a garantia e a certeza da nossa salvação. A Bíblia diz-nos que o Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. Sendo assim, temos, em nós, a garantia de que somos salvos, a certeza da nossa própria salvação. É o próprio Deus, na Pessoa do Espírito, que dá testemunho de nossa comunhão com Ele. Há muitos crentes que são duvidosos a respeito da sua salvação, que se deixam embaraçar por quaisquer afirmações daqueles que os cercam, no sentido de que não podem ter garantia de que têm a vida eterna, notadamente de pessoa religiosas que acham que a salvação depende de obras e coisas similares. Entretanto, a Bíblia afirma-nos, claramente, que é o Espírito Santo quem nos dá esta certeza e a Sua habitação em nós permite que tenhamos esta garantia. É, por isso, que a Bíblia nos afirma que o Espírito é o selo da nossa redenção. Como todos sabemos, o selo é um símbolo, é um sinal que representa a garantia de um documento, que confirma a sua autenticidade, que confirma a autoridade de alguém (Gn.38:18;.Jr.22:24). O Espírito Santo é, portanto, a garantia que temos de que somos salvos. Quando o Espírito está conosco, dirigindo-nos, dando-nos orientação, testificando de nossa condição de filhos de Deus, temos a certeza de que estamos nas mãos do Senhor e de que ninguém de lá pode nos arrebatar (Jo.10:28).

- É importante observar, aqui, que este selo da redenção está presente na vida de todo e qualquer salvo, mesmo os que não são batizados com o Espírito Santo. Há um costume antigo, entre os pentecostais, de chamar o batismo com o Espírito Santo de "selo" e os batizados com o Espírito Santo de "selados", mas não confundamos esta nomenclatura que surgiu no meio do povo pentecostal com o texto bíblico de Ef.4:30, que se refere a todos os salvos, pois o Espírito Santo é a garantia da redenção, ou seja, da salvação, para todos quantos creram em Jesus como Senhor e Salvador, ainda que não tenham sido revestidos de poder.

- Em quarto lugar, a habitação do Espírito Santo no crente promove o envolvimento do crente na obra do Senhor. Como passamos a fazer a vontade de Deus, como passamos a glorificar o nome do Senhor, como temos certeza da salvação, a Bíblia afirma que rios de água viva passam a correr do nosso interior (Jo.7:38), ou seja, não há como o crente se conter diante de tão grande salvação e começa a ser impelido para pregar o Evangelho e fazer a obra de Deus sobre a terra. Paulo tinha esta consciência e exclamava: ai de mim se não anunciar o evangelho! (I Co.9:16). Alguém poderá dizer que esta era a chamada de Paulo (At.9:15) e que não se pode generalizar, mas, se o disser, estará equivocado, pois a ordem de pregação do Evangelho foi dada para toda a igreja (Mc.16:15). Cada um tem um trabalho na seara do Mestre e o Espírito Santo, habitando em nós, fará com que executemos este trabalho na forma por Ele pretendida, a fim de que almas sejam salvas e os crentes, aperfeiçoados(Rm.6:13,19,22).

- Em quinto lugar, a habitação do Espírito Santo no crente promove um despertamento para a oração e a meditação da Palavra de Deus. O Espírito Santo tem como missão fazer-nos lembrar da Palavra de Deus e ensinar-nos esta mesma Palavra (Jo.14:26), ao mesmo tempo em que é um ajudador sempre presente nas nossas orações, gemendo com gemidos inexprimíveis diante do Pai por nós (Rm.8:26). Para tanto, a presença do Espírito Santo leva-nos, naturalmente, a uma vida de oração de e estudo e meditação na Palavra de Deus. Percebamos que, já revestidos de poder, os apóstolos passaram a se dedicar ao ministério da oração e da palavra (At.6:4). O Espírito Santo faz-nos, assim, enveredar por este caminho glorioso da devoção diária e incessante, preparando-nos para sermos instrumentos de justiça.
OBS: Notamos que, após terem recebido o Espírito Santo mediante o sopro de Jesus, que é a regeneração, como se lê em Jo.20:22, os discípulos que, anteriormente, não conseguiam orar durante uma hora (Mt.26:40), oraram durante dez dias até serem revestidos de poder (At.1:14). Quem nos impulsiona a orar, portanto, é o Espírito Santo.

- Em sexto lugar, a habitação do Espírito Santo no crente promove maior sensibilidade espiritual, pois, como vimos, é através do Espírito Santo que passamos a discernir as coisas espirituais. A presença do Espírito Santo faz-nos entender as coisas espirituais, entender e compreender a vontade de Deus e, portanto, a termos uma vida de intimidade e de comunhão com o Senhor, intimidade esta que é contínua e progressiva.(II Co.3:18). O Espírito Santo faz-nos ficar cada mais conformes à glória de Deus e cada vez mais distantes do pecado e do mundo, residindo nesta transformação, segundo alguns, a própria essência da obra do Espírito Santo na vida do ser humano: o retorno da plenitude da imagem e semelhança de Deus no homem.

- Em sétimo lugar, quem tem a lâmpada acesa deseja a volta de Jesus. As virgens prudentes, que tinham suas lâmpadas acesas, ao ouvirem o clamor que anunciava o noivo, rapidamente se levantaram e, alegremente, foram para a companhia do noivo. Ter a lâmpada acesa é amar a vinda de Jesus, é querer que Jesus volte, é não desviar suas atenções para outros propósitos que não os de viver eternamente com o Senhor.
OBS: "…Lamentamos que os cuidados da vida terrena têm ocupado tanto a mente e o tempo dos cristãos. Infelizmente, muitos deixarão de ser arrebatados por estarem despercebidos. Distraídos com tantas festas de 'louvores', jovens, crianças, círculos de oração, aniversários etc. Além disso, outros se ocupam tanto com as construções de templos, assistências sociais, viagens por todos os lados, que pouco tempo sobra para santificar-se e amar a vinda de Jesus. Não bastassem essas ocupações com assuntos religiosos, estamos apreciando muitos ocupados em negociar nas igrejas com cantinas, vendas de objetos religiosos, formando lotações para passeios, envolvendo o povo de Deus em política, enfim, só a misericórdia do Senhor para dar fim a essas coisas que estão embalando os crentes, procurando distraí-los e fazê-los adormecidos. É tempo de nós despertarmos do sono. Rm.13.11. Acorda, irmão ! JESUS VEM BREVE.…" (SILVA, Osmar José da. Lições bíblicas dinâmicas, v.I, p.88-9).

- Esta é a “unção do Santo”, ou seja, a presença, a habitação do Espírito Santo na vida de todo salvo, unção esta que nos ensina tudo o que diz respeito à verdade e na qual devemos permanecer para que alcancemos o fim da nossa fé, que é a salvação das nossas almas (I Jo.2:27; I Pe.1:9). Temos esta unção? Somos verdadeiros “cristãos”, ou seja, “parecidos com Cristo”, que era “ungido com o Espírito Santo e com virtude”?

III – A MENTIRA DA “NOVA UNÇÃO”

- Diante de tudo o que já falamos a respeito do que é a “unção do Santo”, que deve estar presente na vida de todo salvo e cuja permanência nos impede de sermos enganados e de perdermos a salvação, indagamos: a unção do Santo é insuficiente? Por acaso, se temos a unção do Santo, ou seja, A unção divina, será que precisamos de outra? As coisas que provêm de Deus não são eternas? Não falou o apóstolo João DA unção (note-se o artigo definido)? Por que, então, buscar outra unção? Haveria necessidade disto?
OBS: Como bem afirmou o professor de EBD, Gutierres Fernandes Siqueira, “…A unção é permanente. Essa verdade contradiz com o conceito de ‘nova unção’ . O Espírito Santo está habitando no crente e mediante isso, o filho de Deus, não necessita de uma "nova unção". O pastor Antonio Gilberto lembra que "Deus restaura, sim, a nossa unção recebida Dele, mas isso não significa 'uma nova unção'"(Ensinador Cristão, n. 29, p.20).É necessário muito cuidado com esse clichês gospel, tais como "unção da conquista", "unção de ousadia", "unção do profeta Elias", "unção dos quatro seres" etc. Por traz dessas expressões estão um falso conceito de unção, além da distorções doutrinárias. Unção, para muitos, é um poder mágico que capacita a pessoa a ser um minideus, é uma sede por espiritualidade desassociada de Deus.…” (end. cit.).

- Se a unção do Santo é divina e, portanto, eterna, não envelhece. Se ela não envelhece, não há necessidade alguma de termos uma “nova unção”. Se a unção do Santo nos ensina todas as coisas, nada há que devamos aprender fora dela. Ora, se nada temos que aprender fora da unção do Santo, não se vê qualquer necessidade de uma “nova unção”.

- A unção do Santo é verdadeira (I Jo.2:27) e, portanto, é ela que nos guia à verdade. Ora, se a verdade é única, indagamos: uma “outra unção”, por não ser verdadeira, é mentirosa. Por que, nos que somos guiados pela verdade, precisaríamos de “outras unções” e, portanto, mentirosas? Para que deixaria uma unção que é verdadeira, por outra que é mentira, como nos ensina o apóstolo João? Pelo contrário, o “apóstolo do amor” é bem claro ao dizer que devemos permanecer na unção verdadeira, lembrando que nenhuma verdade vem da mentira (I Jo.2:27 e I Jo.2:21).

- Aliás, ainda verificando que a unção é verdadeira e que nenhuma mentira vem da verdade, não podemos deixar de observar que a unção do Santo veio sobre Jesus e o próprio Jesus disse que nada tinha com o príncipe deste século (Jo.14:30), príncipe que é o pai da mentira (Jo.8:44). Por que, então, teríamos de buscar a “nova unção”?

- Assim, mesmo sem dizermos o que é a “nova unção”, de pronto, vemos, claramente, que o ensino bíblico é de que não devemos buscá-la, que nada temos com ela, visto que a nossa unção é a unção do Santo. Ela é suficiente, como ensinou brilhantemente, em artigo a este respeito o pastor Ciro Sqnches Zibordi (A unção do Santo não é suficiente? Disponível em: http://cirozibordi.blogspot.com/2009/04/uncao-do-santo-nao-e-suficiente.html Acesso em 29 jul, 2009).

- Mas o que é esta “nova unção” de que tantos falam? Não há uma definição precisa. Muitos dizem que é “algo novo que Deus põe à disposição da Igreja”, outros que é o “óleo fresco”. Na verdade, sob o nome de “nova unção” tem sido juntadas todas as “experiências extraordinárias”, todas as inovações, as novidades que têm aparecido nos últimos anos no meio dito evangélico, como resposta a uma busca de despertamento e avivamento espirituais. Tais manifestações estranhas, bizarras mesmo, têm sido rotuladas como “nova unção”, “…não é questão apenas de modismo, mas são cultos estranhos que vêm sendo realizados, pregando quebra de maldição, o poder do assopro, as danças espirituais, falsas doutrinas e unção de todo o tipo.…”, com bem diz o pastor Elder Sacal Cunha (Desmascarando a nova unção. Disponível em: http://eldersacalcunha.blogspot.com/2009/05/desmascarando-nova-uncao.html Acesso em 29 jul. 2009).

- Só pelo fato de não termos uma definição precisa, verificamos que a “nova unção” não deve ser crida. Como podemos crer em algo que nem sabemos o que é? Como podemos ter como verdadeiro algo que se esconde, que procura não se revelar? A verdade se manifesta, é revelada, como vemos nas Escrituras Sagradas. Como, então, crer nesta “nova unção”?

- De qualquer maneira, há algumas manifestações sobrenaturais que são chamadas como sendo “nova unção”. Ao verificarmos tais manifestações, mesmo não sabendo bem do que se trata, podemos observar que não são coisas provenientes da parte de Deus.

- Por primeiro, todas estas manifestações, invariavelmente, são fruto da “revelação” ou “visão” de alguém que se entende superior aos demais crentes, tanto que é ele (ou ela) quem “transfere esta nova unção” aos demais crentes, quem os “ensina a mergulhar no oceano do Espírito”. Ora, como diz Elder Sacal Cunha, “…Se alguém teve uma experiência com o Espírito Santo e a experiência a deixou orgulhosa, insubmissa, rebelde, achando que é melhor que os outros; posso garantir que é falsa e que não veio do Espírito da verdade! A verdadeira experiência com o Espírito Santo nos deixa mais humildes, serviçais e nos faz calar.…” (end. cit.).

- A ideia da “nova unção” tem sua origem em pessoas como Kenneth Hagin, Kenneth Copeland, Benny Hinn e Rodney Browne que, em seus escritos, invariavelmente, associam estas manifestações sobrenaturais a “visões”, “sonhos” e “experiências” que teriam tido com o Senhor Jesus ou com outros seres celestiais, baseando, pois, tais manifestações em elementos extrabíblicos, o que os torna indignas de crédito por parte dos genuínos e verdadeiros servos do Senhor. A experiência que Benny Him associa à “nova unção”, aliás, segundo suas próprias palavras, ocorreu antes da sua própria conversão, o que não pode ser admitido.
OBS: “…No Larry King Show [programa de entrevistas da televisão norte-americana, observação nossa], Benny Hinn descreveu a unção assim: ‘ Agora nós estamos aqui, seres humanos, você sabe, feitos de pó e Deus nos toca o corpo com Seu poder. É exatamente como tocar eletricidade, você sabe. Ela poderia lançar você longe. Ela poderia matar você se houvesse dela em demasia’. Hinn também admitiu que ‘Eu cresci em escolas católicas, eu era religioso, mas não realmente um cristão como agora eu sou. Então, enquanto eu dormia, o corpo foi eletrizado, você sabe, como se alguém me ligasse em uma tomada e eu gelei. Eu simplesmente não podria, não pude me mover. E então apareceu o Senhor. Ele sorriu para mim, não me disse uma palavra. Ele estava usando uma veste branca.…” (Let Us Reason Ministries. A nova unção. Disponível em: http://www.letusreason.org/Pent40.htm Acesso em 29 jul. 2009) (tradução nossa de texto em inglês). Como se vê é o próprio Benny Hinn quem afirma ter recebido a unção sem a conversão. Que unção é essa? Não é a “unção do Santo”!

- A verdadeira unção, a “unção do Santo”, não permite que haja distinção dos crentes em grupos diversos. Como ensina Gutierres Fernandes Siqueira, “…João em sua epístola universal, direcionando sua mensagem para a comunidade cristã, coloca que todos os regenerados são ungidos. Esse versículo quebra uma idéia muito comum de classes especiais, pois muitas vezes o pastor ou pregador são considerados pessoas acima dos demais por causa da "unção". Ora, todos os regenerados são ungidos, portanto, essa não é uma prerrogativa de um pregador ou pastor.…” (Nova Unção? Disponível em: http://teologiapentecostal.blogspot.com/2008/02/nova-uno.html Acesso em 29 jul. 2009).

- Ora, todas as manifestações que se rotulam de “nova unção” sempre são originárias de “crentes especiais”, “supercrentes”, que tiveram acesso a novas verdades que eram desconhecidas de todos os demais. Ora, como isto contraria a universalidade da “unção do Santo”, que é a unção verdadeira, isto é bastante para que não acreditemos em tais manifestações. Não vivemos mais na antiga aliança, onde o Espírito Santo era dado “por medida” (Jo.3:34) e a apenas alguns ungidos. Hoje em dia, todos os crentes têm o Espírito Santo e, por isso, todos são ungidos, todos são “reis, sacerdotes e profetas” (I Pe.2:9,10; Ap.1:5,6).

- Por segundo, notamos que todas estas manifestações não produzem qualquer edificação espiritual. O Espírito Santo nos guia em toda a verdade, faz-nos glorificar a Jesus e, para tanto, é preciso que nos tornemos mais e mais semelhantes a Ele (II Co.3:128; Ef.4:13-16). No entanto, o que se vê com as manifestações rotuladas de “nova unção”? Vê-se apenas a produção de fenômenos estranhos e bizarros, mas que não fazem as pessoas se assemelharem a Cristo. Muito pelo contrário, o que surge, no mais das vezes, é o início de práticas contrárias ao ensino bíblico, que é a verdade (Jo.17:17). Em vez de as pessoas envolvidas nestas manifestações seguirem a verdade em caridade, crescendo em Cristo, passam a ser levados em roda por todo vento de doutrina, correndo de um lado para outro em busca de sinais, comportamento que é próprio dos incrédulos, como os judeus dos dias de Cristo (Mt.12:39; 167:4; Lc.11:29; I Co.1:22).

- Vejamos, pois, algumas manifestações chamadas de “nova unção” e observemos a falta completa de edificação espiritual dos nela envolvidos:
a) “unção do riso” ou “risada santa” – muitos ficam sorrindo, dando gargalhadas sem parar, perdendo até o fôlego. Pergunta-se: depois do “acesso de riso”, qual a edificação espiritual que isto promove na pessoa? Quantas almas são salvas por causa desta “risada santa”? Quantos são curados? Esta “risada santa”, por acaso, promove a “alegria no Espírito Santo”, que, por exemplo, Jesus demonstrou ao ver o relatório dos discípulos quando estes pregaram por aldeias e vilas da Judeia (Lc.10:21)? Por acaso, esta “risada santa” fez a pessoa conhecer mais a Jesus, a se envolver mais com Ele, a ter uma vida mais santificada? Recebeu ela certeza de que é salva e caminha para o céu? (Lc.10:20,22)? Antes de dar gargalhadas, o que devemos é, isto sim, termos a “tristeza segundo Deus”, que operará o nosso arrependimento e consequente salvação (II Co.7:10).
b) “unção dos quatro seres viventes”, “unção do leão” , “unção do lobo” e demais “unções animais” – Pusemos todas estas “unções” no mesmo tópico, pois todas têm algo em comum, qual seja, o de fazer com que as pessoas passem a “falar as línguas dos animais”, ou seja, passem a rugir, rosnar, mugir, bater os braços como se fossem asas para voar etc. Pergunta-se: podem manifestações como estas, que “irracionalizam” os homens serem consideradas adoração a Deus, se as Escrituras nos mandam ter um “culto racional” e que este culto seria agradável a Deus (Rm.12:1). Seria próprio do projeto salvador de Deus fazer com que o homem, feito para dominar as demais criaturas terrenas (Gn.1:26), fosse “rebaixado” na ordem de criação e agisse como os demais animais? Se, no culto a Deus, devemos nos preocupar em não permitir que a fala em línguas estranhas, algo que não é irracional, mas suprarracional, para que isto não promova o escândalo dos incrédulos e não seja considerado inútil (I Co.14:1-20), não deveríamos também levar em conta atitudes irracionalizantes, que bestificam o ser humano, coroa da criação? Ademais, quem disse que os “quatro seres viventes” mencionados no livro do Apocalipse são “animais terrenos irracionais”? Pelo que vemos na Bíblia, eles falam e adoram a Deus, não rosnam, nem mugem…
c) “unção da lagartixa” – apesar de se tratar de um animal, também, dela tratamos em tópico separado, porque se trata de pessoas ficarem penduradas na parede. Pergunta-se: o que isto contribui para a edificação espiritual de alguém? Devemos ficar pendurados como lagartixa na parede das igrejas ou pregar o Evangelho por todo o mundo e ser testemunhas de Jesus até os confins da terra (Mc.16:15; At.1:8)? Se Deus permitiu que a igreja de Jerusalém fosse perseguida para que saísse de Jerusalém, a fim de evangelizar o mundo, por que haveria de incentivar e estimular práticas que nos fazem ficar grudados nas paredes dos templos? Tais manifestações sobrenaturais, a propósito, são muito estranhas e que podem muito bem ter origem maligna. Tomemos cuidado!
d) “unção da loucura de Deus”, “unção da ousadia, da conquista e da multiplicação” – muitos procuram justificar certas manifestações estranhas, sem sentido (como o “vômito santo”, a “unção de recém-nascido ou de nenê” e tantas outras “neobesteiras”), com a afirmação de que se trata da “loucura de Deus”. Todavia, como bem explica o pastor Ciro Sanches Zibordi, a Bíblia nunca disse que “Deus é louco”, mas, sim, que a ação divina é considerada “loucura” para os homens, visto que, como afirma o coordenador do Portal Escola Dominical, Sérgio Paulo Gomes de Abreu, a “lógica divina nunca será igual à lógica humana”, como, aliás, lemos em Is.55:8,9. O que os defensores da “nova unção” chamam de “ousadia”, “conquista”, “multiplicação” nada mais são que atitudes insensatas, baseadas no irracionalismo, o que contraria totalmente o que Deus quer de nós, que é o culto racional, o sacrifício vivo, santo e agradável a Deus (Rm.12:1). É este culto racional que nos leva a experimentar a vontade de Deus (Rm.12:2), não os desatinos, as algazarras e as maluquices que se fazem e que são, na feliz expressão de Carlos Eduardo Sisso, “…’adoradores extravagantes’, não é?! Será que não vemos? ‘Extravagante’ significa ‘esbanjador; perdulário’. O que isto tem a ver com Cristo, meu Deus?…” (SISSO, Carlos Eduardo. Eu não estou apaixonado por Jesus. Disponível em: http://ecosdoverbo.blogspot.com/2009/02/aos-adoradores-apaixonados-e-aos-outros.html Acesso em 29 jul. 2009).
e) “cair no Espírito”, “cair no poder” ou “fanerose” – outra das chamadas manifestações da “nova unção”. Procura-se basear a manifestação em episódios em que pessoas se prostraram pela manifestação da glória de Deus, mas sem qualquer fundamento bíblico real. Se temos o Espírito Santo, o Pai e o Filho em nós, por que haveríamos de cair? Ademais, o que se ganha em perder os sentidos e em se levantar meio “abobalhado”, como muitos que dizem ter “caído pelo poder de Deus”? No que tais pessoas têm sido edificadas e transformadas pelo Espírito Santo? Pelo contrário, o pastor Paul Gowdy, um dos líderes da igreja de Toronto (Canadá), de onde este fenômeno se espalhou com intensidade pelo mundo, foi categórico em dizer que “…Depois de três anos fazendo parte do núcleo da bênção de Toronto nossa Igreja Vineyard em Scarborough ao leste de Toronto, praticamente se autodestruiu. Devoramo-nos uns aos outros com fofocas, falando mal pelas costas, com divisões, partidarismo, criticas ferrenhas uns dos outros etc. Depois de três anos ‘inundados’ orando por pessoas, sacudindo-nos, rolando no chão, rindo, rugindo, rosnando, latindo, ministrando na igreja Internacional do Aeroporto de Toronto, fazendo parte de sua equipe de oração, liderando o louvor e a adoração naquele local, praticamente vivendo ali, tornamo-nos os mais carnais, imaturos, e os crentes mais enganados que conheci. Lembro-me de haver dito ao meu amigo e pastor principal da igreja de Vineyard de Scaraborough em 1997 de que, desde que a bênção de Toronto chegou, ficamos esfacelados. Ele concordou. Minha experiência é de que as manifestações dos dons espirituais de 1 Coríntios 12 eram mais comuns em nossas reuniões antes de Janeiro de 1994 (quando começou a bênção de Toronto) do que durante o período da suposta visitação do Espírito Santo.…” (GOWDY, Paul. Trad. de João A. Souza Filho. O engano de Toronto. Disponível em: http://www.pastorjoao.com.br/analise_igreja/lakeland/oenganodetoronto.htm Acesso em 29 jul. 2009). Precisamos dizer mais algo?

- Por terceiro, não podemos nos esquecer que “a nova unção” não produz frutos de justiça, como já salientado. Ora, se as manifestações sobrenaturais não produzem o fruto do Espírito, vê-se, claramente, que não são da parte de Deus. Disse o Senhor que pelos frutos conheceríamos os falsos profetas (Mt.7:15-20) e, portanto, tudo quanto está relacionado à “nova unção” dz respeito a engano e ilusão, à mentira, não podendo ser algo que seja ratificado por quem serve a Deus. Como diz Carlos Eduardo Sisso, nestas manifestações, “…Há todo um clima, um ambiente místico criado ao redor deste “mover”: músicas longas e de frases curtas que, repetidas à tão grande exaustão, lembram mais alguns mantras hindus; danças (ou meros gestos?) semelhantes a um estado de transe hipnótico e afeições estático-abobalhadas um tanto quanto esquisitas demais, como se a pessoa estivesse sob o efeito de alguma droga anfetamínica. No fim, tal experiência pareceu mais fruto de uma abdução que de um ‘encontro com Deus’. Aliás, não lhes soa estranho que “encontros com Deus” não eram tão frequentes assim na vida dos santos do passado? E, se haviam, os sintomas eram muito outros! Quando Deus falou do meio da sarça que ardia, Moisés ‘... escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus’ (Êxodo 3:6). Mais tarde, curiosamente depois de outras aparições apoteóticas, Deus responde a um pedido de Moisés para ver a Sua glória dizendo: ‘Não me poderás ver a face, porquanto homem nenhum verá minha face e viverá’ (Êxodo 33:20). Moisés só viu o que pôde ver, e sequer ao menos sabia que seu rosto resplandecia depois disso (Êxodo 34:29). Isaías ‘viu’ a Deus e, porque creu, temeu pela própria vida. Zacarias “viu” a Deus e, porque não creu, ficou três meses mudo. Mas nem nestes casos nem noutros, vemos qualquer coisa parecida com o que temos visto em nossos dias. Será que somos uma geração mais privilegiada que as gerações bíblicas? Vejam também os grandes pais de nossa fé: Agostinho, Lutero, Wesley, Finney, Moody... Homens introspectivos, castos, reverentes, morigerados. Por que não lhes copiamos?…” (SISSO, Carlos Eduardo. end.cit.).

- Por quarto, a “nova unção” tem como consequência criar um “Cristo espiritualizado”, um “Cristo desencarnado”, cuja “unção” se manifesta de várias maneiras menos as do Jesus da Bíblia e “se embriagam tanto da unção” que não mais estão a esperar o retorno de Jesus Cristo. Em vez de esperarem a Ele, estão buscando “a ela”, à “unção”, ao “enebriamento” que os faça sentir mais poderosos do que qualquer outra pessoa, quando não é esta a esperança do genuíno discípulo de Jesus. Como afirma o pastor norte-americano Bill Randles, das Assembleias de Deus, “…O verdadeiro Espírito de Jesus Cristo está na Igreja, orando com e pela Igreja, ‘Vem, Senhor Jesus!’ pois o Espírito e a Noiva dizem ‘Vem’. O falso espírito, pelo contrário, é invocado pelo comando dos ‘novos ungidos’, ‘Vem! Vem, Espírito Santo1 Mais! Mais! E, como no testemunho do pastor Benson, o espírito foi invocado por uma simples pancada no estômago e por um grito em uníssono, ‘a unção’ !…( RANDLES, Bill. As implicações da nova unção. Disponível em: http://www.mission.org/jesuspeople/newanointing.htm Acesso em 29 jul. 2009) (tradução nossa de texto em inglês).

- Este Cristo espiritualizado, totalmente desvinculado da obra de transformação do homem e da esperança da vinda de Cristo é o Cristo do Anticristo. É a negação do Pai e do Filho, como nos ensina o apóstolo João na sua primeira carta (I Jo.2:22-25; 4:1-6). Descobrimos, assim, claramente, pela primeira carta de João, qual a origem e qual o propósito desta “nova unção”, mais um dos enganos dos últimos dias contra os quais devemos lutar. A “nova unção” está inserida plenamente na advertência do Senhor Jesus em Seu sermão escatológico, quando disse que haveria sinais e prodígios que, se possível, enganariam até os escolhidos (Mt.24:24). Tomemos, pois, cuidado, e busquemos a unção do Santo, a única que nos impedirá de sermos enganados.

Caramuru Afonso Francisco

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